OS DELÍRIOS DA CARNE
Coluna Carlos Brickmann
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(Edição dos jornais de Quarta-feira, 22 de março de 2017)
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O problema não é a carne. O problema não é o tamanho das malfeitorias, nem o prejuízo às exportações. O problema é o Governo; o Governo que politiza a fiscalização de alimentos, que deveria ser estritamente técnica, rígida, intolerante, preocupada com a saúde da população, absolutamente desconhecedora das conveniências de partidos.
Boa parte do Ministério da Agricultura está loteada, aparelhada para servir a interesses partidários. Nos Estados onde houve mais problemas com a Operação Carne Fraca, o PMDB (ala Temer) e o PP, do ministro Ricardo Barros, comandam a Superintendência do Ministério da Agricultura do Paraná. Em Goiás, o poder é exercido pelo PTB, na pessoa do deputado Jovair Arantes. Quem cuida da qualidade da carne?
Quem cuida da qualidade da carne são os próprios produtores e exportadores, que sabem o custo da negligência na redução das vendas internacionais. Já Temer oferece churrasco a representantes dos países exportadores - e mantém a mesma política de loteamento do Governo que levou à questão da carne, sem notar que é esse o seu problema. Narra o bem informado Radar on-line (http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line) que Temer sinalizou à bancada do PMDB mineiro na Câmara que lhe dará a próxima vaga no Ministério. Diante dos governos que temos, a qualidade dos alimentos que consumimos e exportamos é até boa demais.
Os dados da briga
As principais críticas à Operação Carne Fraca envolvem números. Foram dois anos de investigações e mais de mil policiais federais para autuar 21 dos 4.837 frigoríficos nacionais, dos quais foi preciso interditar três, responsáveis por menos de 2% da produção brasileira de carnes; dos 11.300 funcionários do Ministério da Agricultura, 33 foram afastados. E os 21 frigoríficos colocados sob fiscalização especial exportaram, em 2016, US$ 120 milhões. No total, 0,89% das exportações brasileiros de carne.
Os fatos da vida
Mas o fato é que havia politicagem, que houve servidores que facilitaram aos infratores o que não deveriam facilitar, que foram encontradas coisas erradas - talvez não as que, no calor da notícia, levaram fontes e jornalistas a divulgar que vitamina C dava câncer. Pode ter havido exagero, mas tinha coisa errada. O estrago está feito. Como assinalou o jornalista gaúcho Fernando Albrecht (http://fernandoalbrecht.blog.br/), "o povo sempre acredita na acusação, mas nunca na defesa". E com motivos.
Quem paga a conta
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