Três típicos acadêmicos gramscianos criticam,
no costumeiro estilo dessa tribo e no pasquim costumeiro da comunidade, a atual
política externa do Brasil, a partir de um "fórum acadêmico" sobre o
Brics, realizado recentemente na China
Vindo dessa categoria de analistas, não se
poderia mesmo esperar outra coisa, senão uma pauta totalmente comprometida com
a anterior "política externa ativa e altiva", que tanto
encantou a tribo dos convertidos.
Como eles partem do suposto de que o governo
atual é "golpista" , eles condenam igualmente a política externa,
pois seu ponto de partida é a diplomacia anterior, e tudo o que discordar dos
antigos pressupostos é ipso facto golpista, equivocado, caudatário do império,
e todos os demais defeitos que ideólogos do lulopetismo diplomático podem
encontrar em qualquer diplomacia que não esteja alinhada com suas escolhas
políticas peculiares.
Eles acham que o Brics deveria ser tão
importante no governo atual quanto o foi no anterior, que aliás criou o grupo,
quase que totalmente dominado pela China, um país que, como se sabe é um grande
defensor da democracia e dos direitos humanos. Os três não admitem que o
governo atual possa ter qualquer atitude de retraimento em relação a um grupo
que possui a peculiaridade de ter sido escolhido não por vontade dos quatro
países originais, mas por uma sugestão específica de um economista de um banco
de investimento pensando unicamente, exclusivamente, em maiores retornos de
mercado para investimentos financeiros do grande capital multinacional.
Para eles não existe nenhuma contradição
nesse fato, como tampouco nenhuma estranheza em proclamar que a intenção
manifesta desse grupo é a convergência entre esses países para facilitar o
"reordenamento do poder mundial".
Falta aos acadêmicos gramscianos uma reflexão
ponderada sobre o significado do grupo em termos de modernização
econômica e social, com respeito aos direitos humanos, democracia e liberdades
econômicas de cada um dos países, uma vez que suas convicções políticas não
alcançam esses aspectos, mas permanecem num jogo de soma zero de um ilusório
"poder mundial".
Não espero converter nenhum dos três
gramscianos a outras convicções, pois as deles já são arraigadas, e se
manifestam em frases tão simplistas, redutoras, no limite idiotas, como a que
eles repetem como um mantra: o atual governo estaria comprometido com um
"alinhamento submisso aos poderes centrais".
Eles provavelmente preferem que um governo
"progressista" como o que eles defendem -- aquele mesmo que provou a
Grande Destruição econômica, e lançou o Brasil no descrédito mundial ao
produzir, deliberadamente, o MAIOR ESQUEMA DE CORRUPÇÃO já visto no mundo --
acompanhe outros "anti-hegemônicos" numa espécie de "alinhamento
ativo com poderes periféricos". Esse é o desejo dos três gramscianos que
escrevem o que transcrevo abaixo.
Como sempre, meu blog está aberto a todo tipo
de reflexão, de preferência as mais inteligentes, mas mesmo argumentos idiotas,
como os que figuram abaixo, merecem transcrição, numa prova de quão débil
mentalmente é a nossa academia, quão simplistas podem ser esses acadêmicas,
quão alinhados ideologicamente podem ser os gramscianos, quão coniventes com
uma organização criminosa e um governo corrupto eles podem ser.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2017
Relações Internacionais
Fórum Acadêmico dos BRICS e os (des)caminhos da diplomacia brasileira
por Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI) — Carta Capital, 14/07/2017; link: https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/o-forum-academico-do-brics-e-os-des-caminhos-da-diplomacia-brasileira
Brasil teve participação pífia, condizente como o momento atual do país e sinalizou que os BRICS não são prioridade
Wikimedia Commons
Por Renata Boulos, Diego Pautasso e Cláudio Puty*
Ocorreu em Fuzhou, na China, entre os dias 10 e 12 de junho de 2017, o 9º Fórum Acadêmico dos BRICS com o tema “Pooling Wisdom and New Ideas for Cooperation”. O Fórum reúne organizações da sociedade civil, think tanks e partidos políticos e costuma preceder a Cúpula dos BRICS no país anfitrião.
Quatrocentas pessoas formaram o público principal do evento, composto por membros dos governos dos cinco países (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países visitantes (como Filipinas e Argentina, por exemplo), instituições acadêmicas, organizações da sociedade civil e partidos políticos.
O encontro teve grande importância para a China, pois é um dos principais fóruns onde a paradiplomacia ocupa lugar central e tem sido um espaço de consolidação dos BRICS para além dos chefes de estado.
O Brasil teve uma participação pífia, condizente como o momento atual do país e mais uma vez sinalizou que os BRICS não são prioridade para o atual governo. O think tank brasileiro, IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), sequer se fez comparecer porque a direção do órgão simplesmente não liberou as passagens dos pesquisadores.
A Presidência da República e o Itamaraty mandaram representantes do terceiro escalão, que não expressaram qualquer diretriz da política externa brasileira, tampouco nossa estratégia para o agrupamento BRICS. Imaginamos que esboçá-las deva ser uma tarefa árdua, à medida que sabemos que malta temerosa hoje ocupando o Palácio do Planalto não constitua propriamente um governo.
Talvez por conta disso, a articulação entre os membros do governo brasileiro e integrantes da sociedade civil, think tanks e partidos políticos tenha sido praticamente nula, como se fôssemos membros de países distintos. Causa espécie a falta de entendimento do papel do BRICS como mecanismo de articulação de países emergentes, cujo papel no reordenamento do poder mundial é irrefreável.
Especificamente neste Fórum - que representa um espaço para estratégias de cooperação entre buscando mecanismos de convergência de diversos setores da sociedade - a ausência do governo diz muito, e foi notada por russos, chineses e sul-africanos, que, por sinal, enviaram delegações de alto nível.
Esse evento refletiu o quadro mais abrangente de (des)caminho da política externa brasileira, evidente desde o início do governo surgido do golpe. A outrora diplomacia acusada de ‘politizada’, agora conduzida pelo PSDB de José Serra e Aloysio Nunes produz constrangimentos em série e é digna de uma República de Bananas, não de um país da importância do Brasil.
Recordemos. A nova direção do Itamaraty inaugurou sua gestão disparando baterias contra os países vizinhos e fechando embaixadas na África e no Caribe. Agora segue com a ridícula obsessão por ingressar na anacrônica OCDE e promove operações militares com o exército americano em plena Amazônia brasileira.
Enquanto isso, as instituições voltadas à política externa soberana e autônoma, como a UNASUL, Mercosul, CELAC, a política africana brasileira e os BRICS praticamente saíram da agenda internacional. A resposta infantil à crítica de órgãos internacionais de direitos humanos (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos) sobre o ‘uso recorrente de violência’ contra manifestantes na Cracolândia em São Paulo refletem o caráter do atual governo.
E não para por aí. Recentemente, o Brasil decidiu reduzir drasticamente sua participação no Banco de Investimento em Infraestrutura Asiático (AIIB, na sigla em inglês), encabeçado pela China e do qual o Brasil é membro fundador, ficando com 50 ações ao invés das 32 mil ações inicialmente acordadas.
Não tivemos sequer participação no Fórum do grande plano de infraestrutura da China para o mundo: o “Belt and Road Initiative” quando até nossos vizinhos argentinos e chilenos se fizeram presentes. Finalmente, o ápice dessa festa funesta e aziaga é a série inacreditável de gafes cometidas por Michel Temer em suas visitas internacionais.
Entre os dias 3 e 5 de setembro, ocorrerá a 9ª Cúpula de Chefes de Estado do BRICS em Xiamen, província de Fujian (China), com tema "BRICS: parceria mais forte para um futuro mais brilhante". Enquanto isso, o Brasil parece incapaz de formatar um projeto de inserção internacional para além de recuperar um alinhamento submisso aos países centrais – incluindo aí uma atuação voltada a aprofundar a crise venezuelana.
Mais que lapsos, não ter projeto é o próprio projeto deste governo ilegítimo, impopular, envolvidos em malversações múltiplas, cuja única função é desmontar não somente o ciclo de políticas consagradas no período Lula-Dilma, mas inclusive conquistas oriundas da Constituição de 1988 e mesmo da Era Vargas. O governo Temer é a cara das nossas elites.
*Renata Boulos é mestre em relações internacionais (Universidade de Essesx) e sócia-diretora do INCIDE – Instituto de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. Integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI
Diego Pautasso é doutor em Ciência Política (UFRGS) e professor de Relações Internacionais da UNISINOS
Cláudio Puty é Ph.D. em economia (New School for Social Reserch), professor da UFPA e professor visitante da University of International Business and Economics/Pequim
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