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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Globalizacao economica e globalizacao politica: faz sentido? - Paulo Roberto de Almeida

Globalização micro e macro: o que é isso?

Um parceiro de Facebook posta a seguinte mensagem, provavelmente ainda como "resquício" de um debate chatérrimo sobre o tal de globalismo:

... existem pelo menos dois tipos de globalização mesmo... reproduzo a seguir um trecho de um texto de Daniel Hannan, MEP liberal inglês: 
"Economic globalization is a bottom-up process. It is driven not by governments, but by consumers. The reason goods and services cross borders is that someone wants to buy them. If a local business loses out, it is because consumers prefer someone else's product. Free trade reduces the power of the state and magnifies the freedom of the individual.
Political globalization, by contrast, is about imposing common rules, even when those rules are rejected by local leaders and their voters. It elevates technocracy over accountability.
To lump the two together is a category error."


Concordo em parte com o parlamentar liberal (do Partido Liberal; ou liberal clássico inglês?), mas apenas em parte.
Existe sim uma globalização econômica, que não é exatamente conduzida pelos consumidores, ou seja, pela demanda. 
Neste ponto, fico com a Lei de Say (de Jean-Baptiste Say): "a oferta cria a sua própria demanda".
Ou seja, a globalização é levada adiante basicamente ao nível micro, ou seja, oferta e demanda, mas prioritariamente por indivíduos e empresas inovadoras que percebem alguma necessidade na sociedade, ou nem isso, simplesmente inventam algo que pode ser interessante para os consumidores, mesmo que não seja absolutamente necessário, que seja por puro lazer, entretenimento, para nada, apenas atraente. Preço e qualidade vão impulsionar o mercado por esse produto, e nas condições atuais da economia mundial isso vai se disseminar globalmente, em todo o planeta muito rapidamente.
Isso é globalização, e com muito poucas restrições, além das barreiras físicas e das ditaduras, esse processo é propriamente avassalador, ou seja, vai atingir todos os rincões do planeta, desde que a maioria dos países se guie pelo princípio dos mercados livres.
É o que eu chamo de globalização micro, a verdadeira globalização. 

Na outra ponta, não creio que se possa colocar essa tal de globalização política, que simplesmente não existe para mim.
O que existe é a tentativa de governos e organizações internacionais regularem essas transações, seja para extrair renda (tributação), seja para supostamente "proteger" os consumidores, seja (e aqui eu acho que é mais comum) para fins PROTECIONISTAS.
Isto se dá por meio de acordos, tratados, convenções internacionais e outros instrumentos regulatórios, e a isso eu dou o nome de globalização macro, que na verdade tenta impedir, controlar, cercear, limitar o escopo, o alcance, a irrupção da globalização micro, a verdadeira.

E o globalismo, o que é?
Eu acho que é uma simples bobagem, uma invenção sem sentido daqueles que estão tão imbuídos de uma concepção conspiratória do mundo que interpretam esses dois procesos contraditórios, e paradoxais, como o resultado de uma coalizão de poderosos que quer controlar o mundo e retirar soberania aos Estados nacionais.
O que eu faço com isso?
Nada. Apenas digo que isso é puro bullshit...

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 23 de janeiro de 2018 

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