Há muito tempo sigo, ocasionalmente, os artigos deste pesquisador sensato, clarividente, e sempre quis conhecê-lo, o que agora pretendo concretizar com a ajuda do amigo comum Benício Schmidt.
Vejam vocês: ele foi demitido apenas por alertar a Embrapa que ela estava no caminho errado, ao continuar a defender a fantasmagoria da reforma agrária e a mistificação da agroecologia, coisas que eu, há muito tempo, reputo como duas construções ideológicas de certa esquerda anacrônica, que não considera os dados da realidade.
Minha solidariedade.
Ambiente da empresa do Ministério da Agricultura é autoritário e não permite discussões, afirmou o sociólogo Zander Navarro
–
MAURÍCIO TUFFANI,
Editor
Um artigo publicado no
Estadão na sexta-feira (5) custou a seu autor, o sociólogo
Zander Navarro, a demissão de seu cargo de pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estatal vinculada ao Ministério da Agricultura. Ontem, segunda-feira (8), ele recebeu da administração um documento comunicando seu desligamento.
Questionada por meio de sua Secretaria de Comunicação no início da tarde desta terça-feira, a Embrapa afirmou por telefone que Navarro foi demitido por ter sucessivamente infringido o código de ética da empresa. Direto da Ciênciaem seguida questionou quais disposições do citado código teriam sido desrespeitadas pelo pesquisador. A pergunta foi enviada também por e-mail.
Na sequência, a reportagem entrou em contato com Navarro, que estava na Embrapa, em Brasília, às voltas com a retirada de seus objetos pessoais. Ele afirmou que no comunicado que recebera constava que sua demissão havia sido decidida pela presidência da estatal, que considerou terem sido cometidas por ele transgressões disciplinares que culminaram no texto publicado no centenário jornal paulistano.
Intitulado
“Por favor, Embrapa: acorde!”, e com o subtítulo “Concorrentes correm à nossa frente e a estatal dorme embalada pelos sonhos do passado”, o artigo de Navarro afirmou:
O ano entrante é decisivo para a Embrapa. Seu atual presidente será provavelmente substituído. Não poderia estatutariamente ser reconduzido. Haverá também a substituição do atual titular do Ministério da Agricultura, onde está alocada a empresa. E teremos eleições presidenciais. Qual será o futuro da Embrapa? É um cenário imprevisível, para o qual a organização está despreparada. Seu funcionamento interno é autoritário e não permite debater a situação e a construção de cenários plausíveis. E existe enorme resistência da direção em promover as mudanças urgentes e necessárias.
Ao final desse texto, Navarro se identifica como “Sociólogo e pesquisador em ciências sociais”, e não como pesquisador da Embrapa. Ele afirmou à reportagem que em todos os seus artigos, palestras e apresentações sempre explicitou que se pronunciava apenas em seu nome, a fim de evitar problemas com a estatal.
Polêmicas
Navarro graduou-se em agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, em 1972 e concluiu mestrado em sociologia rural em 1975 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi docente até se aposentar em 2011. Em 1981 obteve seu título de doutor em sociologia pela Universidade de Sussex, no Reino Unido. E concluiu seu pós-doutorado em 1992 no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
Em 2011, Navarro ingressou na Embrapa Estudos Estratégicos e Capacitação, em Brasília. Ao ser demitido, estava lotado na Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da empresa.
Graziano foi quem ainda ontem, no mesmo dia, divulgou a demissão de Navarro, com um
post no Twitter.
Até o fechamento desta reportagem, a Embrapa não respondeu à pergunta sobre quais dispositivos do código de ética da empresa teriam sido considerados como infringidos por Zander Navarro.
Na imagem acima, o sociólogo Zander Navarro, demitido da Embrapa em 8 de janeiro. Foto: Pedro França/Agência Senado/Wikimedia/Commons.
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