Dos extremismos políticos e das formas de prejudicar a nação
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: discussão pública; finalidade: exposição sobre a situação do Brasil]
O espectro político pós-1789 abriga as mais diferentes concepções sobre as formas de se conceber e organizar o Estado, a economia, a cultura, etc., geralmente indo da extrema-direita (reacionários radicais, tradicionalistas fundamentalistas) até a extrema-esquerda (revolucionários anarquistas, comunistas integrais), passando por todas as demais cores do leque, liberais clássicos, socialistas democráticos e outras.
Todas essas posturas são, em princípio, eleitoralmente legítimas, desde que respeitadas algumas normas fundamentais do jogo civilizatório: alternância no governo pelo voto popular, respeito a todas as liberdades democráticas, defesa dos direitos humanos, etc.
Esquerda e direita muito afastadas do liberalismo econômico — que significa ampla defesa da iniciativa privada, da abertura econômica, da liberalização comercial e do acolhimento sem restrições ao investimento estrangeiro, imigração e fluxos livres de capitais — tendem a ser nacionalistas e estatizantes, duas posturas igualmente nefastas ao crescimento econômico, ao desenvolvimento e à prosperidade social dos países.
O nacionalismo de esquerda tende a ser mais rastaquera, ao favorecer protecionismo comercial, as restrições ao investimento estrangeiro, e com isso bloqueia um ritmo mais pronunciado de crescimento e de empregos de qualidade para a população.
O nacionalismo de direita costuma ser mais agressivo, culturalmente canhestro, geralmente reacionário e ignorante. Pode ser racista, mas é distintamente xenófobo.
Ambos nacionalismos são patéticos e nefastos no plano econômico e até civilizatório, quando se tornam excludentes e especialmente estúpidos em sua introversão ignorante e limitadora.
Por isso sou, como já disse um filósofo espanhol, contra todas as pátrias, e decididamente globalizador, globalista e multilateralista.
Considero a atual postura estupidamente nacionalista do presente desgoverno do Brasil, assim como sua política externa antiglobalista e sua diplomacia medíocre e dotada de uma indigência mental nunca vista em toda a nossa história, como duas manifestações terrivelmente nefastas e regressivas do ponto de vista civilizatório, diminuindo tremendamente o Brasil aos olhos do mundo.
Este talvez seja o ponto mais baixo a que chegamos em quase dois séculos de vida independente. Não haverá muito a comemorar, praticamente nada, se chegarmos a setembro de 2022 com o mesmo bando de bárbaros ignorantes que ocupam atualmente o centro do poder. Trata-se de uma extrema-direita que sequer possui qualquer qualificação política ou doutrinal, puro barbarismo com pitadas (ou maciças doses, a ver) de criminalidade e banditismo rastaquera.
Nem sei como os altos escalões do nosso Estamento Burocrático — civil e militar —, assim como os respeitáveis representantes das elites econômicas aceitam conviver e transacionar com os bárbaros no poder: provavelmente porque todos eles estão interessados em ganhos privados e corporativos.
Essa gente — as elites em geral, algumas delas em particular — não possui os requisitos mínimos que possam ser identificados com a dignidade da nação. Consentem com o já visível afundamento do país, com o rebaixamento das instituições de Estado, com a mediocrização da cultura, com a deterioração da imagem do Brasil no mundo. Acho que nunca vivemos, em nossa trajetória independente, momentos tão sombrios na vida da nação.
Não me lembro de ter contemplado, da segunda metade do século XX para cá, um quadro de anomia tão grave na história do Brasil.
Gostaria de poder deixar, em 2022, um testemunho da vitalidade da produção intelectual em 200 anos de trajetória nacional. Temo ter de contemplar apenas escombros, como uma espécie de Gibbon em face das ruínas de Roma, ou na posição dos mandarins da corte imperial chinesa ante os saques das tropas ocidentais no Palácio de Verão, ou ainda da corte de Bizâncio contemplando a fúria dos cruzados na marcha para Jerusalém.
Episódios insanos de destruição não são raros na história da Humanidade. O Brasil ainda não tinha sido apresentado a nenhum: talvez seja o caso agora, sob os pés de uma extrema-direita barbárica.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de julho de 2020
Endoidou de vez!
ResponderExcluir