Sobre uma das próximas aventuras inconsistentes nas relações plurilaterais do Mercosul: a tal de “moeda comum”.
Paulo Roberto de Almeida
Segundo leio no programa de agenda, do lado argentino, figura esta “novidade”:
“También será central un mecanismo que podría permitir la creación de una moneda común. "Lo que se firma es un memorándum de entendimiento para empezar a estudiarlo", explicaron desde el ministerio de Economía a este diario y adelantaron que sería moneda común, no única, porque serviría para el comercio entre los países, asociada al valor de Producto bruto y a la situación de los bancos centrales de Brasil y la Argentina. Eso permitiría que el comercio entre ambos deje de estar dolarizado. Cada uno, sin embargo, conservará su moneda local.”
Minhas observações (PRA):
1) “Mecanismo que poderia permitir a criação de uma moeda comum”.
Não é difícil, mas tampouco é fácil, pois requer uma solidez de políticas econômicas, macro (monetária, cambial e fiscal) e setoriais (sobretudo comercial, industrial e agrícola), que estão muito longe de serem garantidas atualmente no Mercosul e nos países individualmente. Estamos a anos-luz de distância dos requerimentos à la Maastricht que esse projeto impõe, e será muito dificil obter as condições no futuro previsível. De resto, já está previsto no Artigo 1o. do Tratado de Assunção — convergência de políticas econômicas —, mas nunca foi feito, salvo uma efêmera tentativa em 1999-2000 (SGT-14), e também exigiria um mercado comum efetivo, o que está longe de ser o caso.
2) “… serviría para el comercio entre los países, asociada al valor de Producto bruto y a la situación de los bancos centrales de Brasil y la Argentina.”
Tanto o dólar, quanto as moedas nacionais (de preferência uma com maior garantia de estabilidade) podem servir ao comércio bilateral e interregional. Essa coisa de associar a moeda ao “valor do PIB” não faz nenhum sentido: o PIB do Uruguai deve ser menor do que o da cidade de SP. A situação dos bancos centrais tampouco tem algo a ver com o comércio intra-zona e NÃO É FUNÇÃO dos BCs financiar comércio privado, nem garantir riscos cambiais. Talvez seja um disfarce argentino para garantir certo equilíbrio no comércio bilateral com o Brasil, o que não faz NENHUM SENTIDO. O comércio no Mercosul não é LIVRE?
3) “… permitiría que el comercio entre ambos deje de estar dolarizado.”
Por que esse preconceito contra o dólar, moeda largamente utilizada em enorme proporção no comércio internacional (e até em transações internas) em vasta maioria dos países? Apenas por pruridos anti-imperialistas e antiamericanos? Os grandes traders vão trocar o dólar por uma moeda não testada na prática? Nem o Euro, supostamente de maior consistência intrínseca (pois que administrado num empreendimento multinacional, em lugar de depender do arbítrio de um único país), conseguiu desbancar o dólar de sua preeminência mundial (e arrogância quase unilateral).
Conclusão: o dólar continuará sendo, no futuro previsível, a “moeda comum” de Brasil, Argentina e do Mercosul. Mas, esse “projeto” tresloucado deve garantir diárias e passagens para os tecnocratas e diplomatas nos próximos anos, em viagens totalmente inúteis nos quatro ou cinco paises, e até para Frankfurt, sede do ECB. Sempre servirão para algum turismo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22/01/2023
Um comentário:
Uma coisa que não entendi é como seria apurada a taxa de câmbio dessa moeda comum em relação às locais, e se ambos os países poderiam ampliar a base monetária “comum” via emissões.
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