Sobre a alternância de “humores” políticos no campo da economia
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
Nota sobre o pêndulo entre políticas distributivistas e produtivistas nas democracias de mercado nas últimas décadas.
Depois de quatro anos de puros delírios ideológicos do desgoverno do “Deus, Pátria e Família”, voltamos às contradições normais de qualquer governo responsável ao redor do mundo: tentar fechar um orçamento factível com base na noção elementar em economia de que os desejos são infinitos e ilimitados, e os recursos escassos e limitados.
A contradição básica dos governos distributivistas — social-democratas — consiste em achar que o Estado, e não o mercado, deve ser o responsável pela melhor distribuição possível, geralmente atuando mais com base nos estoques disponíveis de riqueza (que se esgotam, necessariamente) do que a partir da criação de novos fluxos incrementais de riqueza a partir do investimento e da produção de uma oferta acrescida.
Mas a noção de que todos têm “direitos” a alguma coisa “necessária”, e que esses direitos têm de ser dados a todos por um Estado magnânimo, não bate bem com princípios elementares da vida econômica.
Persistem em governos desse tipo a velha noção keynesiana (agora pikettyana) de que o Estado é o melhor provedor dessas várias bondades infinitas, e de que precisa, e deve, “corrigir” supostas “falhas de mercado” e “imperfeições” do capitalismo (equiparado a uma economia de mercado, quando ele é apenas uma parte de uma realidade econômica bem mais vasta).
Se os “justiceiros sociais” investigarem melhor de onde provêm os recursos do Estado, e tentarem fechar a conta, vão se decepcionar com as limitações inerentes ao princípio básico da escassez. Mas raramente se convencem de que o Estado raramente é aquela cornucópia generosa de onde jorram quantidades ilimitadas de leite e mel. Em consequência atuam no limite extremo das possibilidades até a próxima crise e a imposição de um novo “austericídio”.
E o ciclo se completa: distributivistas cedem o lugar aos mercadistas, que funcionam na austeridade temporária, até que a população se canse das “correções” e vote de novo a favor da volta dos generosos justiceiros.
Tem sido assim desde o pós-Segunda Guerra Mundial nas democracias de mercado, das quais o Brasil ainda está muito longe de ser um caso exemplar. Mas levamos aos extremos a noção equivocada de o keynesianismo anticíclico constitui uma “teoria” do desenvolvimento. E ainda chegam os pikettyanos para agravar a coisa.
Tem tudo para não dar certo, ou ficarmos parados no mesmo lugar.
Em todo caso, meus melhores e sinceros votos de sucesso no tocante às políticas econômicas do governo redentor.
Vamos ver o que ocorrerá quando o cheque em branco de um ano terminar. Virá uma nova PEC salvadora?
Paulo Roberto de Almeida
São Paulo, 4299: 4 janeiro 2023, 2 p.
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