As más escolhas que nos tiram do caminho do progresso e da inclusão social
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre o recuo do governo brasileiro na decisão de ingressar na OCDE.
Existe um pequeno livro de Antonio Paim, Momentos Decisivos da História, que trata de três escolhas erradas que o Brasil fez no passado e que comprometeram o seu futuro. Algumas vieram de longe, outras são mais recentes.
A mesma indecisão quanto a qual caminho adotar no presente compromete nossa trajetória desde mais de três décadas: a correta dosagem das políticas macroeconômicas e setoriais, assim como sua orientação qualitativa e prioridades.
A interação Brasil-OCDE, iniciada na última década do século XX, fortaleceria a solidez das políticas econômicas e sociais. Ela foi interrompida pouco depois e ficou parada, esperando nova oportunidade, que veio de uma maneira muito hesitante.
Afastar esse objetivo, como ocorre no atual governo, tornará mais difícil o caminho do desenvolvimento econômico e social. A via do avestruz, que insiste na introversão e no protecionismo, nos leva a um atraso persistente, mas parece que vamos patinar na mesma má escolha novamente…
Estou tentado a agregar um quarto equívoco ao livrinho de Antonio Paim, confirmando nosso velho hábito de insistir nas escolhas erradas: foi assim no tráfico e na escravidão, foi assim na ausência de reforma agrária, foi assim na não educação de massa de qualidade, foi assim na introversão de nossa industrialização: continuamos na postura do avestruz, uma escolha que não é uma política; é apenas indecisão.
Minha reflexão não tem nenhum poder de mudar a realidade presente, a despeito de estar fundamentada numa análise do passado. Mas cabe registrá-la formalmente, para que não se diga que descurei do nosso futuro.
Estamos atrasados desde várias décadas: ficaremos no mesmo lugar por uma ou duas gerações a mais. Uma pena para nossos filhos e netos: alguns, ou muitos, escolherão o caminho do exílio (muitos já o fizeram).
Por certo perdeste o senso, escreveu um poeta cem anos atrás…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4502, 2 novembro 2023, 1 p.
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