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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

POR QUE CERTAS IDEIAS IMPORTANTÍSSIMAS MORREM NA INUTILIDADE? -Bolivar Lamounier (apresentação Paulo Roberto de Almeida)

 Artigo importante do Bolívar Lamounier, pessimista porque realista sobre a situação calamitosa do Brasil, muito pior do que sequer imaginamos que possa ser, e que resumo na seguinte observação que ele faz: temos o crime organizado crescendo três vezes mais rápido do que o PIB e elites medíocres, ineptas e incapazes de pensar um futuro para o país, que navega sem cartas náuticas e sem direção por um mar encapelado sem sequer ter consciência de para onde vai e sem ideia de para onde quer ou pretenderia ir. Estamos perdidos no nevoeiro, e tudo o que o atual governo tem a oferecer é mais do mesmo, ou seja, a continuida da extorsão praticada pelo estamento político predatório sobre os poucos recursos duramente amealhados pelos empresários que ainda tentam se manter ante as barreiras colocadas ao empreendedorismo privado pelas fortalezas estatais construidas para escapelá-los e despojá-los do que conseguem produzir como valor agregado. Somos uma Argentina em marcha lenta, volto a dizer.

Paulo Roberto de Almeida

POR QUE CERTAS IDEIAS IMPORTANTÍSSIMAS MORREM NA INUTILIDADE?

Bolívar Lamounier 

Sim, estou seguro de que meu título expressa uma verdade profunda. Se um indivíduo martelar 10 vezes uma ideia que mereceria ser repetida 10 mil vezes, ele granjeará uma sólida fama de chato e a ideia nunca voltará a ser lida. Será abandonada como inútil. Trata-se do que os cientistas denominam “efeito perverso”. 

Tonto como sou, volta e meia me atrevo a ultrapassar o limite de dez vezes e repito alguma ideia que me pareça relevante. E vou mais longe: às vezes repito todo um argumento, presumindo que as ideias que o compõem são igualmente relevantes. 

Por exemplo: a ideia de progresso como um destino único e necessário para a humanidade. Trata-se de uma tolice. Assim como há progresso, há retrocesso. Há retrocesso manso, quase horizontal, como acontece no Brasil, e há retrocesso abrupto, quase catastrófico, como o da Argentina. Nossos “hermanos” do Sul chegaram a constituir uma das nações mais ricas do mundo, mas regrediram. Chegaram a ter uma renda anual por habitante superior à da metade da Europa, um sistema de ensino exemplar já na segunda metade do século XIX e um metrô em Buenos Aires em 1910. Mas caíram, despencaram ladeira abaixo e esborracharam lá embaixo, onde hoje se encontram. Nós, brasileiros, nã o acreditamos nisto. Somos panglossianos: acreditamos piamente que nossa história será uma sequência irreversível de felicidades. Tampouco acreditamos em temores. Um de nós jamais escreveria, como Camões, “que nos perigos grandes, vinte vezes maior é o temor que o perigo”.

Para abreviar, e apesar de tudo o que acima vai dito, relembro aqui alguns pensamentos que tenho incessantemente martelado. Primeiro, o Brasil não está estagnado, está em retrocesso. Debater todo ano se o déficit fiscal do ano seguinte será inferior a 1% do PIB é pior que irresponsabilidade, é um ridículo atroz. Imaginar que nossa economia um dia crescerá vigorosamente apenas com recursos estatais (dada a nossa relação carnal com o Estado, nossa hostilidade à empresa privada e nossa absoluta recusa a uma economia mais aberta ao exterior), beira a idiotia.  Desse conjunto, a única inferência possível é que somos mesmo um país de lorpas e pascácios.  < /span>

Acrescentemos, para não deixar barato, que temos uma Constituição irreformável. Quando lhe encheram os intestinos com uma infinidade de freios e estipularam que a elaboração de outra mais sensata requer a convocação do “poder constituinte originário”, os constituintes de 1988 encestaram a bola sete. Na prática, acabaram com o jogo. Queira Deus que nossos atuais congressistas não metam na cabeça a ideia de se arvorar em “poder constituinte originário”, porque a segunda da lavra deles sairá pior, com certeza. A emenda sairá pior que o soneto.

Noves fora, há como desarmar essa armadilha em que nos meteram? Ou nossa única alternativa é nos pormos a cogitar que país teremos daqui a 10 ou 20 anos, com o crime organizado crescendo a uma taxa anual muito mais elevada que o PIB?

Os três países que se industrializaram tardiamente – quero dizer, nas últimas três décadas do século XIX: Alemanha, Estados Unidos e Japão – o fizeram quando venceram guerras sangrentíssimas. 

Nós não temos nem queremos tal alternativa. E da elite estatal – quero dizer, das cúpulas dos três Poderes, salvo melhor juízo, há o que esperar? Nada o indica. Como, então, escapar da armadilha?

O palpite que lhes posso oferecer, é anêmico, débil, e minúsculo como um grão de areia. É o caminho das ideias. É formar, fora do Estado, de fora para dentro, uma elite pensante e atuante, que sirva como um muro de arrimo, balizando seriamente as ações públicas e impedindo que o país despenque para valer.   

Dizendo-o de forma abreviada, preocupa-me o fato de a situação econômica e social brasileira ser muito mais grave do que em geral se tem presumido, a julgar pelo que nos é dado avaliar pela mídia e pelo debate público em geral. Mesmo que nossa renda per capita crescesse continuamente (hipótese inverossímil)   3% ao ano, levaríamos praticamente uma geração para dobrá-la, atingindo uma cifra ainda aquém da que os países desenvolvidos atingiram décadas atrás. Não se requer muito esforço para visualizar o sombrio o horizonte que emergirá de tais condições. 

Para pior, como antecipei, não dispomos, fora da máquina do Estado – ou seja, fora do sistema institucional constituído pelos três Poderes-, de uma elite competente, culta e suficientemente devotada ao bem do país.

O grão de areia que estou começando a montar é um programa interdisciplinar de economia, política e história (nada a ver com os ralos currículos atualmente oferecidos na maioria das universidades), a fim de trocar ideias em reuniões presenciais, on line e em vídeo com profissionais e universitários de alta qualificação a respeito da situação brasileira no curto e no médio prazo, e uma cogitação de cenários para o médio prazo.”


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