Guerras e reformas globais vão pautar reunião do G20 no Rio
Caio Sartori
Valor, 26/01/2024
A primeira grande reunião do G20 sob presidência do Brasil está marcada para os dias 21 e 22 de fevereiro, no Rio de Janeiro, com os ministros de Relações Exteriores do grupo. O encontro dos chanceleres, apurou o Valor, vai debater sobretudo dois temas: as tensões internacionais em curso e a reforma da governança global. Escolheu-se como palco a Marina da Glória, no aterro do Flamengo, na divisa entre a zona sul e o centro da cidade.
Em gesto ao Mercosul e à integração regional, o governo brasileiro distribuiu nesta semana convites para os países do bloco participarem do encontro. Oficialmente, além do Brasil, apenas a Argentina integra o G20, que reúne algumas das maiores economias do mundo. Com o convite, portanto, também devem ir ao Rio os chefes diplomáticos de Uruguai, Paraguai e Bolívia.
Outros blocos abarcados pelo aceno do ministro Mauro Vieira foram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em recados de valorização da língua portuguesa e da pauta ambiental, respectivamente. No total, além dos 21 integrantes oficiais e desses convidados recentes da presidência brasileira, compõem a lista do evento outros oito países que foram convidados ainda no ano passado e 12 organizações internacionais.
A ideia da gestão brasileira é que o primeiro dia da reunião de chanceleres discuta as guerras e conflitos internacionais vigentes, sobretudo a guerra da Ucrânia e o conflito no Oriente Médio. Afinal, será a primeira vez desde o início da tensão em Gaza entre Israel e Hamas que o grupo se encontra.
No caso da guerra na Europa, o G7 despontou nos últimos dois anos como espaço de debate. No G20, espera-se uma postura firme sobre a guerra em Gaza de países próximos à causa palestina, como Arábia Saudita, Turquia, Indonésia e África do Sul - além do Egito, que é membro convidado.
Depois dos chanceleres no Rio, ministros da área financeira se reúnem em SP
No segundo dia de reunião, o foco será a reforma das instituições internacionais, tema que, inclusive, integra um dos três eixos da presidência brasileira ao lado da pauta climática e do combate à fome e às desigualdades. “Não estamos falando só de reforma do Conselho de Segurança da ONU. No G20, esse tópico envolve reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e, também, das Nações Unidas de forma mais abrangente”, diz uma fonte envolvida na agenda programática da condução brasileira.
O encontro na Marina da Glória serve de ponto de partida para as reuniões ministeriais que vão ocorrer ao longo do ano no Rio e em outras cidades do país até a cúpula dos chefes de Estado, marcada para 18 e 19 de novembro. “Será um evento preparatório fundamental para a logística e a segurança da Marina”, afirma o presidente do comitê municipal que organiza o G20, Lucas Padilha. A tendência é que a cúpula de novembro seja no Museu de Arte Moderna (MAM), localizado próximo à Marina.
Uma semana depois dos chanceleres, será a vez de os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais se encontrarem, mas em São Paulo. Ao longo do ano, no Rio, o calendário do comitê do G20 também prevê uma reunião de ministros da área financeira, assim como das temáticas de clima e de saúde.
O G20 é dividido em duas “trilhas”: a dos sherpas, conduzida pela diplomacia, e a financeira, pelo Ministério da Fazenda. O nome sherpa neste caso se aplica aos diplomatas precursores das missões. No Brasil, o sherpa é o embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, enquanto a coordenadora da trilha de finanças é a secretária de Assuntos Internacionais da Fazenda, Tatiana Rosito.
Antes mesmo de começarem os encontros de ministros, está programado no Rio, na segunda-feira (29), um evento de um dos grupos de engajamento, como são chamados os núcleos de debate voltados para áreas temáticas. O encontro é o Business 20 (B20), marcado na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin. Também participam Mauricio Lyrio, Tatiana Rosito e CEOs de empresas nacionais e estrangeiras.
Desde que o Brasil assumiu a presidência do clube de grandes economias do mundo, em dezembro de 2023, a prefeitura do Rio tem investido na divulgação da cidade como “capital do G20”, como é possível ler em diversas placas publicitárias espalhadas pelas ruas. Apesar de vários municípios do país receberem eventos ligados à presidência brasileira, o Rio será o anfitrião da maioria deles.
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