Esclarecendo o verdadeiro sentido da “batalha do BRICS”: rumores sobre o futuro da ordem global são notoriamente exagerados e distorcidos.
Paulo Roberto de Almeida
Nunca deixei de considerar a aventura inicial do BRIC ministerial (2006), depois oficializado como foro em nivel de cúpula (2009), expandido sorrateirameente pela China como BRICS (2011), dotado de um banco de fomento em 2014, a despeito do brutal imperialismo aberto demonstrado pela Rússia na Crimeia poucos meses antes, e agora continuamente ampliado para abrigar, no chamado BRICS+, novos membros criteriosamente escolhidos pelas duas grandes autocracias no encontro da África do Sul (2023) e agora novamente em Kazan (2024), retomo, nunca deixei de considerar toda essa aventura, mal pensada e mal concebida desde o início, como um insensata iniciativa da diplomacia lulopetista, animada em seu ativismo antiamericano como potencialmente PREJUDICIAL ao Brasil e à sua diplomacia, pois que submetendo nossa tradicional autonomia e independência nos assuntos de política internacional aos interesses nacionais e diplomáticos de duas grandes autocracias, cujos interesses geopolíticos são essencialmente diferentes — em vários sentidos CONTRÁRIOS— aos do Brasil como país em desenvolvimento plenamente integrado às tradições culturais ocidentais e alheio a todas as disputas interimperiais entre grandes potências. Infelizmente, o gesto insensato de Lula e de Amorim, em 2005-2006, converte, de certa forma, nossa diplomacia em CAUDATÁRIA das decisões e interesses dessas duas grandes potências, cujas motivações e iniciativas passam ao largo dos interesses e necessidades do Brasil como nação soberana e plenamente autônoma no cenário internacional.
O fato é que, em lugar de ser um ativo em nossa diplomacia, o BRICS+ se tornou agora um imenso passivo a ser administrado com todo cuidado pela diplomacia profissional, uma BOLA DE FERRO atada aos pés de um país que sempre desejou exercitar uma diplomacia completamente autônoma em relação aos interesses de grandes potências, pois que ingressamos agora numa etapa anti-G7, anti-OCDE e anti-Ocidente, que não corresponde EM NADA aos reais interesses do país. A outra ilusão da diplomacia lulopetista é, obviamente, essa pretensão tresloucada de ser lider de um diáfano e inexistente Sul Global, o que não a converte em coordenadora de NADA CONCRETO, a não ser de continuar a ser um conceito inventado por acadêmicos e usado de maneira oportunista por politicos sedentos de algum palanque internacional. Nossa “liderança” na América do Sul já é uma ilusão completa, para continuarmos ainda a ser um joguete no contexto de um bizarro e contraditório BRICS+.
Lamento pelo Brasil e por sua diplomacia profissional, embarcada involuntariamente numa aventura que nunca fez parte de seus estudos técnicos ponderados ou de um planejamento diplomático consciensioso, sendo apenas uma inserção política e ideológica, um contrabando totalmente artificial e desconectado de nossos reais interesses externos.
Ao que me consta, fui, e sou, o único diplomata da ativa, agora aposentado, a me manifestar ceticamente sobre as virtudes alegadas do BRIC-BRICS, e agora muito criticamente sobre esse BRICS+, desfigurado e desviado de suas pretensões originais, posto a servir a objetivos próprios de duas autocracias, e que não responde mais a nossas necessidades diplomáticas ou a nossos interesses nacionais.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25/09/2024
The Battle for the BRICS
Why the Future of the Bloc Will Shape Global Order
Foreign Affairs, October 24, 2024
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