O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Academia Brasileira de Ciências. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Academia Brasileira de Ciências. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Será possível acabarmos com as guerras? - Isaac Roitman (Academia Brasileira de Ciências)

Será possível acabarmos com as guerras?


Academia Brasileira de Ciências, 03 de dezembro de 2024


Leia texto do Acadêmico Isaac Roitman,publicado no Monitor Mercantil, publicado em 29/11. Ele é  professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq e membro do Movimento 2002–2030: o Brasil e o Mundo que queremos.

Leia o texto na íntegra, aberto, no Monitor Mercantil

Monitor Mercantil, 29 de novembro de 2024

https://monitormercantil.com.br/sera-possivel-acabarmos-com-as-guerras/

As guerras fazem parte da história da humanidade. A primeira guerra registrada ocorreu por volta de 2525 a.C. A cidade-estado suméria de Lagash travou uma guerra de fronteira contra Umma, também cidade-estado da Suméria. Os historiadores apontam que o conflito envolvia a posse de territórios importantes nas fontes de irrigação. Esse conflito seria a primeira “guerra da água” da história.

Interessante é que, passados mais de 4 mil anos, essa motivação é prevista em futuras guerras. Outra guerra, ocorrida por volta do século 12 a.C., foi a Guerra de Troia, que, na mitologia grega, está presente nas obras de Homero, contando a história das deusas Atena, Afrodite e Hera.

As guerras passaram a ser globais a partir do século 20. A primeira guerra global ocorreu entre 1914 e 1918, quando houve um extraordinário crescimento industrial que provocou uma corrida armamentista, com a produção de uma grande quantidade de armas. A chamada Primeira Guerra Mundial deixou 10 milhões de soldados mortos, cerca de 21 milhões de feridos e mais de 6 milhões de civis mortos. No final dessa guerra, foi criada a Liga das Nações.

Entre 1939 e 1945 ocorreu a Segunda Guerra Mundial, o maior conflito militar, marcado pela destruição sem precedentes na história da humanidade. Estima-se que o custo total dessa guerra tenha chegado a US$ 1,385 trilhão. Resultou também nas perdas humanas causadas pelo conflito: 45 milhões de mortos, 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. Após o término dessa guerra, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU).

Atualmente, várias guerras estão ocorrendo, entre elas: guerra Rússia x Ucrânia, guerra Israel x Hamas e Hezbollah, guerra da Síria, guerra civil no Iêmen, guerra civil no Myanmar, conflito no Sahel, conflito Azerbaijão x Armênia, entre outros.

Uma possível Terceira Guerra Mundial, com a utilização de armas nucleares, pode resultar na extinção da vida humana no planeta. Se ela ocorrer, poderá ser a Última Guerra da Humanidade. Segundo a FAS (Federation of American Scientists), o arsenal de ogivas nucleares é grande e está assim distribuído: Rússia: 5.977; Otan: 5.943 (EUA: 5.428; França: 290; Reino Unido: 225); China: 350; Paquistão: 165; Índia: 160; Israel: 90; Coreia do Norte: 20.

A história das guerras e o atual contexto ameaçam o nosso otimismo como seres civilizados e o futuro dos nossos descendentes. No entanto, creio que a luta contra as guerras, isto é, uma paz plena, talvez ainda possa ser conquistada. É pertinente refletir sobre as principais causas das guerras, que envolvem fatores sociais, políticos, econômicos e culturais:

  1. Disputas territoriais: países ou grupos podem lutar por territórios específicos devido à sua localização estratégica, recursos naturais ou valor histórico.
  2. Conflitos ideológicos: diferenças em crenças políticas, religiosas ou sociais podem levar a confrontos, como visto em guerras civis e conflitos internacionais.
  3. Rivalidades étnicas e religiosas: conflitos entre diferentes grupos étnicos ou religiosos têm sido uma causa comum de guerra ao longo da história.
  4. Competição por recursos naturais: a busca por recursos como água, minerais, petróleo e terras agrícolas.
  5. Questões de poder e hegemonia: países ou líderes podem buscar expandir seu poder e influência, levando a guerras de conquista ou expansão territorial.
  6. Nacionalismo exacerbado: um forte senso de identidade nacional e desejo de independência pode levar a conflitos, como visto nas guerras de independência.

Podemos e devemos combater as causas dos conflitos. O primeiro passo é estar em paz consigo mesmo e sermos, dentro das nossas limitações, soldados pela paz, tendo como mantras os pensamentos de sábios do passado, que pregavam substituir o ódio pelo amor, a colaboração pela competição:

“Para pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você.” (São Francisco de Assis)
“Não deixem as pessoas colocarem você na tempestade delas. Coloque-as na sua paz.” (Buda)
“A paz é a única forma de nos sentirmos humanos.” (Albert Einstein)
“Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz.” (Maria Bethânia)
“Nós não podemos nos concentrar somente na negatividade da guerra, mas também na positividade da paz.” (Martin Luther King)

Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências e do Movimento 2002–2030: o Brasil e o Mundo que queremos. 

terça-feira, 5 de novembro de 2024

"Um Olhar Sobre o Ensino Superior no Brasil" - livro da Academia Brasileira de Ciências

 

sábado, 27 de novembro de 2021

Ricardo Paes de Barros: Auxílio Brasil não resolve as falhas do Bolsa Família - Malu Gaspar (O Globo)

Ricardo Paes de Barros: Auxílio Brasil não resolve as falhas do Bolsa Família

OS ACADÊMICOS | 

Academia Brasileira de Ciências, 26 de novembro de 2021

http://www.abc.org.br/2021/11/26/ricardo-paes-de-barros-auxilio-brasil-nao-resolve-falhas-bolsa-familia/?fbclid=IwAR27O9yWhqXCwcpiiJIjLd9k1Q2DhFpIvSbmpBVnEnndysVi7iPLF9DrLvc

 

O membro titular da ABC, Ricardo Paes de Barros, foi entrevistado no podcast A Malu Tá On, com a jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo. Confira trechos da matéria no site d’O Globo.

 

O Auxilio Brasil, que deve substituir o Bolsa Família a partir de 7 de dezembro, não corrige as falhas do programa anterior e não persegue o que deveria ser a meta principal de um plano de combate à pobreza hoje: a inclusão produtiva das famílias de baixa renda. Quem afirma é Ricardo Paes de Barros, o PB, criador do Bolsa Família e um dos maiores estudiosos da desigualdade de renda no Brasil.

(…)

“O pobre brasileiro não está precisando apenas de transferência de renda, mas também de inclusão produtiva. As famílias querem ter capacidade autônoma de gerar a própria renda”, explica o economista. Para PB, que acompanhou a elaboração do programa Brasil Sem Miséria no governo Dilma Roussef, o ideal seria aproveitar a experiência acumulada, corrigir eventuais falhas e avançar.

“Não era uma maravilha, mas era tido mundialmente como um grande exemplo de combate à pobreza. Qualquer programa de combate à pobreza daqui por diante vai ter que voltar lá, para melhorar a partir dele”. Em vez disso, disse PB à jornalista Malu Gaspar, retrocedemos ao ao patamar do início dos anos 2000, quando o Brasil distribuía vários bônus e auxílios sem qualquer coordenação.

Filho de militar e irmão do presidente da Infraero, PB revela que deu sugestões à equipe de Paulo Guedes para melhorar o programa, mas elas não foram aproveitadas. E lamenta: “O Brasil deixou de ser um país que era um modelo no combate à pobreza para ser um país percebido mundialmente como sem rumo no combate à extrema pobreza”.

Para ele, o problema do Auxílio Brasil não é falta de dinheiro e sim falta de informação. “Não tem como resolver o problema da pobreza eletronicamente ou pelo correio. Você tem que conversar com a família, entender o problema dela”, diz o economista. “A solução para a extrema pobreza de duas famílias vizinhas pode ser completamente diferente”.

Nessa missão, diz PB, o governo Bolsonaro fracassou com o auxílio emergencial, porque o Brasil perdeu uma grande oportunidade de conhecer em detalhes o perfil e as necessidades dos pobres. “O problema do Auxílio Emergencial foi que, ao final, você sabia tão pouco sobre a pobreza quanto sabia no primeiro mês. Você não criou um sistema de aprendizado com o que estava fazendo”.

(…)

Ouça o podcast completo no Spotify.

Leia a matéria completa no O Globo.

Jornal O Globo, 26/11/2021

 

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Celso Lafer: palestra sobre Rui Barbosa na ABL - Merval Pereira

A atualidade dos clássicos

Leia a coluna de Merval Pereira no jornal O Globo, em 3 de maio, na qual cita carta do presidente da ABC ao presidente da República e ao ministro da Educação e palestra do Acadêmico Celso Lafer, na Academia Brasileira de Letras:

A atualidade dos pensadores, brasileiros e estrangeiros, diante de nossa realidade politica e social demonstra que os problemas que enfrentamos no momento são questões há muito debatidas. E que retrocedemos nesse debate, que pareciam estar superados pelos avanços de nossa sociedade.
O presidente da Academia Brasileira de Ciências, professor Luiz Davidovich, enviou uma carta ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Educação Abraham Weintraub, protestando contra a decisão anunciada de reduzir as verbas públicas para o ensino de Humanas, tendo sido citadas especialmente a Sociologia e a Filosofia.
Davidovich começa lembrando, em contraposição à afirmação do ministro de que o Estado só deve financiar profissões que gerem retorno de fato, como veterinária, engenharia, medicina, que é preciso “formar profissionais preparados para os desafios de um mundo em que as profissões tradicionais têm dado lugar a outras inexistentes no século passado”.
Esse rápido desenvolvimento exigiria “conhecimento amplo não só de seus campos estritamente profissionais, mas também do país e da sociedade onde atuarão”. Davidovich lembrou então que Benjamim Constant, um dos fundadores da República brasileira, já no século XIX tinha a percepção da importância das humanidades e das ciências sociais na formação profissional: incluiu a sociologia no curso da Escola Militar.
Muito além de um retorno imediato, elas ensinam a pensar, condição necessária para a construção de uma sociedade ilustrada, democrática e produtiva, ressalta o presidente da Academia Brasileira de Ciências na carta ao presidente.
Recentemente, em palestra na Academia Brasileira de Letras, da qual é membro, sobre a presença fundamental de Ruy Barbosa na vida brasileira, o ex-ministro [e Acadêmico] Celso Lafer lembrou que ele exprimiu na trajetória da sua vida e obra a trama dos problemas políticos da sociedade brasileira, “não só do seu tempo, mas as dos nossos dias, com destaque para os desafios da consolidação e vigência das instituições democráticas”.
Lafer citou alguns exemplos bem atuais. Sobre as relações do Brasil com os EUA, Ruy Barbosa, na Conferência “A Imprensa e o dever da verdade”: escreveu “Não quero, nem quererá nenhum de vós, que o Brasil viesse a ser o símio, o servo ou a sombra dos Estados Unidos. Não acho que devemos nos entregar de olhos fechados à sua política internacional, se bem haja entre ela e a nossa, interesses comuns bastante graves e legítimos, para nos ligarem na mais inalterável amizade, e nos juntarem intimamente em uma colaboração leal na política do mundo. Tal é o meu sentir de ontem, e amanhã.”
Celso Lafer destacou também que Ruy Barbosa promoveu, desde o governo provisório (Decreto nº 119-A, de 7/01 de 1890) a separação da Igreja e do Estado, e a laicidade do Estado, consagrada na Constituição de 1891 e nas constituições subsequentes.
Implantou-se deste modo, ressaltou Lafer, uma nítida distinção entre, de um lado, instituições, motivações e autoridades religiosas e, de outro, instituições estatais e autoridades políticas, “de tal forma que não haja predomínio de religião sobre a política”.
A laicidade significa que “o Estado se dessolidariza e se afasta de toda e qualquer religião, em função de um muro de separação entre Estado e Igreja, na linha da primeira emenda da Constituição norte-americana”.
Em um Estado laico como Ruy Barbosa institucionalizou no Brasil, esclareceu Lafer, “as normas religiosas das diversas confissões são conselhos e orientações dirigidas aos fiéis, e não comandos para toda a sociedade’.
Esta contribuição de Ruy para a consolidação e vigência do espaço público e das instituições democráticas em nosso país é da maior atualidade, lembrou Celso Lafer, pois “contém o muito presente risco do indevido transbordamento da religião para o espaço público”.
O filósofo britânico Bertrand Russell, na História da Filosofia Ocidental, trata de um tema muito atual no Brasil: a influência dos filósofos, relativizando-a: “Quando vêem algum partido politico dizer-se inspirado pelos ensinamentos de Fulano de Tal, pensam que as ações desse partido são atribuíveis a esse fulano de tal, enquanto não raro o filósofo só é aclamado porque recomenda o que o partido teria feito de qualquer modo”.