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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Arminio Fraga responde a discurso de Lula: responsabilidade fiscal ajuda os mais pobres (FSP)

 Lula é ótimo de palanque político, mas péssimo em raciocínio econômico. Armínio ajuda um pouco, respondendo às suas dúvidas. Espero que ele leia e reflita. PRA

Arminio Fraga responde a discurso de Lula: responsabilidade fiscal ajuda os mais pobres

Ex-presidente do Banco Central, que havia feito 'entrevista imaginária' com candidato petista, inverte posições e responde a questões feitas em discurso pelo presidente eleito.

FSP, 10/11/2022

Estabilidade fiscal significa menos incerteza e juros mais baixos, o que gera mais investimento e mais crescimento. Simples assim. E mais, acompanhada de transparência, aumenta a chance de os recursos beneficiarem os mais pobres", afirma o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, em resposta a críticas do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, a políticas de austeridade fiscal.

Em discurso feito a parlamentares de partidos aliados no auditório do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede do governo de transição, na manhã desta quinta (10), Lula fez várias perguntas nas quais demonstrou ver incompatibilidade entre responsabilidade fiscal e políticas sociais que beneficiem os mais pobres.

Homem calvo de barba grisalha, camisa branca e paletó preto
Arminio Fraga em evento em São Paulo - Mathilde Missioneiro - 18.out.2022/Folhapress

Investidores reagiram mal à mensagem do presidente, levando a uma disparada do dólar e à queda da Bolsa.


Fraga, que em coluna nesta Folha fez uma "entrevista imaginária" com Lula durante a campanha eleitoral, inverteu as posições de entrevistador e entrevistado e, abaixo, responde a questões feitas pelo presidente eleito durante seu discurso.

Luiz Inácio Lula da Silva: Ora, por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal neste país? Arminio Fraga: Estabilidade fiscal significa menos incerteza e juros mais baixos, o que gera mais investimento e mais crescimento. Simples assim. E mais, acompanhada de transparência, aumenta a chance de os recursos beneficiarem os mais pobres.

O descontrole fiscal contribui também para a volta da inflação. Outra vez, quem perde mais são os mais pobres.

As escolhas a curto prazo parecem terríveis. Mas não é o caso. Com um ambiente econômico arrumado, a atividade econômica reage, como ocorreu a partir da segunda metade de 1999, quando foram seis trimestres de crescimento anualizado em torno de 4%. E reage também na outra direção, como vimos em 2015-16 com o colapso fiscal. Essa é a escolha.

Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gasto? Porque o gasto público vem crescendo há décadas, e a dívida corre o risco de entrar em trajetória de crescimento acelerado.

Tudo começou com o colapso fiscal de 2014. De lá para cá houve algum progresso, mas recentemente a torneira se abriu. As perspectivas para o ano que vem não são boas. A discussão de aumentar o gasto agora é brincar com fogo.

Sou a favor de aumentar os investimentos sociais, uma legítima demanda, mas redefinindo prioridades. O mercado despencou hoje, um sinal de que um pânico pode estar a caminho. Sem uma correção de rumo, o custo social vai ser enorme.


domingo, 28 de abril de 2019

Tragédias: o primeiro artigo de Armínio Fraga na FSP

Tragédias

Somos um país de renda média e também um dos mais desiguais, atrasado portanto

Entrego aqui o primeiro artigo para o espaço mensal que esta Folha acaba de me conceder e pelo qual sou grato. 

Temendo algum bloqueio, sentei para escrever na Sexta-Feira Santa. Naquele dia, no caderno Mercado, li uma matéria sobre a evolução da participação do nosso PIB no PIB mundial desde 1980: caiu de 4,4% para 2,5%. Se tivéssemos acompanhado a média do crescimento global, teríamos um PIB 76% maior. Imaginem só como seria. 
Com frequência se diz que o Brasil é a oitava economia do mundo. Tudo bem, não é de se jogar fora. Mas o que importa mesmo é a renda per capita, e aí caímos para a 75ª posição. Somos um país de renda média e também um dos mais desiguais, atrasado portanto. Refiro-me a dados do FMI e do Banco Mundial.
Estamos como na estorinha irlandesa: um viajante perdido no campo verde para na estrada e pergunta a um velho pastor como se chega a Dublin. Ele responde: "Não sei, mas não começaria aqui...".
Como não temos essa opção, nos resta por ora evitar problemas maiores e avançar onde der. Mas as pessoas estão descrentes de tudo e todos, e sentem que se exige mais sacrifício dos que menos podem, não sem razão. Quero discutir neste espaço como criar genuínas oportunidades para os que menos podem e como exigir dos que mais podem uma contribuição relevante. 
Um país atrasado em tese deveria ser capaz de acelerar seu crescimento investindo mais do que os avançados, especialmente em gente, e absorvendo melhores tecnologias e práticas. Não foi o que aconteceu aqui. Isso fica claro quando se compara a evolução da nossa renda per capita com a dos Estados Unidos. A comparação é deprimente: estamos em torno de 20% desde 1960.
Perdura uma certa nostalgia quanto ao período do pós-guerra, quando atingimos 29% da renda americana, mas se ignora que a estratégia adotada (economia fechada e estatizada) foi incapaz de nos levar até os padrões de vida dos avançados, por falhas fatais de desenho (fragilidade macroeconômica, descaso com educação e desigualdade). A economia acabou se espatifando na década perdida de 1981-1993, quando se devolveu boa parte dos ganhos auferidos desde 1960.
Verdade que desde então avançamos bastante com a estabilização e a mudança de foco do Estado a partir de 1995, mas aos poucos um bom caminho foi sendo abandonado. A partir de 2011, o intervencionismo e a radical perda de disciplina fiscal levaram a um novo colapso. Foi uma volta a erros do passado, amplamente apoiada pelo andar de cima. A queda na renda per capita repetiu os 10% da década perdida, desta vez em um terço do tempo. Voltamos aos 20% da renda americana de 1960.
Não fora suficiente a atual depressão econômica, metade das pessoas empregadas não tem carteira assinada e se aposenta mais tarde. A educação continua deficiente e metade das moradias não tem esgoto adequado. Não há solução para melhorar a vida de quem mora nas favelas e tampouco para a violência. E por aí vai.
E agora? Como construir um caminho para um desenvolvimento mais inclusivo, acelerado e sustentável? Estamos diante de múltiplas crises, que se reforçam, desafiam as instituições e ameaçam a qualidade da democracia. Difícil imaginar um caminho completo, coerente e viável a partir daqui. 
No momento a prioridade é a reforma da Previdência, passo crucial para sanar a crise fiscal e redutora ela própria de desigualdade. Urge também uma reforma do Estado, que precisa fazer mais com menos. Em ambos os casos as resistências já estão se armando. Como parte da resposta, urge também a eliminação dos subsídios e vantagens tributárias aos de renda mais alta, que envenenam o tecido social. Só assim as pessoas apoiarão as transformações necessárias.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Crise brasileira: debate com tres ex-presidentes do BaCen - SP, 13/11 (Inst. Millenium)

Recebido de Paulo Uebel:

Como todos sabem, o Brasil vive uma crise política, institucional e econômica como poucas vezes vivemos em nossa história. O Governo Federal está sem liderança e sem projetos consistentes para mudar os rumos do país.

Em momentos como esse, é fundamental que a sociedade civil, a imprensa livre e a iniciativa privada se mobilizem para apresentar propostas para sair dessa inércia.

Com esse objetivo, o Instituto Millenium realizará um SEMINÁRIO com três dos mais preparados e competentes ex-Presidentes do Banco Central do Brasil: ARMINIO FRAGA, GUSTAVO FRANCO e HENRIQUE MEIRELLES. O tema do Seminário será: ESSA CRISE TEM SAÍDA. A VISÃO DE TRÊS EX-PRESIDENTES DO BANCO CENTRAL.

13 de novembro, sexta-feira, de 2015 - Das 8h às 11h
FECOMERCIO (Rua Dr. Plínio Barreto, 285), em São Paulo


O Instituto Millenium (www.institutomillenium.org.br) é uma organização sem fins lucrativos que promove e fortalece a democracia, o Estado de Direito, a economia de mercado e a liberdade.

Envio o link com as informações completas e formulario de inscrição: http://www.institutomillenium.org.br/brasil/.
Espero que vocês possam participar.

Por favor, compartilhem com os seus contatos.
Paulo Uebel

domingo, 13 de setembro de 2015

Arminio Fraga: receita para vencer a crise

Só ficou faltando dizer quem vai fazer tudo isso, pois o governo que está aí não tem a mínima condição de implementar sequer um terço do que está exposto.
Paulo Roberto de Almeida

Opinião
Respostas à altura da crise
Armínio Fraga Neto
O Globo, 13/09/2015

Com frequência se diz por aí que nunca se viu situação econômica tão ruim quanto a atual. Discordo. Entre 1982 e 1993, a “década perdida” do caos da hiperinflação e da moratória externa, o Brasil amargou queda na renda por pessoa de cerca de 1% ao ano!

Mas o Brasil vive hoje, sim, uma crise grave, que escancara as consequências do modelo político e econômico atual.

Esse modelo se caracteriza pela captura, pelo agigantamento, pela incompetência e falência do Estado. Captura por interesses partidários e privados, que sem nenhum escrúpulo montaram não um, mas dois enormes esquemas de corrupção voltados para sua preservação no poder e enriquecimento pessoal. Agigantamento porque o gasto público se aproxima de 40% do PIB, um número elevado, especialmente para um país de renda média. Incompetência, por não entregar os serviços de qualidade que a sociedade demanda, apesar dos recursos despendidos. E falência pela perda da disciplina fiscal, fator que pesou na recente perda do grau de investimento, com destaque para a admissão pelo próprio governo de sua incapacidade de manter um superávit primário capaz de evitar a explosão da dívida pública.

Estamos em maus lençóis, pois não há na História caso de país que se tenha desenvolvido plenamente sem um Estado decente, eficaz e solvente.

Outras características do atual modelo econômico incluem elevado grau de dirigismo, claro desprezo pela eficiência em geral, e pelo mercado em particular, relativo isolamento do mundo, má alocação do capital (em boa parte feita pelos bancos públicos), políticas setoriais mal desenhadas, um sistema tributário complexo, que distorce e encarece a atividade empresarial, e um aparato regulatório desprestigiado e em alguns casos mal tripulado. Não surpreendentemente, a produtividade da economia vem sofrendo bastante.

As consequências disso tudo, em boa parte previsíveis, estão aí, visíveis a olho nu: juros estratosféricos, incerteza elevada, baixo investimento (especialmente em infraestrutura), profunda recessão e, o que é pior, uma economia incapaz de crescer. Os impactos sociais já se fazem sentir e tendem a se agravar. A esta altura não se pode descartar a hipótese de que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff seja o início de uma nova década perdida.

Esta crise requer tratamento proporcional ao seu tamanho. Isso não tem sido possível em razão de barreiras ideológicas e de incompetência, além das naturais dificuldades de um governo corrigir algo feito por si mesmo, e da crise política, que deve perdurar.

Não surpreende, portanto, que a atual resposta à crise não venha obtendo bons resultados, limitando-se, na prática, a alguma austeridade fiscal, ao aperto monetário (posto que a inflação está há tempo bem acima da meta), à liberação de preços e ao anúncio de algumas boas reformas, no geral não implantadas. Ao mesmo tempo, medidas irresponsáveis do ponto de vista fiscal vêm sendo aprovadas, como o Plano Nacional de Educação (tema crucial, solução inadequada) e a revogação do fator previdenciário. Ademais, a queda nos preços das exportações e as paralisantes implicações de curto prazo da mais do que bem-vinda Lava Jato agravam ainda mais o quadro.

Com o intuito de ajudar a mapear os desafios no campo econômico, e sem ilusões quanto à superior importância da política em fazer as opções certas e conduzir o processo, listo abaixo dois conjuntos de respostas à crise. Se posto em prática, o primeiro sinalizaria o entendimento do Executivo e do Legislativo quanto à gravidade da situação. O segundo lista algumas questões mais fundamentais para que o Brasil volte a crescer e se desenvolver. As dificuldades de se efetuar um ajuste fiscal rápido são bem conhecidas: recessão, rigidez do gasto e a já elevada carga tributária.

Acredito que uma forma de ganhar tempo e afetar positivamente as expectativas seria compensar um inevitável gradualismo no ajuste com medidas que afetem positivamente a solvência do País no longo prazo. Outro campo fértil é o lado da produtividade, de natureza mais microeconômica, que merece bem mais espaço do que tenho aqui hoje.
Medidas emergenciais: 
1) Metas de saldo primário de 1%, 2% e 3% do PIB para os próximos três anos, baseadas em premissas realistas e em receitas recorrentes (as metas atuais não estão sendo cumpridas e de qualquer forma são insuficientes).
2)  Aprovação da idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres (para gerações futuras) e reaprovação do fator previdenciário.
3) Desvinculação do piso da Previdência do salário mínimo (a vinculação é cara e regressiva).
4) Introdução de um limite para a dívida bruta do governo federal como proporção do PIB.
5)  Reforma do PIS/Cofins e do ICMS já proposta, acrescida da unificação e simplificação das regras do ICMS (por muitas razões, inclusive a integração interna do País).
6)  Mudança das regras trabalhistas também na mesa (em que o negociado se sobrepõe à lei).
7)  Aumento da integração do Brasil ao mundo (um primeiro passo seria transformar o Mercosul em zona de livre-comércio).
Sem algo nessa linha a crise deve se aprofundar e alongar.
Medidas mais fundamentais relativas ao Estado:
1) Discussão sobre o tamanho e as prioridades do Estado (requer limite ao crescimento do gasto, o que, por sua vez, demanda as reformas abaixo).
2)  Fim de todas as vinculações e adoção de um Orçamento base zero (sem prejuízo de espaços plurianuais, nunca permanentes).
3)  Meritocracia e a boa gestão no setor público.
4) Revisão da cobertura da estabilidade do emprego no setor público.
5) Revisão do capítulo econômico da Constituição (adotar a economia de mercado. Qualquer interferência do Estado deverá ser justificada e seus resultados posteriormente avaliados).
Sem algo nessa linha o Brasil dificilmente se desenvolverá plenamente.

*Armínio Fraga Neto é economista

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Eleicoes 2014 e politica economica: Salários devem crescer com a economia - Arminio Fraga

Salários devem crescer com a economia, diz Arminio
Por Claudia Safatle e Alex Ribeiro | De Brasília
Valor Econômico, 09/10/2014

Chamado ao debate pela presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, o ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, escolhido para ser o ministro da Fazenda de um eventual governo Aécio Neves, afirma que tal como proposto pela campanha do PT, tal comparação é "rasteira" e uma tentativa de "fugir do debate".

O cerne da questão é recuperar a capacidade do país de crescer. "Para os salários continuarem a crescer, para os programas sociais continuarem a crescer, é preciso que a economia cresça". Para ele, apesar de todos os progressos o Brasil continua a ser um país "tremendamente desigual".

Em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, ele propõe um "novo regime" de política econômica que vai além do retorno ao tripé representado pela meta de inflação, superávits primários das contas públicas e taxa de câmbio flutuante. O modelo se traduz em três eixos: o reequilíbrio macroeconômico, o aumento dos investimentos e o crescimento da produtividade.

De início será preciso dar maior transparência à contabilidade fiscal. Isso vai exigir a inclusão, no Orçamento da União, de todos os subsídios concedidos pelo atual governo às empresas nos empréstimos dos bancos públicos federais.

"Não sou radicalmente contra as políticas de subsídios, mas sou a favor de critérios bem definidos de concessão e avaliação de custos e benefícios para que tenham ganhos sociais e não privados", disse.

O segundo é aumentar os investimentos dos atuais 16,5% do PIB para 24% do PIB. O reforço da política macroeconômica ajudaria a queda dos juros e tiraria a pressão sobre a taxa de câmbio. Seria preciso, também, ter estabilidade nas regras do jogo e mobilização de capitais privados para alavancar a infraestrutura.

Para aumentar a produtividade da economia, a terceira vertente é desmontar, gradualmente, a chamada "nova matriz econômica" do governo Dilma, sustentada por subsídios, desonerações de impostos e proteção à concorrência externa.

A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:

Valor: O programa do PSDB propõe a volta do tripé macroeconômico levado a sério ou se trata de um novo regime?

Arminio Fraga: Considerando o que está acontecendo hoje, é as duas coisas. É a volta do tripé com o reforço da transparência. Hoje isso virou um aspecto importante, porque o governo está levando a criatividade a um extremo que começa a ser altamente relevante, não só por uma questão de princípio, mas pelo tamanho. Temos o tema da dívida líquida versus bruta e o início da discussão sobre a trajetória de crescimento do gasto público.

Valor: O governo destacou o ministro Aloizio Mercadante, que se licenciou da Casa Civil, para cuidar do debate econômico da campanha. O que o senhor acha disso?

Arminio: Para mim, tanto faz. Estava fazendo falta aparecer gente para debater. Acho saudável. Espero que seja um debate de alto nível e que respeite os fatos e os contextos.

Valor: A presidente disse que o momento é de fazer comparações do governo dela com o de FHC, há doze anos. Citou a inflação de 12,5% em 2002, quando da sua gestão no BC. É uma boa comparação?

Arminio: A comparação deve ser feita dentro do contexto do que cada governo encontrou e o que deixou. Não é mais do que obrigação de um governo deixar as coisas melhores do que encontrou. Eu diria que esse governo vai deixar as coisas piores do que encontrou. A comparação de nível, com frequência feita em termos nominais, é rasteira. Mas se você quiser olhar um indicador, só um, seria por exemplo a taxa de crescimento. Eu acho errado, não gosto de fazer isso, mas a taxa de crescimento do segundo mandato de FHC foi maior do que a taxa de crescimento do governo Dilma, e em circunstâncias significativamente piores.

Valor: E em 1999, quando o Sr. assumiu o BC?

Arminio: As expectativas de inflação em 1999 oscilavam muito, entre 20% e 50%, depois da flutuação do câmbio. As expectativas eram de uma queda de 4% do PIB. O ano acabou com a inflação de 9% - ou seja, não se perdeu a âncora - e o crescimento foi positivo, em torno de 0,5%. Essa é uma discussão desenhada para fugir da situação real que a economia brasileira se encontra hoje, que é o 7 x 1 (inflação próxima de 7% e crescimento abaixo de 1%). Uma situação maquiada e com a taxa de investimento muito baixa, de 16,5% do PIB, um novo recorde de baixa. Acho que eles estão tentando fugir do debate.

"O crescimento no segundo mandato FHC foi maior do que o do governo Dilma e em circunstâncias bem piores"

Valor: O governo tem dito que, se Aécio Neves ganhar, vocês vão combater a inflação com arrocho e desemprego. O que o Sr. tem a dizer sobre isso?

Arminio: Primeiro, seria interessante entender o que o governo está tentando fazer, já que eles estão se propondo a ficar mais tempo. A condução da política macroeconômica, especialmente nos últimos três ou quatro anos, foi muito distorcida, esquizofrênica. Enquanto o Banco Central tentava segurar a inflação, o governo expandia a política fiscal e a política creditícia, principalmente de seus próprios bancos, o que acabou gerando essa situação esdrúxula de pouco crescimento e muita inflação. O que está faltando é mais investimento. É possível reequilibrar o tripé e, com isso e várias outras políticas, recuperar a confiança na economia, que está paralisada, e fazer o ajuste de forma virtuosa. Acredito que isso é possível. Foi possível em 1999, como citei.

Valor: A continuação da política em curso nos levaria ao rebaixamento pelas agências de rating?

Arminio: Acho que sim. Não estou dizendo que essa é a minha expectativa. Espero que não seja esse o governo que vai lidar com essa questão. Se for, espero que eles acertem, mas, infelizmente, não há nenhum sinal de que isso vá acontecer. Há uma recusa total de se encarar a realidade e se partir para propostas consistentes. Estão aí há vários anos e a economia só vem piorando. Seria razoável fazer uma autocrítica, ainda que discreta, pois ninguém pode exigir mais do que isso em um ano de eleição, mas pelo menos sinalizar algo pelo bem do país.

Valor: Quais seriam os elementos básicos de uma política econômica progressista?

Arminio: Esse é um tema fascinante e da maior importância. Primeiro, a despeito de vários programas sociais de boa qualidade, tem muita coisas básica que as pessoas deveriam ter e não têm. A qualidade dos serviços públicos no Brasil em geral deixa muito a desejar. Essa é a base, é algo que faz parte de um país que consegue entregar igualdade de oportunidades. Isso é numero um. Temos que continuar com os programas de combate à pobreza extrema, mas é preciso ir muito além. E nisso o governo tem tido muita dificuldade. Depois, há todo esse modelo chamado de "nova matriz macroeconômica" que nada mais é do que uma tentativa de resolver com paliativos situações que são de natureza mais estrutural, fundamental. O governo está subsidiando empresas com volumes imensos de recursos, sem qualquer justificativa social, as desonerações foram feitas sem nenhum critério que se possa identificar e até proteção contra a concorrência externa.

Valor: O que é estrutural?

Arminio: Um pacote desses só existe porque o governo não consegue entregar um custo de capital mais baixo, um sistema tributário mais razoável, que não onere as exportações e os investimentos. O governo não consegue desenvolver a infraestrutura do país, que hoje é um tremendo problema para todos os setores, do agronegócio à indústria. Então ele tenta dar esses subsídios quando o que os empresários querem, na verdade, é um país mais arrumado, com regras mais claras, menos ideológicas e menos corruptas. Dá para imaginar, também, coisas menores, mas de muita importância para reduzir o custo Brasil.

Valor: Por exemplo?

Arminio: A tributação no Brasil é, em geral, bastante regressiva. Isso merece uma revisão completa. Pode-se imaginar as revisões das desonerações, que hoje são tremendamente regressivas. Tem muitas coisas a fazer. O Brasil, apesar de todos os progressos que fez, com o fim da hiperinflação, com o Bolsa Família, continua a ser um país tremendamente desigual. Acho que a base está na qualidade do gasto público, que é onde há espaço muito grande para avançar sem prejuízo dos outros.

Valor: O programa fala em limitar o aumento do gasto público....

Arminio: A proposta é casada com a ideia de que o Brasil tem uma carga tributária alta para um país de renda média como o nosso e que, portanto, isso precisa ser discutido. Mas não é possível discutir o tamanho da carga tributária sem discutir o tamanho do gasto.

Valor: O programa do PSDB garante a manutenção de todos os programas do governo, Pronatec, Bolsa Família, Mais Médicos, e Aécio Neves colocou a revisão do fator previdenciário. Cabe tudo na conta?

Arminio: Não tem porque, em um ambiente populista como esse, listar qualquer sugestão. O governo tende a colocar esse problema como se houvesse um jogo de soma zero. Porque? Porque não estão com o crescimento na cabeça. Já esqueceram que isso é possível. Em uma economia que cresce, você pode resolver isso da forma que estou colocando. Basta controlar a taxa de crescimento do gasto, para que seja inferior ao crescimento do PIB. Outro ponto a respeito desse governo é que não há avaliação de coisa alguma.

Valor: Como assim?

Arminio: Não há transparência e, portanto, não há avaliação. Teve um momento em que o Ministério do Planejamento colocou brevemente no seu site, na gestão do Paulo Bernardo, uma avaliação, mas rapidamente tiraram. Esse país não avalia nada. Essas coisas que estão aí certamente merecem o rótulo de regressivas ou não progressista. Por isso tenho repetido que é fundamental dar transparência, consolidar tudo no orçamento. Você força esse debate que hoje não existe. As pessoas tem a sensação de que tem aqui um dinheirinho barato do BNDES que não precisa ir para o orçamento. Não é verdade. Tudo sai de algum lugar.

Valor: O baixo crescimento não é cíclico, ligado à fraqueza da economia mundial, ao aumento dos juros para baixar a inflação e à queda na confiança provocada pela acirrada disputa eleitoral?

Arminio: Tem um lado que não se pode esquecer. Para os salários continuarem a crescer, para os programas sociais continuarem a crescer, é preciso que a economia cresça.

Valor: Mas e a questão cíclica?

Arminio: Claro que chama a atenção o Brasil crescendo zero e a economia mundial crescendo 3,3%. Mas de fato cabe essa questão: será que é cíclico? Se você olhar a média do crescimento do Brasil com a média da América Latina nos quatro anos do governo Dilma, usando a projeção do Focus para esse ano, o Brasil ficou aproximadamente dois pontos percentuais abaixo. É bom lembrar que a América Latina inclui Argentina, Venezuela, que não estão indo bem. Se você comparar só com os países que estão mais arrumados, Peru, Colômbia, que crescem 4% ou mais, não faz sentido. Eu estava olhando as relações de troca do período Dilma versus o governo FHC. Caiu um pouco ao longo desse período, mas ainda está em um nível alto comparado com a média histórica. Não acho que seja um problema cíclico. Os problemas que existem são auto-impostos e podem ser corrigidos.

"A qualidade dos serviços públicos é número 1; é o que fará o país entregar igualdade de oportunidades"

Valor: O BC diz que o país está em um período de transição, que há uma mudança estrutural com menos consumo e mais investimentos e exportações, aumento da produtividade puxado por mais escolaridade, pelas concessões e desvalorização cambial. Esse ciclo virtuoso vai aparecer em breve?

Arminio: O Banco Central vem falando dessa transformação há bastante tempo e ela não tem aparecido porque tem problemas. Alguns desses temas de fato tem impacto positivo, mas é preciso olhar o agregado quando, ao mesmo tempo, há aspectos que estão indo na outra direção. O número de investimento do último trimestre, 16,5% do PIB, é muito baixo. Essa "nova matriz econômica", a meu ver, não gera crescimento. Infelizmente foi testada no passado, não deu certo, e cá estamos outra vez. O próprio ministro Mantega, quando assumiu, se não me falha a memória, em uma reunião ministerial - esse documento sumiu do site- falava de um crescimento médio em torno de 5%, indo para 6,5%, nesse governo. O sonho de crescer, todos nós temos. Tem que mudar o modelo.

Valor: Onde a abertura comercial ajuda nesse novo regime?

Arminio: Estamos discutindo a importância de ter o Brasil conectado com as melhores cadeias produtivas do mundo. Queremos um país tão produtivo, tão próspero e tão justo quanto os países mais avançados do mundo. Essa conexão é muito importante. Nossa proposta não é fazê-la da noite para o dia, mas ir aos poucos abrindo, na medida em que se resolvem as questões estruturais. Um ponto que precisa ser mencionado, além disso, é a alocação do capital. Está se politizando o investimento e, com certeza, o país perde.

Valor: O senhor defende uma abertura unilateral do Brasil?

Arminio: Sempre pensamos de maneira multilateral, mas a partir de determinado momento perdemos o bonde. O mundo inteiro começou a fazer acordos regionais, bilaterais, e nós ficamos para trás. Penso que isso foi uma grande desculpa para manter o protecionismo, que certamente não resolveu o problema da nossa indústria. Olha o estado dela hoje.

Valor: O plano do Aécio é levar a inflação para a meta de 4,5% em dois ou três anos. O BC tem um cronograma semelhante. Qual é a diferença em relação ao que já está sendo feito?

Arminio: O BC está falando isso há três anos. Há uma divergência entre o discurso e o realizado. Não nego que o resto do governo dificulta esse trabalho, porque tem uma expansão fiscal ao longo do caminho e expansão de crédito. É muito difícil o BC remar contra essa corrente.

Valor: O BC não tem que se preocupar com o emprego e a renda?

Arminio: Com certeza o BC tem que fazer política anticíclica, mas é consenso de que não se consegue eliminar o ciclo totalmente. Achar que inflação mais alta vai trazer mais bem estar para as pessoas não faz o menor sentido. E, se alguém sabe disso, somos nós no Brasil, que vivemos um período de inflação alta. Não houve no Brasil nada que prestasse a partir desse caminho. Inflação alta sempre foi ruim para o crescimento e para a distribuição da renda.

Valor: Mas o país está com pleno emprego e ganho de renda e talvez seja por isso que a presidente Dilma liderou o primeiro turno das eleições...

Arminio: O fato de o desemprego estar baixo é muito bom. O problema é para onde estamos indo.

Valor: Como rever o tamanho do BNDES, que cresceu à base de endividamento do Tesouro Nacional?

Arminio: Estamos falando de dinheiro subsidiado, e isso é algo que tem que estar disputando com outros itens do orçamento. A sensação de que existe aqui um espaço especial para o gasto é muito ruim para a economia e considero um desrespeito à democracia. Com certeza o BNDES tem um papel importante para cumprir em várias áreas, na infraestrutura, mas isso tem que ser feito com critério, transparência e contabilizando os subsídios. Não tenho dúvida de que isso vai gerar uma transição suave.

Valor: A opção do PSDB é por arrumar a casa de maneira gradual?

Arminio: Tem dois itens macro que devem ser ajustados de forma gradual. Um é o saldo primário, outro é a trajetória da inflação. Porque acredito que com isso será possível nós nos beneficiarmos das melhorias nas expectativas, da confiança em geral. Esse ajuste tem tudo para ser virtuoso, apesar do que dizem por aí. Ponto. O resto, dar transparência, revisar o sistema tributário, repensar nossa política de integração ao mundo, agilizar tudo que tenha a ver com investimentos e infraestrutura, tem que feito com a máxima urgência. Não confunda as coisas. Quando você combina uma resposta macro correta, diminuindo a incerteza, com um lado estrutural, microeconômico, o resultado é bom. Essa agenda micro/estrutural é preciosa e pode ser feita na máxima velocidade possível.

Valor: Haverá uma política de reindustrialização?

Arminio: Eu diria que sim. A indústria está passando momentos extremamente difíceis. E nos acreditamos que o modelo que vai reduzir o custo do capital, tirar a pressão da taxa de câmbio, fazer a reforma tributária e investir muito em infraestrutura vai melhorar a vida da indústria e permitir que aos poucos sejam removidas essas cortisonas que se tem por aí.

Valor: Sempre que se entra na campanha eleitoral, volta o assunto da privatização. Que o candidato do PSDB vai privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e assim opor diante. Haveria alguma nova privatização?

Arminio: A ideia é de reestatizar o Estado. A leitura do Aécio é que a Petrobras está aparelhada, está capturada, com interesses partidários e privados e que isso tem que acabar.

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Pausa para... humor involuntario: UFC econômico entre Armínio Fraga e... Mercadante!!!

Gentes, não pude evitar um riso enorme quando li a primeira manchete do dia (neste caso da noite) no jornaleco vicioso do Stalin Sem Gulag, o chamado Correio do Brasil.
Primeiro achei motivo para riso, depois eu me preocupei bastante.
Falei comigo mesmo:
Mas vai ser um massacre!  Isso é injusto com o pobre Mercadante, o "doutor pela UniCamp". O que os companheiros o obrigaram a fazer???!!!

Enfim, vejam vocês mesmos a manchete:
    
Mercadante fará contraponto a Armínio Fraga no segundo turno
No tabuleiro das eleições, neste segundo turno, a presidenta Dilma Rousseff, que concorre a um novo mandato, definiu que caberá ao atual ministro-chefe da Casa Civil,...  2014-10-08 12:55:58 / 

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Enfim, não quero ser injusto com os companheiros, nem com os meus 18 leitores (essa eu emprestei ao meu colega Alexandre Schwartsman, um economista quase processado pelo Banco Central, por dizer coisas inconvenientes), e por isso vou postar toda a matéria aqui, para não obrigar ninguém a ir no jornaleco do Stalin Sem Gulag.
Mas, vejam todos como tem muito material para humor involuntário, malgré eux, quero dizer, a despeito deles, metade do que eles colocam ali se presta a momentos desopilantes...
Paulo Roberto de Almeida
PS: Recomendo um plantão do SAMU por ocasião desse encontro, se é que vai haver um...

Mercadante fará contraponto a Armínio Fraga no segundo turno

Correio do Brasil, 8/10/2014 12:55
Por Redação - de Brasília e São Paulo

Mercadante é o ministro da Educação do governo Dilma
Mercadante foi ministro da Educação do governo Dilma e atualmente chefia a Casa Civil
No tabuleiro das eleições, neste segundo turno, a presidenta Dilma Rousseff, que concorre a um novo mandato, definiu que caberá ao atual ministro-chefe da Casa Civil, o senador e economista Aloizio Mercadante, contrapor argumentos contra as teses neoliberais do financista Armínio Fraga, neto, ex-presidente do Banco Central (BC) no governo de Fernando Henrique Cardoso, provável ministro da Fazenda em caso de uma vitória dos tucanos. Nesta quarta-feira, Fraga reduziu o tom adotado no primeiro turno da campanha e, agora, afirma não ser necessário um “ajuste fiscal brusco” para reequilibrar a economia.
– O ajuste macroeconômico precisa ser gradual, mas tem que ter credibilidade. Não acho razoável tentar chegar à meta (de inflação) em um ano. Seria muito sacrifício à toa. Se esperarmos um pouco, a economia estará investindo mais e isso cria um ambiente melhor para reduzir essa expectativa – disse Fraga, neto, a jornalistas.
Caberá, no embate, a Mercadante, defender o atual modelo econômico, que PSDB classifica de híbrido, com a introdução de um viés intervencionista do Estado que, segundo afirma o tucano, não produziu resultados. Arminio diz que, em caso de vitória nas urnas, governaria com o diapasão de Antonio Palocci, ministro da Fazenda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Sem Mantega
Na reunião entre a presidenta Dilma e dezenas de líderes petistas e de partidos aliados para delinear a estratégia do segundo turno, na noite passada, Mercandante foi anunciado como coordenador da campanha e provável ministro da Fazenda, em um possível segundo mandato. Na posição que almejava desde a eleição do presidente Lula, 12 anos atrás, Mercadante será também o porta-voz para assuntos econômicos e, para isso, disse nesta quarta-feira que se licenciará do cargo.
Presidente nacional do PT, o jornalista Rui Falcão desconversou quando questionado por jornalistas se Mercadante assumirá o posto do ministro Guido Mantega. Falcão adiantou apenas que Mercadante será uma espécie de contraponto a Arminio Fraga.
Na coordenação da campanha, Mercadante diz que realizará um levantamento das “pendências” deixadas por Aécio durante sua passagem pelo governo de Minas Gerais, especialmente as promessas não cumpridas, como forma de apresentar, corretamente, o candidato adversário à opinião pública. Dilma pretende que a missão seja cumprida em “alto nível”, com o que concorda o chefe do marketing político petista, João Santana.
– Será uma campanha a favor da Dilma, e não contra o Aécio – adiantou Santana.
Campanha humilde
O PT também pretende revisar a tendência dos votos que seguiram à candidata do PSB, Marina Silva, em São Paulo. Segundo Rui Falcão, o perfil do eleitores da ex-senadora é similar ao de 2010, quando Marina obteve votação ligeiramente menor do que a deste ano. Quanto a um possível apoio do PSB à candidatura tucana, o líder petista preferiu não comentar. Falcão preferiu destacar a opinião de líderes do PSB contrários ao acordo, como a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, a senadora Lídice da Mata (BA) e o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho.
Governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel prefere não fazer projeções, mas disse que também tentará ampliar a vantagem obtida por Dilma em seu Estado. A presidenta recebeu 43% dos votos, contra 39% de Aécio e 14% de Marina. Pimentel promete andar pelo Estado na campanha, mas ponderou que expandir a vantagem “vai depender dos mineiros”.
– Vai depender das estratégias que vamos adotar, mas não vou falar em números. Eles (PSDB) que falaram em 4 milhões de votos de frente e acabaram derrotados. Vai ser, novamente, a campanha da humildade contra a arrogância – pontuou Pimentel.
Congresso hostil
Caso vença as eleições, como preveem as pesquisas de intenção de votos para o segundo turno, a presidenta Dilma encontrará um Congresso mais conservador do que na última legislatura. Hostil a causas como o casamento gay, o direito ao aborto e a liberação da maconha, os deputados e senadores eleitos por segmentos retrógrados da sociedade serão mais uma pedra no sapato da provável mandatária.
Pesquisas preliminares realizadas pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) sobre o perfil dos parlamentares eleitos no último domingo apontam que o Congresso Nacional, que passará a legislar em 2015, é o mais conservador desde a redemocratização do país, no final da década de 1980.
– São sérios os riscos de retrocessos em relação aos direitos civis e à legislação trabalhista – alerta o diretor de Documentação do Diap, Antônio Augusto Queiroz.
Segundo afirmou a jornalistas, esse conservadorismo está expresso, por exemplo, no vigor da chamada “Bancada da Segurança”, formada por mais de 30 policiais, militares e apresentadores de programas populares.
– Embora pequena numericamente, essa bancada chega ao Congresso com sangue nos olhos para discutir temas que afrontam os direitos sociais, como, por exemplo, a redução da maioridade penal. E, além disso, têm grande acesso à mídia – afirma.
A maior preocupação do Departamento, de qualquer forma, é com a envergadura da “Bancada Empresarial” que, pelos levantamentos preliminares, já soma 190 deputados, sendo 30 novatos e 160 reeleitos. Em 2010, eles eram 246, mas a “Bancada Sindical”, que lhes fazia contraponto, também era mais robusta, com 83 cadeiras. Agora, os representantes dos trabalhadores caíram para apenas 46. Um baque que, segundo o analista, poderá ser verificado em discussões como, por exemplo, a das terceirizações.
– Nos últimos 12 anos, os empresários não afrontaram os governos do PT porque tinham expectativa de conseguirem alguns benefícios fiscais, como as desonerações que de fato tiveram. Mas agora o isso acabou. O governo não terá mais o que negociar e eles irão investir com tudo para reduzir o que ainda não conseguiram: o custo do trabalho – avalia Queiroz.
Para ele, é grande o risco do parlamento aprovar pautas como a terceirização da mão-de-obra ou uma reforma tributária que penalize os trabalhadores. O Diap ainda não finalizou os estudos sobre o perfil da nova “Bancada Ruralista”.