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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

India: nosso parceiro estrategico no IBAS, no BRICS, no G20 comercial, aliado bilateral dos companheiros, etc...

Tudo isso e mais um pouco..., que ingenuidade pouca é bobagem...
Nota: quando se fala de G20, neste contexto (em outras matérias que não nesta), não tem NADA a ver com o G20 financeiro; este G20 comercial, que não se sabe ao certo quantos países o compõem (tantas foram e tantas são as mudanças de composição), foi formado na ministerial da OMC de Cancun, quando o Brasil, e o G20 comercial, deram, segundo as palavras do guia genial dos povos e reformador da ordem mundial, um "truco" nos países ricos, a versão passando pela história oficial nas palavras e na propaganda da mídia companheira, obviamente sem qualquer conexão com a realidade.
Mais uma vez, a Índia ameaça prejudicar os interesses comerciais, e nacionais (menos para os companheiros) do Brasil, e ainda assim é considerada "parceiro estratégico" (um conceito mais que abusado) e aliado preferencial.
Santa ingenuidade dos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

Destino de acordo na OMC depende da Índia
Por Assis Moreira | De Bali (Indonésia)
Valor Econômico, 2/12/2013

Pressão da Índia é como 'tsunami' para o acordo comercial de Bali

Um embaixador mostra em seu celular a foto que tirou em uma praia em Bali, capital e principal destino turístico da Indonésia: um grande pôster avisa que, em caso de tsunami, a pessoa deve correr para o segundo andar do prédio mais próximo.
Na véspera da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Bali, que tem na agenda o que poderia ser o primeiro acordo comercial global em quase duas décadas, o verdadeiro temor é o de um tsunami diplomático provocado pela Índia. O país concentra as atenções de outras 159 nações e de toda a comunidade empresarial.
O encontro começa amanhã e segue até a próxima sexta-feira, 6 de dezembro. Importantes negociadores concordam que o resultado de Bali depende da Índia e da 'cláusula de paz', ou seja, de autorização para países em desenvolvimento com programas de segurança alimentar darem subsídios acima do permitido para seus agricultores. O objetivo dessa medida é a formação de estoques de commodities.
Na verdade, a Índia colocou-se numa 'sinuca de bico', como resume um negociador. Se agir apenas com a lógica eleitoral pode derrubar de vez um acordo na OMC e enfurecer países em desenvolvimento que esperam ganhar com o entendimento. Por outro lado, se optar por flexibilizar e aceitar o acordo precisará saber vender muito bem ao eleitorado que vai às urnas no ano que vem na Índia que o país conseguiu algo importante e, assim, evitar perder votos na área rural.
"Tudo está nas mãos da Índia", diz um importante negociador em Bali. Os dez textos da negociação estão praticamente fechados. O documento sobre facilitação de comércio tem colchetes, significando divergências, mas elas podem ser logo resolvidas, dizem outros negociadores.
Acontece que a Índia vem a Bali com exigências consideradas impossíveis de serem atendidas por países exportadores agrícolas. Nova Déli quer que, após o prazo de quatro anos, a 'cláusula de paz' seja mantida até que uma solução permanente seja alcançada na OMC sobre segurança alimentar. Para vários países, porém, a Índia poderá sempre argumentar que não aceita as propostas dos parceiros. Nesse caso, os quatro anos se transformariam em cláusula perpétua para a concessão de subsídios maiores.
O que a Índia vem fazendo agora é o que fez nos últimos tempos na OMC. Aproveita qualquer oportunidade para reabrir o acordo agrícola. A diferença é que, ao contrário de vários outros países, os indianos querem recuar e dar margem para mais subvenções no setor, alegando que têm centenas de milhões de pobres no campo.
As regras sobre segurança alimentar da OMC autorizam governos a comprar alimentos a preços de mercado e depois vender os estoques a preços subsidiados para os consumidores. Ocorre que o programa indiano de US$ 20 bilhões a mais por ano é visto como encorajamento ao excesso de produção. Mais tarde essa prática poderia derrubar os preços globais, algo similar às montanhas de manteiga e vinho produzidos até recentemente pela União Europeia (UE). A Índia já se tornou, por exemplo, o maior exportador de arroz em 2012, superando Tailândia e Vietnã. Suas exportações aumentaram 120% em relação a 2011.
O ministro de comércio da Índia, Anand Sharma, deverá constatar que a dinâmica na OMC mudou. Não dá mais para argumentar que a defesa de interesses de países em desenvolvimento tem poder para bloquear negociações. Em Bali, contam-se nos dedos os apoiadores das exigências de Nova Déli: Argentina, África do Sul e países da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), formada por Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.
O G-33, grupo da Índia na questão de segurança alimentar, quer o acordo que foi esboçado em Genebra, a começar pela Indonésia, anfitriã da conferência ministerial e ansiosa por um resultado positivo. Países em desenvolvimento também se uniram na sexta-feira em apoio ao diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, para buscar um acordo.
Liderando o G-20 nas negociações, o Brasil tem papel relevante nas conversas. Um dos pontos em que há caminho aberto para acordo é a facilitação de comércio, por meio da qual países se comprometem a harmonizar procedimentos aduaneiros, baixado custos de transações no comércio exterior. Cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que há um potencial de redução de 14%, para produtos manufaturados, dos custos aduaneiros no Brasil.
Um comunicado mistura vários países desenvolvidos, como grupos do Asean (asiáticos), com países mais pobres da África, Caribe e Pacífico (ACP), além dos grupos africano e árabe.
Países mais pobres esperam contar com ajuda financeira para tentar melhorar suas condições de exportação. Somente a União Europeia prometeu € 400 milhões em cinco anos, a partir do momento em que o acordo de facilitação de comércio (simplificação de regras e procedimentos aduaneiros) for assinado.
O comportamento da Índia pode resultar na perda potencial de centenas de bilhões de dólares em negócios, além de causar o enterro final da Rodada Doha e aumentar o risco de irrelevância da OMC, incapaz mesmo de fazer acordos modestos. Sobre o futuro da entidade, um negociador lembra um personagem de Ernest Hemingway que uma vez foi indagado: 'Como você faliu?' Sua resposta foi: 'De duas maneiras. Gradualmente, depois subitamente'."

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Protecionismo comercial brasileiro: antidumping abusivo - Assis Moreira (Valor)

OMC: Cinco países contestam Brasil por investigações de antidumping
Por Assis Moreira
Valor Econômico, 23/10/2013

GENEBRA  -  O Brasil foi questionado por cinco países hoje na Organização Mundial do Comércio (OMC) em razão de abertura de investigações antidumping para frear importações com preços supostamente desleais.

Rússia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Chile aproveitaram o Comitê de Antidumping da entidade global para contestar a iniciação das investigações que atingem seus produtos no Brasil.

De maneira geral, esses países acreditam que seus produtores não merecem ser submetidos a tais exames. O governo brasileiro respondeu que foi acionado pelo setor privado e faz seu trabalho de investigar se há dumping, prática que afetaria a indústria nacional de maneira desleal.

Neste ano, o Brasil deve ser confirmado de novo como campeão em ações antidumping.

Entre janeiro e o começo de outubro, o país já totalizou 39 novas investigações e pode chegar a 45 até o fim do ano, o segundo maior número de investigações em um ano no Brasil. O recorde foi no ano passado, com 65.

O número de sobretaxas efetivamente aplicadas, resultado de investigações concluídas, também será recorde: são 25 atualmente e podem chegar a 30 no fim de dezembro. No total, o Brasil tem 96 medidas antidumping em vigor.


Nos últimos dois anos, o Brasil liderou o uso de medidas de defesa comercial entre os países do G-20, que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes.

domingo, 3 de março de 2013

A China volta a ser o centro do mundo economico - Assis Moreira (Valor)

Como não podia deixar de ser: até o século 18, a China era a maior economia do planeta, embora com qualificações. Ela tinha um terço do PIB global, nominalmente pelo menos.
Se tratava do tamanho do seu PIB, necessariamente enorme, pelas dimensões do país e de sua população, em relação ao PIB global. Isso não quer dizer que ela ocupasse uma enorme importância estratégica na economia mundial, pois o Império do Meio era essencialmente autocentrado, recusando contatos com o estrangeiro, o que isolou a China e esteve na origem de sua defasagem tecnológica, enfraquecimento estatal e militar, e portanto, foi responsável pela sua humilhação por forças estrangeiras, europeias, que se tinham tornado mais poderosas, desde o início da era moderna.
Foram praticamente dois séculos de humilhações, junto com uma queda brutal da economia e da prosperidade do país, dividido internamente, esquartejado por forças hostis e invadido pelo Japão.
Depois veio o desastre maoista, o mais impressionante delírio econômico jamais conhecido no mundo, que reduziu a China a uma miséria inacreditável, tendo ainda sido responsável pela morte induzida de dezenas de milhões de chineses, muitos dos quais reduzidos ao canibalismo.
O PIB deve ter decaído a menos de 5% do PIB global, e vem crescendo rapidamente desde as reformas capitalistas empreendidas por Deng Xiao-ping e continuadas por seus sucessores.
A China hoje é, possivelmente, mais capitalista do que o Brasil, e não estou brincando. Seus empresários dispõem de mais liberdade econômica, de menos impostos e de uma logística de primeira qualidade. O Brasil é um país do século 19 comparado com a China.
Quando é que vamos aprender a ser modernos?
Paulo Roberto de Almeida 

A nova paisagem do comércio
Por Assis Moreira
Valor Econômico, 1/03/2013

Quem se aproxima da Organização Mundial do Comércio (OMC) é atraído a partir de agora primeiro por um tradicional jardim chinês, antes mesmo de ver o emblema do xerife do comércio internacional, na movimentada rue de Lausanne.
Um jardim no estilo dos clássicos da antiga cidade de Suzhou, que são classificados como patrimônio da humanidade pela Unesco, foi doado à OMC por Pequim pelo aniversário de dez anos da entrada chinesa no sistema multilateral de comércio.
Na verdade, o presente na entrada da entidade simboliza o crescente poder da China, que em dez anos multiplicou exportações e importações, em 2010 superou os Estados Unidos como principal nação manufatureira do planeta, confirmando-se como a "fábrica do mundo", e em 2011 tornou-se a segunda maior economia mundial.
Além disso, a inauguração do jardim na entrada da OMC, no meio do mês passado, coincidiu com o anúncio de que a China se tornou em 2012 a maior nação comerciante do mundo, somando exportações e importações, superando os EUA.
O Centre William Rappard, com seu prédio e jardim à margem do lago de Genebra, antes de ser sede da OMC pertenceu à Organização Internacional do Trabalho (OIT). E foi nessa época que recebeu vários presentes dados por países. O Brasil decorou uma sala de reunião, Portugal concedeu azulejos para um corredor, a Irlanda ofereceu um mural, a Austrália presenteou com um balcão de madeira que está na portaria da entidade.
No ano passado, Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, sugeriu ao ministro chinês de Comércio, Chen Deming, que a China, por sua vez, criasse um jardim chinês no Centre William Rappard, que passava por renovação e extensão.
Deming entusiasmou-se com a ideia. Mas a China, afinal, tem 5 mil anos de história, como os chineses não cessam de repetir, e o ministro insistiu que o presente tinha que ser proporcional à importância do país.
Três projetos foram propostos pelas autoridades chinesas. E somente depois de várias consultas entre a delegação chinesa e paisagistas da cidade de Suzhou, de um lado, e responsáveis pela reforma da sede da OMC, de outro, é que foi aprovado o projeto do chamado Jardim Gusu.
Pequim despachou para Genebra uma equipe de 20 trabalhadores e sete contêineres com todo o material para a construção - de cimento a tijolo, madeira, telhas, pedras, mas tudo com significado. Por exemplo, alguns monólitos foram esculpidos pela erosão, tirados do lago Tai, no delta do Yangzi Jiang, considerados mais antigos que a vida na Terra.
Os chineses trabalharam em silêncio, com pausas para tomar o chá verde. Cada um tinha pelo menos duas especialidades, como talhar pedra e fazer o madeiramento. O mestre paisagista, o artista, procurou criar um ambiente de "harmonia e serenidade" precisamente no local onde as disputas entre nações sobre as trocas comerciais aumentam cada vez mais, tendo a China como um dos protagonistas.
Segundo um experiente diplomata, os chineses assumem um papel cada vez maior no sistema comercial e procuram mostrar isso. Neste ano, a China completa 11 anos como membro da OMC - algo que necessitou 15 anos de arrastadas negociações com os parceiros.
Já se foi o tempo, na OMC, em que o poder estava concentrado nos EUA e na União Europeia. Hoje, quando há uma reunião importante, os jornalistas querem logo saber a posição dos chineses.
Pequim está agora também no centro da escolha do novo diretor-geral da entidade. Se o vencedor não for um asiático, as chances de Pequim querer um dos quatro cargos de diretor-adjunto serão grandes. Pequim, sobretudo, tem pressa em mais abertura do comércio mundial, para exportar mais e mais.