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terça-feira, 13 de maio de 2014

Presidente do Banco Central Br, tipo exportacao... para presidir o Fed

Armínio Fraga foi cotado para comandar o Banco Central americano

Ex-presidente do BC brasileiro durante o governo de FHC foi citado pelo ex-secretário do Tesouro americano como 'confiável e competente'

Timothy Geithner, ex-secretário do Tesouro americano e atual presidente do Warburg Pincus (um fundo de compra de participações empresariais), sugeriu ao presidente Barack Obama o nome do brasileiro Armínio Fraga para presidir o Federal Reserve, o banco central americano. O cargo é ocupado desde fevereiro deste ano por Janet Yellen, a primeira mulher a assumir o posto.
Fraga, que presidiu o Banco Central brasileiro durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e atua como conselheiro econômico do candidato tucano à presidência, Aécio Neves, é mencionado no livro de memórias de Geithner (lançado na última segunda-feira, 12, nos EUA) Stress Test – Reflexões sobre Crises Financeiras, como “confiável e competente”. Na publicação, o ex-secretário recorda a crise financeira global de 1998, que levou à desvalorização do real, após um período de paridade com o dólar.
“Após abandonar uma tentativa inicial de se manter a paridade do real com o dólar, uma brilhante liderança econômica no Brasil conseguiu dar a volta por cima em poucos meses”, relata. Timothy Geithner fez questão de citar a dupla cidadania de Armínio Fraga: “O então presidente de Banco Central brasileiro, Armínio Fraga, que também tem cidadania americana, foi tão notável que mais tarde eu o mencionei para o presidente Obama como um potencial presidente do Fed”.
O livro tem 580 páginas e analisa, logo no início, a crise dos anos 1990 no país, além de detalhar o efeito tequila no México, a crise russa e a do Sudeste Asiático. Porém, em sua maior parte, trata da crise de 2008 e do polêmico resgate aos bancos depois do colapso do Lehman Brothers. Na ocasião, Geithner era presidente da divisão do Fed em Nova York.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Brasil economia: Banco Central NAO confia no seu proprio governo, e em seus dados...

Parece que o Banco Central não acredita nas previsões do governo. Prefere ficar com as suas próprias.
Muito bem, mas o Banco Central não vem cumprindo seu mandato de manter a inflação dentro da meta.
Se ele fosse totalmente sincero, ele poderia dizer, por exemplo, que o governo sabota seus esforços nesse sentido, que o governo, nas suas outras partes -- não as melhores, certamente -- não acredita em inflação baixa, pratica uma política deliberada de estímulo à economia pelo lado do consumo, e com isso vem pressionando os impulsos inflacionários, e reluta em fazer a sua parte no controle das despesas públicas, um dos principais componentes da realimentação inflacionária.
O Banco Central poderia dizer isso, mas não vai dizer, infelizmente.
Nessas horas, algumas verdades, diretas, são melhores do que essas tiradas indiretas...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil economía

La economía de Brasil crecerá un 2,00 % este año, según el Banco Central

Brasil Reales Banco Central
Infolatam/Efe
Brasilia, 27 de marzo de 2014

Las claves
  • El informe del Banco Central indicó que en 2014, la expansión del PIB se apoyará totalmente en la demanda interna, puesto que se espera que el sector externo tenga un aporte nulo al PIB.
La economía brasileña crecerá un 2,00 % este año, según una previsión divulgada por el Banco Central, que es más pesimista que el Gobierno, cuyos cálculos más recientes fijaron la expansión del Producto Interior Bruto (PIB) en el 2,5 %.
El cálculo del Banco Central figura en su informe trimestral de inflación y es superior a los pronósticos del mercado financiero, que rondan el 1,70 %, según una media que elabora semanalmente el ente emisor con encuestas a un centenar de analistas de bancos privados.
El informe del Banco Central indicó que en 2014, la expansión del PIB se apoyará totalmente en la demanda interna, puesto que se espera que el sector externo tenga un aporte nulo al PIB.
Según estos cálculos, el consumo de las familias subirá un 2,0 % apoyado en las bajas tasas de desempleo y en las “mejorías reales de los salarios moderados”.
El consumo del Gobierno crecerá un 2,1 % y la inversión se desacelerará hasta un 1,0 %, en parte por la comparación estadística con el último trimestre de 2013, cuando registró una amplia expansión.
En 2013 la economía brasileña registró una expansión del 2,3 %, según datos oficiales.

sábado, 7 de setembro de 2013

A Megera Domada? Calma, nao se trata de Shakespeare, mas de algo muito pior...

A "megera domada" referida aqui é a Ata do Banco Central, ou melhor, do último Copom, que parece ter sido abduzida pelos magos keynesianos do cerrado central, uma tropa de choque que continua achando que impulso fiscal, ou seja, incitação ao consumo pelo estímulo à demanda sempre é bom para fins de crescimento.
O Banco Central já não fala mais grosso, mas pia fino, pois quem manda mandou ele calar a boca e se enquadrar no discurso otimista segundo o qual não existe perigo de inflação e tudo caminha pelo melhor no melhor dos mundos. Que coisa, gente: o BC está acovardado ou castrado?, escolham...
Paulo Roberto de Almeida

Esqueçam o que escrevi

06 de setembro de 2013 | 2h 08
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo.
Depois de passar meses denunciando "o balanço do setor público em posição expansionista", ou seja, denunciando as despesas excessivas do governo como causa importante de inflação, a Ata do Copom ontem divulgada mostrou plácido enquadramento não só ao sentido, mas até mesmo às expressões usadas pelas autoridades da Fazenda.
Ao longo das últimas semanas, em oposição ao Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vinham insistindo em que "a política fiscal é neutra" enquanto fonte de inflação. É o jeito de dizer que a política fiscal não joga nem a favor nem contra a alta de preços. De julho para cá, a percepção geral é de que as condições fiscais, se não pioraram, pelo menos não melhoraram. No entanto, o parágrafo 21 da Ata não só deixou de qualificar como expansionista a condução das despesas públicas do governo, como, também, comprou o discurso de Mantega e de Augustin: "Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade".
Tudo se passou como se, depois das queixas internas de que se tornara fonte propagadora do pessimismo sobre a economia, o Banco Central tratasse de desfazer essa impressão.
De todo modo, como das outras vezes, continua apontando outros fatores de inflação. O primeiro deles, "a estreita margem de ociosidade do mercado de trabalho", cujo maior risco é o aumento de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. É o emprego aquecido demais.
Um segundo fator é a "depreciação cambial" (alta da moeda estrangeira em reais), que a curto prazo tende a puxar os preços para cima. A cotação de referência do câmbio deixou de ser R$ 2,25 por dólar e passou a R$ 2,40 por dólar. Faltou quantificar o repasse à inflação esperado e o impacto sobre a alteração dos preços relativos não apenas desses 15 pontos adicionais na cotação do dólar, mas, também, o dos outros 25 que aconteceram nos meses anteriores.
O Banco Central também volta a acusar dois agentes que perpetuam a alta de preços: a inflação elevada que, por si só, induz à excessiva utilização de mecanismos de reindexação (correções automáticas de preços) que realimenta e aumenta a resistência da inflação. E "a piora da percepção", ou seja, o crescimento do desânimo.
A Ata não esclareceu se o governo pretende ou não reajustar os preços dos combustíveis, fato que teria impacto relevante sobre os preços.
Desta vez, o Banco Central não contribuiu para a boa administração das expectativas em direção a uma inflação mais baixa em relação à hoje percebida pelo mercado. Ao contrário, ao retirar sem maiores justificativas as denúncias sobre a falta de colaboração da política fiscal no combate à inflação e ao acentuar que o que antes era ruim passou a ser bom, sem que nada tenha mudado, reforça a convicção de que a política de juros voltou a se pautar por outros critérios e não exclusivamente pelo de provocar a convergência da inflação à meta (veja ainda o Confira).

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Brasil: o mito da politica monetaria (BC) responsavel - Alexandre Schwartsman

Alexandre Schwartsman
Blog Mão Visível, 21 de Agosto de 2013

Sempre gostei de mitos. Culpa de Monteiro Lobato, que também gostava e fez questão de educar mais de uma geração acerca deles. Mitos são importantes para a narrativa de uma nação ou grupo de pessoas em busca de uma identidade, mas, a despeito da sua importância (ou precisamente por conta dela), não é aconselhável comprá-los a valor de face.

Digo isto porque estamos em meio ao processo de criação de uma narrativa com todas as características de mito sobre a condução da política monetária no país, que também não deve ser tomada como verdade, ainda que sirva para acariciar os egos da diretoria do BC.

A narrativa pode ser resumida da seguinte forma.

Em meados de 2011 o BC percebeu, antes de todos, que o mundo passaria por forte desaceleração, com implicações negativas para a atividade doméstica, mas que – no processo – traria a inflação para baixo. Assim, para evitar o “erro de 2008”, tratou de mudar a mão da política monetária, promovendo um corte vigoroso da taxa de juros.

Ao mesmo tempo, porém, gestor responsável que é, o BC também procurou garantias que a política fiscal – ao contrário do ocorrido em 2009 e 2010 – se manteria austera, abrindo espaço para a queda sustentada da Selic. E, com base nestas garantias, reduziu a taxa de juros de 12,50% a.a. para 7,25% a.a. entre julho de 2011 e outubro de 2012. Ao final do ciclo, alertou ainda que “a estabilidade das condições monetárias por um período suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação à meta, ainda que de forma não linear”.

A inflação, porém, não convergiu à meta. Pelo contrário, mantém um semblante de queda apenas por conta de intervenções governamentais nos preços, que irão nos custar ainda mais caro do que hoje. A culpa, contudo, não é do BC, mas do governo, que abandonou o compromisso com a austeridade fiscal, deixando o problema nas mãos do Copom, que agora, ainda o gestor responsável, corre atrás de um prejuízo que não causou.

É uma narrativa edificante. Pena que não sobreviva aos fatos.

Sim, a política fiscal foi (e ainda é!) expansionista, mas isto era visível pelo menos desde meados de 2012. O superávit primário, livre da contabilidade criativa, já vinha em queda desde o primeiro trimestre daquele ano e o próprio cálculo do BC acerca do “resultado estrutural do governo geral” reforçava esta percepção.

Apesar disto o BC persistiu em sua política de redução de juros até outubro e manteve até janeiro deste ano a referência à “estabilidade das condições monetárias”, muito embora já em dezembro tivesse (finalmente!) notado que a política fiscal mudara de “neutra” para “expansionista”.

Posto de outra forma, a forte deterioração fiscal observada ao longo do ano passado não representou para o BC, em momento algum, obstáculo ao afrouxamento da política monetária. Invocá-la agora como motivo para a piora da inflação, ainda que seja verdade, representa uma tentativa oportunista do BC evitar reconhecer sua responsabilidade no processo.

A verdade é que o BC errou e não foi pouco. Seu diagnóstico, muitas vezes repetido, que atribuía ao ambiente externo um papel desinflacionário, revelou-se equivocado. Sua atuação no mercado cambial, cedendo às pressões do Executivo para produzir um dólar mais caro, acabou reforçando as pressões inflacionárias. Sua insistência em ignorar as expectativas crescentes de inflação exacerbou o problema, pondo em xeque a credibilidade conquistada com muito esforço em anos anteriores.


Agora o BC insiste em falar grosso, como se o tom de voz pudesse reconquistar a credibilidade perdida. Não pode. Mais do que discurso, o que se espera do BC é que mostre um lampejo de independência e tome ações concretas para trazer a inflação de volta à meta. Reconhecer seus erros ao invés de tentar salvar suas reputações pessoais, seria um primeiro, e crucial, passo neste sentido.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Dr. Pangloss da equipe economica; nao o Candide, mas o Pangloss...

Candide é o inefável encarregado da economia em geral, que só aprendeu economia em geral, mas não necessariamente a economia em particular. Ele aprendeu com Celso Furtado e outros cepalianos que entre a inflação e a recessão monetarista, era melhor ficar com um "pouquinho" de inflação, de forma a estimular a economia, e ter mais emprego e renda. Pois bem, acabou ficando com mais inflação e menos crescimento, mas ainda assim acreditando que não foi assim tão mal.
O Dr. Pangloss, como abaixo retratado, acredita que a realidade é melhor do que a versão que transmitem delas os meios de comunicação (ah, essa mídia golpista...). Em qualquer país sério, o Dr. Pangloss já teria sido despedido do cargo. No primeiro ano de governo, em 2011, portanto, como que se desculpando por uma inflação mais elevada -- pudera, seus colegas da área fiscal nunca colaboraram -- ele prometeu que no ano seguinte, em 2012, portanto, a inflação estaria dentro da meta. Não esteve, como não está agora, quando ele promete uma convergência não linear em direção à meta. Alguém acredita nisso?
Pois, viveremos entre mentiras e visões róseas da realidade...
Paulo Roberto de Almeida

Pessimismo e realismo

CELSO MING

O Estado de S.Paulo, 07 de agosto de 2013

Ontem, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tentou demonstrar a empresários em São Paulo que "a percepção da economia pelo mercado e pelos agentes econômicos é mais pessimista do que a realidade".
Tombini limitou-se a apontar áreas da economia, especialmente a dos investimentos, cujo comportamento vem sendo mais promissor do que o esperado.
O levantamento mais abrangente das expectativas do mercado é realizado justamente pelo Banco Central, por meio do Relatório Focus, que semanalmente apresenta as projeções (pelas medianas) de cerca de cem instituições financeiras, consultorias e outras empresas sobre os principais itens da economia.
Ao contrário do que afirmou Tombini, em geral, as expectativas do mercado são bem mais otimistas do que o que afinal acaba acontecendo. Foi essa a observação que fez dia 4 de agosto, na Folha de S.Paulo, o economista da FGV Samuel Pessoa, após acompanhamento atento das projeções e dos resultados ao longo de cinco anos (veja o Confira).
O mercado quer acreditar. E quase sempre aposta em que tudo vá melhorar. O problema é que essa percepção otimista acaba sendo entortada pelas pauladas diárias que o mercado e os empresários acabam levando.
Se Tombini quer mesmo criticar a falta de realismo sobre a avaliação da economia tem de começar pelo que acontece dentro do governo. O campeão das projeções cor-de-rosa é reconhecidamente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que começou os últimos três anos anunciando um crescimento econômico entre 4,5% e 5,0% e vai amargando decepções. Em 2011, o PIB cresceu 2,7%; em 2012, ficou em 0,9%; e em 2013, ele mesmo agora reconhece, será apenas "melhor que 2012".
Na área fiscal, há meses não se consegue pinçar uma única afirmação consistente do ministro Mantega. Depois do grande vexame do final do ano passado, quando o secretário do Tesouro, Arno Augustin, submeteu as contas públicas de 2012 a mágicas contábeis, o governo garantiu que o superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) não seria inferior a 3,1% do PIB, ou a R$ 159,9 bilhões. De lá para cá, esses números foram emagrecendo e, a esta altura, o ministro Mantega não consegue explicar como ainda pretende apresentar um resultado de 2,3% do PIB. E vejam que esse PIB não é o das projeções do início do ano; é também o PIB desidratado que, em 2013, provavelmente terá um crescimento ao redor dos 2%.
Quando se trata de avaliar o avanço futuro dos preços, não há nenhuma projeção confiável do governo - a não ser as do Banco Central, que desistiu de afirmar que a inflação convergiria para a meta (de 4,5%) "ainda que de forma não linear". Há três semanas, por exemplo, a presidente Dilma avisou que a inflação fecharia este ano "na meta", quando se sabe que a meta a que se refere não são os 4,5% definidos em lei, mas estes acrescidos da margem de tolerância de 2 pontos porcentuais.
Não há quem possa seguir otimista se o governo avisa que não vai mudar sua Nova Matriz Macroeconômica, que deu errado.

domingo, 4 de agosto de 2013

O Brasil e sua globalização involuntária - Gustavo Franco

O Brasil e sua globalização involuntária

29 de julho de 2013 
Autor: Gustavo H. B. Franco
pequeno normal grande
Gustavo Franco
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) é de longe a maior das forças promotoras da globalização, pois é o que inclui os países nas redes de produção internacional, de movimentação de fatores de produção e de tecnologia. Os fluxos de IDE para o Brasil subiram de US$ 26 bilhões em 2009 para patamares superiores a US$ 65 bilhões nos anos posteriores a 2011, números que podem dar a impressão de uma vigorosa trajetória de inserção da globalização, ou de aceleração no processo de formação da capital.
Nada mais enganoso: como não temos políticas destinadas a aprofundar nossos vínculos globais – pelo contrário, há tempos praticamos políticas industriais e de comércio exterior nacionalistas ou mesmo interioranas – e a formação bruta de capital permanece estagnada, não há outra explicação para o surto de IDE que não a política monetária dos países desenvolvidos.
Não se trata de questão simples de arbitragem: nunca foi tão atrativo para as empresas multinacionais alavancarem-se para adquirir ativos ou expandir atividades no Brasil e em outras economias emergentes as quais, ainda que problemáticas, exibem melhores perspectivas de crescimento que as economias desenvolvidas. Nossas autoridades deviam mostrar gratidão a Ben Bernanke ao invés exibir da tola malcriação bem resumida pela expressão “guerra cambial” que celebrizou o nosso ministro nos círculos terceiro-mundistas.
É nesse contexto que o Banco Central publica os resultados do quarto censo quinquenal do Capital Estrangeiro no Brasil, feito para o ano-base 2010. Trata-se de extraordinário trabalho de pesquisa, realizado com grande diligência e competência, que nos revela uma surpreendente transformação para os 15 anos posteriores a 1995: um país cosmopolita e internacionalizado e que estaria a requerer políticas públicas adaptadas para esta realidade singular e estranha à ideia de um país continente e ainda hipnotizado com o mito da autossuficiência.
O censo é um questionário destinado a todas as empresas brasileiras que, na data de referência, possuíssem um mínimo de 10% de participação acionária de não residentes no capital votante, ou de 20% sobre o capital total. Obedecido este conceito, o censo de 1995 teve 6.322 respondentes. Eles foram 11.404 em 2000 e 17.605 em 2005, mas em 2010 o número se reduz para 16.844 em razão de uma alteração metodológica com vistas a melhor retirar dessa amostra o chamado investimento em carteira. Dessa maneira, também foi possível determinar com mais precisão o número de empresas receptoras de IDE, considerando as cadeias de controle: exatas 13.858 empresas recebendo US$ 587,2 bilhões em capital e mais US$ 82,8 bilhões em empréstimos intercompanhias, totalizando US$ 670 bilhões, equivalentes a 31% do PIB brasileiro.
Este é o tamanho do capital estrangeiro de natureza empresarial no Brasil, a maior parte do qual chegando depois de 1995, quando o estoque de IDE no Brasil era da ordem de US$ 40 bilhões e o número de empresas recebendo IDE podia ser estimado em cerca de 4.700. Durante os 15 anos seguintes foram cerca de 9 mil novas empresas trazendo US$ 630 bilhões – algo como 2 empresas e US$ 150 milhões a cada dia útil!
A internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE ‘substitua’ comércio


Essa invasão de capital estrangeiro produtivo no Brasil não encontra precedente e coloca em questão as definições habituais de abertura e inserção externa, eis que representa um envolvimento muito mais profundo com a economia global do que os diminutos graus de abertura comercial do Brasil poderiam sugerir. Certamente temos aqui um curioso, mas não inusitado paradoxo: a internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE “substitua” comércio, tal como no caso clássico da Europa do pós-guerra. É o nacionalismo, via substituição de importações, que sai pela culatra.
Para o ano de 2010, o leitor terá ouvido que o fluxo de IDE naquele ano alcançou US$ 48,5 bilhões, ou seja, representou uma injeção de capital de aproximadamente R$ 85,3 bilhões em empresas com sede no Brasil. Com esse acréscimo, o conjunto das 13.858 empresas do censo fechou o ano com um patrimônio total de R$ 974 bilhões, dos quais R$ 819 bilhões (84%) de titularidade de não residentes. Essas empresas tinham ativos de R$ 2,4 trilhões e faturamento de R$ 1,6 trilhão, respectivamente 65% e 42% do PIB, e eram responsáveis por 38% das exportações totais do País e 43% das importações em 2010.
Em 2010, as 13.858 empresas do censo empregavam 2,3 milhões de pessoas, representando apenas 2,4% da população ocupada, como tem se observado nos censos anteriores. Com base na relação entre valor bruto da produção e valor adicionado, é possível estimar que o valor adicionado produzido pelas empresas do censo contribua para o PIB brasileiro com cerca de um quarto de seu valor. Parece óbvio, portanto, que existem dramáticas diferenças de produtividade entre essas empresas e o restante do País: para 2010, enquanto um trabalhador de uma das empresas do censo gerava R$ 397 mil de valor adicionado em média, para o restante da população ocupada o número era de R$ 31 mil, ou menos de um décimo.
Contrastes semelhantes se observam no terreno do comércio exterior: enquanto um trabalhador ocupado em uma empresa do censo produzia cerca de US$ 38 mil em exportações, outro em outras empresas brasileiras produzia US$ 2,4 mil em exportações em média. As exportações brasileiras representavam 6,5% do PIB em 1995, subiram a 14,7% em 2005 e caíram a 10,5% em 2010. As empresas do censo exportavam 16% de seu faturamento em 1995, chegaram a 22% em 2005 e caíram a 17% em 2010, porcentuais bem maiores que os observados para outras empresas brasileiras e provavelmente determinantes para o coeficiente de abertura comercial do País.
Os contrastes entre empresas do censo e as outras empresas brasileiras são fáceis de se exagerar, pois seria preciso “descontar” outros fatores que podem explicar alta produtividade e propensão ao comércio, como tamanho, concentração, formalização do trabalho, entre outros. Mas, mesmo com esse benefício concedido à dúvida, é difícil evitar a impressão de que as empresas com conexões relevantes com a economia globalizada têm sido a locomotiva de crescimento e para o comércio exterior do país na primeira década e meia depois do Plano Real, mesmo sem terem sido objeto de nenhuma política pública específica. De muitas maneiras, a globalização é como a internet: as possibilidades são infinitas, sobretudo se as autoridades encaram o assunto com o espírito aberto e sem o cabotinismo ideológico dos últimos anos.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 28/07/2013

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Os artigos assinados não traduzem a opinião do Instituto Millenium. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre os valores defendidos pelo Instituto e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Economia brasileira: BC tem festival de noticiais ruins (Focus, Julho 2013)

Bem, não se pode dizer que os "mercados" -- essa palavra sempre tão negativa, aos olhos dos companheiros -- estejam otimistas com o Brasil, ao contrário.
O importante é que o Banco Central também ficou mais realista, ainda que ele não seja isento de culpa, também.
Lembro que, em meados de 2011, quando a inflação já estava acima da meta central (4,5%), o presidente Alexandre Tombini prometeu, formalmente, em audiência no Congresso, que em 2012 a inflação já teria convergido para o centro da meta.
Não cumpriu em 2012, e não vai cumprir em 2013.
Se fosse nos EUA, já teria sido convocado pela Comissão de Economia da Câmara e do Senado para dar explicações, e se os parlamentares não estivesse contentes, seria dispensado do cargo.
No Brasil, todos são amigos... da inflação...
Paulo Roberto de Almeida

BACEN (15/07/2013) – BOLETIM SEMANAL FOCUS. PREVISÕES DO MERCADO.

MERCADO FINANCEIRO BAIXA PARA 2,31% PREVISÃO DE ALTA DO PIB DE 2013. EXPECTATIVA PARA O IPCA DESTE ANO PASSOU DE 5,81% PARA 5,80%. MERCADO SEGUE PREVENDO NOVA ALTA DE JUROS DE 0,5 PONTO EM AGOSTO. Os economistas do mercado financeiro baixaram, na semana passada, sua expectativa pra o crescimento do PIB de 2013 de 2,34% para 2,31%. Para o IPCA, que serve de referência para o sistema de metas de inflação, a estimativa do mercado financeiro para este ano caiu de 5,81% para 5,80% neste ano. Esta foi a nona queda consecutiva deste indicador. Para 2014 a previsão de crescimento da economia brasileira ficou estável em 2,80%. No primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, o PIB avançou somente 0,6% na comparação com os três últimos meses do ano passado - valor que ficou abaixo da previsão dos economistas. O MF informou recentemente que a meta do governo para o crescimento é de 3% neste ano, abaixo do que ainda consta no orçamento federal - que prevê uma alta de 3,5%. No mês passado, o BC baixou de 3,1% para 2,7% sua estimativa de expansão do PIB em 2013.
MERCADO REDUZ PREVISÃO DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA PELA 9ª VEZ SEGUIDA. Economistas de instituições financeiras elevaram sua projeção para a Selic em 2014, prevendo que o Banco Central seguirá com o aperto monetário no ano eleitoral, ao mesmo tempo em que mantiveram a perspectiva para a taxa básica de juros neste ano e reduziram as de inflação e crescimento. Os analistas consultados mantiveram a projeção de que a Selic encerrará este ano a 9,25% depois de o BC ter dado continuidade, na semana passada, ao ciclo de aperto monetário elevando a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, a 8,5%. Para a reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, os analistas esperam nova alta de 0,5%, mantendo o ritmo de aperto monetário. Mas para o final de 2014 elevaram a perspectiva a 9,5%, ante 9,25% na pesquisa anterior. O mercado agora aguarda a divulgação na quinta-feira da ata da reunião da semana passada, em que a decisão de elevar a Selic foi unânime, em busca de mais indícios sobre os rumos da política monetária. Por sua vez, o Top 5, com as instituições que mais acertam as projeções no médio prazo, mostra que a estimativa para a Selic é de 9,5% neste ano, inalterado ante a semana anterior. Para 2014, por outro lado, a projeção foi reduzida a 9,5%, ante 9,75%.
FOCUS APONTA PARA MENOR CRESCIMENTO DO PIB NESTE ANO E MAIOR SELIC EM 2014. PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO ECONÔMICO CAIU DE 2,34% PARA 2,31% NESTE ANO; SELIC DEVE ATINGIR 9,50% NO PRÓXIMO ANO. As expectativas econômicas brasileiras divulgadas, projetam piora no crescimento econômico, com o PIB (Produto Interno Bruto) em 2,31% ao final deste ano, ante expectativa anterior de 2,34%. Para 2014, a expectativa de expansão manteve-se em 3,00%. Também projeta menor produção industrial, com expansão de 2,23% em 2013, ante 2,34% apresentados na semana anterior. Já a mediana de projeções para a Selic manteve-se em 9,25% neste ano. Para 2014, no entanto, os analistas consultados pelo BC acreditam em uma taxa maior do que o previsto anteriormente, em 9,50%. Para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o relatório indicou leve queda nas estimativas para 2013, com a inflação em 5,80% neste ano, ante perspectiva de 5,81%. Para 2014, a projeção manteve-se em 5,90%.
INFLAÇÃO. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para o sistema de metas de inflação, a estimativa do mercado financeiro para este ano caiu de 5,81% para 5,80% neste ano. Esta foi a segunda queda consecutiva deste indicador. Para 2014, a previsão permaneceu estável em 5,90%. O BACEN afirmou que a inflação teria queda neste ano frente ao patamar registrado em 2012 (5,84%) e no ano de 2014. Embora acredita na desaceleração da inflação neste ano, o mercado continua prevendo, entretanto, crescimento da inflação em 2014. Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA. Para 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. O BC repetiu o argumento de que esse movimento de elevação da Selic colocará a inflação para baixo. Em relação ao IPCA, os agentes econômicos consultados no Focus reduziram a expectativa neste ano a 5,8%, ante 5,81% na pesquisa anterior. Para 2014, a projeção permaneceu em 5,9%. Já a expectativa para a inflação nos próximos 12 meses foi ligeiramente elevada a 5,68%, ante 5,67%. O nível elevado de preços continua preocupando ainda mais diante da fraqueza da economia brasileira, o que ficou evidenciado na queda de 1,4% do Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) de maio, ante abril. O indicador é considerado uma espécie de sinalizador do PIB. Frente a esse cenário, os economistas baixaram pela nona semana seguida a expectativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano no Focus a 2,31%, ante 2,34% anteriormente. Para 2014, a projeção foi mantida em 2,8%.
TAXA DE JUROS. Após o aumento nos juros para 8,5% ao ano na semana passada, o mercado segue acreditando que, em agosto, haverá uma nova alta de 0,5 ponto percentual, para 9% ao ano. Para o fim deste ano, a estimativa permaneceu estável em 9,25% ao ano. Para o final de 2014, porém, a previsão subiu de 9,25% para 9,5% ao ano na última semana.
CÂMBIO. A projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2013 continuou em R$ 2,20 por dólar. Para o fechamento de 2014, a estimativa dos analistas dos bancos para o dólar subiu de R$ 2,22 para R$ 2,30. O Focus mostrou ainda que os economistas mantiveram a expectativa para o dólar no final deste ano em R$ 2,20.
BALANÇA COMERCIAL. A projeção dos economistas do mercado financeiro para o superávit da balança comercial (exportações menos importações) em 2013 ficou estável em US$ 6 bilhões na semana passada. Para 2014, a previsão de superávit comercial permaneceu em US$ 8 bilhões na última semana.
INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS. Para 2013, a projeção de entrada de investimentos no Brasil ficou inalterada em US$ 60 bilhões. Para2014, a estimativa dos analistas para o aporte de investimentos estrangeiros continuou em US$ 60 bilhões na última semana.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Superavit Primario No More: fim de uma ficcao economica? - Editorial Estadao

Fez bem o Banco Central ao tentar reparar sua arranhada credibilidade econômica com o fim do uso desse conceito tão desacreditado quanto conspurcado pelo governo, de superávit primário. Ocorreram tantas manipulações nesses dados, que foi realmente necessário ao BC se distanciar de um conceito que, aparantemente, virou mais uma das heranças malditas do amadorismo econômico dos companheiros.
O mal já está feito, porém, e vamos ter de amargar maior inflação e menor crescimento pelos próximos meses.
Paulo Roberto de Almeida

O BC se resguarda

01 de julho de 2013 | 2h 13
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Para melhorar suas análises econômicas, o Banco Central (BC) deixará de utilizar em seus estudos o conceito de superávit primário no qual o governo baseia sua política fiscal.
Da forma como vem sendo calculado e apresentado, o superávit primário não permite avaliar com mais precisão os efeitos das ações do governo na área fiscal - como estímulos tributários ao consumo, a redução de impostos em alguns setores, o aumento ou a redução de gastos em determinadas áreas - sobre a atividade econômica e sobre os preços.
Por isso, o Banco Central passará a utilizar outro conceito, o de superávit estrutural, para projetar a evolução das variáveis econômicas e os efeitos das políticas econômicas.
Embora justificada numa nota de natureza técnica inserida no Relatório de Inflação - na qual expõe a mais recente atualização dos modelos que utiliza para simular cenários e efeitos das políticas econômicas, com o objetivo de subsidiar as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) -, a mudança promovida pelo Banco Central tem efeitos práticos que vão muito além da criação de balizas mais adequadas para a definição do nível dos juros básicos.
Ela constitui uma crítica à maneira como o governo vem conduzindo a política fiscal e anunciando seus resultados, falseados por manobras contábeis. E, ao deixar de utilizar os dados apresentados pelo Ministério da Fazenda e pela Secretaria do Tesouro Nacional, o BC afasta-se mais um pouco da gestão da política econômica do governo Dilma.
Vem fazendo isso há algum tempo de maneira discreta, para reconstruir as partes de sua credibilidade que foram corroídas quando se rendeu ao discurso ufanista do governo num momento em que já eram nítidos os sinais de deterioração do ambiente econômico.
O próprio Relatório de Inflação, divulgado na quinta-feira passada, mostra um BC com uma visão da realidade econômica diferente daquela que tem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Enquanto Mantega disse que a inflação está em queda - neste ano, poderá ser inferior à do ano passado -, o BC admite que ela poderá ser maior. Em março, o BC projetava inflação de 5,7% para este ano; agora, prevê 6%. Entre as fontes de pressão inflacionária, a instituição relacionou a "política fiscal expansionista" (isto é, gastos excessivos do governo), demanda forte demais em relação à oferta (mas o governo continua a estimular a demanda) e mercado de trabalho aquecido. Quanto ao desempenho da economia em 2013, o BC reviu para baixo sua projeção para o crescimento do PIB, de 3,1% para 2,7%.
A instituição, por compreensíveis motivos, não quer explicitar esse afastamento - que, destaque-se, é necessário para restabelecer não apenas sua credibilidade, mas também a de sua política, indispensável para, em sua esfera de influência, conter as pressões inflacionárias.
Em "nota de esclarecimento" divulgada na sexta-feira em resposta à reportagem do jornal Valor mostrando as mudanças técnicas, o BC diz que "a metodologia de apuração de resultados fiscais é universal, padronizada e estabelecida pelo Fundo Monetário Internacional", e que a sua utilização nos seus modelos de simulação e estudos econômicos "em nada afeta o conceito de resultado primário padronizado".
É tudo verdade. Mas não nega a troca da variável fiscal nos estudos da instituição. É, aliás, o que se lê no Relatório de Inflação. Segundo o BC, as atualizações nos modelos e nas variáveis que utiliza são necessárias "para manter o elevado nível de transparência das ações de política monetária" e, nas mudanças feitas agora com esse objetivo, "passou-se a utilizar o superávit primário estrutural como variável fiscal (...) em substituição ao superávit primário consolidado do setor público".
A diferença entre um conceito e outro é simples, mas essencial para tornar menos obscuros os resultados fiscais. O primeiro, diz a nota do BC, "é ajustado pelo ciclo econômico e exclui os efeitos de receitas e despesas extraordinárias". Já no cálculo do superávit primário, para cumprir a meta fixada na Lei de Diretrizes Orçamentárias, o governo tem lançado muitas receitas extraordinárias, obtidas por meio de artifícios contábeis, como a antecipação de dividendos de empresas estatais e outras manobras.

sábado, 20 de abril de 2013

Vesguice mental dos decisores politicos em economia - Editorial Estadao


Timidez contra a inflação

19 de abril de 2013 | 2h 09 
Editorial O Estado de S.Paulo
A inflação disparada parece haver preocupado, afinal, a presidente Dilma Rousseff e os dirigentes do Banco Central (BC). Não havia mais como olhar para outro lado. Em março a taxa acumulada em 12 meses chegou a 6,59% e estourou o limite de tolerância, de 6,5%. O assunto ganhou destaque nas primeiras páginas dos jornais, nas capas de revistas semanais e nos programas de rádio e TV. A demorada resposta foi dada na quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom), de maneira quase envergonhada, elevou de 7,25% para 7,5% a taxa básica de juros da economia. O tímido aumento foi acompanhado de uma promessa de "cautela" nos próximos passos.
A timidez transparece também no comunicado emitido pelo Copom. A nota menciona a inflação elevada, a disseminação dos aumentos e a resistência da inflação, fatos bem conhecidos e apontados muitas vezes, desde o ano passado, por analistas do mercado financeiro e de instituições independentes. O documento sugere a possibilidade de novas altas de juros, mas com uma ressalva: "Incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação" e recomendam cautela na política monetária.
A ressalva, um tanto cabalística, é menos misteriosa e mais preocupante do que pode parecer à primeira vista. O pessoal do BC continua argumentando como se os grandes problemas internos, como a persistente alta de preços e o fiasco do crescimento, fossem determinados principalmente, ou em grande parte, pelas condições externas. Essa alegação foi usada em agosto de 2011, quando o Copom iniciou a redução dos juros. A recessão internacional, segundo se explicou na época, derrubaria as cotações dos alimentos e de outros produtos básicos e isso ajudaria a frear a inflação no Brasil.
A previsão foi errada, como se verificou em 2012, e o erro decorreu principalmente de um diagnóstico falho. Ao contrário da tese oficial, a inflação brasileira, claramente vinculada a fatores como o gasto público excessivo e a rápida expansão do crédito, é um produto essencialmente nacional, assim como a estagnação do PIB. Basta olhar a evolução de outros países emergentes e em desenvolvimento para ver como é falso o discurso repetido em Brasília. Pode-se crescer muito mais, com inflação bem menor, apesar do ambiente externo desfavorável. Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai e Peru comprovam essa possibilidade.
O erro maior e mais sério, no entanto, resulta de uma espécie de vesguice mental. A presidente Dilma Rousseff insiste em proclamar a redução dos juros como grande realização de seu governo. Se novos aumentos forem necessários, diz a presidente, a taxa ainda será menor do que a vigente em outros tempos.
Há dois equívocos nesse palavrório. De fato, os instrumentos de política monetária tornaram-se mais eficazes, mas isso é consequência da integração financeira. Há dez anos o crédito correspondia a 25% do PIB. Essa relação dobrou. Qualquer medida - alta dos juros ou aperto do crédito, por exemplo - pode produzir mais efeitos do que há alguns anos. É uma tolice atribuir essa mudança ao voluntarismo da presidente da República. Mas instrumentos mais eficazes só funcionam se forem usados, e o BC, obediente à Presidência, demorou muito a agir.
Além disso, a presidente Dilma Rousseff, aplaudida por uma parte do empresariado, agiu sempre como se o grande problema do Brasil, no setor monetário, fosse a persistência de juros mais altos que os de outros países. Essa tese desvia a atenção do problema central. Juros altos podem ser ruins, mas a questão realmente grave é a persistência de uma inflação endêmica e bem maior que a de quase todos os participantes do comércio global. Em outros países, surtos inflacionários são combatidos com rapidez e determinação. No Brasil, a própria meta de inflação, de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais, já revela uma perniciosa tolerância inflacionária. Como o governo gasta demais e ainda transforma em farsa o compromisso com a meta fiscal, sobra a política monetária como arma contra a alta de preços. E mesmo essa arma o BC, submisso à desorientação do Palácio do Planalto, deixou de usar por quase dois anos

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Banco Central ja' virou um barco lateral, fazendo agua em varios lados...

O Banco Central ja' virou um barco lateral, fazendo agua em varios lados... 
Entrando água por cima, por baixo, pelos lados, na sala de máquinas, na sala de comando, no depósito de combustível, até na geladeira, onde a comida deve ter estragado.
Passageiros (que somos nós) e tripulantes estão todos enjoados, alguns vomitando (os mais sensíveis), outros já baixaram à enfermaria, e tem até aqueles que procuram ficar bem com a capitania dos portos, indicando que não iriam por aquela direção (será para demonstrar que estão solidários com o brilhante plano de navegação que desenharam lá longe, na terra dos liluputianos?).
Anyway, qualquer solução que ele tivesse tomado, seria ruim, já estando condenada ab initio, por causa dessas tempestades "encomendadas" pelos meteorologistas incompetentes: se o barco não se movesse, iriam dizer que estavam cedendo comando a outros, de longe, se se movesse muito rápido, diriam que estaria fugindo de algo, movendo lentamente, como agora, não adianta muito, pois o mal já está feito e a água está entrando mesmo.
Bem, vamos colocar os coletes anti-inflação, mas todo mundo vai se molhar, disso não tenham nenhuma dúvida...
Paulo Roberto de Almeida 


Copom eleva taxa Selic para 7,50% ao ano
17/04/2013 20:04 

Brasília -  O Copom decidiu elevar a taxa Selic para 7,50% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela manutenção da taxa Selic em 7,25% a.a.
O Comitê avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária. Por outro lado, o Copom pondera que incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela.
Votaram pela elevação da taxa Selic para 7,50% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 7,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Aldo Luiz Mendes e Luiz Awazu Pereira da Silva.

Juros e Inflacao: qualquer decisao do BC sera' ruim, pois ja' tem sua credibilidade abalada..

TAXA DE JUROS
BACEN. COPOM. (17/04/2013) – PREVISÕES DO MERCADO

DE OLHO NA INFLAÇÃO E NO PIB, COPOM PODE SUBIR JURO PELA 1ª VEZ DESDE 2011. MERCADO AVALIA QUE JUROS PODEM SUBIR PARA CONTER ALTA DE PREÇOS NO PAÍS. AUMENTO DA SELIC PODE, PORÉM, COMPROMETER CRESCIMENTO ECONÔMICO. Em meio ao risco de aumento da inflação e à necessidade de manter a economia aquecida para combater os efeitos da crise internacional, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reune em 16-17/04/2013 para deliberar sobre o patamar para fixação da taxa básica de juros do país, a chamada Selic, atualmente fixada em 7,25% ao ano. A mais recente pesquisa feita com agentes do mercado financeiro, divulgada pelo BACEN no relatório Focus, aponta para a expectativa de que o Copom promova nesta quarta a primeira elevação na Selic desde 2011, quando a autoridade monetária deu início ao processo de redução que levou a taxa de juros ao seu menor patamar histórico. O aumento seria uma tentativa do Banco Central de conter a inflação no país – a alta dos juros acaba por deixar o crédito mais caro e desestimula as pessoas a consumirem, o que pode gerar queda de preços. Em 10/04/2013 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA acumula alta de 6,59% em 12 meses até março, acima do teto da meta de inflação estabelecida pelo BC. A última vez em que o índice superou a meta foi em dezembro de 2011, quando atingiu 6,64%. A PR afirmou afirmou que o governo não terá o menor problema em atacar a inflação sistematicamente. Apontou, porém, que se houver necessidade de elevar os juros para combatê-la, isso seria feito em patamar bem menor que o realizado em anos anteriores, sinalizando que não há possibilidade de grandes mexidas na Selic para frear a alta dos preços. Já havia afirmado que a inflação no Brasil está sob controle e avaliou que a tendência é que diminua ao longo deste ano, assim como ocorreu em março, que teve inflação de 0,47%, ante de 0,60% registrado em fevereiro.
DÚVIDAS SOBRE O PIB. Por um lado se preocupa com a inflação, do outro o governo está pressionado a manter medidas para que a economia reaja e cresça em um ambiente de crise. Por conta disso, o mais provável é que o Copom mantenha a taxa de juros inalterada em 7,25% na reunião desta quarta, justamente para não prejudicar o crescimento da economia brasileira, que já caminha a passos lentos – o aumento do PIB em 2012 foi de 0,9%. Caso o BACEN eleve a taxa de juros, seria para reduzir consumo. Em um momento em que se está morrendo de medo de a economia não crescer neste ano, essa alta pode ser o tiro final. No entanto, há setores do mercado que acreditam que, nesse momento, o Copom não vai mexer na taxa de juros. Vão ponderar essa questão do crescimento e optar por olhar mais um pouco, ver como a economia se comporta e se haverá uma reação.
CONSENSO ESPERA ALTA NA SELIC, MAS HÁ DIVERGÊNCIA DE QUANTO SERÁ ESSE AUMENTO. DAS 83 PROJEÇÕES COMPILADAS PELA AE BROADCAST, 53 INDICAM AUMENTO DA TAXA BÁSICA DE JUROS; DOS QUE APOSTAM NA ALTA, 20 ESPERAM UM AUMENTO DE 0,5 P.P. Apesar do crescimento da economia continuar fraco, a expectativa do mercado por um aumento da Selic está crescendo continuamente, em meio às preocupações com a inflação. Com isso, as análises estão cada vez mais preponderantes de que haverá um aumento da taxa de juros em pelo menos 0,25 ponto percentual. Desta forma, o que a algumas semanas atrás era quase um consenso, a possibilidade de manutenção da Selic foi revista por diversas casas de análise, principalmente após a divulgação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) de março e com os pronunciamentos do MF e do BACEN: (i) o governo pode tomar medidas não populares; (ii) não haveria tolerância com a inflação; respectivamente. Até a semana passada, das 76 casas de análise com projeções divulgadas, 14 acreditavam em alta da taxa de juros já na próxima quarta-feira. Entretanto, este número subiu e, das 83 projeções divulgadas, agora 53 projetam um aumento da taxa de juros e 30 esperam manutenção. Destes 53, 33 acreditam que a alta será de 0,25 p.p., para 7,5% ao ano e 20 acreditam que o juro subirá 0,5 p.p., para 7,75% ao ano, de acordo com informações do AE Broadcast.
POR QUE MANTER A SELIC? Para o coordenador do curso de ciências contábeis da Faculdade Santa Marcelina, Reginaldo Gonçalves, a taxa Selic deve ser mantida em 7,25% a.a., pois qualquer que seja o aumento, ele pode inviabilizar o projeto do governo, que está em busca da redução do endividamento interno e a possibilidade de novos investimentos. Segundo ele, caso haja o estouro da meta de inflação, o Copom deve manter a taxa nos patamares atuais e fazer uma nova avaliação no próximo mês. Gonçalves destaca que o governo está em um telhado de vidro, que pode romper a qualquer momento, com a situação econômica ainda preocupante - o próprio governo revisou para baixo os números do crescimento do PIB em 2013, para 3% frente aos 3,5% iniciais. A preocupação com o crescimento econômico deve ser uma constante para o Copom, sobretudo após a divulgação do IBC-Br (Índice de atividade econômica do Banco Central), avalia a equipe do Santander. Considerado uma prévia do PIB brasileiro, o indicador ficou bem abaixo do esperado ao apontar alta de 0,4% em fevereiro. Embora esperam uma manutenção na Selic, eles esperam com expectativa o comunicado pós-reunião para entender melhor os próximos passos da política monetária em 2013. A agência de classificação de risco Austin Ratings, que revisou para baixo as suas perspectivas para a economia após a divulgação do dado, acredita que a Selic deve voltar a subir só a partir de julho.
POR QUE ELEVAR A SELIC? Por outro lado, conforme aponta a LCA Consultores, está se tornando cada vez mais preponderante a indicação pelo mercado de que a taxa básica de juro suba já neste reunião. A alteração de cenário está ligada, principalmente, devido à mudança no tom das declarações anti-inflacionárias da diretoria do BC. Tombini destaca que está monitorando atentamente a evolução dos indicadores para sinalizar a iminência de alterações da política monetária. Além disso, o presidente do BC destacou que o monitoramento será utilizado para a definição ''não da estratégia, mas da tática [da política monetária] no período vindouro'', aponta a LCA. ''Isso parece indicar que a estratégia de apertar as condições monetárias já está definida, restando estabelecer o timing e a intensidade da elevação da Selic'', avaliam os consultores. O alinhamento retórico de outros integrantes do governo com relação a essa possibilidade - como no caso de Guido Mantega - também reforçam essa percepção. Neste quadro, apontam, as chances da Selic ser elevada já nesta reunião do Copom aumentam preponderantemente, após a inflação ter atingido 6,6% em março no acumulado de doze meses, apontando para uma justificativa técnica para a elevação dos juros. O quadro de elevação de juros também deve elevar os juros, aponta a Rosenberg Consultores Associados. Segundo apontam os economistas, as notícias dramáticas não se limitaram à inflação acima do teto, mas também o índice de difusão alto ao mostrar que três quartos de todos os itens tiveram elevação nos preços. ''A política fiscal poderia ser mobilizado para combater a inflação, mas o seu impacto é muito lento e, além disso, não mostra nenhum sinal de reversão de sua trajetória expansionista'', afirmam os economistas, o que dá ''luz verde'' para uma volta do ciclo monetário mais apertado.
AJUSTE  DEVE SER MODERADO. Entretanto, aponta a LCA, a perspectiva é de que a intensidade do ajuste será moderada, suficiente apenas para trazer a política monetária para níveis mais próximos da neutralidade. ''Nas nossas contas, tal objetivo demandaria uma elevação da taxa básica de juros de 150 pontos-base'', afirma a LCA - uma vez que a inflação está mais ligada aos efeitos de choque na oferta do que na demanda. A expectativa dos economistas é também por uma maior desaceleração da inflação, com menor pressão dos grupos de alimentação. Com isso, o BC não deve adotar um ciclo de alta da Selic de modo a contrair a atividade e sim para levar a política monetária para perto das condições de neutralidade.
DISCURSO PR SOBRE JUROS CAUSA MAL-ESTAR NO BC. Os comentários da PR sobre juros e inflação, feitos no primeiro dia de reunião do Copom, causaram certo mal-estar no Banco Central, mas a avaliação é que as declarações pelo menos não chegaram a ser ruins nem "engessam" a decisão a ser tomada hoje sobre a taxa Selic. A equipe do BC considera que o "ideal" seria que ninguém do governo, inclusive a presidente, fizesse avaliações sobre taxa de juros durante os dois dias de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) por causa de riscos de interpretações erradas pelo mercado. Principalmente num momento em que o próprio governo admite que o Banco Central tem sua credibilidade questionada pelo mercado e precisa reafirmá-la para recuperar seu poder de coordenador das expectativas sobre os rumos da inflação. O tom das declarações da PR, contudo, gerou uma leitura "até favorável" pela equipe do BC. Foi destacada a frase em que ela diz que irá atacar "sistematicamente" a inflação. Além disso, no discurso técnicos consideram que a PR sinalizou não descartar um aumento de juros agora ao dizer que qualquer necessidade de combate à inflação será possível fazer num patamar menor, numa referência ao tamanho de uma eventual alta dos juros. A PR fez questão de dizer a interlocutores que o BC terá autonomia para decidir o que fazer com a taxa Selic. O Planalto, apesar de preferir que os juros não subam, trabalha com essa possibilidade e torce para que a alta, se for decidida, seja de 0,25 ponto percentual e não ultrapasse um ponto percentual ao longo do ano, o que levaria a taxa dos atuais 7,25% para 8,25%.
APOSTAS. No mercado, analistas apostam que o BC pode optar por um aumento mais elevado, de 0,50 ponto percentual, exatamente em razão do clima de interferência política nas decisões do banco. Dentro do BC, há um desconforto entre os técnicos diante das declarações públicas sobre juros vindas de autoridades do governo, como as da presidente na África do Sul, quando ela disse ser contra medidas de combate à inflação que afetem o crescimento. Esse tipo de comentário, segundo a equipe do BC, prejudica o trabalho que o banco vem fazendo desde o início do ano de endurecer seu discurso para tentar reverter as expectativas sobre os rumos da inflação