Atenção: o fato da Ópera de Nova York ter decretado falência e fechado as portas não tem nada a ver com a falta de orçamento do governo federal, que também teve de fechar as portas -- mas não indefinidamente, como a Ópera -- de muitas instituiçoes culturais e artísticas, pelo menos enquanto durar a queda de braço entre o Executivo e o Congresso.
Se fosse no Brasil, isso provavelmente não ocorreria , pois sempre teríamos parlamentares, e até o próprio governo federal, dispostos a dar uma "ajudazinha", transferindo alguns milhões dos impostos de todos os cidadãos -- mesmo daqueles do outro lado do país, e dos muitos milhões de pessoas que provavelmente nunca foram e nunca irão à ópera ou a essa Ópera -- para o que é, basicamente uma empresa comercial municipal (com ou sem objetivos de lucro).
O fato da companhia não ter obtido financiamento junto à própria população da cidade ou junto aos amantes de óperas indica, talvez, que ela não era tão apreciada de todos, e que talvez fosse considerada por todos como um empreendimento basicamente comercial, o que era um fato, e talvez não um dos do gênero cultural melhor administrados. Ou seja, a população, livremente, indicou que não se sentia motivada a continuar sustentando, não esse tipo, mas esse empreendimento especificamente. OK: decrete-se a falência e feche-se as portas.
Artistas talentosos encontrarão trabalho em outros musicais, um gênero de atividade absolutamente exitoso em NY. Outros poderão trabalhar nos muitos MacDonald's, ou qualquer outro tipo de atividade que não envolva dinheiro público. Assim são as democracias e governos responsáveis, mas isso, repito, não se passaria assim no Brasil: sindicatos de artistas e "inteliquituais" conseguiriam arrancar uma verba pública (ou seja, de todos nós) mesmo para companhias vagabundas e mal administradas, desde que enquadradas na "legitimação" cultural, o que permite todo tipo de falcatruas. O capítulo da cultura, por falar nisso, recebeu uma super-emenda constitucional, que praticamente estatiza todo o setor e promete boquinhas e boconas para todo tipo de vagabundo cultural. O governo cuida do seu lazer, leitor: ele sabe melhor do que você o que é bom na área cultural.
A propósito da ópera, ouvi numa rádio pública americana, a NPR (que está sempre pedindo contribuições de seus ouvintes), que depois da guerra, a ópera era o empreendimento humano de maior custo. Que seja: mas neste caso, existe uma opção não-estatal, os que desejarem ir à ópera precisam pagar por isso (talvez não no Brasil, em determinadas circunstâncias). Quanto à guerra, os "usuários" já decidem por ela em eleições regulares. Obama, aliás, ganhou porque disse que iria encerrar duas delas. Os eleitores contribuintes agradecem...
Paulo Roberto de Almeida
Ópera de Nova York fecha as portas e declara falência
Companhia não conseguiu levantar recursos suficientes para continuar em atividade
Apresentação da peça 'Anna Nicole', no New York City Opera (Getty Images)
Prestes a completar 70 anos, a New York City Opera declarou falência após uma frustrada tentativa de levantar recursos para continuar funcionando. Em uma ação emergencial, a companhia pediu por 7 milhões de dólares para manter as atividades, no entanto só conseguiu angariar 2 milhões em doações. “A New York City Opera não alcançou o objetivo do apelo e a administração dará início aos procedimentos necessários para encerrar a companhia”, disse em comunicado oficial o diretor geral e artístico, George Steel.
A última apresentação do grupo foi feita no sábado, com a peça Anna Nicole, baseada na vida da stripper e modelo americana Anna Nicole Smith, que ficou famosa ao se casar com J. Howard Marshall, magnata do petróleo, quando ela tinha 26 anos e ele 89.
Segundo o jornal The New York Times, o prefeito da cidade de Nova York, Michael R. Bloomberg, bilionário e conhecido por apoiar projetos artísticos, disse à imprensa na última segunda-feira que nem ele ou a cidade ajudariam a companhia. "O modelo de negócios utilizado pela Ópera não funciona", disse.
Conhecida como a “Ópera do Povo”, a New York City Opera foi criada em 1943 e tinha como objetivo projetar novos talentos e tornar a ópera acessível aos moradores de Nova York. Um e-mail foi enviado, na última terça-feira, aos contatos cadastrados pela companhia, avisando sobre a decisão de encerrar as atividades e que pretendem reembolsar as pessoas que compraram ingressos para as três próximas produções agendadas.