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domingo, 20 de março de 2011

Corrigindo Obama: agora querendo, por necessário...

O Obama precisa tomar cuidado com os seus assessores, pois a acreditar nele, parece que o presidente americano fez coisas que nunca antes tinham sido feitas nos EUA e no mundo, como se ele fosse o primeiro, desde os "pilgrims" do Mayflower, a ter feito coisas absolutamente inéditas nos EUA e no mundo. Vejam o que ele disse:

"Por isso criamos o G20, o principal fórum de cooperação econômica mundial, para ter certeza de que países como o Brasil terão mais voz ativa."

Sinto muito desmenti-lo, Mister Obama, mas o G20 foi criado muito antes do seu "reino", no reino do Bil Clinton, e tinha ficado adormecido até vir a crise de 2008 e ser reativado por George Bush, aqueles que todo mundo acredita ser o maior idiota da história presidencial americana.

Nem o G20 foi criado por "nós" (eles), nem ele foi feito para dar "voz ativa" ao Brasil.

Acho que o Obama vai precisar passar um pito nos seus assessores. Do jeito que vai, antes de eu chegar no final do discurso dele vou ter mais vinte correções a fazer...
Aliás, ele se refere ao G20, asi no más, como se fosse o único existente no planeta Terra. Tem gente que costuma enfatizar também o G20 c0mercial, aquele que foi criado por "nós", e que iria revolucionar as negociações econômicas internacionais. Estão lembrados?

Tem gente que acha que o mundo nasceu com eles...
Creio que não é o caso do Obama; talvez de um outro, que conhecemos bem...

Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 7 de março de 2011

Espionar o G20?: muito barulho por nada..., ou quase nada...

Much Ado Abouth Nothing, diria Shakespeare.
Eu diria, quase nada...
Pois os piratas (provavelmente chineses) que invadiram computadores no Ministério das Finanças da França, encarregado dos preparativos da última reunião ministerial do G20, estavam provavelmente interessados em saber o que os membros desse grupo informal de "coordenação" poderiam fazer em relação às manipulações cambiais da China, contra os interesses econômicos de seus parceiros no grupo.
Chineses são especialistas nisso.
Destaco os trechos pertinentes da matéria:

M. Baroin a assuré que seules les informations autour de l'organisation du G20 "intéressaient les hackers". Une plainte contre X a été déposée par Bercy. La Direction centrale du renseignement extérieur a été saisie. (...)
L'Anssi a procédé à de nombreuses vérifications dans l'ensemble des services de l'Etat concernés par le G20 afin de s'assurer que l'attaque ne s'était pas propagée au-delà de Bercy.


Parece que estão superestimando a capacidade do G20 na economia mundial...
Paulo Roberto de Almeida

Bercy victime d'une vaste opération de piratage informatique
Le Monde, 07.03.11

Le ministère des finances a été l'objet d'une intrusion informatique d'ampleur pendant plusieurs mois.

Il s'agirait de la plus importante attaque informatique jamais menée contre l'Etat français. Selon des informations diffusées lundi 7 mars sur le site Internet du magazine Paris-Match, et confirmées dans la matinée par Bercy, le ministère de l'économie et des finances a été l'objet d'un piratage sans précédent. Selon une source "proche du dossier" citée par le magazine, la direction du Trésor aurait été la principale cible des "hackers" entre le mois de décembre et ce week-end.

LA PISTE CHINOISE ÉVOQUÉE
François Baroin a confirmé ces informations lundi matin sur Europe 1, tout en soulignant qu'une vaste opération de maintenance avait été menée ce week-end sur le réseau informatique du ministère. Il a également ajouté que la France avait "des pistes" sur l'identité des pirates, sans plus de précision. Il pourrait s'agir de "professionnels déterminés et organisés", selon Patrick Pailloux, directeur général de l'Agence nationale de la sécurité des systèmes d'information (Anssi), au vu de la préparation minutieuse, du mode opératoire sophistiqué et des moyens importants engagés par les hackers.

Paris-Match évoque quant à lui la piste chinoise. Mais Patrick Pailloux se montre très prudent. Comme dans toutes ces affaires de cyberattaques, "de très nombreux ordinateurs ont servi de relais à l'insu de leurs propriétaires à travers le monde" et il sera très difficile de remonter la piste.

M. Baroin a assuré que seules les informations autour de l'organisation du G20 "intéressaient les hackers". Une plainte contre X a été déposée par Bercy. La Direction centrale du renseignement extérieur a été saisie.

CENT CINQUANTE ORDINATEURS ATTAQUÉS
Au total, plus de cent cinquante ordinateurs du ministère ont été infiltrés et de nombreux documents piratés. La méthode des espions est classique : à partir d'une adresse e-mail piratée, le "hacker" prend le contrôle de l'ordinateur de sa cible grâce à un cheval de Troie, en l'occurrence une pièce jointe. Chacun de ses correspondants au sein de l'administration peut à son tour être infiltré, selon le site de l'hebdomadaire.

L'Anssi a procédé à de nombreuses vérifications dans l'ensemble des services de l'Etat concernés par le G20 afin de s'assurer que l'attaque ne s'était pas propagée au-delà de Bercy. D'autres tentatives d'attaques ont été repérées mais elles auraient échoué. "A ma connaissance, seul Bercy a été touché", estime Patrick Pailloux, directeur général de l'Anssi, cité par Paris-Match. Il faudra néanmoins plusieurs semaines aux autorités pour identifier les 150 fonctionnaires ciblés par les espions et sécuriser le système informatique.

DES MOYENS "PAS À LA HAUTEUR DES ENJEUX"

Le député UMP Bernard Carayon, auteur de plusieurs rapports sur les questions d'intelligence économique, a estimé dans un communiqué que cette affaire "souligne la vulnérabilité des systèmes d'information publics". Selon lui, "les moyens français ne sont pas à la hauteur des enjeux : l'Agence nationale de la sécurité des systèmes d'information ne dispose que d'une trentaine d'ingénieurs pour exercer sa mission".

Il préconise, lui, "un audit immédiat des systèmes d'information des administrations publiques" et la création d'un organisme permettant de développer la recherche dans ce domaine. Il prône aussi de rapprocher les entreprises afin de créer "une offre industrielle de confiance, française ou européenne, pour préserver notre indépendance, en s'appuyant sur l'Agence européenne pour la sécurité des réseaux et de l'information".

WordPress cible de cyber-attaques depuis la Chine
La plate-forme de blogs WordPress a été victime jeudi et vendredi d'attaques informatiques provenant vraisemblablement de Chine mais a retrouvé un fonctionnement normal dimanche 6 mars, a affirmé son fondateur Matt Mullenweg.
WordPress, qui héberge des millions de blogs dans le monde, a été la cible d'attaques "très importantes" par déni de service (DDoS) qui ont par moments perturbé les connexions, a déclaré M. Mullenweg au blog TechCrunch. Selon M. Mullenweg, 98 % des attaques venaient de Chine et avaient probablement "des motivations politiques".

Maliciels et attaques informatiques
ZOOM
Intrusion informatique : avant Bercy, le ministère du Trésor canadien
COMPTE RENDU
Google désactive à distance des applications malveillantes sur Android
LES FAITS
Prison ferme pour les adolescents britanniques qui avaient créé le "Facebook du piratage"
LES FAITS
Attaques informatiques contre la Corée du Sud

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

G20 comercial e G20 financeiro: a confusao continua...

Jornalistas se enganam, claro, como qualquer ser humano. Mas eles raramente se dispõem a retificar uma informação equivocada frente a seus leitores. Eu havia alertado, neste meu post, sobre a confusão entre G20 comercial (que não deveria ter esse nome, pois nunca teve um número fixo de membros, pois variou entre 18 e 23 ao longo do tempo e nem se sabe, atualmente, quantos efetivamente participam de algo muito informal), e o G20 financeiro, este sim formalizado, com reuniões de cúpula e todo esse balé diplomático.
Vamos aguardar uma matéria para desfazer a confusão, pois os esclarecimentos ainda não foram muito explícitos.
Paulo Roberto de Almeida

Os G-20
Merval Pereira
O Globo, 1/02/2010

O economista Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, que ganhou notoriedade por ter sido talvez o único a antecipar a crise financeira que abalou os mercados mundiais nos últimos anos, tem uma visão pessimista da atuação do G-20, o grupo que reúne as maiores economias do mundo, afirmando que há “um completo desentendimento” no que chama de G-Zero.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, Roubini lamentou que não existam hoje no mundo lideranças que possam organizar a ação internacional para enfrentar a crise, que ainda está presente.

Essa, porém, não é a opinião predominante entre os principais executivos e autoridades que andaram na semana passada pelo Fórum de Davos.

O papel do G-20 de coordenar uma resposta efetiva à crise financeira global que estourou em 2008 foi considerado exitoso pela maioria dos presentes que, ao contrário, consideram que o organismo internacional ganhou corpo para enfrentar uma tarefa mais complexa, que representa um desafio até maior: assegurar a estabilidade e uma recuperação econômica sustentável.

Para isso, o G-20 terá que tomar medidas que previnam uma próxima crise sistêmica. Essa foi a conclusão genérica de um painel realizado no Fórum Econômico Mundial em Davos, coordenado pelo jornalista Michael J. Elliott, editor da revista “Time” e que teve a presença, entre outros, de Tony Clement, ministro da Indústria do Canadá; Cui Tiankai, vice-ministro Relações Exteriores da China; e Mari Elka Pangestu, ministro do Comércio da Indonésia.

O desafio mais sensível é a regulação dos mercados financeiros internacionais, uma prioridade já anunciada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que preside o grupo este ano.

Houve um consenso na mesa de debates: os líderes do G-20 terão que ser cautelosos em relação à regulação dos mercados financeiros, pesando bem os custos dessa regulação e o potencial destrutivo de suas consequências. Tão importante quanto a regulação deve ser a criação de mecanismos que façam com que o sistema seja resistente a futuras crises, como uma rede de proteção para países vulneráveis a choques externos e fuga de capitais.

Há um entendimento generalizado, contrariando a visão de Roubini, apelidado de “Mr. Catástrofe” por seu pessimismo, de que o G-20 representa um passo gigantesco em termos de governança e cooperação internacionais, embora haja críticas quanto à sua representatividade.

Em particular, há a sensação de que a África deveria estar mais representada no grupo, enquanto a Europa está super-representada.

Também as economias emergentes precisam ter papéis mais afirmativos no FMI e no Banco Mundial, a partir de suas presenças no G-20.

Acima de tudo, diz um resumo do debate no Fórum Econômico Mundial, o G-20 tem que evitar ser um “ clube exclusivo”, encarando os problemas globais que interessem a todos os países, e não apenas aos interesses específicos de seus membros.

De qualquer maneira, o G-20 transformou-se em pouco tempo em um organismo importante e teve um papel fundamental de prevenção na crise financeira de 2008, restaurando um mínimo de senso de estabilidade coordenando uma expansão fiscal sem precedentes de cerca de US$5 trilhões.

O G-20 que reúne as maiores economias do mundo, na definição do embaixador Roberto Abdenur, é mais relevante “e agora se ergue, no complicado esforço de administrar a crise e tentar proceder de maneira consensual a um rearranjo do poder decisório sobre a economia internacional”. Na avaliação de Abdenur, porém, o G-20 comercial surgido há vários anos no seio da OMC, no contexto das negociações da Rodada de Doha para o Desenvolvimento, teve sua importância.

Iniciativa de Brasil e Índia, reuniu 20 países em desenvolvimento, irmanados num objetivo comum: a luta contra os subsídios agrícolas praticados pela UE, EUA e muitos outros países desenvolvidos.

Para além disso, congregava o grupo o sentimento de que a agenda agrícola não poderia ser jogada de lado, como havia ocorrido na Rodada Uruguai.

O G-20 se dividiu quando da apresentação, em meados de 2008, de um pacote de conciliação. O Brasil aceitou a iniciativa, Índia e China se opuseram fortemente, pois, ao contrário do Brasil, têm postura defensiva no que se refere a acesso a seus mercados agrícolas, o que resultou no fracasso das negociações.

Embora volta e meia seja anunciada a retomada das negociações da Rodada Doha, e este ano em Davos não foi diferente, Abdenur diz ironicamente que ela está “em estado de coma meio criogênico, à maneira da tripulação da nave do Avatar. Talvez algum dia volte ao planeta Terra, e se reanime. Mas isso, nas presentes circunstâncias, ainda vai demorar”.

O outro G-20 é aquele que agora reúne o G-7/8 — que sobrevive, dedicado agora a questões da paz e segurança internacionais — e outros 12 países, todos eles emergentes, entre os quais China e Índia, os mesmos que discordaram do Brasil na rodada do G-20 comercial de 2008.

Agora, esses mesmos países estarão discutindo a agenda do presidente francês Nicolas Sarkozy, que prioriza a regulamentação dos mercados financeiros internacionais e também o mercado de commodities, inclusive o de alimentos, e provavelmente estarão unidos novamente para defender seus interesses específicos.

Esse G-20 já existia há alguns anos, reunindo-se, no nível de ministros das Finanças, à sombra do FMI/Banco Mundial. O embaixador Roberto Abdenur localiza na sua origem uma ideia do então influente ministro canadense, Paul Martin.

Abdenur considera que a “revolução”, em termos do reordenamento do sistema decisório, foi a elevação, ainda na Presidência de George W. Bush, do G-20 ao nível de chefes de governo, como uma maneira de encarar os problemas internacionais que estiveram na origem da crise global desatada em fins de 2008.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Merval Pereira : "No centro das decisoes" - O Globo, 28/01/2011: carta PRA

Abaixo o teor de uma carta que despachei ao jornalista, colunista do jornal O Globo e comentarista da rádio CBN:

Caro Merval,
Leitor regular, ainda que não constante, de suas colunas no jornal e de seus comentários na CBN sobre a atualidade política nacional e mundial, não posso deixar de chamar sua atenção para um equívoco importante cometido em sua coluna da sexta-feira, 28/01, e para uma outra passagem que reflete um equívoco do presidente Sarkozy, que deveria ter sido registrado e corrigido por você.

Ao início de seu texto, você escreveu isto:
"O G20, que reúne as maiores economias do mundo, toma cada vez mais jeito de ser o organismo apropriado para as decisões do novo mundo multipolar que vem se desenhando, substituindo o G-8 antes que os fatos o tornassem obsoleto. Em poucos anos, países emergentes como China, Índia e Brasil estarão entre as principais economia do mundo, superando muitas das que hoje fazem parte do G-8."
Mas, no meio do seu texto, você escreve isto:
"O G-20 nasceu em 2003, por ocasião da reunião da Organização Mundial do Comércio em Cancún, no México -- que paralisou as negociações da Rodada de Doha para liberalização do comércio internacional devido a um impasse que colocou o grupo de países emergentes, ~a época liderado pelo brasil, em contraposição a Estados Unidos, Japão, e União Europeia."

Seu equívoco, que me parece grave, pois pode induzir os leitores a confusão, é o de ter confundido o G20 comercial, grupo de países em desenvolvimento criado por iniciativa do Brasil na ministerial de 2003 da OMC em Cancun, para tratar EXCLUSIVAMENTE de quesões de política agrícola naquele foro multilateral, com um grupo totalmente diferente, o G20 financeiro, que existe desde 1999, paralelamente ao Forum de Estabilidade Financeira, criando no âmbito do FMI para tratar da questão dos desequilíbrios monetários, mas que tinha permanecido numa relativa obscuridade, até ser redespertado de seu torpor institucional pela crise americana, a partir de 2008.
Se trata de dois grupos completamente diferentes, pelo escopo, objetivos e composição, ainda que alguns (mesmos) países participem de ambos, como é obviamente o caso do Brasil e da China, por exemplo. Mas um grupo não tem absolutamente nada a ver com o outro, pois o G20 financeiro incorpora todos os países do G8 e outros da OCDE (menos a Espanha, para desgosto dela, mas ela se esforça por participar) e algo como 11 países ditos "emergentes", mas importantes em termos economicos (finanças, investimentos, comércio, propriedade intelectual, tecnologia, meio ambiente, etc.).

Creio, sinceramente, mas isto é apenas uma sugestão, que você deveria registrar esse pequeno equívoco e talvez aproveitar a ocasião para tratar de ambos os grupos, ou da questão da agenda internacional como um todo, fazendo as necessárias distinções entre um debate "comercial-agrícola" de um lado (com o seu G20 comercial de países em desenvolvimento), e os debates de governança global, de outro, com os importantes problemas financeiros e monetários, nos quais o G20 financeiro talvez tenha um papel a desempenhar.
Pessoalmente, creio que, depois de vermos a velha Guerra Fria enterrada em grande medida, estamos em meio a uma "Guerra Fria econômica", com todas as potenciais tensões, eventualmente cambiais, a ela associados.

No que se refere ao equívoco de Sarkozy, que pessoalmente creio você deveria ter corrigido, por corresponder a um absurdo lógico e econômico, ele se reflete na seguinte passagem:

"É dentro de um contexto de um mundo que muda rapidamente, (...) que Sarkozy vê a necessidade de uma ação para conter as especulações." [O presidente francês preconiza, em suas palavras, "regulamentar não apenas os mercados financeiros internacionais, mas também o mercado internacional de commodities, em especial o de produtos agrícolas".]
"Não parecia [Sarkozy] estar fazendo cena quando previu que em 20 a 30 anos, se não houver uma mudança de postura diante dos problemas como escassez de alimentos devido à alta especulativa de preços, pode haver uma crise de proporções inestimáveis."

Ou a posição de Sarkozy é absolutamente inconsistente com os dados da realidade -- e eu tendo a concordar em que ele está atuando politicamente de maneira totalmente irracional e ilógica, no plano econômico -- ou seu texto é muito ambíguo e não chega a perceber a tremenda contradição que existe nessas frases.
Vejamos: a escassez de alimentos não se deve, de nenhuma forma, à alta especulativa de preços, em absoluto. Os preços de produtos agrícolas, e os de várias outras commodities, subiram porque houve aumento da demanda -- o que é claramente percebido pelo aumento de renda em vários mercados emergentes em crescimento sustentado -- ou então quebra temporária, acidental ou natural, da produção, cabendo então responsabilizar a alta de preços pela velha lei da oferta e da procura, e não a qualquer movimento especulativo, o que num mercado absolutamente aberto e globalizado como esse seria difícil de se registrar.
Mas a posição do Sarkozy é ainda mais inconsistente, no plano da lógica e da economia, porque, se existe aumento de preços, haverá novos estímulos à produção agrícola, que tenderá a aumentar, portanto, jamais tendência à escassez catastrófica que ele anuncia. A história, aliás, nos confirma o grau de estupidez que existe em todas essas previsões malthusianas: a população mundial aumentou seis vezes, ao longo do século 20, mas o PIB mundial cresceu mais de 20 vezes, aumentando a riqueza, a renda, a disponibilidade de alimentos e de bens e serviços de todos os tipos para todos os povos do mundo. Apenas aqueles que não participam das trocas mundiais é que podem ter enfrentado fomes epidêmicas ou surtos temporários de escassez de oferta, o que não tem nada a ver com a indisponibilidade de alimentos em outras partes do mundo ou com movimentos temporariamente especulativos em determinados mercados sujeitos a desequilibrios momentâneos.
Surpreende-me, portanto, essa total falta de lógica em aliar "alta especulativa de preços" com "escassez de alimentos". Isso não faz nenhum sentido, nunca fez e não fará daqui para a frente. O presidente Sarkozy está apenas querendo disfarçar um desconforto orçamentário e inflacionário com uma alta temporária dos alimentos, propondo um tipo de regulamentação absolutamente contrária à lógica econômica e à experiência da história.
Se a França e a União Europeia decidissem terminar com o subvencionismo e o protecionismo agrícolas, de fato a absurda "Loucura Agrícola Comum" que eles defendem, o mundo seria um lugar bem mais abundante em produtos agrícolas, sem a penúria e a pobreza que essas políticas provocam em países africanos e outros em desenvolvimento.

Com minhas saudações cordiais, e certo de que você receberá minhas observações com um testemunho do apreço que mantenho por sua coluna e comentários de rádio, despeço-me, cordialmente,
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Paulo Roberto Almeida

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Posicao brasileira no G20: alguem entendeu?

Confesso que não entendi a posição brasileira na próxima reunião do G20. Leiam primeiro a matéria de jornal, depois volto para comentar:

Nova proposta dos EUA divide G-20
Assis Moreira | De Seul
Valor Econômico, 08/11/2010
 

Os Estados Unidos estão voltando à carga para obter no G-20, nesta semana, em Seul, compromisso de redução de "desequilíbrios comerciais excessivos" com uma proposta que desta vez alveja bem mais a China, com potencial para levar o encontro ao fiasco.
O Valor teve acesso ao "draft" (rascunho) do Plano de Ação de Seul, pelo qual os chefes de Estado se comprometerão com medidas para evitar uma guerra cambial e impulsionar "um crescimento forte, sustentável e equilibrado da economia mundial no médio prazo".
É nesse plano que Washington insiste em estabelecer que o déficit ou superávit das contas correntes dos países não supere 4% do Produto Interno Bruto (PIB). A partir desse patamar seriam deflagradas negociações para sua redução.
"Países com déficits sustentáveis vão reforçar seu desempenho exportador e impulsionar a poupança nacional", diz a proposta americana. "Países com superávits sustentáveis vão adotar políticas cambiais, estrutural e fiscal para impulsionar fontes domésticas de crescimento".
A diferença, em relação à proposta dos Estados Unidos rejeitada em encontro de ministros de Finanças do G-20, é que agora Washington atenua a pressão sobre a Alemanha, país com maior superávit, de 6,1% do PIB, e que contaria na média da zona do euro. Termina por deixar o peso do ajuste mais sobre a China, com saldo de 4,7% nas contas externas.
Washington argumenta que o objetivo não é estabelecer metas quantitativas e sim bandas indicativas, para se alcançar até 2015 desequilíbrios nas contas correntes em níveis sustentáveis. E seria uma maneira alternativa de tratar da moeda chinesa desvalorizada, que dopa suas exportações para o resto do mundo.
Mas Cui Tiankai, vice-ministro chinês das Relações Exteriores, ridicularizou a ideia americana. Há questões na economia mundial que merecem muito mais atenção, como o impacto do afrouxamento monetário nos EUA, afirmou.
O sentimento é de que os EUA relançaram a guerra de moedas antes do G-20 com a anunciada injeção de liquidez de US$ 600 bilhões. Emergentes mais dinâmicos estão sob pressão de mais valorização da moeda, riscos de bolhas pelo excesso de liquidez e de crédito.
A Índia acusa os EUA de terem minado o espírito de cooperação multilateral que os líderes do G-20 vêm tentando duramente estabelecer para afrontar a atual crise das moedas. Para importantes negociadores, sugerir a banda é "forçar a barra" no contexto atual e a proposta deverá ser novamente rejeitada.
Também descontente com a posição americana, o Brasil quer obter do G-20 o aval para que os emergentes possam impor controle de capital para evitar desestabilização de suas economias com o fluxo de capitais. E insistirá para que os países desenvolvidos estimulem suas economias para o consumidor voltar a gastar, em vez de esperar ação apenas dos emergentes.

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Pois bem, agora vejamos [PRA]:
 Se o problema brasileiro é a valorização do real, um problema que ele divide com todos os demais países (pois todos eles sofrem com a desvalorização do dólar, salvo a China), a maneira correta de evitar isso é conter o afluxo maciço de dólares em sua economia, o que ele pode fazer de duas maneiras: importando mais, diminuindo a taxa de juros interna, que é o principal fator de atração desses capitais. Controles de capitais não são as medidas mais adequadas, pois eles aumentam a taxa de risco (spread) nos empréstimos externos, ou seja, quando o Brasil pretender importar capitais estrangeiros, pagará mais caro por isso, já que costuma recorrer a esses mecanismos arbitrários e aleatórios, essencialmente negativos, que impõem um custo para o próprio país.
Agora, se pretende que os países desenvolvidos estimulem suas economias, está sendo contraditório com o que já disse o ministro da Fazendo, para quem esses mecanismos não servem para nada, e são o mesmo que atirar dinheiro de helicóptero (ainda que fique difícil imaginar um helicóptero viajando pelo mundo, atirando dinheiro pela janela). Os EUA injetaram 600 bi na economia justamente para isso, e agora o ministro vem reclamar? Aliás, este é o mesmo fator que faz com o dólar se desvalorize. O ministro precisa resolver do que ele pretende reclamar...
Paulo Roberto de Almeida