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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

G20 comercial e G20 financeiro: a confusao continua...

Jornalistas se enganam, claro, como qualquer ser humano. Mas eles raramente se dispõem a retificar uma informação equivocada frente a seus leitores. Eu havia alertado, neste meu post, sobre a confusão entre G20 comercial (que não deveria ter esse nome, pois nunca teve um número fixo de membros, pois variou entre 18 e 23 ao longo do tempo e nem se sabe, atualmente, quantos efetivamente participam de algo muito informal), e o G20 financeiro, este sim formalizado, com reuniões de cúpula e todo esse balé diplomático.
Vamos aguardar uma matéria para desfazer a confusão, pois os esclarecimentos ainda não foram muito explícitos.
Paulo Roberto de Almeida

Os G-20
Merval Pereira
O Globo, 1/02/2010

O economista Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, que ganhou notoriedade por ter sido talvez o único a antecipar a crise financeira que abalou os mercados mundiais nos últimos anos, tem uma visão pessimista da atuação do G-20, o grupo que reúne as maiores economias do mundo, afirmando que há “um completo desentendimento” no que chama de G-Zero.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, Roubini lamentou que não existam hoje no mundo lideranças que possam organizar a ação internacional para enfrentar a crise, que ainda está presente.

Essa, porém, não é a opinião predominante entre os principais executivos e autoridades que andaram na semana passada pelo Fórum de Davos.

O papel do G-20 de coordenar uma resposta efetiva à crise financeira global que estourou em 2008 foi considerado exitoso pela maioria dos presentes que, ao contrário, consideram que o organismo internacional ganhou corpo para enfrentar uma tarefa mais complexa, que representa um desafio até maior: assegurar a estabilidade e uma recuperação econômica sustentável.

Para isso, o G-20 terá que tomar medidas que previnam uma próxima crise sistêmica. Essa foi a conclusão genérica de um painel realizado no Fórum Econômico Mundial em Davos, coordenado pelo jornalista Michael J. Elliott, editor da revista “Time” e que teve a presença, entre outros, de Tony Clement, ministro da Indústria do Canadá; Cui Tiankai, vice-ministro Relações Exteriores da China; e Mari Elka Pangestu, ministro do Comércio da Indonésia.

O desafio mais sensível é a regulação dos mercados financeiros internacionais, uma prioridade já anunciada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que preside o grupo este ano.

Houve um consenso na mesa de debates: os líderes do G-20 terão que ser cautelosos em relação à regulação dos mercados financeiros, pesando bem os custos dessa regulação e o potencial destrutivo de suas consequências. Tão importante quanto a regulação deve ser a criação de mecanismos que façam com que o sistema seja resistente a futuras crises, como uma rede de proteção para países vulneráveis a choques externos e fuga de capitais.

Há um entendimento generalizado, contrariando a visão de Roubini, apelidado de “Mr. Catástrofe” por seu pessimismo, de que o G-20 representa um passo gigantesco em termos de governança e cooperação internacionais, embora haja críticas quanto à sua representatividade.

Em particular, há a sensação de que a África deveria estar mais representada no grupo, enquanto a Europa está super-representada.

Também as economias emergentes precisam ter papéis mais afirmativos no FMI e no Banco Mundial, a partir de suas presenças no G-20.

Acima de tudo, diz um resumo do debate no Fórum Econômico Mundial, o G-20 tem que evitar ser um “ clube exclusivo”, encarando os problemas globais que interessem a todos os países, e não apenas aos interesses específicos de seus membros.

De qualquer maneira, o G-20 transformou-se em pouco tempo em um organismo importante e teve um papel fundamental de prevenção na crise financeira de 2008, restaurando um mínimo de senso de estabilidade coordenando uma expansão fiscal sem precedentes de cerca de US$5 trilhões.

O G-20 que reúne as maiores economias do mundo, na definição do embaixador Roberto Abdenur, é mais relevante “e agora se ergue, no complicado esforço de administrar a crise e tentar proceder de maneira consensual a um rearranjo do poder decisório sobre a economia internacional”. Na avaliação de Abdenur, porém, o G-20 comercial surgido há vários anos no seio da OMC, no contexto das negociações da Rodada de Doha para o Desenvolvimento, teve sua importância.

Iniciativa de Brasil e Índia, reuniu 20 países em desenvolvimento, irmanados num objetivo comum: a luta contra os subsídios agrícolas praticados pela UE, EUA e muitos outros países desenvolvidos.

Para além disso, congregava o grupo o sentimento de que a agenda agrícola não poderia ser jogada de lado, como havia ocorrido na Rodada Uruguai.

O G-20 se dividiu quando da apresentação, em meados de 2008, de um pacote de conciliação. O Brasil aceitou a iniciativa, Índia e China se opuseram fortemente, pois, ao contrário do Brasil, têm postura defensiva no que se refere a acesso a seus mercados agrícolas, o que resultou no fracasso das negociações.

Embora volta e meia seja anunciada a retomada das negociações da Rodada Doha, e este ano em Davos não foi diferente, Abdenur diz ironicamente que ela está “em estado de coma meio criogênico, à maneira da tripulação da nave do Avatar. Talvez algum dia volte ao planeta Terra, e se reanime. Mas isso, nas presentes circunstâncias, ainda vai demorar”.

O outro G-20 é aquele que agora reúne o G-7/8 — que sobrevive, dedicado agora a questões da paz e segurança internacionais — e outros 12 países, todos eles emergentes, entre os quais China e Índia, os mesmos que discordaram do Brasil na rodada do G-20 comercial de 2008.

Agora, esses mesmos países estarão discutindo a agenda do presidente francês Nicolas Sarkozy, que prioriza a regulamentação dos mercados financeiros internacionais e também o mercado de commodities, inclusive o de alimentos, e provavelmente estarão unidos novamente para defender seus interesses específicos.

Esse G-20 já existia há alguns anos, reunindo-se, no nível de ministros das Finanças, à sombra do FMI/Banco Mundial. O embaixador Roberto Abdenur localiza na sua origem uma ideia do então influente ministro canadense, Paul Martin.

Abdenur considera que a “revolução”, em termos do reordenamento do sistema decisório, foi a elevação, ainda na Presidência de George W. Bush, do G-20 ao nível de chefes de governo, como uma maneira de encarar os problemas internacionais que estiveram na origem da crise global desatada em fins de 2008.

6 comentários:

Fusca disse...

E nosso ministro Mantega ofende grosseiramente o diretor do FMI que publicou análise objetiva sobre os gastos desmesurados do desgoverno brasileiro. Lamentável, só mesmo comentando com uma charge...

Anônimo disse...

Felipe Xavier

Professor, qual sua opinião sobre os pacotes de estímulo fiscal adotados pelos países do G20 para combater a crise financeira de 2008/2009. Para o sr., em momentos de crise, tais iniciativas são válidas?

Abs
Felipe X.

Anônimo disse...

Achei muito confuso e eu sou do 8 ano queria algo + resumido vcs não sabem fazer isso.



Troxas :D

Luísa disse...

Ahh, muito obrigada! Sou obrigada a dsicordar com o comentário de anônimo. Estava buscando uma boa diferenciação entre os dois g-20 e achei o post muito clarificador.

Anônimo disse...

Uma observação apenas como contribuição, o número 20, do G20 comercial, faz referência à sua data de criação: 20 de Agosto de 2003, e não ao número de membros. Abraços!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anonimo da data de 20 de agosto
Pode até ser, mas apenas ex-post e depois de muito tempo, pois dois anos depois da criaçao do Grupo ele ainda não tinha nome formal, nem número de membros definido, como ainda não tem.
E, mesmo com toda a publicidade em torno dele (do ex-presidente Lula) por exemplo), parece que deixou de ser um ator significativo.
Paulo Roberto de Almeida