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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Gustavo Franco: "O governo acabou, mas ainda nao percebeu isto" - entrevista O Financista

Entrevista: Brasil continua a ser o país do futuro, diz Gustavo Franco

O Financista, em 24/02/2016 12:36

A O Financista, ex-presidente do BC diz que governo Dilma lembra José Sarney no fim do mandato

Gustavo Franco: "Tudo leva a crer que vamos para uma espécie de 'feijão com arroz', à semelhança do que foi a segunda metade da presidência José Sarney" (Rio Bravo/Divulgação)
Gustavo Franco: "Tudo leva a crer que vamos para uma espécie de 'feijão com arroz', à semelhança do que foi a segunda metade da presidência José Sarney" (Rio Bravo/Divulgação)
SÃO PAULO - Em meio à maior depressão econômica documentada desde o início do século 20, o ex-presidente do Banco Central (1997-1999) e um dos sócios-fundadores da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, resume assim o quadro desolador: "O Brasil continua a ser o país do futuro."
Em entrevista a O Financista, o economista, autor de 14 livros publicados, falou sobre os problemas causados por um "governo desastroso" que culminam em um "tempo perdido, que não se recupera".
"Faço votos para que esta experiência lamentável de fracasso do 'pensamento alternativo' seja como a dos 'choques heterodoxos', que foram banidos do dicionário das coisas sérias em economia", afirma ele, que teve participação relevante na formulação do Plano Real (1994). Além de presidente do BC, Franco foi secretário adjunto de política econômica do Ministério da Fazenda.

Quer começar o dia bem informado?

Espresso Financista. Leitura obrigatória para quem quer ficar pronto para o dia.
Veja, abaixo, a entrevista concedida por e-mail:
O Financista: Primeiro veio a Constituição de 1988, depois a abertura da economia no início dos anos 1990, a estabilização da moeda e a vitória sobre a inflação graças ao Plano Real e, mais recentemente, a ampliação das políticas sociais. Feita a contextualização, para onde o Brasil caminha agora?
Gustavo Franco: Caminharia para consolidar esses progressos, alguns dos quais pela metade ainda (instituições fiscais e dívida pública) e outros ainda muito no começo (abertura). A dívida pública é imensa, um peso enorme sobre o país, e o Brasil continua a ser o país mais fechado do mundo. Reformas de verdade no setor real, aquelas que vão mexer com a produtividade, como a trabalhista, tributária, além de abertura para valer, nem começaram. O Brasil continua a ser o país do futuro.
O Financista: Parte dos problemas fiscais parece decorrer de questões estruturais, mais ligadas à rigidez do gasto em meio a uma Constituição muito em favor do Estado de bem-estar social. Seria o caso de rever elementos da Constituição para garantir maior solidez das contas públicas? Como sanear a questão fiscal?
Franco: Não sei bem o que são essas coisas “estruturais” e misteriosas sempre a impedir a responsabilidade fiscal. O país teve superávit primário de 3,5% do PIB em média durante uma década (1998-2008): o que aconteceu em 2008 de tão “estrutural” para desarrumar a casa?
O Financista: O Banco Central está em dominância fiscal?
Franco: Sim, estamos em uma situação onde a dívida pública é grande demais para permitir juros de primeiro mundo.
O Financista: Há cerca de cinco anos, quando o entrevistei, o senhor comparou a política econômica do governo petista com um relógio quebrado (capaz de acertar a hora uma vez por dia) em alusão aos gastos do governo em tempos de crise. O que representam os rebaixamentos de rating do Brasil? Há o temor de retomada da "gastança" em caso de volta dos "anos de bonança"?
Franco: Acho que me enganei: é um relógio que marca as horas de forma errada, é pior do que ficar parado, pois não acerta nem mesmo uma vez. Faço votos para que esta experiência lamentável de fracasso do “pensamento alternativo” seja como a dos “choques heterodoxos”, que foram banidos do dicionário das coisas sérias em economia.
O Financista: Os anos de paralisia na atividade econômica reduziram drasticamente o PIB potencial? Quais as consequências?
Franco: O prejuízo permanente decorre de um tempo perdido, que não se recupera. O investimento que não se fez, em capital físico e humano, até pode ser feito no futuro, mas o atraso é para sempre.
O Financista: O Fed começou a subir o juro, ainda que de maneira gradual. Enquanto isso, o Banco Central Europeu e o BC japonês continuam a estender as políticas monetárias expansionistas. Essa descoordenação pode criar algum tipo de distorção prolongada nos mercados internacionais?
Franco: Não creio. São movimentos tectônicos que já surtiram seus efeitos, que não são relevantes para nós. Nossos problemas são domésticos, causados por um governo desastroso que vai produzir a maior depressão econômica desde quando as contas nacionais começaram a rodar no início do século 20.
O Financista: Pensando na hipótese de que o Brasil continua sem ajuste fiscal, apenas com uma coisa ou outra, como vamos chegar em 2018? E qual será o passo inicial de um novo governo?
Franco: Tudo leva a crer que vamos para uma espécie de “feijão com arroz”, à semelhança do que foi a segunda metade da presidência José Sarney, quando o governo não tinha poderes, nem imaginação para enfrentar a crise e, em razão disso, preferiu submergir na rotina do dia a dia e não inventar nada. Era uma forma de vestir como opção a ausência de opções, ou de disfarçar o fato de que o governo tinha se esgotado antes do fim de seu mandato. É o que temos agora.

Relembrar para nao esquecer: licoes de economia de Tia Dilma (novembro de 2012) - Rolf Kuntz (OESP)

Nada como acompanhar a realidade em sua lenta evolução para o desastre, e nada como relembrar como tudo foi sendo montado, com base em muita arrogância, e também, por que não dizer?, em muita estupidez econômica, típica dos Aedes Unicampi, aqueles keynesianos de botequim que não só nunca aprenderam economia, mas também se recusam a aprender com a experiência.
Reproduzo a partir de meus arquivos implacáveis os primeiros passos daquilo que eu chamo de Grande Destruição.
Quem estiver interessado em saber minha opinião, leia este trabalho:
The Great Destruction in Brazil: How to Downgrade an Entire Country in Less Than Four Years”, Mundorama (n. 102, 1/02/2016, ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/2016/02/01/the-great-destruction-in-brazil-how-to-downgrade-an-entire-country-in-less-than-four-years-by-paulo-roberto-de-almeida/); disseminado no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1079351252128324).
Paulo Roberto de Almeida

As lições de Tia Dilma
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 21 de novembro de 2012

A presidente Dilma Rousseff aproveitou a viagem à Espanha para oferecer aos governantes europeus, mais uma vez, lições de política econômica. Nenhuma autoridade local perguntou à visitante por que a economia brasileira deve crescer tão pouco neste ano - talvez nem 2% -, depois do fiasco dos 2,7% em 2011. Enquanto ela completava suas lições e propunha maior autonomia para o Banco Central Europeu, em Brasília a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, divulgava mais um constrangedor balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Desde o início do governo até setembro, foram aplicados R$ 385,9 bilhões em "obras de infraestrutura logística, social e urbana", segundo os dados oficiais. Mas esse valor inclui R$ 154,9 bilhões de financiamentos habitacionais e de subsídios ao programa Minha Casa Minha Vida. Esses financiamentos correspondem a 40,1% do total contado como investimento. Faltou a presidente explicar aos europeus se essa forma de contabilidade é parte do pragmatismo por ela defendido durante a cúpula ibero-americana. Ou dizer se é pragmático tentar impor sem conversa prévia os contratos de renovação de concessões às companhias do setor elétrico. A depreciação das ações da Eletrobrás, R$ 7,9 bilhões de 11 de setembro a 19 de novembro, parece indicar uma resposta negativa.
Em seus comentários mais sensatos, a presidente defendeu uma combinação de austeridade e crescimento como a fórmula mais eficiente para o ajuste europeu. A arrumação fiscal, ponderou, será muito mais difícil, penosa e pouco frutífera, se depender apenas do corte de gastos e do aumento de impostos. Mas esse comentário foi mera repetição do discurso apresentado muitas vezes por dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), por economistas de várias nacionalidades e por alguns governantes europeus. Sem acrescentar a mínima novidade em relação a esse ponto, a presidente permitiu-se, no entanto, reescrever a história econômica à sua maneira. Para reforçar sua argumentação, citou a experiência latino-americana dos anos 80 e 90, quando os governos do Brasil e de outros países foram, segundo o seu relato, orientados pelo FMI a adotar políticas de ajuste sem espaço para crescimento.
Essa versão é popular, mas a história é um pouco mais complicada e inclui detalhes mais instrutivos. Dezenas de países afundaram na crise da dívida externa, nos anos 80. O drama começou quando o Federal Reserve, o banco central americano, iniciou um drástico aumento de juros em 1979. O desastre generalizou-se em 1982, mas vários países entraram em apuros bem antes disso. A renegociação das dívidas foi vinculada a duros programas de ajuste, jamais cumpridos integralmente por alguns governos, incluído o brasileiro.
O programa inicial de ajuste adotado no Chile foi reformado e substituído, com bons resultados, depois de algum tempo. O governo coreano iniciou a arrumação em 1979. O país entrou em recessão em 1980 e em seguida voltou a crescer velozmente, com déficit fiscal reduzido, grande aumento de exportações e investimentos sempre superiores a 30% do PIB. Chile e Coreia saíram da crise com as contas públicas em ordem, inflação baixa e medidas fundamentais para competir e crescer.
Falta algo, portanto, na versão popular, repetida pela presidente Dilma Rousseff, da história da crise e dos ajustes dos anos 80. Falta explicar por que alguns países - Coreia e Chile são apenas dois dos exemplos mais notáveis - emergiram da fase de provação muito mais fortes do que antes. Outras economias da Ásia atingidas pela crise da dívida também se tornaram mais eficientes a partir da segunda metade dos anos 80. A maior parte dos países latino-americanos ficou para trás porque os governos foram incapazes, por muito tempo, de abandonar velhos vícios e de favorecer a eficiência. Não se deve atribuir esse atraso a algum excesso de austeridade, mas à insistência na prática de contemporizar em vez de enfrentar os problemas.
Quando os governantes se dispuseram, afinal, a adotar reformas e políticas sustentáveis, as contas públicas melhoraram, a inflação caiu, as contas externas se tornaram superavitárias e as reservas cresceram. Por essas mudanças, e nada mais, as ações de socorro do FMI à América Latina foram bem menos frequentes nos primeiros anos deste século do que nas três ou quatro décadas anteriores.
Nenhuma dessas conquistas é irreversível. Em alguns países, o grande risco é a tentação do populismo. No Brasil, a tentação mais perigosa é a dos controles autoritários. A intervenção nos preços dos combustíveis, as pressões para corte de juros, o jogo perigoso de tolerância à inflação e as trapalhadas na política do setor elétrico são elementos desse quadro. O atraso nos projetos da Petrobrás é uma das consequências. A presidente seria provavelmente menos propensa a dar lições se pensasse um pouco mais sobre esses fatos.
* JORNALISTA

domingo, 7 de fevereiro de 2016

As 6 ideias mais estúpidas defendidas por Dilma Rousseff - Felippe Hermes (Spotniks)

ECONOMIA  4 DE FEVEREIRO DE 2016 
As 6 ideias mais estúpidas defendidas por Dilma Rousseff
Felippe Hermes, Spotniks, 4/02/2016

Pouco mais de 25 anos separam as duas “décadas perdidas” da economia brasileira. Dos anos de 1980 aos anos 2010, muita coisa mudou. Nos tornamos uma economia mais ampla, diversificada e sólida; a hiperinflação e os fracassados planos de tentativa de estabilização tornaram-se história, assim como os efeitos das ideias que lavavam consigo, como a indexação e o congelamento de preços.
Se por um lado qualquer brasileiro com mais de 35 anos, seja uma dona de casa ou o presidente da FIESP, está apto a dar uma aula prática de economia sobre os efeitos de tais planos econômicos e suas ideias, para a geração mais nova, avaliar tais ideias é uma tarefa complicada. Para os economistas, no entanto, ausência de vivência ou experiência não é e jamais será desculpa aceitável.
Albert Einstein definiu certa vez que “insanidade é fazer a mesma coisa diversas vezes e esperar resultados diferentes”. Na economia, fracassos encontram justificativas das mais variadas – são, em geral, culpa de fatores externos ao fato (ou “externalidades” no economês). Na prática, costuma indicar que tal governo baseia suas ideias mais em ideologias do que em fatos e dados.
Ao analisar as causas que levarão o Brasil a chegar a 2020 com a mesma renda per capita de 2010, economistas e historiadores possivelmente se debruçarão sobre as ideias e os personagens que lavaram a esta recessão que se estende de 2014 a 2016 (ao menos até o momento). Ao selecionar tais ideias, é inevitável que encontrem aí erros há muito superados pela maior parte do mundo. Abaixo listamos 6 destes erros especialmente relacionados ao personagem da década na economia brasileira: Dilma Rousseff.

1. A VOLTA DA CPMF
Tratada pelo PT e por Lula como “um roubo, uma usurpação dos direitos do trabalhador” na época de sua criação, ainda no governo FHC, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, uma alíquota de 0,38% sobre qualquer movimentação bancária (incluindo aí sacar a sua aposentadoria ou o Bolsa Família), tornou-se a tábua de salvação do falido ajuste fiscal brasileiro, e segundo Dilma Rousseff, “a única solução de curto prazo para o país”.
Defender uma ideia como “estúpida” nunca é uma tarefa fácil. Toda ideia em economia tem seus prós e contras. As defesas e os usos que se fazem destas ideias é que em geral merecem o adjetivo. No caso de tratar o aumento da carga tributária como salvação para o país (em um país cuja carga tributária é maior do que a de países como Canadá, Suíça e Austrália, além de todos os demais países emergentes), Dilma comete um absurdo. E ao expor essa como “única alternativa”, acaba por mentir.
Com cerca de 80% dos seus gastos comprometidos e 60% deles indexados à inflação (onde 42% dos gastos do governo referem-se a aposentadorias e pensões da previdência e os demais em benefícios do INSS e salários de servidores), cortar gastos nunca é uma tarefa fácil diante do problema que o governo criou para si ao dar estabilidade ao funcionalismo e indexar a previdência ao salário mínimo. Menos de R$1 em cada R$ 5 gastos pelo governo correspondem a gastos administrativos. Ainda que se corte 30% dos gastos em água, luz, telefone, aluguéis, passagens aéreas e coisas do tipo, nenhum ajuste fiscal pode ser feito. Joaquim Levy, ciente da situação, buscou no corte de investimentos (em especial da educação e no “Minha Casa Minha Vida”), o ajuste – além de aumentos de impostos nos mais variados setores.
Para além das reformas de longo prazo, as atitudes no curto prazo, como venda de ativos que até mesmo a base aliada consideraria “não estratégicos” (como a participação do governo na maior operadora de cartões de créditos do país, ou a carteira de investimentos em ações e debentures do BNDES), não aconteceram. Em suma, 2015 iniciou-se e terminou sem o governo explicar o porque, enquanto pedia aumentos de impostos e mantinha investimentos especulativos em um frigorífico. Para efeito de comparação, o BNDES possui R$ 71 bilhões em ativos – o governo gasta R$ 35 bilhões para subsidiar grandes empresas. Com uma canetada a presidente poderia elevar os juros e parar de subsidiar empresas com faturamento acima de R$ 300 milhões, ou mesmo vender ativos como as loterias federais (R$ 4 bilhões). A despeito de não ter tentado nada disso, Dilma defende que a CPMF é a “única” alternativa. É estupidez, pura e simples.

2. O RETORNO DA NOVA MATRIZ ECONÔMICA
Antes de sua visita ao Congresso, entretanto, a presidente teve de lidar com a troca de comando no Ministério da Fazenda, indicando para o cargo seu ex-ministro do planejamento, Nelson Barbosa. Atuando no governo na maior parte dos últimos 12 anos, Barbosa é um dos muitos pais da Nova Matriz Econômica. Em 2015, ao lado de Joaquim Levy, Barbosa aceitou o desafio de aplicar o ajuste fiscal. Ao longo do ano saiu-se vencedor da maior parte dos inúmeros embates que teve com o então ministro da Fazenda. No último deles defendeu uma meta de superávit de 0,5% do PIB, incluindo o direito de se abater da conta os investimentos do PAC. Levy foi contra, e perdeu.
Nomear alguém cujas passagens pela Secretária do Tesouro e Ministério do Planejamento o colocam no epicentro do nascimento da política que levou à atual recessão, a maior da história brasileira, qualifica esta como uma ideia estúpida. Em sua primeira aparição como ministro de fato, Barbosa ficou ao lado de Dilma para defender como “forma de reativar a economia” um pacote de crédito de R$ 83 bilhões, dos quais, como se soube depois, mais de R$ 21 bilhões já estavam disponíveis através do FI-FGTS e outros R$ 12 bilhões (aqueles que podem ser sacados dando-se o FGTS como garantia) é mera suposição do governo. Criar números fantásticos para dar a ilusão de crescimento (como os Programas de Aceleração do Crescimento que prometiam literalmente trilhões em investimento) e irrigar a economia com crédito subsidiado são partes importantes da antiga Matriz que até agora se pretendia superar.

3. BAIXAR OS JUROS VIA DECRETO
Assumindo o comando do Banco Central em 2003, Henrique Meirelles foi o mais longevo presidente da instituição desde sua criação em 1964. Sob seu comando o país viu as taxas de juros saíram de 26,5% em fevereiro de 2003 para 10,75% em 2010, com uma inflação saindo de 12,53% em 2002 para 5,9%. Cenário perfeito, exceto por um porém: Henrique Meirelles, a despeito de ter integrado um cargo tão importante ao longo de todo o governo Lula, nunca foi ligado à base aliada do governo ou nutriu paixões ideológicas pelo PT – de fato, Meirelles foi filiado ao PSDB até 2002, quando era então presidente do Bank Boston no Brasil.
Ao colocar um banqueiro não alinhado à sua equipe no comando do BC, Lula deu o maior dos sinais de independência ao BC que poderia dar. O trabalho de grandes resultados, entretanto, pareceu tímido aos olhos governistas. Quando assumiu, em 2011, Dilma pode então consolidar o sonho de ter uma equipe econômica inteiramente alinhada à ela e ao partido. Para tanto, escalou Alexandre Tombini, o presidente do BC (que se mantém no cargo até hoje), que passou a ser alguém alinhado com a ideia de que, mais do que atuar em defesa da moeda e contra a inflação, o Banco Central deve ser parte da política de governo.
Diminuir os juros para até 7,25% por meio de imposição e sem o gradualismo anterior, foi portanto uma ideia que se pode chamar de estúpida. Em consequência deste conjunto de atos, a inflação interrompeu o ciclo de queda e passou a subir ano a ano, atingindo o limite em 2014 e ultrapassando o teto da meta em 2015. A despeito da queda na taxa SELIC (a taxa que regula o SELIC – sistema especial de liquidação e custódia, onde são negociados os títulos da dívida pública), o governo não reduziu a quantia paga em juros, e a dívida manteve-se na trajetória ascendente, mostrando que a economia não aceita imposições, apenas fatos.

4. MANIPULAR A INFLAÇÃO
Medir a inflação de um país é uma tarefa mais complexa do que aparente. Para tal, o governo por meio do IBGE, elabora uma cesta de bens que sejam consumidos pela população, e atribui a cada um deles um %. Vamos supor que 15% da renda da população seja gasta com transporte, significa dizer que em um eventual aumento de 100% no preço do transporte, a inflação do consumidor irá subir 15%. Desta lógica nascem as desculpas de que a inflação alta é culpa ora do tomate, ora do chuchu, ou de qualquer outro item. Suponha que 10% dos seus gastos com alimentos sejam em tomate e chuchu, e agora suponha que alimentos sejam 30% dos seus gastos: com um aumento de 300% no preço de ambos a inflação poderia subir até 9%!
Como qualquer agregado de dados, a inflação também está sujeita a esperteza dos economistas. Por se tratar de um índice que mede o aumento de preços na boca do caixa, na gôndola do mercado, economistas do governo descobriram que ao impedir aumentos de preços utilizando-se o Tesouro – ou seja, os impostos – os índices de preços não sofreriam alterações. Desta forma, ao invés de repassar ao consumidor aumentos no preço da energia, o governo pagava às distribuidoras e elas então não necessitavam de um aumento. Ao utilizar-se desta prática, como no caso dos combustíveis, o governo lançou dúvidas sobre os índices oficiais e causou prejuízos bilionários (uma consultoria do Deutsche Bank estima em mais de R$ 100 bilhões as perdas da Petrobras com o não repasse de preços), ajudando a quebrar ainda mais a companhia e outras empresas estatais, além do próprio governo.
Achar que manipulando preços de combustíveis é o mesmo que obter apoio da classe média é uma aposta arriscada. Achar que é possível enganar a todos e não ter de pagar a conta é uma ideia estúpida, cujo mérito, se não todo, em boa parte cabe à Dilma Rousseff. Em 2015, a inflação de preços administrados (nos quais se incluem muitos daqueles que foram represados pelo governo) foi superior a 18,08% – com destaque para 51% na conta de luz e 20,1% na gasolina.

5. MANTER GUIDO MANTEGA NA FAZENDA
Ao despedir-se do ministério da Fazenda em dezembro de 2014, Guido Mantega pode ostentar o título de mais duradouro ministro da Fazenda desde 1808. Foram 8 longos anos nos quais Guido pode dar conselhos a Lula e Dilma, além de ajudar a Petrobras como seu conselheiro (cargo que lhe rendeu até R$ 36 mil mensais quando somados ao salário de ministro). Guido atuou anteriormente como presidente do BNDES, assumindo o ministério da Fazenda em sucessão a Antônio Paloci, afastado do cargo após denúncias de abuso do cargo para coagir uma testemunha no Mensalão.
Como ministro, Guido orquestrou ao lado de Barbosa, Luciano Coutinho (presidente do BNDES) e Arno Augustin (secretário do Tesouro), os repasses de R$ 450 bilhões em dívida ao BNDES, permitindo ao banco emprestar recursos para empresas com juros subsidiados. A prática, cujos custos estimados devem ser de R$ 184 bilhões, garantirão apenas em 2016 prejuízos de R$ 36 bilhões ao governo (enquanto os lucros permanecem com os empresários). Mantega é ainda responsável direto pelas pedaladas fiscais (o que pode lhe render processo) e por ter feito da contabilidade criativa (fraude nas contas públicas), uma forma de governabilidade.
Em dezembro de 2012, a revista britânica The Economist defendeu abertamente a demissão de Mantega e sua equipe, em função do crescimento de 0,9% da economia brasileira daquele ano (contra 7,5% registrados em 2010). A revista alegava, então, que as projeções sempre excessivamente otimistas do ministro levavam o governo a perder credibilidade. O medo da The Economist era então que as excessivas intervenções de Mantega fossem feitas a mando de Dilma, o que culminaria por minar a credibilidade do país.
A ideia de que uma revista estrangeira pudesse demitir um ministro causou alvoroço em Brasília. A despeito de 6 ministros terem sido demitidos após denúncias de corrupção feitas pela revista Veja, Dilma considerou que a hipótese de seguir o conselho iria lhe causar um dano à imagem. Ignorar avisos ao longo de anos e manter um ministro no cargo apenas para concordar consigo foi uma das mais estúpidas ideias já passadas por Brasília ao longo das últimas décadas.

6. IMPROVISAR SEUS DISCURSOS
Aquilo que começou possivelmente como uma brincadeira, o ato de deixar Dilma improvisar suas falas na esperança de gerar empatia e reforçar a marca de que a presidente era então uma gestora e não uma política, pode ter se tornado uma marca registrada da absurda falta de coordenação e rumo com que se segue o seu próprio governo. A hipótese acima, do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco na obra “Antologia da Maldade”, que reúne citações de Dilma a Voltaire, é possivelmente a melhor explicação sobre as razões pelas quais uma presidente que emprega 18 mil funcionários no Palácio do Planalto abstêm-se de empregar alguém que lhe alcance um discurso com início, meio e fim, evitando desta forma as constantes gafes cometidas.
Ao longo de sua gestão, a presidente pouco afeita aos discursos e inaugurações acabou sofrendo um baque em sua imagem. De início seus marqueteiros trataram de plantar notícias com manchetes sugestivas como “Dilma manda“, ou “Dilma garante”, denotando que a presidente exercia de fato um caráter gerencial em seu governo. Sem sucesso em angariar simpatias, Dilma apelou até mesmo para o “humor a favor”, uma peculiaridade brasileira que acabou por gerir um fake na internet que buscava passar uma imagem de “presidente antenada e descolada”.
Mais do que um concurso de miss simpatia, gerenciar um país é servir de exemplo e apontar rumos que gerem consenso. Neste sentido, permitir-se continuar fazendo do cargo de presidente motivo de zombaria foi uma ideia bastante estúpida. Do vento estocado à figura oculta (que é um cachorro atrás), os 5 anos de Dilma no governo serviram para desmoralizar o cargo e a própria presidente. No fim, ao menos nesta estupidez ganhamos todos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A Grande Destruicao, vista por Ilan Goldfajn (OESP)

Queda de arrecadação, muito além do PIB
ILAN GOLDFAJN*
O Estado de S. Paulo, 2 de Fevereiro de 2016

Desde 2011 o crescimento econômico vem desacelerando no Brasil, mas nos anos de 2015 e 2016 é que a economia terá a pior recessão da sua história. A situação fiscal também tem piorado, mas tornou-se ainda mais dramática desde o ano passado. Com a recessão e a queda da arrecadação, vários entes públicos estão com dificuldade para fechar o mês. O problema fiscal virou uma crise difícil de administrar. O que houve?
Infelizmente, nada que não soubéssemos que poderia ocorrer. O fim do ciclo de commodities aliado às incertezas causadas pelas políticas domésticas provocaram a queda contínua do investimento e a desaceleração do PIB. Mas foi preciso a desaceleração da atividade alcançar o mercado de trabalho e impactar o consumo e o setor de serviços para que atingisse em cheio a economia e provocasse a atual recessão.
Não faltaram alertas de que a fraqueza do PIB, a queda da indústria e a redução do investimento acabariam afetando o desemprego e a renda. Mas havia a esperança de que o Brasil tivesse descoberto uma forma de o mercado de trabalho dissociar-se da criação de valor medido pelo PIB.
O fato de a crise atingir o mercado de trabalho tem consequências. Em primeiro lugar, a piora do mercado de trabalho provoca a segunda rodada da recessão. Com queda de emprego e renda, cai a massa salarial real, reduzindo o consumo. As vendas sofrem, a produção tem de diminuir mais ainda e as demissões seguem. O círculo vicioso aprofunda a recessão. Em segundo lugar, a piora do mercado de trabalho torna o problema fiscal mais grave diretamente.
Há um diagnóstico muito claro de que o problema fiscal do Brasil tem raízes conjunturais, mas também estruturais pelo lado dos gastos. Houve um excesso de gastos e subsídios nos últimos anos, que transformou um superávit primário de 3%, 4% do PIB no início da década em quase -2% no ano passado. A tentativa de corrigir essa piora esbarra em dificuldades políticas, mas também de ordem estrutural. Boa parte das despesas é de natureza obrigatória e de difícil compressão no curto prazo. Há um conjunto de benefícios que não cabem mais no PIB. O exemplo mais claro são as despesas da Previdência. A aposentadoria média em torno de 55 anos de idade não encontra paralelo no mundo. Na ausência de correção de rumo, o déficit primário no Brasil deve piorar 0,3% a cada ano, elevando continuamente a dívida do governo. É necessário instituir uma idade mínima de aposentadoria para corrigir essa tendência insustentável.
O problema dos gastos crescentes no Brasil é da maior importância, até porque deve conviver com um período mais prolongado de fraca arrecadação pública. No ano passado, a queda de arrecadação foi o principal problema do governo federal, dos Estados e municípios. Sem receitas, os entes públicos têm tido dificuldades crescentes para pagar seus compromissos, alguns mesmo para pagar a folha, manter hospitais e outros serviços básicos.
Está claro que o aprofundamento da recessão é a causa principal da crise de arrecadação. Não haveria como escapar da pior recessão da História no Brasil.
Mas o fato de o mercado de trabalho ter sido atingido nesta crise tem tido impacto duplo sobre as contas públicas, talvez ainda não completamente entendido. O impacto mais óbvio é que a perda de emprego e renda aprofunda a recessão e tem impacto maior na arrecadação.
Mas muitos analistas estão surpresos que a arrecadação esteja caindo muito além do PIB (mesmo levando em conta que o PIB caiu quase 4%). Como se a sensibilidade da arrecadação ao PIB tivesse aumentado bem agora, no meio da recessão. Os economistas calculam que a elasticidade (impacto do PIB na arrecadação) está muito maior que o histórico. Consideram haver uma “quebra estrutural” nessa relação que não conseguem entender.
Uma tese recente de Luka Barbosa (orientada por Gino Olivares no Insper) mostra que não está havendo quebra estrutural na arrecadação. O que acontece é que a arrecadação depende muito mais da massa salarial e das vendas no varejo que do PIB, e essas variáveis estão recuando mais fortemente que o PIB (cerca de 10% em termos reais): 43% da arrecadação depende da massa salarial e 30%, das vendas.
Olhando o comportamento histórico (e mais recente) fica evidente a relação da arrecadação com o recuo na massa salarial formal e nas vendas no varejo. A elasticidade histórica (e mais recente) é unitária (para cada 1% de queda desses itens, a arrecadação também cai 1%).
Em suma, a fraqueza do mercado de trabalho e, portanto, das vendas tem causado outro efeito menos evidente nas contas públicas: atinge a arrecadação de forma mais potente que o próprio PIB. Não chega a surpreender que a queda da arrecadação e as dificuldades fiscais se tenham intensificado no ano passado.
O problema é que a arrecadação pode demorar mais a se recuperar por depender do mercado de trabalho. A retomada da economia deve ocorrer primeiramente no mercado de bens, o que significa que o PIB deve recuperar-se antes que o desemprego volte a cair. A retomada do investimento, quando se der, talvez seja mais vigorosa que a do consumo, que dependerá da recuperação da massa salarial. Sem falar que o ajuste atual nas contas externas favorece mais a recuperação do PIB que a do consumo.
Considero o problema fiscal/político como o núcleo da crise: sem resolver o fiscal, será difícil resolver o todo. Há o problema de excesso de gastos nos últimos anos e também do crescimento insustentável das despesas obrigatórias. No entanto, existe também um problema persistente na arrecadação, que depende da massa salarial (e, portanto, das vendas), cuja recuperação deve ser mais lenta que a do PIB. Administrar a escassez de arrecadação nos próximos anos vai ser um desafio e tanto. Mais um motivo para acelerar as medidas de contenção de gastos obrigatórios.

* ILAN GOLDFAJN É ECONOMISTA-CHEFE E SÓCIO DO ITAÚ UNIBANCO

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

The Great Destruction in Brazil: How to Downgrade an Entire Country in Less Than Four Years - Paulo Roberto de Almeida

Meu primeiro artigo publicado em 2016: como não poderia deixar de ser sobre a GRANDE DESTRUIÇÃO conduzida pelos companheiros CONTRA a economia brasileira e contra todo o povo brasileiro, inclusive, e principalmente, contra aqueles que eles pretendiam "incluir" num "grande mercado de massas". Terminaram provocando exatamente o contrário do que pretendiam: crescimento negativo na presente conjuntura, e perspectivas medíocres para os próximos anos, até onde a vista alcança, inflação alta, completa desorganização das contas públicas, aumento da dívida doméstica e da carga fiscal já exaurindo toda a população e sobretudo os empresários, além do descolamento do Brasil da economia mundial. Ou seja, eles produziram um total desastre, como NUNCA ANTES ocorreu no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1 de fevereiro de 2016

The Great Destruction in Brazil: How to downgrade an entire country in less than four years, by Paulo Roberto de Almeida


Although the recent degradation of the Brazilian economy was not the product of a single presidential term, it was during the first mandate of president Dilma Rousseff (2011-2014), and under her direct responsibility, together with that of her main economic advisors, that the Brazilian economy underwent a consistent, irrepressible and fatal descent into the abyss of its worst economic recession in 80 years, with a mega destruction of wealth never seen before in the economic history of Brazil. The definitive deformation of the economic situation took a little longer, but the essential and decisive strikes that were at the origin of Brazil’s loss of its investment grade status – announced first by Standard & Poor’s in September 2015, shortly thereafter by Fitch – were mainly inflicted during her first term in office. She deliberately planned and prepared the changes and completed them in less than four years.
The president and her economic team were the authors of a strange animal called the “New Economic Matrix”, conceived with the objective of sustaining an enlarged demand for consumption goods, as part of a promised “vast domestic mass market”. What it provoked, instead, was more inflation, less growth, worrying double deficits, a significant exchange devaluation, a total budget disorganization, together with an entire series of failed sectorial policies and an overall degradation of economic governance. The troublemakers blamed these consequences on an inexistent “international crisis,” but they were entirely made in Brazil.
To understand how this happened, and explain how Brazil underperformed in the context of the world economy, at a time when many emerging economies were growing twice or almost three times as fast as the advanced countries, we have to look at the larger picture, with a certain sense of the historical perspective, taking also into account the regional and international contexts, and the political and social implications of Brazil’s economic policies implemented in recent times. The solution of the current crisis, which is certainly the worst since the early 1990s, and probably since the 1930s, cannot be purely economic. Nor can it wait on the resolution of an alleged international crisis. Fundamental changes in Brazilian governance will be needed.

A brief economic history of a mounting disaster
Brazil has not experienced an equivalent economic disaster since the great crash of 1929 and the following recession of 1931 and 1932. Certainly, Brazil experienced many smaller crises, some provoked by external transactions disequilibrium and a rapid exchange deterioration, others by accelerating inflation and disorganization of the public accounts. Turbulence was recorded during the oil shocks of the seventies, and an humiliating penury of exchange followed the external debt default at the beginning of the eighties, as well as the moratorium unilaterally declared in 1987, creating a prolonged low growth period that was not surmounted before the hard renegotiation of the commercial and official debts during the first three years of the nineties. Successive adoption of six currencies attempted to ameliorate the dramatic acceleration of the inflation, until the Real Plan (1994) came to reintroduce a certain sense of rationality into a system of political and economic governance that had forced Brazil to seek rescue from the IMF three times between 1998 and 2002.
There were middle term adjustments in the Real Plan including first an exchange anchor system and then an inflation targeting system, together with the adoption of a floating exchange regime in1999 and a fiscal responsibility law in 2000 that prepared Brazil for a new phase of productivity gains and a competitive integration into the world economy. Energy shortages in 2001, and the final collapse of the convertibility scheme inaugurated in Argentina ten years earlier brought new turbulence to that picture. This was exacerbated by the presidential campaign of 2002, when the prospects for a victory of the PT’s candidate caused a decline in the exchange rate, and an increase in Brazil risk and in inflation. But after the election, the new socialist leader ignored his party’s rhetoric and preserved the same policies established by the previous economic team. As a result of these sensible policies a virtuous cycle of economic growth and external transactions improvements followed for the next five years starting in 2003.
 Those years, which saw a “Chinese bonanza” pushing commodity prices to historical peaks – soybean at 600 dollars a ton, iron ore at almost 200, and many others  –, were not exempt from policy retrocessions, such as the renewed growth of the state and the increase in the number of public officials (many, if not all, selected from party apparatchiks), both moves that interrupted a positive process of trimming the excessive state apparatus built up during the military regime. Lula, the effective president during both his and Dilma’s administrations, started a conscious and consistent program of rebuilding state power in Brazil, creating many new public agencies, squeezing the regulatory bodies that were implemented during Cardoso’s times and expanding a comprehensive program of social benefits – Bolsa Familia – that was created out of the many separate sectorial benefits that existed previously. The public legitimation for the later was “social inclusion”, but in fact the intention was to consolidate a vast electoral device in favor of his party. It worked: Lula was reelected once (2006), as the amended Constitution (by Cardoso, 1997) authorizes, and was able to elect (2010) and re-elect (2014) his right-hand assistant, Dilma Rousseff.
Although Lula’s years were characterized by overall positive results after a bad start – which was caused by market fears of an adventurous economic policy, in the hands of a formally socialist party – the fact is that there is a clear break of style and substance in economic policies from his first term in office to his second term. In his second term Dilma Rousseff emerged as the new powerful cabinet head following the demise (already for corruption scandals) of the “great vizier” of the first Lula government (José Dirceu), and acquiring even more power after the demise of the first Finance Minister (Palocci) – who acted totally in line with the previous economic policies –, she inaugurated the practice – supported by Lula – of having the public expenditures growing always ahead of the GDP’s growth rate, and even ahead of the inflation rate and of the tax receipts. Not surprisingly, annual budgets started to be voted and applied with a certain stress in the public accounts, which were conveniently disguised under questionable accounting practices, mixing some flows between the Treasury, the National Bank for Development (BNDES), and state companies and banks (like Petrobras, Banco do Brasil and Caixa Econômica Federal).
It was in the context of such practices that it became possible to give generous benefits to the assisted people of Bolsa Família – who knew “Chinese rates” in their income growth, in fact a mere subsidy for consumption – and rises in the minimum wage above the inflation rate and also incorporating a politically fixed “productivity growth”. Of course, many of those social policies materialized only because the fiscal charge was continuously expanding, from the 34% of the GDP to almost 38% (in fact, just 35.9% in nominal terms, but only due to a methodological correction in the national accounts); the heavier taxes penalized goods and services consumed by the middle classes as well as the productive activities of the business sector. In fact, expanding expenditures benefitted much more a small bunch of crony capitalists – who are the great financiers of PT and its apparatchiks – than the poor people of the Bolsa Família.
Lulanomics worked relatively well during the Chinese bonanza years, up to the American housing and financial crises, when some Keynesian measures were taken to contain the reduced external demand and the changes in the foreign credit supply. Other measures – almost all in the public sector – were introduced, supposedly for a transitional period, but maintained for a longer extension of time than required by the partial recovery of the world economy after 2010. Dilma’s presidency, starting in 2011, represented the exacerbation of the worst kind of policies of the old school of ECLA’s (the Economic Commission for Latin America of the UN) “developmentalism”:  sectorial subsidies and tax exemptions, State intervention in the micromanagement of investment policies in the case of SOEs, requirements of local content in contracts for all public companies, a “new automotive investment framework” in a clear disrespect for WTO rules, and many other commercial and trade policies devices, as if Brazil still had an “infant industry” to protect.
Adding to this confused set of improvised measures, there were political fixes and opportunistic manipulations of both interest rates and exchange rates, which resulted in increasing inflation, exaggerated devaluation and declining growth. At a certain moment Brazil had a totally contradictory picture of a declining unemployment rate and an increase in the insurance payments for the unemployed. More disturbing was the perspective of not having the national accounts properly reflecting the erosion of tax receipts, a true result of the fiscal falsification already in the run. When the terms of trade inverted the course, due to the lessening of China’s growth, the castle of cards start to crumble, although it was not immediately visible, precisely because of the hidden indicators in the public accounts. The downturn accelerated during the 2014 presidential campaign, and was finally revealed in the open just after the ballots confirmed Dilma’s victory for a slight margin of votes.

Dilma’s economic unraveling of Brazilian economy, or the Big Destruction
Again: the process of deformation of the Brazilian economy was not only the product of misguided economic policies during Dilma’s years. It is the result of many years of erroneous macroeconomic and sectorial policies during Lula’s presidency, which shaped the two main features of PT’s economic management: commoditization and deindustrialization. The economic consequences of Lula’s government were reflected first of all in the aggrandizement of the state, secondly in the over-stimulus of the demand side of the economy, combined to a total lack of care for its productive, for the infrastructure and against the basic requirements for a productivity growth, which would have required set of reforms – labor, taxation, social security, education, etc. – that were never undertaken by Lula or Dilma.
Commoditization and early deindustrialization are the two sides of the same coin: an over reliance on the high price peaks of exported Brazilian commodities, and a gradual loss of competitiveness of the domestic manufacturing basis. Over valuation of the Real – due to the huge inflow of dollars – and high prices in the domestic supply – taxed for an average rate of 40%, either in goods or in services – turned Brazil into a very expensive country, inducing the middle class to look to external markets to purchase many durable items: Miami became the new big shopping mall for the affluent and even the less fortunate consumers of the middle class. At a certain point in the American crisis, Brazilian buyers were acquiring plenty of Florida low-priced condos, and flooding Miami shopping malls, for as high as 4 or 5 billion dollars a year in their purchases.
The declining contribution of industry to national economic activity accelerated at a troubling pace in the final year of Lula’s presidency and during Dilma Rousseff’s entire first administration. The plunge in the trade surplus was catastrophic in the industrial section of the current transactions, although this situation did not create an immediate current account deficit because the floating exchange regime – albeit manipulated by the Central Bank with an eye in the inflation rate – intervened to rebalance the disequilibrium. But it became clear that the bad results reflected in the main economic indicators were not a mere side effect of an alleged “international crisis”, as proclaimed by the government, but a consequence of the bad policies entirely “made in Brazil”, by the government.
The deindustrialization was not due to Chinese competition – although that was always present even if limited by high tariffs and antidumping measures – but was totally due to over-taxation, overregulation, super-protection and cartelization, as well as the already mentioned state intervention at every level, in all sectors. Excessive expenditures, a chronic deficit in the social security system (especially in the public sector), too low savings and investments rates, a marginal (if not negative) labor productivity growth, and a really poor rate of technology innovation (due to low quality education at every level) complete the bleak picture of the current Brazilian panorama.
The dramatic, negative growth in 2015 (-3,8% of GDP), and the very bad prospects for 2016 and 2017, that is, from recession to depression, clearly point to the longest and the worst crisis in the Brazilian economic history since 1931. Over a five year period, we can estimate a loss, for the GDP, of about -10%, that is, Brazilians are becoming poor, and are due to stay in that condition for a while. Are there any prospects for an inversion of this vicious circle? Perhaps, depending on the posture to be taken by the politicians in the Congress: they have a rent-seeking behavior, but could help to invert Dilma’s Great Destruction if further deteriorations of Brazil’s risk assessments by rating agencies intervenes at any time. That will certainly happen when the domestic debt rise to new highs, that is, more than 70% of the GDP.
Those ratios of public debt do not seem to be very upsetting, taking into account the Maastricht criteria of national debt (60% of the GDP, also considering 170% for Greece and more than 270% for Japan), but the real question is not its absolute value, but its cost. Interest rates in the case of public debt in Brazil can be as high as 14% (half of that in real terms), a significant part of that being of a short term maturity; the already higher expenditure in the public budget is the service of the debt, as high as 7% to 8% of the GDP, which is a truly unsustainable charge. Of course, in the bonus side of the picture, Brazil possesses enormous natural resources, a largely renewable energy matrix (based mainly in water powered electricity), a very competitive agribusiness, no foreign conflicts to be dealt with, an active professional diplomacy and a well prepared state bureaucracy (especially federal prosecutors and investigators, who are dealing with the worst corruption case in the Brazilian history, with the Worker’s Party occupying the center stage of the crime scene, as its apparatchiks ransacked the state oil company, Petrobras, and probably many other state companies as well).

What’s to be done, after the economic and political deluge?
But, the big word, today, in Brazil, is uncertainty: we do not know what will be the value of the Real in dollars, tomorrow, the next week, or the next month; we do not know the depth of the deficits, the ceiling for the reference interest rates (today at more than 14%); how deep will go the unemployment; if the investments will continue to be completely paralyzed; and we do not even know if we’ll have this one or another government in a matter of weeks or months. Uncertainty, and insecurity, those are the words of the moment in Brazil. How can an entrepreneur make plans for a year, two years, or five years ahead? Economists were overtaken by the most pessimistic statistics in 2015. Even experienced political analysts do not try to even guess, or imagine, what the immediate political future could be at the beginning of 2016.
This complex set of problems requires, at the economic level, three sets of measures to be instituted simultaneously: (a) urgent measures that have to be adopted in terms of fiscal adjustment and budget balancing, followed by (b) medium term decisions that have to be taken to promote confidence building adjustments, facilitating the return of investments, and (c) the launching of a long term program of structural reforms in order to create a new institutional framework looking for the recovery of competitiveness of the Brazilian industry, and creating a solid basis for a productivity overhaul of the economy. At the political level it is almost impossible to foresee any stable governance in the months ahead. Reforms are also due at the sphere, but the political system is plagued by a myriad of small and opportunistic parties, and regional differing interests, all of which makes an impossible dream to have a stable governing coalition.
Political and economic crises are sustaining each other, and it is difficult to tell where is the Gordian knot. Who will deliver the decisive coup? No guesses for the moment…
Paulo Roberto de Almeida, Professor of Political Economy at the Master and Doctoral programs in Law of the University Center of Brasília (Uniceub); career diplomat (www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com).
Como citar este artigo: Editoria Mundorama. "The Great Destruction in Brazil: How to downgrade an entire country in less than four years, by Paulo Roberto de Almeida". Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, [acessado em 01/02/2016]. Disponível em: <http://www.mundorama.net/?p=18052>.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A Grande Destruicao em Numeros (novembro-dezembro 2015) - Gilberto Simoes Pires

Transcrevendo da coluna Ponto Crítico (XIV - 306/15 - 29/ 01/ 2016), do jornalista Gilberto Simões Pires:

NÚMEROS E DECISÕES TENEBROSAS
NÚMEROS DE NOVEMBRO E DEZEMBRO

Ainda que a maioria dos números que retratam o comportamento da nossa cada dia mais pobre economia digam respeito aos meses de novembro e dezembro de 2015, pelo andar da carruagem já se tem uma ideia dos números referentes ao mês de janeiro, que será apurado mais a frente.
ANDANDO PARA TRÁS
Vejam, por exemplo, que a trágica TAXA DE DESEMPREGO fechou 2015 nos níveis de 2008, ou seja, andamos 7 anos para trás. Como o desemprego continua aumentando, quando for divulgada a taxa referente ao primeiro trimestre de 2016 veremos que chegaremos aos números de 2004, ou 12 anos para o passado.
DÉFICIT PRIMÁRIO
Além disso, o DÉFICIT PÚBLICO (PRIMÁRIO) fechou 2015 com o pior resultado em 14 anos: R$ 111,2 bilhões, o equivalente a 1,88% do PIB. Em 2014, o resultado negativo havia sido de R$ 32,5 bilhões, ou 57% do PIB. Que tal?
Como acontece a cada ano que passa, o grande vilão, que continua intocável, pedindo REFORMA, é a Previdência Social (apenas INSS, ou brasileiros de 2ª Classe), que fechou o ano com DÉFICIT DE R$ 85,8 BILHÕES. Se somado com a Previdência dos Servidores da União (brasileiros de 1ª Classe), o DÉFICIT PREVIDENCIÁRIO VAI A MAIS DE R$ 200 BILHÕES.
DÉFICIT NOMINAL
Se for levado em consideração os JUROS, OU DÉFICIT PÚBLICO NOMINAL, que atingiu a marca de R$ 501,8 bilhões no ano, aí o resultado é ainda mais catastrófico: R$ 613 bilhões, ou 10,34% do PIB. No ano anterior, a conta nominal havia somado R$ 343,9 bilhões ou 6,05% do PIB. Que tal?
PIB E INFLAÇÃO
Vejam que os DÉFICITS acima se resolvem, basicamente, através de uma precisa e certeira REFORMA DA PREVIDÊNCIA. Pois, ao invés de atacar este crônico problema, o governo volta a insistir com a estúpida CPMF, cuja receita estimada não faz cócegas nas monstruosas despesas provocadas pela PREVIDÊNCIA.
CONSELHÃO
Diante de tanto descalabro, incompetência e farta CORRUPÇÃO NO SETOR PÚBLICO, ontem, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa se apresentou aos 92 Conselheiros que integram o CNDES -Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social- para dizer, ao INVÉS DE CONSULTAR, quais medidas o governo defende para tentar reanimar a debilitada economia do nosso pobre país.
De novo: como o Conselhão não foi montado para ser CONSULTADO, mas apenas para ser informado das medidas que o governo pretende tomar, os 92 conselheiros ouviram (muitos até aplaudiram) o ministro Barbosa dizer que o governo vai aumentar gastos e impostos.
O curioso, para não dizer lamentável, é que os conselheiros sequer contestaram a pretensão do governo, de ampliar a oferta de crédito, em R$ 83 bilhões. Mal sabem que a oferta de crédito no momento em que a inadimplência cresce perigosamente, nada mais é do que uma clara repetição dos erros que contribuíram para levar a este progressivo caos econômico do Brasil.
CAPACIDADE INSTALADA
O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) recuou 1,1 ponto percentual em janeiro, atingindo 73,9%, o menor nível da série histórica iniciada em 2001.
THE ECONOMIST 1-
A revista britânica The Economist traz na edição desta semana uma material pra lá de interessante sobre o nosso pobre Brasil.
Com o título "Festejando no precipício", a publicação diz que o feriado de carnaval não vai proporcionar nenhuma pausa na crise do País, que sofre com o aprofundamento da situação política e econômica e ainda tem de lidar com o surto de zika vírus.
Apesar de reconhecer que a estabilidade dos juros na semana passada era justificada, a revista também critica a estratégia de comunicação do Banco Central, que sinalizou manutenção dos juros a poucas horas da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom).
THE ECONOMIST 2
A reportagem nota que outros problemas econômicos continuam crescendo no Brasil e apenas no ano passado 1,5 milhão de trabalhadores foram demitidos das empresas.
Neste ano, a revista diz que outro 1 milhão de empregados podem perder o trabalho.
Enquanto ainda tem de lidar com a ameaça de impeachment, a presidente Dilma Rousseff e o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tentam avançar com as reformas.
Alas do PT, porém, já demonstraram ser contrárias à intenção de aumento da idade mínima para aposentadoria, diz a Economist.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Eu queria desejar bom 2016 a todos, mas eis que tropecei com isto ai...

Isto, para ser mais preciso é a GRANDE DESTRUIÇÃO lulopetista, que na verdade não começou em 2011, como as estatísticas pretendem, mas foi um processo cientificamente calculado para dar no que deu, e começou em 2003, mas com recrudescimento a partir de 2006 e descida para o caos a partir de 2011.
Não se diga que Lula governou bem e o seu poste mal.
Ele foi beneficiado por circunstâncias favoráveis no ambiente internacional e apesar disso não fez NENHUMA reforma importante para o Brasil.
Bandidos.
Em todo caso, eu desejo um feliz 2016 a todos, depois que conseguirmos colocar a tropa de ineptos e corruptos para fora do poder.
Paulo Roberto de Almeida





domingo, 29 de novembro de 2015

Revista Interesse Nacional e um Manifesto sobre a Conjuntura - Rubens Barbosa

No seguimento da postagem anterior, sobre política externa, transcrevo novamente o manifesto de um mês atrás tratando basicamente da Grande Destruição lulopetista do Brasil, que não é tão enfático quanto estas minhas palavras introdutórias, mas que sem dúvida alguma reflete o estado catatônico da nação em face do descalabro moral, da recessão econômica, da corrupção total produzida pelo partido totalitário.
Paulo Roberto de Almeida

Manifesto


A convergência da crise econômica com as crises política e ética está criando uma grave ameaça ao Brasil no médio e no longo prazos. Caso o desequilíbrio da economia e o crescimento do déficit fiscal acima do produto interno bruto persistam, nos próximos anos o país corre o sério risco de se tornar inviável pela redução da capacidade de pagamento de suas dívidas.
Em razão da gravidade da situação atual – déficit fiscal em 2015 e aprovação do Orçamento de 2016 –, agravada pela ação disfuncional do Congresso Nacional, a sociedade e os agentes econômicos e políticos estão focados no curto prazo e menos atentos às questões estruturais. Mas sem atacar as causas da crise brasileira de frente vai ser difícil de evitar o pior nos próximos 10, 15 anos.
Diversas instituições e grupos organizados da sociedade civil estão discutindo essas questões e propondo soluções. A revista Interesse Nacional(www.interessenacional.com) é uma delas. Em seu número de outubro, em circulação, discute os desafios para sair da crise e a agenda nas áreas da Previdência Social, da educação, dos gastos públicos e tributária, além do papel da política e do Congresso para aprovar as medidas duras que terão de ser enfrentadas.
Dada a gravidade do contexto interno, pela primeira vez em oito anos a Interesse Nacional decidiu lançar um manifesto para chamar a atenção da sociedade brasileira para os desafios que teremos de enfrentar. Pela atualidade e pelo significado, pareceu-me útil dar repercussão a essa manifestação.

“Os anos de modernização do Estado brasileiro e de inclusão de parcela significativa da população na economia de mercado, no período 1990 a 2015, ficaram para trás. A crise política, econômica e ética acelera a hora da verdade para o Brasil, visto que não se veem saída e recuperação sem medidas estruturais de médio e longo prazo. O programa mínimo que a seriedade da crise atual exige é passar o Brasil a limpo e mudar o que tem de ser mudado, dentro dos princípios democráticos.
O Brasil enfrenta uma situação de extrema gravidade sem uma liderança política, empresarial e dos trabalhadores que expresse os anseios de todos por uma economia estável, um regime político funcional que represente a maioria da população e que favoreça uma sociedade mais justa. O grau alarmante de corrupção, facilitada pela interferência e ineficiência do Estado todo-poderoso, contamina a vida política e econômica do País e clama pelo fim da impunidade. Perdeu-se o sentido de autoridade e de garantia de segurança ao cidadão.
A retirada do grau de investimento do Brasil é a consequência da falta de rumo e da incompetência do governo na condução da política econômica, que fez o país mergulhar na recessão.
O desequilíbrio econômico, o crescimento do déficit público, da inflação, do desemprego e o gigantismo do Estado impõem a prioridade conjuntural do ajuste fiscal. O problema, contudo, é estrutural e torna urgente a discussão sobre a agenda de reformas microeconômicas, iniciada, porém interrompida. A perda da competitividade e do dinamismo do comércio exterior torna urgente a mudança da agenda interna com uma visão de médio e longo prazo.
A ausência de liderança efetiva no Executivo, no Legislativo e no Judiciário agrava o quadro nacional e exige de todos os que se preocupam com o futuro do Brasil um esforço para promover um debate que chame a atenção para as mudanças que a sociedade brasileira terá de enfrentar e aceitar e a necessidade de restaurar o crescimento e aumentar o emprego.
Qualquer que seja o governo em Brasília, essa nova agenda se imporá. O custo de ignorá-la será o caminho do Brasil, a médio prazo, para uma Argentina, uma Venezuela ou, no pior cenário, uma Grécia. O país perderá a capacidade de honrar seus compromissos, pelo nível cada vez maior da dívida, em especial da previdência social, o que levará a índices muito baixos de crescimento, ao caos com o desemprego chegando a níveis impensáveis e com graves custos sociais.
O preço do imobilismo será maior do que o custo das mudanças necessárias para restabelecer as condições de governabilidade do país. Não se pode deixar de contar com um Estado eficiente, efetivo e comprometido com o interesse público, em especial com os interesses dos segmentos mais pobres da população. Será inevitável o reexame do papel do Estado e o grau de sua interferência na vida de todos nós e da empresas.
O cidadão comum tem de aprender a defender seus direitos e participar de forma democrática na solução dos problemas que se acumulam e que parecem sem solução. A população anestesiada pela crise em todos os níveis tem de despertar e exercer seus direitos de cidadania.
A nova agenda não se limita à economia. A simplificação e a desburocratização dos procedimentos em que o cidadão tem de se relacionar com o Estado têm de voltar a ser prioridade. A reforma dos processos nos julgamentos civis, criminais e trabalhistas beneficiarão a sociedade como um todo, sempre preservando o direito de defesa e o devido cumprimento da lei.
Nesse quadro de incertezas e grandes riscos, a defesa do interesse nacional impõe a discussão de uma agenda renovada que venha a examinar medidas duras, mas realistas, que farão a economia retornar a um rumo de estabilidade e de crescimento. Esse é o primeiro passo.
A tarefa é urgente. O Brasil não pode esperar. O mundo não vai aguardar o Brasil”.

Chegou o momento de enfrentar os problemas que de fato afetam a sociedade brasileira. Governo, empresários e trabalhadores, como parceiros, juntamente com os agentes políticos, em momentos cruciais souberam superar suas diferenças e atuar em conjunto em favor do crescimento e do emprego. Não resta alternativa para evitar o que ocorreu em alguns países europeus no passado recente.

Fonte: O Estado de S.Paulo, 27/10/2015.