Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
O Gabinete do Ódio nasceu bem antes da campanha presidencial: foi um grupo recrutado com o objetivo precípuo de montar histórias, inventar mentiras, criar notícias falsas, difamar adversários, disseminar uma imagem heroica do tosco capitão, enfim perpetrar falcatruas eleitorais, com o apoio financeiro de capitalistas bolsonaristas. Seus principais membros estão hoje instalados no 3ro andar do Palácio do Planalto, continuando a fazer o mesmo trabalho sujo.
Paulo Roberto de Almeida
Quem são os jovens recrutados por Carlos Bolsonaro para erguer o aparelho digital do governo
O presidente Jair Bolsonaro sempre creditou o triunfo de sua vitória eleitoral em 2018 à estratégia digital traçada pelo filho “02”, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), nas mídias sociais. A estrutura que impulsionou um deputado restrito a nichos ao Palácio do Planalto começou a ser montada com a contratação de alguns jovens na casa dos 20 anos, criadores de páginas de paródias e personagens políticos no Facebook — hoje, integrantes do que ex-aliados do governo Bolsonaro classificam como “gabinete de ódio”, o núcleo instalado no Palácio do Planalto que se dedica a atacar adversários nas redes. O recrutamento foi definitivamente selado numa reunião do clã Bolsonaro com alguns desses jovens, no salão de festas do primogênito e hoje senador Flávio, em 11 de março de 2017 — mais de um ano e meio antes da eleição. Dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro foi o que descobriu primeiro o potencial das redes sociais para a família. Ele está no Twitter desde agosto de 2009. O GLOBO encontrou publicações de Carlos em uma conta pessoal no Facebook desde 2011. E foi por essa rede social que ele encontrou e recrutou dois dos principais assessores do presidente Jair Bolsonaro, ainda em 2013. O primeiro foi José Mateus Sales Gomes. Em 10 de abril de 2013, Carlos publicou: “Tô passando mal de rir com a page ‘Bolsonaro Zuero’”. Natural de Caucaia, na Grande Fortaleza, Mateus tinha 21 anos quando caiu nas graças do vereador. De Campina Grande (PB), chamou a atenção do filho do presidente a página “Bolsonaro Opressor”, criada por Tércio Arnaud Thomaz, outro selecionado por Carlos, mas para assessorar o então deputado Jair Bolsonaro. Seis anos depois, Matheus e Tércio têm assento no terceiro andar do Palácio do Planalto. Os dois foram os precursores de vários outros que Carlos foi descobrindo e trazendo para junto do clã. Agora, na Presidência, também está Mateus Matos Diniz, engenheiro formado há dois anos, ex-aluno de Olavo de Carvalho e a quem Carlos conheceu em 2017. Religioso, Mateus defende a castidade. Inclusive recomenda em seu Instagram que “todo dia use cinto apertado, para que ele te lembre do seu compromisso”. Também defende que “não existe sexo fora do casamento. O que existe fora é uma tentativa de emular o sexo imitando seus acidentes”. Bem antes da campanha eleitoral que os levou ao poder central, e à diferença da narrativa de apoio espontâneo nas redes sociais, os Bolsonaros organizaram reuniões com criadores de páginas na internet. O primeiro encontro presencial ocorreu no sábado 11 de março de 2017, no salão de festas do prédio de Flávio, na Barra da Tijuca. O próprio Carlos registrou o momento no Instagram no dia seguinte: “Reunião sábado à noite, com alguns representantes de diversos grupos, com o objetivo de endireitar o Brasil (AM, CE, PE, SP, RJ, MG, PA, PB, PR)”. Quem esteve na reunião relata que, já pensando na eleição de 2018, a família discutiu a organização da páginas e a criação de grupos no WhatsApp e introduziu a estratégia sobre ataques a adversários. Segundo um dos que participaram da reunião, a produção de memes e ataques era parte da estratégia: obter uma estrutura de comunicação que pudesse ser operada diretamente, de ponta a ponta.
Marcou presença ainda Guilherme Julian Freire, amigo de Matheus “Zuero” e agora assessor do deputado Hélio Lopes. O deputado Gil Diniz disse que acompanhou Eduardo Bolsonaro porque, na época, era seu assessor:
—Foi mais para unificar a pauta. No outro ano haveria eleição presidencial, e começamos a organizar esses movimentos. Não lembro de memes ou ataques.
Sem respostas
Alex Junqueira, ex-assessor de Gil Diniz, afirma, porém, que, quando conheceu o deputado, o trabalho dele para Eduardo Bolsonaro consistia essencialmente na fabricação de memes para atacar adversários. Diniz ficou conhecido pela página “Carteiro Reaça”.
— Eu o conheci em 2018; ele era assessor do Eduardo. Eu era motorista, o Eduardo ia do lado, e o Gil, atrás. Ele (Gil), nessa época, fazia os memes e depois, quando foi deputado, de outubro até março, o que ele sabia fazer era assassinar a reputação dos outros — afirmou Junqueira, que denunciou Diniz por prática de “rachadinha”, tornando públicas conversas do grupo que Diniz mantinha com assessores nas quais este pede conteúdo para atacar adversários como o governador João Doria.
Diniz afirma que Junqueira também publicava as mensagens que “agora chama de ataques” e se tornou seu adversário político. Procurados, o Palácio do Planalto (questionado sobre a função dos assessores), Flávio, Carlos, Eduardo e Helio não responderam.