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domingo, 12 de julho de 2020

Diplomacia em Cacos - Mary Zaidan (Blog do Noblat, Veja)

Nunca antes na história da diplomacia brasileira, ela tinha sido tão conspurcada como sob o tacão dos ignorantes bolsonaristas, os ineptos em relações internacionais, os sabujos e fanáticos do guru destrambelhado da Virgínia, aquele debiloide grosseiro que orienta o presidente despreparado e o chanceler acidental, submisso ao bando de bárbaros.
Como diplomata, sinto-me envergonhado pelo espetáculo lastimável de retrocessos inacreditáveis na diplomacia profissional e pela imagem diminuída do Brasil no mundo.
Como diria o Visconde de Cabo Frio, mas em circunstâncias totalmente diferentes a propósito da gestão do Itamaraty: "Estamos esperando que essa gente vá embora". 
Paulo Roberto de Almeida 

Diplomacia em cacos
A escalada negacionista
Por Mary Zaidan - Atualizado em 12 Jul 2020, 04h36 - Publicado em 12 Jul 2020, 08h30



O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, nas negociações do Pacto de Letícia pela Amazônia, Colômbia - 06/09/2019 Raul Arboleda/AFP

O reiterado descaso do presidente Jair Bolsonaro pela pandemia que já tirou a vida de mais de 70 mil brasileiros tem um rival quase imbatível: o desempenho do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na dupla tarefa de desacreditar o vírus e o Brasil.
Desde que a Covid-19 desembarcou no país, o chanceler tenta caracterizá-la como mal criado e disseminado pela esquerda – o “comunavírus”, como ele gosta de tratar o que a turma bolsonarista chama de “vírus chinês”. Em abril, publicou em seu blog pessoal um artigo em que acusa a Organização Mundial da Saúde de usar a pandemia para incrementar um “projeto globalista” na direção ao comunismo.
No texto, o ministro ressalta que o comunismo embutido no “vírus ideológico” – considerado por ele mais perigoso que a Covid-19 – já estava sendo executado pelo “climatismo ou alarmismo climático”, ou sob a égide  da “ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo, do antinacionalismo, do cientifismo”. Um libelo de arrepiar até terraplanistas.
A escalada negacionista continuou a se aprofundar, incluindo organismos estatais para divulgá-la.
Na terça-feira, 14, Araújo promove, por meio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), órgão de pesquisa do Itamaraty, a conferência virtual “Memória do comunismo e atualidade do vírus da mentira”, com o jornalista e escritor Federico Jiménez Losantos. Apresentador do La Mañana, programa matutino de audiência da rede espanhola Code, Losantos é um achado: um maoísta desencantado, com discurso aclamado pela direita extrema, que se autodefine como liberal.
Outras palestras no gênero foram realizadas ao longo do ano. A conjuntura internacional no pós-coronavírus teve como debatedores os neoespecialistas e assessores especiais da Presidência da República Felipe G. Martins e Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação. A despeito de ter sido o pior titular da pasta a se sentar na Esplanada – ou até por esse motivo -, o antiglobalista convicto Abraham ganhou assento no Banco Mundial como prêmio de consolação pela fidelidade canina ao presidente Bolsonaro.
A Funag recebeu também o moçambicano Gabriel Mithá Ribeiro, polêmico defensor de teses no mínimo heterodoxas. Para o autor do livro “Um século de escombros: pensar o futuro com valores morais da direita”, o racismo não existe mais, o colonialismo nunca existiu, e o “pai intelectual do Brasil atual é o professor Olavo de Carvalho”.
O ciclo de conferências tem causado desconforto a diplomatas, que só não põem a boca no trombone em respeito ao Itamaraty e por saber que governos passam e a instituição fica. Alguns deles não escondem que gostariam que esse passasse depressa.
Nada contra o pensamento de direita que em muito enriquece a governança em diversas partes do mundo. Nem mesmo aversão às suas correntes mais radicalizadas, ainda que sofram dos males do fanatismo, válido para as dois polos ideológicos. Mas quando promovidos por uma organização de Estado, os encontros teriam que, pelo menos, tentar parecer plurais. Seria conveniente ainda se despirem do caráter catequizador e do eloquente proselitismo ao governante da vez.
Como se um erro autorizasse outros, alguns dirão: os governos do PT faziam ações semelhantes e ninguém reclamava. Mentira para boi dormir ou para iludir a boiada. Foram duramente criticados, seja no conteúdo pró-ditaduras de esquerda nas Américas, na África e no Oriente Médio, seja no desperdício de dinheiro público para promover encontros de formação política.
Não é necessário recorrer ao Google ou fazer qualquer esforço de memória para apontar que o início da partidarização das Relações Exteriores se deu sob o comando de Celso Amorim, no governo Lula. Ali, o Itamaraty começou a envergonhar seu patrono Rio Branco. De lá para cá, respirou um pouco no curto período de Michel Temer para, de novo, cair na esparrela.
Com sua agenda desconectada da razão, da lógica e do mundo, Araújo é um dos protagonistas ativos do massacre da imagem do Brasil lá fora, golpeada cotidianamente pelo negacionismo do presidente Bolsonaro diante da pandemia, desmatamento recorde e desdém ambiental.
Como o país precisa de gente capaz de desfazer nós e não de apertá-los, Araújo entrou na mira da turma do “segura o touro”. Os que defendem um governo sem arroubos tentam convencer Bolsonaro a colocar na bandeja as cabeças do chanceler e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Salles até pode ser servido. Araújo é prata da casa.
Enquanto isso, a cristaleira refinada anos a fio pela invejável diplomacia brasileira, que começou a se quebrar no governo Lula, se estilhaça de vez. Vira cacos.
Mary Zaidan é jornalista 


domingo, 19 de maio de 2013

Brasil: um governo indeciso, sem estrategia e... incompetente... - Mary Zaidan


POLÍTICA
O Globo, 18/05/2013

Há tempos Dilma Rousseff não tinha uma semana de tantas boas novas. Colheu o sucesso da 11ª rodada de licitação de petróleo e gás, a primeira realizada em cinco anos, e aprovou a MP dos portos, ainda que a penas duríssimas, impondo ao Congresso humilhação e vexame.
Duas vitórias de peso. Duas questões que viraram urgentes, emergenciais, mas que até pouco tempo eram neoliberalismo puro, abominado pela presidente e seu partido.
Em artigo no dia 15, a jornalista Míriam Leitão chamou atenção para o fato de a licitação de petróleo e gás ter sido feita no modelo antigo que o governo considerava impróprio “por razões de interesse nacional”, conforme disse o ministro da Energia Edison Lobão, no calor da comemoração. “Como este leilão foi feito no modelo antigo, ele fere o interesse nacional? Ou o interesse nacional foi prejudicado antes, quando o governo decidiu suspender os leilões?”, questiona a colunista de O Globo.
Perderam-se cinco anos.
Nos portos viu-se algo semelhante. A lei dos portos do presidente Itamar Franco, regulamentada durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, foi rechaçada pelo PT à época. No governo Lula, o único feito no setor foi criar e conferir status de ministério à Secretaria Especial dos Portos, pasta de necessidade duvidosa, a não ser para matar a fome de aliados vorazes. Nada, nem uma emenda à lei existente, para conferir maior agilidade aos portos.
Perdeu-se mais de uma década.
E as novas regras não têm o poder mágico de modernizá-los.
Aprovada a toque de caixa como se não houvesse amanhã, em meio a acusações que levantaram suspeitas sobre os reais interesses que sustentam a matéria, a MP ainda deve enfrentar batalhas judiciais. Uma delas já anunciada: garantir a isonomia entre empresas privadas que hoje estão instaladas em áreas portuárias públicas e que só podem movimentar cargas próprias, e os novos investidores, autorizados a embarcar também cargas de terceiros. Muito pano para manga.
Nada que não pudesse ser corrigido - ou pelo menos escarafunchado, no caso das denúncias - com o aprofundamento do debate.
Mas o que salta aos olhos é o autoritarismo da presidente. A ela só os resultados interessam, ainda que para obtê-los tenha de negar aquilo em que dizia crer, como no caso dos leilões do petróleo e gás.
Pior: por soberba, o resultado tem de reproduzir o seu desejo, a sua ordem.
Um modelo em estágio de saturação até na sua própria base, que, como se viu, deu-lhe a vitória, mas de pirro. Dilma poderia tirar boas lições do episódio, mas, como diz o ditado “é impossível uma pessoa aprender aquilo que ela acha que já sabe”.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. @maryzaidan

domingo, 28 de abril de 2013

A semente do totalitarismo: o PT e seus projetos ditatoriais - Mary Zaidan


Blog do Noblat, 28/04/2013

Se o Ministério Público desagrada, reduza-se o poder do MP. Se o STF causa dissabores, cortem-se as asas do Supremo.
Se a imprensa critica e denuncia, controle-a. Essa é a lógica que impera no PT, partido que não se satisfaz com a maioria, nem mesmo acachapante.
Quer tanto a hegemonia plena que golpeia qualquer um que ouse discordar da ordem unida, cassando a palavra e o voto.
Que o digam os senadores Jorge Viana (AC) e Wellington Dias (PI), este último líder do PT, impedidos de discordar do prazo de vigência para as novas regras ditadas pelo governo para a criação de novos partidos.
Direta ou indiretamente, a mão e a mente do PT estão em todos os atos que castram os poderes daqueles que o perturbam.
Chegou ao cúmulo de fazer aprovar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara um revide ao Supremo, que impôs reveses irrecuperáveis à imagem do PT.
Com votos dos mensaleiros José Genoíno e João Paulo Cunha, ambos do PT-SP, o projeto do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) retira prerrogativas constitucionais pétreas do STF, transferindo-as para o Parlamento.
A afronta foi tão assustadora que o aliado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Casa, antecipou-se em suspender a tramitação da matéria.
Pôs panos quentes, mas não conseguiu evitar o acirramento da crise com o STF, que o PT não se cansa de atiçar desde o julgamento do mensalão.
Na outra ponta, por meio do aliado Fernando Collor (PTB-AL), o PT tentou intimidar o procurador-geral da República Roberto Gurgel, inimigo número 1 do partido, com a ameaça de uma CPI.
A ideia não prosperou, mas o partido estimula o projeto que limita as possibilidades de investigação do MP. Ainda que o PT tergiverse e diga que nada tem com isso, a PEC de autoria do ex-delegado Lourival Mendes (PT do B-BA) dificilmente chegaria onde chegou sem o aval do partido.
Quanto à imprensa, repete sempre que pode: não vai abandonar o projeto de controle, que, sem pudor algum, chama de democratização.
O PT tem poder legítimo e popularidade recorde. Mas parece invejar o conforto totalitário do governo da Venezuela, nação com democracia de mentirinha, que acaba de receber, assim como a derrapante Argentina de Cristina Kirchner, mais afagos da presidente Dilma Rousseff.
Não se chegou ao absurdo da ditadura bolivariana que quer encarcerar o líder oposicionista e mandou cortar salários e vozes de parlamentares que não reconhecem a vitória de Nicolás Maduro, arremedo mal acabado de Hugo Chávez.
Mas o PT está se empenhando em aproximar-se de tais descalabros. Move-se para sufocar a oposição, anular o Judiciário e pôr rédeas na imprensa.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. @maryzaidan

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Patriotadas - Mary Zaidan (Blog do Noblat)

Enviado por Mary Zaidan - 07.04.2013 |
Blog do Noblat, 16h26m

Política

Patriotadas, por Mary Zaidan

O governo norte-coreano informou sexta-feira que não poderá garantir a segurança de representações diplomáticas instaladas na capital Pyongyang. De pronto, o Brasil decidiu não fechar a embaixada que nem aberta deveria ter sido.
Pelo menos é o que se depreende da fala do ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota ao tentar explicar a importância da presença brasileira em terras que sequer registram brasileiros residentes, e que, por ano, têm troca comercial irrisória, de pouco mais de R$ 370 milhões. Sem rir, disse que com a embaixada o Brasil passou a ter informações “de primeira mão”, deixando de depender da “imprensa ocidentalizada”.
Pelo jeito Patriota crê que a mídia não controlada do Ocidente é menos confiável do que as informações da ditadura de Kim Jong-un, que agora brinca de ameaçar o mundo com uma guerrinha nuclear. Deve achar normal também o Brasil ter instalado nos últimos 10 anos nada menos do que 62 embaixadas, boa parte em lugares exóticos como Tuvalu, com menos de 13 mil habitantes, Burkina, Butão, Samoa, Palau, Ilhas Fiji, Nauru e Névis.
Desde que Celso Amorim instituiu no Itamaraty a supremacia partidária acima das questões de Estado, a diplomacia brasileira caminha trôpega. Isso, quando caminha.
Laços fraternos com presidentes do Irã Mahmoud Ahmadinejad e da Síria Bashar al-Assad, erros crassos em Honduras, emissão farta de passaportes diplomáticos para amigos e familiares do ex-presidente Lula são algumas marcas de que Amorim deveria se envergonhar.
Com Dilma já eleita, enquanto 80 nações condenavam a lapidação, tendo como símbolo a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, o Brasil postou-se junto aos progressistas Angola, Benin, Butão, Guatemala, Marrocos, Nigéria e Zâmbia, omitindo-se.
Patriota começou valente. Por um momento, até pareceu que corrigiria rumos. Mas qual o quê.


Na América do Sul, ficou de cócoras frente aos desmandos da argentina Cristina Kirchner, que continua a sobretaxar e a dificultar a entrada de produtos brasileiros em seu País. Faz vista grossa à falsa democracia venezuelana. E é incapaz de agir em defesa dos cidadãos brasileiros no exterior. Que o digam os 12 presos em regime fechado, há quase dois meses, acusados de forma genérica da morte de um jovem durante o jogo San José x Corintians, em Oruro, interior do País do amigo do peito Evo Morales, para quem Lula fez campanha.
Uma década de diplomacia esquizofrênica, expansionista, caríssima e nada eficaz. Que cada dia está mais distante dos fóruns que importam no mundo; que preferiu ser parceira do atraso. Mas isso é pura intriga da “imprensa ocidentalizada”.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. @maryzaidan
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IstoÉ, 06/04/2013 | 19:04
O patriotismo torto de Patriota
Atuação burocrática e deslizes diplomáticos desgastam o chanceler Antonio Patriota, que recebe ultimato de Dilma
Claudio Dantas Sequeira

PUNHOS FRÁGEIS
De Dilma para o ministro Antonio Patriota:
“Ou demonstra liderança ou deixa o cargo”
A diplomacia é a expressão internacional dos interesses de uma nação. É feita de gestos discretos sim, mas também de ações contundentes. Desde que assumiu o comando do Itamaraty há mais de dois anos, o chanceler Antonio Patriota aferrou-se à primeira parte da sentença. Mantém uma postura discreta, burocrática, uma espécie de timidez funcional. Não bastasse isso, acumulou deslizes diplomáticos e, em consequência, perdeu espaço na Esplanada. Irritada com os erros e especialmente com a falta de iniciativa do subordinado, a presidenta Dilma Rousseff tem evitado recebê-lo e já mandou o recado: ou Patriota demonstra a liderança que seu cargo exige ou aposenta seus punhos de renda. A última vez que o ministro pisou no gabinete de Dilma foi em 22 de janeiro, quase três meses atrás. “Ele tremia durante a audiência”, relata um assessor. O medo só acentuou o desgaste que começou há quase um ano.

O primeiro vacilo de Patriota, segundo assessores palacianos, foi na visita da presidenta aos Estados Unidos em março do ano passado. O encontro quase protocolar, sem honras de chefe de Estado, decepcionou Dilma, que havia recebido o colega americano Barack Obama em Brasília, com toda pompa, um ano antes. Esperava-se, aliás, que as relações bilaterais com os EUA avançassem significativamente na gestão de Patriota, considerando que o diplomata conhece a fundo a cultura e a política daquele país. Foi embaixador em Washington e casou-se com uma diplomata americana, Tania Cooper, funcionária da ONU e filha de Charles Cooper, afamado ex-oficial de contra-inteligência do Exército americano. O que se viu, porém, foi o efeito inverso. As relações diplomáticas esfriaram e as exportações recuaram, apesar de os EUA terem mantido o Brasil no sistema geral de preferências.

Outro flagrante tropeço da gestão de Patriota foi a demora em agir para tentar evitar o processo de impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo. Apesar dos alertas da embaixada sobre a deterioração da governabilidade do bispo, o chanceler brasileiro só reagiu quando a destituição de Lugo era um fato consumado. Dilma foi pega de surpresa e restou ao governo brasileiro retirar seu embaixador de Assunção, em protesto ao que chamou de “golpe parlamentar” que levou Federico Franco ao poder.

A mais recente trapalhada da diplomacia brasileira, e que irritou profundamente Dilma, deu-se na terça-feira 26, em março. Graças a uma mediação malfeita por Patriota, a presidenta passou pelo constrangimento de tomar um chá de cadeira de mais de uma hora do presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Motivo: o sul-africano conversou mais tempo do que o previsto com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Contrariada com a desorganização, Dilma voltou ao hotel onde havia se hospedado para participar da 5ª cúpula de chefes de Estado dos Brics, grupo das mais importantes economias emergentes, que o Brasil integra com Rússia, Índia, China e África do Sul. A chateação fez com que ela desistisse de participar de todo o jantar de gala.
Assédio diplomático
Em nenhuma carreira pública o corporativismo é tão forte como na diplomacia. Uma tradição que serve ao sigilo decorrente de uma atividade sensível, mas que acaba justificando atos pouco transparentes e abusos funcionais. Quando era cônsul-geral em Toronto, em 2007, Américo Fontenelle foi investigado após denúncias de comportamento “agressivo, discriminatório e humilhante”. O caso foi mantido em segredo e ninguém foi punido. Agora, Fontenelle volta a ser alvo de denúncias de excessos. Oito funcionários do Consulado-Geral do Brasil em Sydney, na Austrália, apresentaram um abaixo-assinado pedindo a abertura de processo disciplinar contra o embaixador e o conselheiro-adjunto Cesar de Paula Cidade, acusados de assédio moral e sexual, homofobia, discriminação e abuso de poder. O caso está sendo investigado pela Comissão de Ética, que deve apresentar um parecer até o final do mês.
Vem ganhando contornos dramáticos também a situação dos 12 torcedores do Corinthians presos em Oruro, na Bolívia. Acusados pela morte de um jovem torcedor boliviano, os brasileiros são submetidos a humilhações e torturas. A embaixada em La Paz trabalha intensamente para conseguir a libertação do grupo, mas carece de apoio político de Brasília. ISTOÉ denunciou os maus-tratos e até a cobrança de propina a autoridades diplomáticas. Na quinta-feira 4, Patriota foi ouvido em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. Pressionado, deu declarações genéricas e disse ter “esperanças” de que o caso se resolva em breve. Para o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que preside a Comissão, Patriota precisa de “um banho de povo”. “A coisa já ganhou forma de crise diplomática”, alerta.

No Palácio do Planalto e em embaixadas consultadas por ISTOÉ, a impressão de autoridades e diplomatas é de que falta um norte político para o Itamaraty. Foram relegadas as iniciativas de integração regional e desapareceu da pauta a briga por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essas duas diretrizes alimentaram por anos as ações do Itamaraty, justificando a abertura de novas embaixadas. A esperança é que a candidatura de Roberto Azevedo à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) possa cumprir parte desse papel, ainda que pontualmente. A eleição é em maio.
Foto: Adriano Machado
SUA OPINIÃO
COMENTÁRIOS
(12)
J.Lima
EM 07/04/2013 19:56:45
E as irregularidades envolvendo o Consulado Brasileiro em Miami, quando "explodirá" na mídia brasileira?
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Roberto
EM 07/04/2013 17:57:38
Alem de ser patrulhado pelo partido é desprovido de liderança e carisma.
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MariaAparecida
EM 07/04/2013 03:30:52
Isto é deveria fazer uma matéria sobre os abusos dos Embaixadores em todas as embaixadas no mundo. E como sugestão para a Presidenta, leve o fantástico embaixador no Reino Unido para substituir o Patriota, pois esse já virou um Semi Deus.
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leila
EM 07/04/2013 02:54:25
presidente Dilma, Leve por favor toda essa curriola do Patriota como esse embaixador Paulo soares de Jakarta. Imagine a senhora o que passamos nos brasileiros relis mortais se a Presidente passou por situacoes tao delicadas como as aqui narradas
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Paulo
EM 07/04/2013 02:21:58
Levem de volta o embaixador Fontenelle , pelo amor de Deus. Esse tipo de gente deve ser secretario do Patriota em Brasília.
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