O que o professor da UniCamp expressa é, no mínimo, uma desculpa disfarçada, e esfarrapada. Dizer que as universidades não acompanham a importância da economia brasileira é juntar tamanho com eficiência. Se tamanho fosse documento os dinossauros não teriam desaparecido, e os elefantes e as baleias seriam os animais mais poderosos da terra.
A economia brasileira simplesmente não é competitiva, disso sabemos todos.
E as universidades brasileiras simplesmente não são produtivas, e isso tem a ver com sua péssima organização e a baixíssima produtividade de seus produtores, o que aliás reflete perfeitamente bem a situação de sua economia como um todo.
Ou seja, as universidades são, sim, um reflexo da economia do país, e dos seus dirigentes, incompetentes e equivocados, em 120 % das políticas educacionais (já acrescento o que de ruim ainda vem pela frente).
Vamos continuar nossa trajetória para a decadência intelectual e a mediocridade acadêmica, aliás, de todos os ciclos de ensino, do jardim da infância ao pós-doc.
Ou o Brasil acaba com as saúvas freireanas, ou as saúvas freireanas acabam com a educação brasileira.
Paulo Roberto de Almeida
O ranking das universidades
Editorial O Estado de S.Paulo, 11 de dezembro de 2013
Não é apenas o ensino básico brasileiro que vem se
saindo muito mal nas avaliações comparativas com os sistemas
educacionais de outros países realizadas por organismos multilaterais. O
mesmo ocorre com o ensino superior.
No levantamento da Times Higher Education sobre a qualidade das
universidades dos Brics e países emergentes, divulgado esta semana,
quatro instituições brasileiras foram classificadas entre as cem
melhores. Nenhuma delas, contudo, ficou no topo da lista. Há dois meses,
a Times Higher Education havia divulgado um estudo mostrando que o
Brasil não teve nenhuma universidade incluída na lista das 200 melhores
do mundo, em 2013. A instituição brasileira melhor classificada, a USP,
em 158.º lugar no ranking de 2011, despencou para a faixa entre o 226.º e
o 250.º lugares, este ano.
Os estudos comparativos da Times Higher Education avaliam o
desempenho dos estudantes, o nível de internacionalização de cada
universidade e sua produção acadêmica nas áreas de engenharia,
tecnologia, artes, humanidades, ciências da vida, saúde, física e
ciências sociais. Também levam em conta a relevância das pesquisas
acadêmicas, a regularidade da publicação de artigos nas revistas
científicas mais conceituadas e o número de vezes que são citados. E
medem, ainda, o nível de absorção, pelas empresas, das ideias e das
tecnologias inovadoras desenvolvidas pelas universidades.
No ranking das instituições de ensino superior dos Brics e dos países
emergentes, as universidades asiáticas alcançaram o mesmo destaque que
suas escolas de ensino básico obtiveram na edição de 2012 do Programa
Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa). Só a China classificou
23 universidades - 4 delas entre as 10 melhores. A Turquia classificou 3
universidades no topo da lista. A USP ficou na 11.ª posição, abaixo de
instituições da China, da Turquia, de Taiwan, da Rússia e da África do
Sul. A segunda universidade brasileira melhor classificada foi a
Unicamp, em 24.º lugar. Em seguida vêm a UFRJ e a Unesp, em 60.º e 87.º
lugares, respectivamente.
O péssimo desempenho das universidades brasileiras nas avaliações
internacionais causa preocupação entre os especialistas em ensino
superior. Professor da Unicamp, com doutorado na Universidade de
Tel-Aviv e pós-doutorado em universidades francesas, o físico Leandro
Russovski Tessler classificou como "trágicas" as colocações das
universidades brasileiras no ranking da Times Higher Education. Os
coordenadores da pesquisa disseram que nossas universidades tiveram um
desempenho "decepcionante" e afirmaram que "o ensino superior do Brasil
não condiz com o tamanho de sua economia".
Entre os principais problemas das universidades brasileiras,
destacam-se a falta de recursos financeiros e humanos para pesquisa,
falta de infraestrutura, falta de intercâmbio, baixo número de
publicações em revistas internacionais e desconhecimento de idiomas
estrangeiros. Em outras palavras, o problema está na forma como o
governo vem gerindo o ensino superior, revelando-se incapaz de planejar e
de estabelecer prioridades. Enquanto China, Coreia do Sul, Cingapura e
Taiwan há muito tempo investem em qualificação de docentes e centros de
excelência, intercâmbio cultural e internacionalização de suas
universidades, o Brasil desperdiça recursos escassos com a criação de
novas instituições sem, no entanto, assegurar boas condições de
funcionamento para as instituições já existentes. Na última década, o
País também aumentou gastos no setor sem estabelecer metas de
produtividade e sem atribuir funções específicas para cada uma das
universidades públicas.
Por coincidência, o estudo da Times Higher Education foi divulgado no
mesmo dia em que, ao receber o título de doutor honoris causa de uma
das universidades abertas em seu governo, Lula mostrou como geriu a área
de educação. "Proibimos discutir educação como gasto", disse ele, sem
dedicar nenhuma palavra ao problema da má qualidade de gestão e
planejamento.
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Ensino Superior
Só 12% dos programas brasileiros de pós-graduação têm nível internacional
Segundo avaliação da Capes, apenas 406 programas obtiveram notas 6 e 7
Apenas 406 dos 3.337 programas de pós-graduação em funcionamento no país têm qualidade internacional, segundo dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) nesta terça-feira. O dado consta da avaliação trienal dos cursos de pós-graduação stricto sensu feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao MEC.
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Foram avaliados 5.082 cursos de mestrado, doutorado e mestrado profissional em 3.337 programas de pós-graduação – 619 a mais do que no último levantamento, divulgado em 2010. O processo considerou as informações fornecidas entre 2010 e 2012.
Os programas recebem notas que variam de 1 a 7. Sessenta programas receberam os conceitos 1 e 2 e, por isso, poderão ser descredenciados. A taxa de reprovados, de 1,8%, é inferior à registrada em 2010, de 2,2%: naquele ano, 61 programas receberam notas 1 e 2 entre os 2.718 avaliados.
A maioria dos programas, ou 68,1%, recebeu notas 3 e 4. Os programas com 6 e 7, 12,2% do total, são considerados de padrão internacional. Eles foram bem avaliados por participar de projetos de pesquisa internacional, por realizar atividades de intercâmbio acadêmico e por motivar a publicação de artigos em revistas estrangeiras. No mestrado, a nota máxima é 5; no doutorado, 7.
Segundo o levantamento, 69% dos cursos mantiveram o desempenho de 2010, 23% obtiveram conceitos mais altos e 8% ficaram com notas mais baixas. As insituições têm 30 dias para apresentar recurso e contestar as notas recebidas.
De acordo com a Capes, que realiza a avaliação desde 1976, o objetivo é estabelecer um padrão de qualidade para os cursos de pós-graduação e identificar aqueles que não atendam o padrão exigido. Um dos critérios para definir o conceito do curso é a quantidade de artigos científicos publicados em periódicos especializados. Em comparação com a última avaliação, a produção intelectual cresceu 21%, atingindo quase 1,5 milhão de publicações.