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quarta-feira, 14 de abril de 2021

A primeira viagem de volta ao mundo por um navio e tripulação brasileira - Eduardo Vessoni (Nossa Viagem)

Há 140 anos, 1ª volta ao mundo brasileira foi marcada por perrengue

Eduardo Vessoni
Colaboração para Nossa Viagem
13/04/2021 04h00

A primeira circum-navegação do mundo feita por uma tripulação brasileira tinha tudo para dar errado (e, em partes, deu).

Doenças a bordo, alimentação e condições higiênicas precárias e "qualidades náuticas medíocres" eram a realidade dos 197 homens que, entre 1879 e 1881, deram a volta ao mundo, entre o Rio de Janeiro e o Japão, a bordo da corveta Vital de Oliveira.

Ao mar
Até então restrita a pesquisadores, a epopeia brasileira completa 140 anos em 2021 e chega ao público com o recém lançado Primeira circum-navegação brasileira e primeira missão do Brasil à China (editora Dois por Quatro), livro da jornalista Marli Cristina Scomazzon e do pesquisador Jeff Franco.

"Foi algo importante não só para o país mas para toda a América Latina. Era um livro necessário pois não havia nenhuma publicação dedicada ao tema", explica a coautora, em entrevista para Nossa.

Sob comando do capitão Júlio César de Noronha e primeira do gênero a ser empreendida pela Marinha brasileira, a viagem tinha um duplo objetivo: capacitar marinheiros e transportar a primeira missão diplomática do Brasil na China, a cargo do Ministério das Relações Exteriores.

Sem entrar em detalhes para não dar spoiler do fechamento daquela travessia, a missão de trazer mão de obra chinesa seria abortada em Hong Kong por diversos motivos.

"A viagem até poderia não ser novidade para a humanidade, mas atualmente a marinha avalia a viagem como um marco importantíssimo para o amadurecimento da força naval brasileira", avalia Alessandro Dambroz, capitão-tenente do departamento de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha do Brasil.

Assim como explica Dambroz, as circum-navegações fazem parte da formação de oficiais da Escola Naval e, em todas as viagens internacionais. "O navio de Estado é considerado Território Nacional, em qualquer lugar que ele esteja. É na verdade uma embaixada flutuante", completa.

Mas até que se chegasse do outro lado do mundo, aquela viagem imperial de 430 (penosos) dias a bordo seria um verdadeiro inferno em alto-mar.

Perrengues
A viagem de mais de 35 milhas náuticas, o equivalente a quase 65 mil quilômetros, já começou mal.

Criticada pelos altos custos, a expedição deixou o Rio de Janeiro com uma tripulação que contava com uma única muda de roupa ("uma calça e uma camisa de abrigo", cada um) para enfrentar as baixas temperaturas em alto-mar e o inverno da Europa.

Sem falar nos que dormiam no convés e na superpopulação a bordo, por conta do excesso de criados para cada um dos oficiais embarcados. A falta de vitamina B1 e comidas frescas causaria ainda doenças na tripulação, como o beribéri, e a enfermaria era um cubículo sem ventilação ao lado dos fogões da cozinha.

Como lembra o capitão Dambroz, a longa jornada teve também dificuldades como a aquisição de alimentos nos portos visitados e adaptação às mudanças bruscas de temperatura, além de baixas na tripulação por conta dos doentes mais graves que eram deixados em hospitais ao longo da viagem.

Porém, segundo relatos encontrados pelos autores do livro, a higiene do navio era a pior possível e violava todas as leis de saúde.

"Foi um perrengue sanitário", descreve Marli, que acredita que um dos piores momentos foi a longa travessia de 42 dias entre o Japão e São Francisco, na Califórnia, marcada por mortes, clima invocado e uma umidade constante que chegou a descolar a madeira dos móveis a bordo.

"As condições a bordo no século 19 ainda eram bastantes difíceis quando se fala de viagens de longo curso", explica o capitão-tenente Alessandro Dambroz.

Segundo um dos relatos no livro, longe da terra firme, a última morada daquela gente era o oceano.

Dos quase 200 embarcados, 148 completaram a viagem. A baixa de cerca de 30 marinheiros, entre mortos e desertores, seria nada se comparada à primeira circum-navegação do gênero, encabeçada por Fernão de Magalhães, quase quatro séculos antes.

Dos 237 homens, apenas 18 voltaram com vida. Nem o próprio Magalhães escaparia da morte durante a viagem.

História para todos
Sem as formalidades da historiografia, os autores Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco entregam um relato dividido em breves capítulos temáticos que não seguem uma ordem cronológica dos acontecimentos.

"Depois da apuração dos fatos, essa foi a nossa maior preocupação, deixar a leitura atraente para um público não especializado", conta Marli.

A ideia do livro surgiu, há mais de seis anos, durante pesquisas que a dupla fazia em uma biblioteca de São Francisco, na Califórnia, quando Jeff se deparou com uma notícia publicada em um jornal local que relatava a passagem "de um navio brasileiro muito importante".

O quebra-cabeças de jornais, relatos da viagem e correspondências oficiais deu origem a esse que é considerado o primeiro livro a abordar em detalhes a primeira circum-navegação da Marinha brasileira.

Entre as novidades que a publicação traz, estão o levantamento dos nomes de todos os que passaram pelo barco, até então desconhecidos, e a redescoberta do mapa da viagem que se encontrava em um sótão da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, encartada no livro em forma de poster.

"A própria Marinha brasileira dizia que não havia carta náutica dessa viagem, mas eu sabia que existia por conta dos registros em que o capitão Noronha indicava a existência de um mapa", conta Jeff Franco, que levou três anos para ter acesso ao documento.

Para Marli, um dos documentos mais importantes sobre os quais se debruçaram durante a pesquisa são os "livros de quartos", uma coleção de 36 diários que reúne milhares de páginas manuscritas por oficiais que se revezavam a cada quatro horas para relatar o que havia ocorrido durante seu turno.

De acordo com a DPHDM (Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha), outras sete circum-navegações seriam empreendidas pela Marinha brasileira, entre 1888 e 2008, "quando as condições orçamentárias e de planejamento permitiram".

A corveta Vital de Oliveira voltou à Baía de Guanabara no final de janeiro de 1881, com metade de seu objetivo atingido, e faria usa última grande viagem, no ano seguinte.

https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2021/04/13/ha-140-anos-1-volta-ao-mundo-brasileira-foi-marcada-por-perrengue.htm

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Argentina: de Mendoza a Buenos Aires em 12hs exatas

Não há nada mais aborrecido do que uma estrada argentina: não tem absolutamente nada para ver, a não ser estrada, uma longa linha que se estende durante centenas de quilômetros, sem nenhuma paisagem suíca, nenhum cenário canadense, nenhuma aldeia europeia, nenhuma favela brasileira, nada, absolutamente nada. Só campos, infinitos, algumas centenas de vacas aqui e ali, tratores ocasionalmente, caminhões, do tipo remorque, e o aborrecimento de um trajeto absolutamente aborrecedor.

Foram exatas 12hs de recorrido, da saída do Hotel Diplomatic em Mendoza, até o Holiday Inn Puerto Madero, na Av. Leandro Além, em Buenos Aires, com apenas uma parada um pouco mais demorada para comer "dos milanesas de ternera" em uma parrilla do meio do caminho, sem vinho dessa vez, já que eu estava ao volante. O vinho (Malbec Los Alamos) tomamos hoje, neste restaurante tradicional da Av. 25 de Mayo, depois de termos visitado o Museu do Cabildo, e antes de passar num sebo recomendado pelo nosso filho Pedro Paulo Palazzo.


Cortazar era um frequentador da Pasticeria London City, onde escreveu "Los Premios".

Até agora tudo correu bem, inclusive ao descobrir que uma inocente banca de revistas é banca só de fachada: atrás, dentro, da banca, escondida, existe um verdadeiro banco clandestino, para fazer câmbio. Troquei só mais 100 dólares, para completar o dinheiro do bolso, pois as grandes compras liquidamos em cartão de crédito.
Buenos Aires está um pouco mais engarrafado do que costume, pois demoramos mais de 40 mns para voltar ao hotel, quando o trajeto de ida tinha sido inacreditavelmente rápido.
O sebo era uma inacreditável bagunça, com tudo meio misturado, mas Carmen Lícia logo achou três de seu interesse: eu me contentei com uma história das relações entre a Argentina e os Estados Unidos, feita por um historiador americano dos anos 1940-60 (traduzido para o espanhol, em dois volumes, cobrindo todo o período 1810-1960) e um Thomas Sowell sobre a economia política clássica, em espanhol igualmente, perdido no meio da literatura a preços de liquidação.
Ainda temos muita coisa para ver, e não rever o que já visitamos anteriormente, que é um pouco aquelas coisas tradicionais.
Vamos nos encantando, e desencantando, com a Argentina e os argentinos: todos muito simpáticos, falando tanto quanto os italianos (eppur...), e fazendo do país algo inacreditável, como esse gigantesco prédio (Centro Cultural Nestor Kirchner) em homenagem ao homem que, supostamente herdeiro do peronismo, empenhou-se duramente em afundar o país um pouco mais, seguido da sua cara metade (hoje duplamente indiciada por crimes até menores do que a sua colega Madame Pasadena, do Brasil, embora tenha roubado muito mais do que ela).

Ironicamente, o prédio exibe uma frase, ilísivel à luz do dia, de Jorge Luís Borges, o escritor que tinha verdadeiro desprezo por tudo o que fosse peronismo.
A visita ao Museu do Cabildo (o nome oficial é muito maior, e a sugestão foi da Carmen Lícia) foi uma agradável surpresa; a despeito de estar em reforma (e a entrada ser gratuíta), a parte histórico descritiva é muito bem feita, contando todo o período de colonização, a rivalidade com Portugal, em torno do controle das margens do Prata, e a complementaridade com o porto de Montevideo (e Colônia), e o papel da revolução de 1810 no processo de independência das Províncias (des)Unidas, no contexto do antigo virreinato de la Plata. Excelente mesmo a visita ao Cabildo, que recomendamos vivamente. Da sacada da frente, de onde discursaram alguns personagens históricos da Argentina (inclusive aquele destruídor que foi Perón) se tem uma vista da horrível Casa Rosada, que não é bem rosada, e sim pintada de algo parecido a um carmin horroroso.
Gostamos muito do Cabildo e não demos nenhuma pelota para a Casa Rosada.

Bem, ainda temos coisas a ver...
Paulo Roberto de Almeida
Buenos Aires, 25 de janeiro de 2017, 16h30

Addendum importante:  Carmen Lícia me esclarece agora que o imponente Centro Cultural batizado com o nome do falecido presidente peronista (de araque), Nestor Kirchner, não foi, na verdade, construído por ele, para ele, ainda que possa ter sido iniciativa sua a reconstrução (com algum pagamento por fora, nunca sabemos): se tratava, na verdade, de um velho prédio dos Correios, abandonado e depredado, que foi recuperado durante a gestão, e re-inaugurado posteriormente, daí a homenagem a quem tomou a iniciativa. Dentro funcionam várias salas para artes, espetáculos, iniciativas culturais de diversos tipos. Feita a retificação, portanto, com mil desculpas pelos maus pensamentos (que se aplicam inteiramente para outras coisas).

sábado, 21 de janeiro de 2017

Argentina: muito bela, mas de servicios precarios nas estradas - de Cordoba a Mendoza

Hoje, Carmen Lícia e eu, fizemos a nossa terceira grande etapa de viagem, quinto dia percorrendo a Argentina.
Pelas serras cordobesas (havia um caminho alternativo por Rio Cuarto, mas o GPS indicou esse, o que foi até interessante para conhecer), entre Córdoba e Mendoza, quer dizer, pelas serras até Vila Dolores, pelo menos, daí a estrada é reta e aborrecida.
Fizemos bem mais do que mostra este Google Map, 750 kms de um hotel a outro.
Tendo partido as 10hs do DoctaSuites de Córdoba, chegamos a Mendoza às 18:20, ou seja, mais de 8 horas de viagem quase sem paradas.

O mais surpreendente é a total precariedade dos serviços ao longo das estradas argentinas, nas quais é comum encontrarmos famílias modestas paradas ao borde da estrada, retirando cadeiras dobráveis, para fazer o seu almoço, mesmo sob sol...
Claro, ambições mais modestas podem sempre parar nos comedores e parrillas que pipocam aqui e ali durante todo o percurso, mas a qualidade do ambiente (e dos toilettes) deixa muito a desejar.
Mesmo nas estradas nacionais (Ruta Nacional 7, por exemplo, que vai de Buenos Aires a Mendoza, e que percorremos a partir de San Luís), ninguém espere achar aqueles imensos restaurantes climatizados estilo Graal ou Frango Assado. Nada disso: a Argentina não tem muito conforto a oferecer a seus viajantes, turistas, curiosos ou simples passantes acima da categoria de caminhoneiros.
Logo na saída de Córdoba, como era sábado de férias, pegamos uma fila enorme de carros, vários ônibus, poucos caminhões, mas muitos daqueles carrinhos estilo Trabant socialistas, atravancados de famílias prolíficas, carregando seus pertences no teto, e obviamente desenvolvendo uma velocidade compatível com a potência do motor (ou com a renda familiar). Assim, durante várias dezenas de kms, fizemos filas atrás desses bravos representantes da classe média argentina (provavelmente peronistas de carteirinha), tentando manter algo em torno dos 60 kms/h. Paisagens muito bonitas no alto da serra cordobesa, mas paradas precárias como já informado.
A solução foi se contentar com um sanduíche de jamon con queso (eu) e alfajores (Carmen Lícia), e depois galletitas sem grandes atrativos gourmands. E muita água ou refrigerante, pois a temperatura, mesmo no alto da montanha, podia ultrapassar 30 graus (40 nas zonas baixas).
Finalmente, chegamos no Hotel Diplomatic (de luxo) em Mendoza, nosso primeiro exagero nesta viagem. Breve descanso, copa de vino de cortesia no hotel, e depois jantar na Estância La Florência, eu gambas al ajillo, com salada de palmito, abacate e cogumelos, Carmen Lícia sua preferida bisteca milanesa, tudo regado a um bom Malbec Tomero 2015, do Valle del Uca, região vinícola próxima a Mendoza, uma casa que remonta a 1884.
O hotel é superconfortável, com visão das cordilheiras a partir do 19. andar, onde estamos.
Dois dias de visitas a vinícolas, aos atrativos culturais e gastronômicos da cidade, antes de encetarmos a aborrecidíssima viagem de volta (a San Luís), ou de ida a Buenos Aires, uma reta sem cessar, com as paradas precárias que já antecipamos, com a única vantagem que o sol da tarde vai estar atrás de nós.
O que tem pelo caminho, entre Mendoza e Buenos Aires? Nada, absolutamente nada, com exceção de San Luis e de umas aldeias sem graça perdidas no meio da pampa. Nada de mais aborrecido do que isso, mas não temos tempo para descer a Rio Negro, Bariloche e atravessar para a costa atlântica por baixo (o que aliás já fizemos, no sentido inverso, entre Trelew e Neuquén, paisagens de filmes de cowboy).
Estou com muito trabalho no meu pipeline (trouxe uma mala inteira de livros) e por isso não tenho muito tempo para digressões filosóficas sobre a Argentina contemporânea (e precisa?; depois de Borges, nada surgiu de novidade, ou estou errado?).
Vamos ao trabalho...
Paulo Roberto de Almeida
Mendoza, 21/01/2017

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Argentina, segunda etapa: se voce acha o Brasil atrasado, deve ser porque ainda nao visitou a Argentina...

O Brasil, certamente, se atrasou muito durante todo o reino dos companheiros: além da Grande Destruição provocada pela inépcia, incúria, incompetência, teimosia, estupidez, ignorância e burrice do lulopetismo econômico (desculpem a abundância de epítetetos, mas eles merecem), tivemos aquilo que os economistas chamam de custo-oportunidade, ou seja, o que se deixou de fazer de bom, porque se apostou sempre em coisas erradas.
Ok, o Brasil se atrasou sob o regime inepto e corrupto dos companheiros, mas a Argentina simplesmente parou no tempo, não avançou minimamente, ou até recuou, e isso graças a peronistas, antiperonistas, liberais, protecionistas, democratas, autoritários, militares e civis, todos concorreram para a Argentina estacionar na máquina do tempo, ou até recuar em relação ao que ela tinha conseguido antes da segunda presidência Yrigoyen, quando era um dos países mais ricos do mundo.
Leiam, por exemplo, o que disse da Argentina cem anos atrás Rui Barbosa, que compareceu às comemorações do primeiro centenário da independência, em julho de 1916 -- eles acabam, suponho, de comemorar o bicentenário -- e que, como embaixador extraordinários e plenipotenciário às festividades, traçou um verdadeiro panegírico ditirâmbico (desculpem a redundância, mais uma vez) em honra aos progressos, à ordem, à civilização argentina, para ele, irretrocedível, se ouso inventar. Seu discurso, por ocasião da concessão de um doutorado Honoris Causa (um verdadeiro, não esses falsos como o chefão mafioso andou acumulando por aí) pela Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, em 14 de julho de 1916, encontra-se no opúsculo intitulado "Conceitos Modernos de Direito Internacional" (editado pela Fundação Casa Rui Barbosa, em 1983).
Os peronistas foram os lulopetistas avant la lettre, os corruptos com doutrina, os fascistas com convicção, enfim, tudo o que faltou aos nossos neobolcheviques tupiniquins, sem qualquer formação teórica, sem qualquer princípio, apenas roubo rústico, malversação das mais elementares, falcatruas elementares, corrupção aberta e deslavada, sem vergonha.
Viajando nesta terça-feira entre Uruguaiana e Santa-Fé, com uma parada em Paraná, constatamos, Carmen Lícia Palazzo e eu, como os argentinos e a Argentina pararam no tempo, como eles deixaram de avançar, como as coisas se estiolaram na mesmice, na pasmaceira, na modorra dos costumes imutáveis.

Atravessamos duas das regiões que deveriam ser  as mais ricas da Argentina: Misiones e Entre Rios, graneros do país, com imensos campos propícios ao reflorestamento, ao plantio de grãos, à manutenção de ganados imensos, e no entanto o que constatamos nas paradas foi o subdesenvolvimento em estado clássico, nada comparável ao "MidWest" brasileiro, ou seja, a região equivalente que seria o interior de São Paulo.
O Brasil, mesmo com a ignorância abissal dos companheiros, com todas as suas falcatruas em nível federal, estadual e municipal, não deixou de avançar naquilo que dependia não do governo, mas da própria sociedade: o agronegócio, por exemplo, avançou, e muitíssimo, graças ao tino empresarial e capitalista dos administradores de grandes fazendas comerciais, mais até do que os donos presumidos das terras, e outros setores, como na ampla gama de serviços, também puderam acompanhar alguns dos progressos feitos pelo mundo, mesmo com toda a sabotagem da Receita Federal, esse órgão fascista por excelência, que só vê o lado da arrecadação, não os seus efeitos deletérios sobre o emprego e a atividade econômica.
Na Argentina, desde que pusemos os pés (ou as rodas do carro) nas Aduanas de Paso de Los Libres, pudemos comprovar o peso da burocracia entravada, e que entrava os negócios e a produtividade dos negócios. Até para comprar alguns livros, em Santa Fé, pude sentir o peso da burocracia no registro dos preços, pois além de 1.000 pesos, é preciso tomar os dados do comprador, o que prolonga uma fila inútil no caixa da Livraria.
Como é possível prosperar quando todo o peso do Estado está em cima de cada empresário, de cada pequeno negociante, de cada cidadão?
Portanto, se você acha que o Brasil se atrasou -- e, de fato, ele perdeu muito sob os trezes anos de besteirol e de corrupção lulopetista -- você precisa fazer um tour pela Argentina, não pegar o avião e ir até Buenos Aires, mas passear pelo interior, para constatar a Argentina real, aquela que foi inviabilizada pelo peronismo, bagunçada sob os diversos regimes militares, e terminada de ser destruída sob o regime celerado dos Kirchners.
Memórias do subdesenvolvimento, como poderia dizer algum cineasta...
Paulo Roberto de Almeida
Santa Fé, 17 de janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017

Argentina: uma viagem de re-observacao - Paulo Roberto de Almeida e Carmen Lícia Palazzo

Já fiz o anúncio da viagem, e do roteiro, nesta postagem:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/01/em-viagem-de-carro-para-argentina-e.html
Quando digo que é de re-observação é porque já tentamos fazer a mesma viagem sete anos atrás e tivemos de voltar para trás, por falta de gasolina: eram os tempos daquele casal adepto do populismo econômico, os K, que tinham congelado várias tarifas, inclusive eletricidade e, no nosso caso, gasolina.
As consequências de quaisquer intervenções de governantes malucos na economia são sempre as mesmas: distorcem os preços relativos e causam penúrias imediatas nos mercados respectivos. Ou seja, não apenas faltou energia elétrica -- e quando estávamos em Buenos Aires ocorreram vários apagões, que afetaram inclusive hospitais, e aquela viúva maluca foi à televisão pedir pelo amor de Deus aos argentinos não usarem o ar condicionado, num verão de 40 graus -- como sobretudo faltou gasolina, o que nos impossibilitou de seguir adiante.
Desta vez parece que agora vai.
O trajeto até aqui foi tranquilo, a despeito do calor.
Primeira etapa, apenas uma curta esticada de 400 kms de Brasília a Uberlândia, como expliquei na postagem acima.
Segunda etapa, essa que vai acima, atravessando o território paulista, do sul de Minas ao Norte do Paraná. Interiorzão de São Paulo com tarifas de pedágios razoáveis, na faixa de R$ 4,80 na maior parte dos casos. Lamento que não exista um transponder utilizável em vários estados, como nos EUA, com o usuário pagando no seu cartão apenas as passagens efetivamente cruzadas, pois os automáticos em serviço requerem uma assinatura fixa, que não compensa passagens aleatórias como as nossas.
Terceira etapa, já em território paranaense, começou com surpresas: pedágios na altura de R$ 18 ou R$ 21, extorsivos, na suposição de que seja para trajetos mais longos, mas isso deve certamente prejudicar os usuários de curta distância.
Trajeto todo feito em território paranaense, desde Cornélio Procópio (que preciso verificar quem foi, na Wikipedia), como ilustrado no mapa do Google:
Agora em Foz do Iguaçu, aproveitamos para descansar um pouco, visitar uma mesquita nas proximidades do hotel, e preparar a entrada no território de los hermanos, nesta segunda-feira. Ficamos pela segunda vez no Hotel Bela Itália, uma boa opção indo para o centro, antes de tomar o caminho da Argentina, na ponte Tancredo Neves. Falta só comprar repelente, para evitar os mosquitos argentinos, que devem ser mais agressivos do que os brasileiros, sobretudo se forem peronistas...
De Foz a Corrientes são, pela contagem do Google Maps, 625 kms, o que supostamente daria para fazer em sete ou oito horas de viagem, dependendo de quanto tempo se leva no controle alfandegário.
Adelante...




sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Quer ganhar uma viagem paga para a Europa? Escreva um belo trabalho... - concurso da UE

Divulgando:

A União Europeia, Delegação no Brasil, lançou  o 6º  Concurso de Monografias da União Europeia, aberto a todos universitários brasileiros ou estrangeiros matriculados em Universidades brasileiras.
Assim como nas cinco outras edições, o tema é livre sobre a União Europeia, e os(as )  autores(as) das duas monografias vencedoras,  nas categorias de graduação e pós-graduação,  receberão como prêmio uma viagem de estudo de uma semana à Europa.
O edital e ficha de inscrição encontram-se disponíveis abaixo e neste link: http://eeas.europa.eu/delegations/brazil/press_corner/all_news/news/2015/20151105_1_pt.htm

 aqui.

6º Concurso de Monografias da União Europeia (05/11/2015)

A Delegação da União Europeia no Brasil lança a  6ª edição do  Concurso de Monografias , com tema livre sobre a União Europeia.
Edital
A Delegação da União Europeia no Brasil, pessoa jurídica de direito público internacional, com endereço na SHIS QI 07 – Bloco A – Lago Sul, Brasília-DF, representada por seu Chefe de Delegação, Embaixador João Gomes Cravinho, torna público aos interessados o Edital contendo o regulamento do Concurso de Monografias sobre a União Europeia, mediante as seguintes cláusulas e condições:
Capítulo I – Do objeto
Constitui objeto deste Concurso a seleção de seis monografias dispondo sobre a União Europeia – tema livre, três monografias na categoria de graduação e três na categoria de pós-graduação. O prêmio para a monografia vencedora em cada uma das categorias compreende uma viagem a Bruxelas, para visita às instituições da União Europeia. As outras quatro monografias receberão uma menção honrosa. Os (as) autores(as) dos seis trabalhos escolhidos serão convidados(as) especiais virem à Brasilia para evento, em maio de 2016, em Brasília, onde terão deslocamento e estadia pagos.
Capítulo II – Dos requisitos para a inscrição
Estão aptos a participar do Concurso de Monografias sobre a União Europeia estudantes universitários brasileiros e estrangeiros matriculados em Universidades/Faculdades rasileiras, ou Instituições Brasileiras de Ensino Superior, que apresentarem trabalhos acadêmicos sobre a União Europeia, nas suas diversas áreas.
Capítulo III – Da Comissão Julgadora
A Comissão Julgadora será composta por equipe selecionada pela Delegação da União Europeia no Brasil.
Capítulo IV – Do conteúdo e apresentação dos trabalhos
O trabalho a ser apresentado deverá ser uma monografia que atenda às normas gerais para o desenvolvimento do trabalho científico.
Serão considerados:
  • Trabalhos de cunho teórico e/ou prático que levem ao desenvolvimento do pensar crítico;
  • Trabalhos que apresentem aspectos inovadores no tratamento das questões ligadas ao tema (ver sugestões de tema logo a seguir);
  • Trabalhos que analisem os processos políticos, sociais, econômicos, culturais, ambientais ou tecnológicos, ligados ao tema (ver sugestões de tema a seguir);
  • Sugestões de tema:1) A Parceria Estratégica União Europeia - Brasil: prioridades em comum; 2) Meio-Ambiente e desenvolvimento sustentável; 3) A luta pelos direitos humanos; 4) Apoio ao multilateralismo, paz e segurança internacional; 5) Políticas sociais; 6) A reforma institucional da União Europeia; 7) O alargamento da União Europeia; 8) O Euro e a cooperação econômica na União Europeia; 9) A política da UE na America Latina; 10) A cooperação e ajuda ao desenvolvimento da UE no exterior; entre outros temas relacionados à União Europeia de sua própria escolha.
Os trabalhos deverão ser apresentados da seguinte forma:
  • Preenchimento da ficha de inscrição disponível na página: http://eeas.europa.eu/delegations/brazil/index_pt.htm
  • Apresentação de resumo de, no máximo 500 palavras, com três palavras-chave;
  • Estrutura contendo: Resumo, Índice, Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e Bibliografia;
  • Máximo de 20 e mínimo de 10 laudas em espaço 1,5 com fonte, tamanho 12 em papel A4, com margens superior e inferior de 2,5cm e margens laterais de 3 cm;
  • Não serão aceitas ilustrações e/ou fotografias no corpo da monografia;
  • Escritos na língua portuguesa ou inglesa.
Capítulo V – Dos critérios de avaliação
Serão considerados os seguintes requisitos para o julgamento dos trabalhos inscritos:
I. Qualidade técnica. Apresentação e desenvolvimento do trabalho, com coerência textual e lógica. O resumo e os capítulos devem ser bem estruturados com início, meio e fim. A apresentação das conclusões deve ser pertinente ao tema desenvolvido durante a monografia;
II. Adequação às normas. A formatação do trabalho deverá seguir as normas da ABNT-NBR 14724/2011 (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para a elaboração de trabalhos científicos;
III. Inovação. Presença de raciocínio ou desenvolvimento de idéias inovadoras.
Relacionamento entre idéias já fundamentadas, com apresentação de novos conceitos ou conclusões diferenciadas. A avaliação da Comissão Julgadora será irrecorrível. A Comissão Julgadora reservase o direito de não conceder prêmio se a qualidade dos trabalhos não corresponder aos requisitos mínimos dos critérios de avaliação.
A monografia deverá ser – obrigatoriamente – inédita. Entende-se por inédito o trabalho não editado e não publicado (parcialmente ou em sua totalidade) em antologias, coletâneas, suplementos literários, jornais, revistas ou por qualquer outro
meio de comunicação.
Capitulo VI - Da inscrição
A inscrição para o Concurso de Monografias consiste na entrega da monografia, de acordo com o estipulado pelo Capítulo IV, até o dia 31 de MARÇO de 2016, pelo email: delegation-brazil-doc@eeas.europa.eu
No sujeito do e-mail deverá constar "6º Concurso de Monografias da União Europeia".
Associado ao e-mail de inscrição deverá ser anexado documento em PDF contendo a monografia em conformidade ao modelo descrito no Capítulo IV deste Regulamento.
Deve também ser associada a ficha de inscrição. Cada participante poderá concorrer somente com um trabalho individual. Não serão aceitas inscrições de trabalhos de membros da Comissão Julgadora, de diplomatas e demais funcionários vinculados à União Europeia.
Capitulo VII – Da análise e seleção dos trabalhos
A análise e o julgamento das propostas obedecerão aos seguintes procedimentos:
I. Análise preliminar das propostas pela Delegação da União Europeia no Brasil para definição de elegibilidade observando os seguintes requisitos:
  • Entrega da monografia até o prazo estipulado;
  • Cumprimento dos critérios estabelecidos no Capítulo IV relativos à forma;
  • Pertinência do trabalho apresentado com um tema sobre a União Europeia, conforme o Capítulo IV;
II. Análise pela Comissão Julgadora estabelecida pela União Europeia, que pontuarão, segundo os critérios estabelecidos no Capítulo V, as seis melhores monografias, três em cada uma das categorias.
Os (as) autores (as) das monografias selecionadas serão requisitados (as) a apresentar prova de inscrição em universidade ou entidade equivalente.
III. Os seis trabalhos selecionados serão analisados pela Comissão Julgadora que definirá, em plenária, os dois trabalhos premiados (um em cada categoria) e os quatro trabalhos que receberão menção honrosa (dois em cada categoria).
Capítulo VIII – Do prêmio e da divulgação dos trabalhos
As 6 monografias classificadas, sendo 3 na categoria "Graduação" e 3 na categoria "Pós-graduação", serão divulgadas no dia 25/04/2016 no sítio eletrônico da Delegação da União Europeia no Brasil: http://eeas.europa.eu/delegations/brazil/index_pt.htm e na página do Facebook da Delegação: http://www.facebook.com/delegacaouebrasil
Os (as) 6 autores (as), serão convidados (as) especiais de evento a ser realizado durante as comemorações do mês da Europa, em maio de 2016, a virem à Brasília, com deslocamento e estadia pagos.
Os (as) dois (duas) autores (as) das monografias vencedoras serão anunciados durante o evento e receberão, como premiação:
  • Uma viagem de 7 dias à Europa, com estadia em Bruxelas,
  • Visita às instituições europeias em Bruxelas
Os (as) estudantes que vierem a Brasília deverão escrever um pequeno artigo sobre sua visita, que será publicado posteriormente no sítio eletrônico da Delegação: http://eeas.europa.eu/delegations/brazil/index_pt.htm e na página do Facebook
http://www.facebook.com/delegacaouebrasil
Os (as) estudantes das monografias ganhadoras, nas duas categorias, deverão igualmente escrever um pequeno artigo sobre a visita às instituições europeias, que serão publicados nos sítios eletrônicos anteriormente referidos.
Os (as) estudantes ganhadores nas duas categorias, bem como os (as) estudantes laureados com menção honrosa, serão também convidados a apresentar e divulgar suas monografias na própria instituição de ensino, ações para as quais poderão contar com eventual apoio da Delegação da União Europeia no Brasil.
Os trabalhos premiados e as menções honrosas serão divulgados no sítio eletrônico da Delegação e no Facebook.
Com a inscrição no Concurso, os (as) eventuais autores (as) das monografias vencedoras concordam em ceder à Delegação da União Europeia no Brasil os respectivos direitos autorais, por um período de dois anos, contado a partir da data da outorga do prêmio.
A dotação orçamentária financeira para a cobertura das despesas decorrentes da outorga do prêmio de que trata este Edital – incluindo as viagens para Brasília e para a Europa – correrá por conta dos recursos da Delegação da União Europeia no Brasil.
Capítulo IX – DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
As datas definidas neste Regulamento podem ser alteradas e, neste caso, serão informadas em tempo hábil.
O presente Regulamento ficará à disposição dos interessados no sítio eletrônico da Delegação da União Europeia no Brasil: http://eeas.europa.eu/delegations/brazil/index_en.htm
As questões não previstas neste Regulamento serão resolvidas pela Comissão Julgadora.
As solicitações de esclarecimentos adicionais deverão ser formalizadas até 21 dias antes do prazo final para a entrega da monografia, e serão respondidas em até 11 dias antes do prazo final para a entrega da monografia pelo e-mail: delegation-brazildoc@eeas.europa.eu , com indicação no sujeito do e-mail de: "6º Concurso de Monografias da União Europeia".
Este regulamento entra em vigor na data de sua divulgação.
João Gomes Cravinho
Embaixador da União Europeia no Brasil

sábado, 29 de outubro de 2011

Pausa para... la dolce vita (pronto, pronto...): viajando pela Italia


A Gothic Tour of Italy

Ruth Fremson/The New York Times
Church of Santa Maria delle Anime dell Purgatorio in Naples. More Photos »
VISITORS to Italy tend to seek its sunny, Dionysian side — vino, pasta, opera, cinquecento art, George Clooney on a Vespa. But, like a chilly draft on a hot day, Italy’s gothic angle offers intimations of darkness that make a moment on the piazza even more delicious. Consciously or not, anyone sipping prosecco at sunset in Rome or Naples savors an extra spoon of dolce in their vita thanks to the contrast between the beauty of the present and the proximity of catacombs, ruins and sites of ancient suffering. 
Multimedia
The New York Times
The original gothic writers were much inspired by the duality in the bel paese. Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne, Horace Walpole, Ann Radcliffe and other masters of the romantic and horror genres set some of their most famous works in Italy.
“Italy was the Gothic writers’ favorite background,” wrote Massimiliano Demata, a professor at the University of Bari, who has made a study of the form. The country’s baroque portas, ruined castles, eerie reliquaries and catacombs were a gateway to the uncanny, possessing, as he put it, “a labyrinthine and claustrophobic architecture that was the novels’ perfect physical and psychological setting.” Today, these same books can serve as unconventional guidebooks for tourists who tire of the sun and want to explore the country’s macabre past. 
For the gothic writers, different locations in Italy piqued different aspects of the imagination. Venice seemed to hold special appeal for those wishing to mine pre-Freudian psychological terror (“The Assignation,” by Poe, takes place near the Bridge of Sighs). Padua, an ancient university town 20 miles from Venice,  served as the setting for one of Hawthorne’s creepiest short works, “Rappaccini’s Daughter,” about a mad scientist who experiments with plant poisons and turns his beautiful daughter’s lips into a literal kiss of death for her young student lover.
I decided to start my tour in Otranto, a white, cobbled seaside town on the Adriatic edge of Italy’s boot heel, and the setting for what’s regarded as the first gothic novel, “The Castle of Otranto” by Horace Walpole. I had visited the town briefly one summer afternoon with children in tow. Returning in late fall, I found the formerly bustling streets chilly and silent — not as inviting, perhaps, but more in keeping with the intimations of its macabre history that I had been reading about in guidebooks.
I checked into the luxurious nine-room Palazzo Papaleo, and was led upstairs to a spacious suite with a balcony that overlooked the cathedral across a small piazza. The gonging of its bells was so close that, standing on the balcony, I could feel their vibrations. During the two nights I slept there I was apparently the sole guest and had the run of the place. I took my prosecco and my laptop to a common room with vaulted ceiling and big dormer windows with heavy dark velvet drapes. Once in a while I spied an elderly man with an eye patch drifting around the hallways, passing me without a word. He was the only other person sleeping in the building, and turned out to be the owner, the last scion of the noble family that had lived in the palazzo for centuries. 
Otranto, I had learned, is literally haunted by an old act of evil: a 15th-century massacre — one in the long and bloody skirmish between Islam and Christianity — that Otrantans commemorate annually to this day. “Local history is filled with blood and darkness,” an Otranto guide and historian, Francesco Calignano,  told me, as he led me into the Cathedral of Otranto. The cathedral is known for its complex mosaic floor, which depicts scenes from just about every human myth and legend known to the world circa A.D. 1100, including kabbalah’s tree of life, Confucianism and Puss in Boots. 
We entered on a raw, late-autumn morning and we were the only people inside. After admiring the beautiful floor, I was led to a truly gothic spectacle:  lining shelves on a wall off to the side were 800 human skulls — victims of invading Turks. Mr. Calignano grimaced as he related how bits of the victims’ preserved flesh are still stored in a locked drawer. Once a year in August they are removed and paraded through town streets. 
“The Castle of Otranto” was a publishing phenomenon in 1764. Walpole’s short tale describes the supernatural punishment of a usurping Italian feudal prince in a haunted castle packed with what we now consider standard fright stock — secret doors, gloomy tunnels, haunted suits of armor, portraits of ancestors jumping out of their frames. At the time, though, these images were so fresh and shocking that Walpole’s little book became an instant best seller in England.
Modern-day Otranto is a place of seductive pleasures, where a warm afternoon can be passed bathing in azure seas and gorging on nouvelle Italian seafood accompanied by the crisp local Greco di Tufo wine. Sienna Miller has been known to sun herself on the same local beaches where Turkish invaders once stormed the sands waving scimitars on their way to the Castle of Otranto. I paid a few euros and toured the castle’s white corridors alone, seeking signs of Walpole’s ghosts, peering into small, empty, barred rooms, any one of which could have been a dungeon. On the outside, it is a photogenic and perfectly preserved white fortress. But its turrets, gunwales and wide, waterless moat attest to the  inhabitants’ defensive terror of the invader hundreds of years ago.
A SHORT flight or a five-hour train trip west across the heel of Italy to Naples allows ample time to dig into  the works of a lesser-known gothic master, Ann Radcliffe. She was a reclusive Englishwoman who like Walpole was celebrated in her day for novels, many of which were set in Italy, that pit seemingly supernatural forces of evil, often associated with Catholicism or small-time feudal tyrants, against guileless young women and their brave, thwarted lovers.
Radcliffe’s best-known novel, “The Italian,” takes place in 18th-century Naples. Almost every page contains a castle keep, a shadowy ruin and creepy, robed stalkers from the religious orders. The plot is simple enough: a young nobleman of Naples falls in love with a girl of whom his mother strongly disapproves. The mother hires an evil monk to do away with her, but the monk discovers that the girl is actually his own daughter — the product of an illicit affair.
The novel opens with an Englishman surveying the Naples church of Santa Maria del Pianto, which Radcliffe wrote housed “the very ancient convent of the order of the Black Penitents.”
Contemporary visitors can test Radcliffe’s gothic imagination against the lively reality of the teeming city. The church of Santa Maria del Pianto is still there, but it’s not on any tourist map. When I inquired about it, a woman at a news kiosk in central Naples pointed vaguely in a (wrong) direction, sending me through a giant 19th-century galleria with a roof of delicate glass and worn marble floors. Subsequently, my quest led me down crowded, narrow back streets with balconies festooned with laundry and finally to the doorstep of the Hosteria Toledo, where the proprietors laid out a late Sunday lunch of fried frutti di mare and a tomato and basil pasta. The owner’s brother-in-law, a tour guide, was reached by phone to assure me that the church in Radcliffe’s book was definitely “not one of the great churches of Naples.” It does still exist, but in what is now an organized-crime-infested suburb called Secondigliano. I crossed it off the to-do list, reluctantly.
 Radcliffe’s other Neapolitan sites are worth a visit, if only because searching for them allows one to wander the city’s streets, noting the many other gothic charms of Naples that Radcliffe missed.
The book’s lovers, Vivaldi and Ellena, first lay eyes on each other at the church of San Lorenzo Maggiore, which still stands in Naples’s historic center — a yellow and gray hulk with an archaeological site underneath it. Across a busy medieval lane is a far spookier, skull-festooned church, built in the 17th century by a cult called the Souls of Purgatory, which dedicated itself to adopting the bones of the dead to pray over and rescue the souls associated with them from eternal oblivion. Presiding over this in the Church of Santa Maria delle Anime dell Purgatorio is an actual crowned skull called “Lucia” and a sculptural masterpiece of a winged skull.
This macabre landmark fronts a fresh vegetable market that resembles a Food & Wine magazine cover, decorated with strings of garlic, peppers and sun-dried tomatoes. Behind it, a huge open-air bazaar dedicated to creating and selling the phallic lucky charms of Naples that look like little red horns, called pulcicorni. Next door is the always mobbed Pizzeria Sorbillo, which serves up Neapolitan pies of legend.
Most of the action in “The Italian” takes place at a ruined castle and monastery in the hills high above the city, where our hero and heroine get locked in dark rooms, are kidnapped and then sent to sadistic Inquisitional court. The Castel San’Elmo still towers over Naples, a hulking brute of a medieval structure, the sides of which form a natural-looking cliff pocked with arches and gun holes and riddled with dark passageways and dungeons within.
San’Elmo’s view of Naples, with its mint, ocher and rust roofs, church domes and sea, is spectacular. A few hundred yards downhill is the monastery of San Martino, a sumptuous, treasure-filled villa once inhabited by a small group of Carthusian monks who were expelled by Napoleon in 1804 and finally suppressed for good when Italy was unified in 1860.
The monastery’s secluded gardens, fragrant with orange trees, swaying cypress and grape arbors, could have been the setting for the hero’s run-ins with the scheming monk whose cowl, Radcliffe wrote, “threw a shade over the livid paleness of his face, increased its severe character, and gave an effect to his large, melancholy eye which approached horror.” Both castle and monastery are accessible by a funicular that runs down to the historic center, which has lively shopping and fantastic restaurants and bars alongside medieval creepiness.
Don’t miss the small Museo Capella Sansevero, with two anonymous skeletons whose entire circulatory systems are said to have been mysteriously mummified by a mad noble alchemist, and which resemble modernist wire sculptures of human figures. The Classical and X-rated magnificence of the Farnese collection of Roman marbles in the Naples National Archaeological Museum are also worth a visit. Some news kiosks will even helpfully provide a map of “Mysterious Naples” that includes spooky sites beyond even the English gothic imagination.
TRAVELING north from Naples toward Rome, the gothically inclined might want to pass the two-hour train ride reading a little novella by another obscure Victorian lady, Anne Crawford, author of the first vampire story in English. The pastoral vistas of the campagna have provided the setting for countless paintings and photographs commemorating Italy’s Classical beauty, but carved into the rock beneath the fields is an extensive warren of catacombs that once held the remains of millions of pagan and then Christian dead.
Crawford set “A Mystery of the Campagna,” published in 1887, in and above these tombs. Her female vampire, preceding Bram Stoker’s Dracula by 10 years, is named Vespertilia, a tall and slender seductress, clad in “something long and dark” out of which “a pair of white hands gleamed,” says the narrator, a Frenchman who has lost his friend to her charms. She sleeps in the catacombs by day, and by night leads besotted Northern European gentlemen from the innocent frolics of their Grand Tours down the stairs, where “the darkness seemed to rise up and swallow them.”
The catacombs are today a popular tourist site, fenced in and supervised by priests who lead groups of tourists down the yellow stone steps into the gloom, and, in a half-dozen languages, talk about the burial ground for the earliest Christians. 
Our tour guide, an Australian priest in a black shirt and white collar, declined to discuss what went on in the catacombs during the thousand years or so between their official end as a Christian burial ground and their reopening in the 19th century. He had even less interest in speculation about vampires. 
“This is a sacred place,” he kept reminding his small group, which included a trio of asthmatic Australians who couldn’t stop coughing in the musty, damp air. We trailed him through stony, narrow corridors single file, passing empty rectangular shelves that once held skeletons. I tried to stay in the middle, as there seemed enough shadow in the vaults to hide a wraith or two waiting to clutch a laggard in its cold embrace.
After the hourlong tour in the shelves of the dead, visitors rejoin the living to  quaff espresso and snack on cornetti or pizza at any one of a number of friendly cafes along the highway across from the site’s moss-covered brick walls. An extremely life-affirming and wallet-friendly shopping experience can be had at the huge, colorful flea market on Via Sannio at the Porta San Giovanni on the way back into Rome. At a table in the far corner, vendors sell heaps of fine cashmere sweaters and designer-label wool jackets starting at 30 euros. 
Rome is rife with gothic locations, and for my trip I took along “The Marble Faun,” by Nathaniel Hawthorne. Hawthorne was reaching the end of his career as a master of the psychological and supernatural horrors of Puritan New England, and this novelistic travelogue is not his best. A two-volume compendium of some of the eerie sites, it is a meandering tale of three American artists working in Rome who meet and befriend a real-life satyr, who seems to have been the flesh-and-blood model for a marble statue in the Capitol. 
Visitors to the gloriously treasure-packed Capitoline Museums today will find many statues of the faun, associated with Dionysus, who represented the animal in man, simultaneously innocent, sexual and lawless. The faun’s more threatening relative, the satyr, is overtly Luciferian, with horns and cloven hooves. A large satyr of this type glares archly out from a cupboard in the Egyptian courtyard of the museum.
A bus ride or a leisurely stroll across Rome’s historic center leads the traveler to another principal site in “The Marble Faun” — the creepily gorgeous Capuchin Catacombs, where the Hawthorne characters confronted an evil monk. 
Decorated in Baroque style with the white bones of 4,000 dead monks, the Capuchin Crypt near the luxurious Via Veneto is today a popular stop on any Rome tour. As macabre as it seems, it’s also a sacred site. No cameras, no hats and no summery garb is allowed. “Tell the Americans, no spaghetti strap trash,” said Alba, the stern receptionist on duty the afternoon I was there, while berating a group of Germans who were ignoring the signs about turning off their cellphones. “Listen,” she exhorted them in English. “The cellphone lines are too strong for the human bones here. They are really delicate.”
The crypt is tiny and claustrophobic, and the bones’ sickly sweet smell fills a dimly lighted passageway winding past eight gated displays with arabesques of thousands of bones arranged by type — fingers, patellas, femurs, knuckles, skulls — in lacy flowers, garlands, clocks or urns, attached to walls and ceiling. In the final room, the message posted on the floor near the roses strewn by worshipers, in five languages, reminds happy tourists to drink deeply from the cup of Italy’s joys now, as the eternal shadow looms: “What you are now we used to be. What we are now you will be.”
Back upstairs and on the streets of Rome, the pleasures of Italy are immediate and accessible, but also complex. Without the darkness, the country might be as bland asSweden. Looking at Italy through the gothic lens deepens our appreciation of the pain, suffering and death that is, along with love, ease and light, also man’s lot. The hellward pull of Thanatos on Italy’s Eros, the artful dance between these archetypal opposites, is surely one of Italy’s great enchantments.
A Walk on the Dark Side
Otranto
LODGING
The luxurious, nine-room Palazzo Papaleo overlooks the cathedral. It’s a block from the beach, and a few doors away from some of the best restaurants. (Via Rondachi, 1; 39-083-802-108; hotelpalazzopapaleo.com; from 162 euros, about $218 at $1.35 to the euro.)
FOOD
There is ambrosial food at Peccato del Vino (39-0836-801-488; eccatodivino.com). For local favorites try La Pignata (Via Garibaldi, 7; 39-0836-01284).
GUIDES
Francesco Calignano (Francesco.calignano@yahoo.it)
Naples
LODGING
Chiaja Hotel de Charme, in a former bordello, is found through a walled courtyard and up an arched staircase. This small hotel offers the bare minimum — clean, small rooms with bathrooms — but is well situated, just off the main Via Toledo strip, walking distance to the medieval quarter, the Farnese Collection, shopping and food. (Via Chiaia, 216; 39-081-415-555; from 50 euros.)
FOOD
Hosteria Toledo run by the Preziosa family. On Sunday afternoons, anyone can walk in without reservations and grab a table alongside jolly family groups sharing a leisurely and delicious meal of fresh seafood and pasta. Try the dry local wine called Greco di Tufo. (Vico Giardinetto a Toledo, 9; 39-081-421-257; hosteriatoledo.it.)
Pizzeria Sorbillo, where the lines are long, is said to offer the “best pizza in Naples,” and is absolutely worth the wait. (Via dei Tribunali, 38; 39-081-033-1009; sorbillo.eu/.)
Augustus: the black-suited waiters can’t keep up with demand from patrons selecting colorful sweets from the glass case below the bar at this sweet shop. (Via Toledo, 47; 39-081-551-3540.)
SHOPPING
Via Toledo is home to excellent shops, and also to sidewalk offerings of excellent fake designer purses that are bundled up every time a police car goes past. A short bus ride to the Mercato di Pugliano on Via Pugliano in the Ercolano neighborhood takes you to what is reputedly Italy’s favorite vintage market. The shop called Old Star supposedly has a secret stash upstairs that customers in the know must ask to see.
GUIDES
For superior tours of Umbria and southern Italy, contact Anne Robichaud of Anne’s Italy (annesitaly.com).
Rome
LODGING
Locanda Carmel, in Trastevere, which I like as a base of operations, is a block from the tram that runs over the river to Piazza Argentina, from which there is easy walking or a bus to all the main Roman sites. (Via Goffredo Mameli, 11; 39-06-580-9921;hotelcarmel.it; from 50 euros.)
Hotel Aldrovandi, near the Villa Borghese, is high-end and has a beautiful pool — a requirement in summertime. (Via Ulisse Aldrovandi, 15; aldrovandi.com; 39-06-322-3993; from 287 euros.)
FOOD
Ai Spagheteria offers basic pasta and pizza in Trastevere, moderately priced. (Piazza di San Cosimato, 57-60; 39-06-580-0450; aispaghettari.it.)
Otello alla Concordia serves fantastic food, with outdoor and indoor seating tucked in an alley near the Spanish Steps. I have never had a bad meal here. (Via della Croce, 81; 39-06-679-1178; otello-alla-concordia.it.)
NINA BURLEIGH experienced the gothic side of Italy while researching her latest book, “The Fatal Gift of Beauty: The Trials of Amanda Knox” (Broadway).