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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Argentina: de Mendoza a Buenos Aires em 12hs exatas

Não há nada mais aborrecido do que uma estrada argentina: não tem absolutamente nada para ver, a não ser estrada, uma longa linha que se estende durante centenas de quilômetros, sem nenhuma paisagem suíca, nenhum cenário canadense, nenhuma aldeia europeia, nenhuma favela brasileira, nada, absolutamente nada. Só campos, infinitos, algumas centenas de vacas aqui e ali, tratores ocasionalmente, caminhões, do tipo remorque, e o aborrecimento de um trajeto absolutamente aborrecedor.

Foram exatas 12hs de recorrido, da saída do Hotel Diplomatic em Mendoza, até o Holiday Inn Puerto Madero, na Av. Leandro Além, em Buenos Aires, com apenas uma parada um pouco mais demorada para comer "dos milanesas de ternera" em uma parrilla do meio do caminho, sem vinho dessa vez, já que eu estava ao volante. O vinho (Malbec Los Alamos) tomamos hoje, neste restaurante tradicional da Av. 25 de Mayo, depois de termos visitado o Museu do Cabildo, e antes de passar num sebo recomendado pelo nosso filho Pedro Paulo Palazzo.


Cortazar era um frequentador da Pasticeria London City, onde escreveu "Los Premios".

Até agora tudo correu bem, inclusive ao descobrir que uma inocente banca de revistas é banca só de fachada: atrás, dentro, da banca, escondida, existe um verdadeiro banco clandestino, para fazer câmbio. Troquei só mais 100 dólares, para completar o dinheiro do bolso, pois as grandes compras liquidamos em cartão de crédito.
Buenos Aires está um pouco mais engarrafado do que costume, pois demoramos mais de 40 mns para voltar ao hotel, quando o trajeto de ida tinha sido inacreditavelmente rápido.
O sebo era uma inacreditável bagunça, com tudo meio misturado, mas Carmen Lícia logo achou três de seu interesse: eu me contentei com uma história das relações entre a Argentina e os Estados Unidos, feita por um historiador americano dos anos 1940-60 (traduzido para o espanhol, em dois volumes, cobrindo todo o período 1810-1960) e um Thomas Sowell sobre a economia política clássica, em espanhol igualmente, perdido no meio da literatura a preços de liquidação.
Ainda temos muita coisa para ver, e não rever o que já visitamos anteriormente, que é um pouco aquelas coisas tradicionais.
Vamos nos encantando, e desencantando, com a Argentina e os argentinos: todos muito simpáticos, falando tanto quanto os italianos (eppur...), e fazendo do país algo inacreditável, como esse gigantesco prédio (Centro Cultural Nestor Kirchner) em homenagem ao homem que, supostamente herdeiro do peronismo, empenhou-se duramente em afundar o país um pouco mais, seguido da sua cara metade (hoje duplamente indiciada por crimes até menores do que a sua colega Madame Pasadena, do Brasil, embora tenha roubado muito mais do que ela).

Ironicamente, o prédio exibe uma frase, ilísivel à luz do dia, de Jorge Luís Borges, o escritor que tinha verdadeiro desprezo por tudo o que fosse peronismo.
A visita ao Museu do Cabildo (o nome oficial é muito maior, e a sugestão foi da Carmen Lícia) foi uma agradável surpresa; a despeito de estar em reforma (e a entrada ser gratuíta), a parte histórico descritiva é muito bem feita, contando todo o período de colonização, a rivalidade com Portugal, em torno do controle das margens do Prata, e a complementaridade com o porto de Montevideo (e Colônia), e o papel da revolução de 1810 no processo de independência das Províncias (des)Unidas, no contexto do antigo virreinato de la Plata. Excelente mesmo a visita ao Cabildo, que recomendamos vivamente. Da sacada da frente, de onde discursaram alguns personagens históricos da Argentina (inclusive aquele destruídor que foi Perón) se tem uma vista da horrível Casa Rosada, que não é bem rosada, e sim pintada de algo parecido a um carmin horroroso.
Gostamos muito do Cabildo e não demos nenhuma pelota para a Casa Rosada.

Bem, ainda temos coisas a ver...
Paulo Roberto de Almeida
Buenos Aires, 25 de janeiro de 2017, 16h30

Addendum importante:  Carmen Lícia me esclarece agora que o imponente Centro Cultural batizado com o nome do falecido presidente peronista (de araque), Nestor Kirchner, não foi, na verdade, construído por ele, para ele, ainda que possa ter sido iniciativa sua a reconstrução (com algum pagamento por fora, nunca sabemos): se tratava, na verdade, de um velho prédio dos Correios, abandonado e depredado, que foi recuperado durante a gestão, e re-inaugurado posteriormente, daí a homenagem a quem tomou a iniciativa. Dentro funcionam várias salas para artes, espetáculos, iniciativas culturais de diversos tipos. Feita a retificação, portanto, com mil desculpas pelos maus pensamentos (que se aplicam inteiramente para outras coisas).

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