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domingo, 8 de janeiro de 2017
Desafios da politica externa brasileira na proxima decada: propostas de Oliver Stuenkel - comentarios PRAlmeida
Um dos autores, Oliver Stuenkel, possui livro e site próprios, sob o signo do Post Western World (sobre os quais também já efetuei apresentação com o próprio autor no IPRI em dezembro último (ver aqui).
Oliver apresentou numa de suas últimas postagens os dez desafios que ele acha que a diplomacia brasileira precisa enfrentar no futuro imediato e de médio prazo. Eles estão expressos aqui, e não vou debatê-los todos, em detalhe, neste momento, mas apenas referir-me a eles e fazer um rápido comentário sobre cada um genericamente.
Ao final desta postagem transcrevo a síntese de Daniel Buarque, do blog do Brasilianismo, sobre um desses desafios, o de explicar o Brasil ao mundo.
Quais são os dez desafios de política externa identificados por Oliver Stuenkel?
1. Help accelerate Brazil's economic recovery
2. Develop a regional long-term strategy vis-à-vis Venezuela
3. Manage the global corruption fallout
4. Explain Brazil's unique moment to the world
5. Prepare for a more Asia-centric world
6. Design a strategy to address domestic violence
7. Recover Brazil's voice in global security matters — by starting at home
8. Tackle growing challenges in cyberspace
9. Strengthen BRICS, revive IBSA
10. Continue to work towards reforming international institutions
Eu (PRA) diria, rapidamente o seguinte:
Concordo, basicamente com quase todos esses "objetivos", ou desafios, mas descarto completamente o de número 9 -- por razões objetivas e de ordem subjetiva, minhas, de acordo com concepções de política externa que mantenho pessoalmente, mas que não vou explicar agora -- e diria que TODOS esses desafios não são exatamente de política externa, e sim de política doméstica, de interesse nacional brasileiro, desafios que temos como nação para o nosso próprio povo.
1) Acelerar o crescimento econômico é o básico de qualquer governança responsável num país atrasado relativa e absolutamente, e portanto a recuperação da GRANDE DESTRUIÇÃO causada pelos lulopetistas é absolutamente essencial para nossa própria sobrevivência. Talvez a política externa (ou mais exatamente a diplomacia) possa ajudar nessa tarefa, mas creio que existem limitações estruturais a isso, que têm a ver com as próprias concepções da diplomacia profissional. Vou me estender sobre isso mais adiante.
2) A Venezuela é certamente um problema para o Brasil, mas nenhuma solução pode ser externa e acho que o Brasil dos lulopetistas foi em grande medida responsável pelo que aconteceu naquele país. Mas não creio que precisamos ter uma estratégia de longo prazo para aquele país exclusivamente, e sim uma estratégia para a região como um todo, e ela passa pela formação, totalmente unilateral, de um espaço econômico aberto na região, bastando ao Brasil abrir-se aos demais, sem nenhuma negociação, apenas dando as regras pelas quais podemos favorecer a criação de uma zona de livre comércio regional.
3) e 4) A corrupção é coisa nossa, e eu não gastaria um centavo sequer tentando explicar o Brasil ao mundo: eu simplesmente faria um ENORME processo de reformas internas, abrindo o país, acabando com monopólios (estatais e privados), rebaixando o Estado ao mínimo indispensável, liberando as forças produtivas do país, da nação, ou seja, criando uma economia baseada nas liberdades e privatização geral de atividades econômicas e mesmo na prestação de serviços públicos. Ou seja, eu investiria TUDO num processo interno de reformas, e deixaria que isso produzisse efeitos primeiro para nós, que depois o mundo vai se dar conta de que, finalmente, ficamos grandes e responsáveis.
5), 7) e 8) Que o mundo esteja se tornando mais "Ásia-cêntrico" (o que é possível), não depende do Brasil, nem da política externa; são dinâmicas econômicas que escapam inclusive do controle dos próprios asiáticos em seus conjunto: apenas ocorre que esses países, por políticas domésticas e esquemas de interdependência regional e global, se tornaram propulsores da economia mundial e isso é bom para todos, para os que lideram o processo e mesmo para os atrasados como nós. Questões de segurança internacional e desafios do ciberespaço também dependem de reformas internas, que nos habilitem a participar da cooperação internacional nessas áreas de maneira útil, não de forma passiva como hoje. Continuo achando que são questões dependentes de reformas internas.
6) Violência doméstica é um assunto de foro íntimo, digamos assim, ou seja, uma tarefa absolutamente interna, que tem pouco a ver com a política externa. Um assunto de polícia e de políticas domésticas de segurança, e basicamente de revolução educacional, o que infelizmente não vai ocorrer tão cedo.
9) Como já disse, não dou nenhuma importância a isso, e apenas lamento que se perca tempo e dinheiro com coisas absolutamente inúteis para nossos grandes objetivos de desenvolvimento.
10) Não ligo tanto para as instituições internacionais, pois acho que elas têm muito pouco a contribuir para as reformas internas -- que são as que reputo mais relevantes -- e podem até influenciar negativamente na consecução de várias delas. O Brasil continua, infelizmente, a disputar os primeiros lugares dentre os "coitadinhos do mundo", e não acho que seja uma boa atitude para ajudar nas reformas internas.
Enfim, essas são considerações muito rápidas que faço sobre essas "teses" de política externa, que terei oportunidade de discutir mais extensamente com o próprio autor.
Paulo Roberto de Almeida
Agora:
Explicar o Brasil ao mundo é um dos 10 desafios de política externa do país
Daniel Buarque
Blog Brasilianismo, 6/01/2017
Explicar o Brasil ao mundo é um dos desafios de política externa do país, diz analista
O momento histórico vivido pelo Brasil em meio às crises política e econômica que assolam o país é único, muda a realidade dos objetivos da diplomacia nacional e precisa ser traduzido para o mundo. Fazer com que estrangeiros entendam o que se passa no país é um dos maiores desafios da política externa brasileira em 2017, segundo o cientista político Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV e membro não residente do Instituto Global de Política Pública (GPPi), em Berlim.
Em um artigo publicado no seu site ''Post Western World'', Stuenkel listou os 10 principais desafios da diplomacia brasileira neste momento de crise, em que evitar o declínio do país se tornou prioridade. Ele inclui esta questão da imagem do país como 4º ponto da lista.
Segundo ele, a Lava Jato alterou a forma como a política e os negócios funcionam no Brasil, ''possivelmente mudando para sempre a tolerância com a corrupção''. Apesar de ser algo importante, isso ''paralisou temporariamente alguns atores-chave, que precisam aprender como se envolver de forma apropriada, com consequências de curto prazo negativas'', avalia.
''A política externa brasileira precisa mostrar a observadores internacionais que isso é, acima de tudo, um desenvolvimento positivo, já que vai fazer com que o Brasil se torne mais moderno, transparente e democrático. Apenas se isso for comunicado de forma bem-sucedida, investidores de todo o mundo vão ajudar o Brasil a se recuperar da sua pior recessão na história'', explica.
Além de explicar o Brasil atual aos estrangeiros, Stuenkel diz que a diplomacia brasileira tem como desafios: Ajudar a acelerar a recuperação econômica do Brasil; desenvolver uma estratégia regional de longo prazo em relação à Venezuela; administrar as consequências da corrupção em escala global; preparar o país para um mundo mais centrado na Ásia; desenvolver uma estratégia para lidar com a violência doméstica; recuperar a voz do Brasil em questões globais de segurança; lidar com desafios crescentes no ciberespaço; fortalecer os Bric; e continuar trabalhando para reformar as instituições internacionais.
''A política externa do Brasil sob seus três presidentes anteriores — Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff — foi formada, apesar de alguns passos atrás e acima de tudo, por desafios na administração da ascensão do Brasil e sua transformação em um ator moderno e visível globalmente. O governo interino de Michel Temer, ao contrário, busca impedir o declínio do Brasil enquanto a maior economia da América Latina entra o que pode se tornar o quarto ano seguido com crescimento negativo ou próximo de zero", explica.
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