Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Agronegócio invade diplomacia e faz Brasil formar time de adidos agrícolas
O presidente Jair Bolsonaro embarca esta semana para uma viagem de quatro dias à Índia onde deve assinar uma dúzia de acordos comerciais que promovam o agronegócio brasileiro
O presidente Jair Bolsonaro embarca esta semana para uma viagem de quatro dias à Índia onde deve assinar uma dúzia de acordos comerciais que promovem o agronegócio brasileiro. Para abrir as portas do mundo para os produtos nacionais, o Brasil conta com um grupo de 24 adidos agrícolas, cargo criado em 2009 para internacionalizar o campo brasileiro.
Quando o agrônomo Dalci Bagolin desembarcou em Nova Délhi, em janeiro de 2018, seus desafios não eram pequenos: desbravar um país com cultura diferente, lidar com um idioma desconhecido - o inglês não é falado por todo mundo na Índia - e identificar oportunidades para a agropecuária do Brasil no segundo maior mercado do mundo.
A missão de Dalci não é fácil. A Índia tem um histórico protecionista, desenvolvimentista e de muitas restrições cambiais, como o Brasil. Além disso, o agronegócio indiano é a imagem refletida do brasileiro. O país produz café, açúcar, aço, cimento e carne, que enfrentam dificuldades de escoamento em razão de uma infraestrutura precária - um panorama bastante familiar. O desafio de Dalci, portanto, é encontrar interesses comuns entre os dois países.
Já adaptado à Índia, ele tem dormido pouco na semana que antecede a chegada da missão presidencial brasileira, que ficará na Índia entre os dias 23 e 27. "Durmo todo dia depois das 2 horas da manhã", conta.
O cargo de adido agrícola foi criado pelo Ministério da Agricultura em 2009, durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e mostra a importância que o agronegócio vem ganhando na diplomacia brasileira. O setor responde por cerca de um quarto do PIB do Brasil e está encarregado de manter a balança comercial superavitária.
Hoje, o setor agropecuário brasileiro fornece alimentos para cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Em 2019, o setor exportou US$ 96,8 bilhões - o equivalente a 43,2% do total produzido. A Ásia foi o principal destino, com 49%.
Além dos adidos agrícolas, o Itamaraty tem outros 120 postos de representação no exterior na área de promoção comercial - o agronegócio é apenas um deles. Ainda que o Ministério da Agricultura apoie o setor há algum tempo, a criação do Departamento de Promoção do Agronegócio (DPA), em 2019, permitiu unir discussões de promoção e política comercial.
Gestão de crises
Outra função importante dos adidos agrícolas - que se estende à diplomacia brasileira, em geral - é vender uma imagem positiva em momentos difíceis. A missão, neste caso, é contornar momentos de crise, como no caso dos incêndios da Amazônia, no ano passado, ou apagar o incêndio causado por declarações incômodas de lideranças políticas dentro do governo brasileiro. "É preciso estar preparado para enfrentar uma quantidade muito diferente de desafios, que mudam conforme o país", explicou a coordenadora dos adidos, Andressa Beig.
Por isso, o cargo é visto hoje como imprescindível por diversos empresários do setor. A viagem de Bolsonaro à Índia ocorre após um pedido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que esteve em Brasília em novembro, na cúpula dos Brics - bloco formando por Brasil, Rússia, Índia China e África do Sul. "Existe um interesse grande do governo indiano em uma aproximação maior com o Brasil. Há muitos territórios inexplorados", diz Amit Kumar Mishra, cônsul da Índia em São Paulo.
Política externa
Apesar dos pontos concorrentes, que podem criar mais rivalidades do que parcerias, Brasil e Índia têm um caminho aberto para explorar áreas complementares. Os setores de tecnologia e de medicamentos, nos quais os indianos têm grande conhecimento e um forte parque industrial, e o etanol, em que o Brasil é referência, são pontos de partida. Outro fator comum importante que une os dois países é a liderança nacionalista de Bolsonaro e Modi. Ambos lideram grupos políticos conservadores, de tons populistas e com fortes elementos econômicos de caráter liberal - embora o premiê indiano seja mais pragmático em política externa e consiga manter boas relações com países que vivem às turras, como EUA e Irã.
Enquanto Modi defende a diplomacia multilateral, Bolsonaro cultiva certo desprezo pelo multilateralismo. Ainda assim, Brasil e Índia compartilham uma reivindicação histórica: uma vaga de membro permanente na eventual ampliação do Conselho de Segurança da ONU - embora o chanceler Ernesto Araújo tenha dito algumas vezes que a vaga "não é mais uma prioridade" do governo brasileiro.
Índia quer mais etanol
Ao fim de 13 meses de governo, só a equipe internacional da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, terá visitado 32 países nos 5 continentes. No período, foram abertos 26 novos mercados para produtos brasileiros - de arroz para o México a lácteos para a China. Segundo país mais populoso do mundo - e com data marcada para ser o primeiro -, a Índia quer aumentar para 10% a quantidade de etanol em sua gasolina até 2022. Hoje, a mistura não chega a 7% e o país de 1,3 bilhão de habitantes quer aproveitar o conhecimento brasileiro para cumprir a missão.
O governo indiano subsidia parte da produção de açúcar, a maior do mundo na última safra, principalmente de pequenos agricultores que dependem do produto para sobreviver. Os incentivos ligados ao transporte variam de cerca de mil rupias (US$ 14,6) por tonelada a 3 mil rupias (US$ 42,2) por tonelada. O governo também paga diretamente aos produtores de cana-de-açúcar 138 rupias (US$ 1,9) por tonelada. Isso acaba distorcendo preços internacionais. Portanto, direcionar parte da cana para produzir etanol poderia reduzir esse volume e a oferta global de açúcar, aumentando os preços e atendendo a interesses brasileiros e indianos.
"Para o Brasil, os benefícios de um aumento da quantidade de etanol seriam regular os preços internacionais do açúcar e uma maior procura pelo biocombustível", diz Amaury Pekelman, presidente da União Nacional da Bioenergia (Udop). "Além disso, o etanol é um aliado na mitigação da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera, o que melhoraria a qualidade do ar das metrópoles indianas." "Queremos transformar o etanol em uma commodity mundial e despertar o interesse em parceiros importantes que vejam esse produto como uma alternativa viável", afirma o diplomata Flávio Bettarello, secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Dalci Pagolin, adido agrícola na Índia, concorda que há benefícios aos dois parceiros. "Hoje o mercado de etanol está muito concentrado em EUA e Brasil, seria muito importante que fosse para outros países." O Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O produto brasileiro, à base de cana, é mais eficiente e ecológico do que o americano, feito de milho.
O uso do etanol como combustível em larga escala, no entanto, ainda ocorre basicamente nesses dois países, o que limita sua transformação em uma commodity comercializada internacionalmente.
A revista Veja se engana: não são diplomatas e não serão exatamente adidos, e sim assistentes técnicos na área de promoção comercial. E o assunto não deveria ser Itamaraty e sim Agricultura.
Se engana também sobre o motivo do não envio: simplesmente é falta de dinheiro.
Para ser totalmente verdadeiro, a realidade é esta aqui: O GOVERNO FEDERAL JÁ ESTÁ COMPLETAMENTE QUEBRADO, BROKEN, FALIDO, A BOUT DE SOUFFLE...
Paulo Roberto de Almeida
Itamaraty
Dilma retarda envio de diplomatas ao exterior e atrapalha o agronegócio
Adidos agrícolas, que trabalham em embaixadas na interlocução entre exportadores brasileiros e compradores estrangeiros, esperam há dois meses a assinatura da presidente para iniciar trabalhos em seus respectivos postos
Luís Lima
Ritmo de negociação para ampliar exportações para a Rússia é prejudicado pela ausência de adido (Liane Neves/VEJA)
Os exportadores do agronegócio brasileiro contam, desde 2010, com uma turma de diplomatas para representar seus interesses nos principais mercados importadores: trata-se dos adidos agrícolas. O primeiro grupo, que partiu ainda durante o governo Lula, voltou ao Brasil em junho deste ano. Desde então, a segunda turma está pronta para assumir. O problema é que a presidente Dilma Rousseff, por razão desconhecida, não assinou o decreto autorizando a partida do grupo. E, segundo a Casa Civil, não há previsão de que autorize tão cedo. Isso significa que, no caso do aumento das exportações de carne brasileira para a Rússia, por exemplo, não há um diplomata do setor no posto de Moscou apto a conduzir as negociações.
Os novos adidos foram escolhidos pelo Ministério da Agricultura para ocupar sete representações diplomáticas brasileiras no exterior: em Buenos Aires, Bruxelas, Genebra, Moscou, Pretória, Tóquio e Washington. Segundo a assessoria de imprensa da Casa Civil, o processo de nomeação ainda se encontra em tramitação e "não há previsão para a conclusão". A demora resultará na descontinuidade do trabalho dos primeiros adidos, segundo uma fonte do alto escalão da pasta.
Um dos trabalhos mais importantes a ser executado por um adido no atual momento é a negociação com a Rússia sobre o aumento da exportação de carne brasileira. No início deste mês, Moscou impôs um embargo à importação de alimentos e produtos agrícolas da União Europeia e dos Estados Unidos, o que, segundo o ministro da Agricultura do país, Nicolai Fyodorov, poderia ser compensado, em partes, com um maior fornecimento de carne do Brasil. “Empresas como JBS e Marfrig estão de olho nesse mercado. E, num momento como este, não há um adido para facilitar a interlocução com o governo russo”, afirmou a fonte.
Para o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, o atraso pode prejudicar a costura de um acordo entre os dois países no âmbito do aumento das exportações. “Esta é uma oportunidade em que um adido deveria estar trabalhando 24 horas por dia na Rússia. O adido tem um papel fundamental na costura e no entendimento das negociações que envolvem o agronegócio. Eles recebem as demandas de empresas, do governo do Brasil e do país em que estão”, disse Rodrigues, que também é coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro).
De acordo com outra fonte do Ministério da Agricultura, o progresso nas negociações com os Estados Unidos para a venda de carne suína e de abertura de mercado para a carne bovina in natura são outros pontos que já poderiam estar sendo trabalhados. “Além disso, temos a questão do acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia. A falta de um adido que esteja na linha de frente na Europa prejudica a velocidade com que as decisões são tomadas”, disse.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou um encontro, em Brasília, para reunir os adidos agrícolas selecionados em 2010 e 2014. Durante o evento, Tatiana Palermo, superintendente de Relações Internacionais da entidade, ressaltou que os adidos são responsáveis, dentre outras atribuições, pelo início das negociações de protocolos fitossanitários.“Sem eles, nós não podemos vender para o exterior, pois esses documentos são como ‘passaportes’ de nossos produtos agropecuários, que atestam a qualidade do serviço sanitário brasileiro”, explicou.