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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Bill e Melinda Gates e os tres mitos sobre a pobreza - The Wall Street Journal

Vale um comentário, mas virá em seu tempo.
Paulo Roberto de Almeida 

Os mitos da pobreza, segundo Bill e Melinda Gates

The Wall Street Journal, 20/01/2014

Com base em quase qualquer indicador, o mundo está melhor agora do que jamais esteve antes. Os níveis de pobreza extrema foram reduzidos pela metade nos últimos 25 anos, a mortalidade infantil está em queda e muitos países que por um longo tempo dependeram da ajuda externa são hoje autossuficientes.
Então, por que tantas pessoas parecem pensar que a situação global está piorando? Grande parte da razão é que muitos se agarram a três mitos altamente prejudiciais sobre a pobreza e o desenvolvimento global. Não se deixe levar por eles.
PRIMEIRO MITO: Os países pobres estão condenados a permanecerem pobres.
Eles realmente não estão. A renda familiar e outros indicadores de bem-estar humano estão subindo em quase todos os lugares, inclusive na África.
Considere, por exemplo, a Cidade do México. Em 1987, quando a visitamos pela primeira vez, a maioria das casas não tinha água potável e vi muitas vezes pessoas caminhando longas distâncias para encher jarros de água, algo parecido à zona rural da África. O executivo que dirigia o escritório da Microsoft MSFT -1.38% na Cidade do México mandava os filhos para fazer exames nos Estados Unidos, para verificar se a poluição não estava afetando a saúde deles.
Crianças brincam numa escola primária em Dacar, no Senegal. A mortalidade infantil está em queda e muitos países que por um longo tempo dependeram da ajuda externa são agora autossuficientes, escrevem Bill e Melinda Gates.
Hoje, a Cidade do México está impressionantemente diferente, exibindo imponentes arranha-céus, um ar mais limpo, novas estradas e pontes modernas. Você ainda encontra bolsões de pobreza, mas quando visitamos a cidade agora, pensamos: "Uau, a maioria das pessoas aqui é de classe média. Que milagre." Vemos uma transformação semelhante em Nairóbi, Nova Delhi, Xangai e muitas outras cidades ao redor do mundo.
Em nossas vidas, a imagem global de pobreza foi completamente redesenhada. A renda per capta na Turquia e no Chile é similar a dos EUA em 1960. A Malásia está quase lá e o Gabão também. Desde 1960, a renda real per capta da China se multiplicou por oito; a da Índia quadruplicou; a do Brasil quase quintuplicou. E o minúsculo Botsuana, com uma gestão perspicaz de seus recursos minerais, viu a renda per capta real se multiplicar por 30. Uma nova classe de países de renda média que mal existia 50 anos atrás agora inclui mais da metade da população do mundo.
E isso é verdade mesmo na África. A renda anual per capta na África subiu 33% desde 1998, de pouco mais de US$ 1.300 para quase US$ 2.200 hoje. Sete das dez economias que mais cresceram nos últimos cinco anos estão na África.
Nossa previsão é a seguinte: Até 2035, não haverá quase nenhum país pobre no mundo. Sim, alguns países mal afortunados ficarão para trás por causa de guerras, realidades políticas (como a Coreia do Norte) ou geografia (como os países sem litoral da África Central). Mas todos os países da América do Sul, Ásia e América Central (exceto, talvez, o Haiti) e a maioria dos da região costeira da África se tornarão nações de renda média. Mais de 70% dos países terão uma renda per capta maior do que a da China hoje.
SEGUNDO MITO: A ajuda externa é um grande desperdício.
Na verdade, é um investimento fenomenal. A ajuda externa não só salva vidas, mas também estabelece as bases para o progresso econômico duradouro no longo prazo.
Muitas pessoas pensam que a ajuda externa representa uma fatia grande dos orçamentos dos países ricos. Quando os pesquisadores perguntam a americanos quanto do orçamento federal vai para a ajuda externa, a resposta mais comum é "25%". Na verdade, é menos que 1%. (Mesmo a Noruega, o país mais generoso do mundo, doa menos de 3%.) O governo dos EUA gasta mais que o dobro em subsídios aos agricultores do país do que em ajuda internacional para projetos de saúde. E investe acima de 60 vezes mais em gastos militares.
Uma queixa comum sobre a ajuda externa é que boa parte dela é desperdiçada com corrupção — e, obviamente, parte dela é. Mas as histórias de horror que ouvimos — de que a ajuda internacional só é usada para construir novos palácios para ditadores — vêm de uma época em que a ajuda era projetada para ganhar aliados para a Guerra Fria, em vez de melhorar a vida das pessoas.
O problema, hoje, é muito menor. Corrupção em pequena escala, como aquele funcionário do governo que apresenta despesas falsas de viagem, é uma ineficiência que equivale a um imposto sobre a ajuda. Devemos tentar reduzi-la, mas eliminá-la é tão difícil quanto eliminar os desperdícios de qualquer programa estatal — ou mesmo de qualquer empresa. Suponha que a corrupção em pequena escala corresponda a um imposto de 2% sobre o custo de salvar uma vida. Devemos tentar reduzir isso. Mas, se não pudermos, deveríamos parar de tentar salvar essas vidas?
Ouvimos muita gente pedindo o encerramento dos programas de ajuda quando um dólar é perdido para a corrupção. Mas quatro dos últimos sete governadores de Illinois foram parar na cadeia por corrupção e ninguém está exigindo que as escolas desse Estado americano sejam fechadas ou que se paralise a construção de suas rodovias.
Também ouvimos críticos reclamar que a ajuda internacional torna os países dependentes da generosidade estrangeira. Mas esse argumento se baseia apenas nos casos de países mais complicados, que ainda lutam para serem autossuficientes. Aqui está uma lista compilada rapidamente de ex- grandes beneficiários da ajuda internacional que vêm crescendo tanto que hoje quase não recebem mais ajuda: Brasil, México, Chile, Costa Rica, Peru, Tailândia, Ilhas Maurícias, Botsuana, Marrocos, Singapura e Malásia.
Ajuda também impulsiona melhorias na saúde, agricultura e infraestrutura que se correlacionam fortemente com o crescimento de longo prazo. Um bebê nascido em 1960 tinha uma chance de 18% de morrer antes de seu quinto aniversário. Para uma criança nascida hoje, esse risco é menor que 5%. Em 2035, será de 1,6 %. Não conseguimos pensar em nenhuma outra melhoria comparável no bem-estar humano ocorrida nos últimos 75 anos. Um desperdício? Não acreditamos que seja.
TERCEIRO MITO: Salvar vidas leva à superpopulação.
Desde pelo menos Thomas Malthus, em 1798, que as pessoas se preocupam com cenários apocalípticos em que a oferta de alimentos não consegue acompanhar o crescimento da população. Esse tipo de pensamento já causou um monte de problemas no mundo. A ansiedade sobre o tamanho da população mundial tem uma tendência perigosa de substituir a preocupação pelos seres humanos que compõem essa população.
Deixar crianças morrerem agora para que elas não padeçam mais tarde não é apenas cruel. É também uma estratégia que não funciona.
Pode ser surpreendente, mas os países que têm mais mortes também estão entre as populações que mais crescem no mundo. Isso ocorre porque as mulheres desses países tendem a ter o maior número de filhos.
Quando mais crianças sobrevivem, os pais decidem ter famílias menores. Considere a Tailândia. Por volta de 1960, a mortalidade infantil começou a cair. Logo, por volta de 1970, depois que o governo investiu em um forte programa de planejamento familiar, as taxas de natalidade começaram a cair. No curso de apenas duas décadas, as mulheres tailandesas passaram de uma média de seis filhos para apenas dois. Hoje, a mortalidade infantil na Tailândia é quase tão baixa quanto a dos EUA, e as mulheres tailandesas têm uma média de 1,6 filho. Esse movimento de queda nas taxas de mortalidade seguida por queda nas de natalidade é observado na grande maioria dos países do mundo.
Salvar vidas não leva à superpopulação. É exatamente o oposto. A criação de sociedades onde as pessoas têm acesso à saúde básica, relativa prosperidade, igualdade fundamental e acesso a contraceptivos é o único caminho para um mundo sustentável.
Mais pessoas, especialmente líderes políticos, precisam entender os equívocos por trás desses mitos. O fato é que, se você olhar para a questão como um indivíduo ou um governo, as contribuições para a promoção da saúde e desenvolvimento internacional oferecem um retorno surpreendente. Todos nós temos a oportunidade de criar um mundo onde a pobreza extrema é a exceção e não a regra.
Este texto é uma adaptação da próxima carta anual da Fundação Bill & Melinda Gates, da qual os autores são copresidentes. Gates é também presidente do conselho de administração da Microsoft.

domingo, 13 de outubro de 2013

Ajuda ao desenvolvimento costuma atrapalhar o desenvolvimento - Angus Deaton (Book review)

O resenhista não cita William Easterly, ou Peter Bauer, que já tinham alertado CONTRA a assistência ao desenvolvimento. Esperemos que o autor do livro o tenha feito.
Paulo R Almeida

OFF THE SHELF

A Surprising Case Against Foreign Aid




IN his new book, Angus Deaton, an expert’s expert on global poverty and foreign aid, puts his considerable reputation on the line and declares that foreign aid does more harm than good. It corrupts governments and rarely reaches the poor, he argues, and it is high time for the paternalistic West to step away and allow the developing world to solve its own problems.
Patricia Wall/The New York Times
It is a provocative and cogently argued claim. The only odd part is how it is made. It is tacked on as the concluding section of “The Great Escape: Health, Wealth, and the Origins of Inequality” (Princeton University Press, 360 pages), an illuminating and inspiring history of how mankind’s longevity and prosperity have soared to breathtaking heights in modern times.
Mr. Deaton is the Eisenhower Professor of Economics and International Affairs at Princeton. He has spent decades working with the World Bank in creating basic yardsticks for measuring global poverty and with the Gallup Organization in creating survey-based measures of well-being.
The “great escape” of the title, he writes, is “the story of mankind’s escaping from deprivation and early death.” His book gives a stirring overview of the economic progress and medical milestones that, starting with the Industrial Revolution and accelerating after World War II, have caused life expectancies to soar.
Professor Deaton is a fluent writer, but his book is a demanding read. Its guts are his statistical comparisons, region by region and country by country, of how things stand today. They show how, when and whether higher incomes have promoted greater life expectancies and higher well-being across the globe. Professor Deaton tells us that a rising tide has lifted almost all the world’s boats — but some far higher than others. Some have scarcely moved; a few have sunk. Obviously, some developing nations have done phenomenally well, yet, on average, the distance between “rich” and “poor” countries remains the same.
China and India continually come to the fore. For all their extraordinary progress in lifting millions of people out of poverty, it is still the case that about half of the world’s poor are Chinese or Indian.
In today’s world, with all we have mastered in medicine, public health and development, Professor Deaton says, it is also still the case that almost a billion people “live in material destitution, millions of children still die through the accident of where they are born, and wasting and wanting still disfigure the bodies of nearly half of India’s children.”
That troubling statement leads to his indictment of foreign aid, which is jarring and odd only in that nowhere in the first 266 pages of his historical analysis has he even mentioned foreign aid, either positively or negatively. A new character joins the play in its final act and becomes the villain of the piece.
In his considered judgment, global poverty today is no longer a result of lack of resources or opportunity, but of poor institutions, poor government and toxic politics. Though about $134 billion in official aid still flows from donor governments to recipient governments, there is no mystery, he says, as to why foreign aid fails to erase poverty. That is not its mission, he asserts: typically it serves commercial interests at home or buys political allies abroad, too often unsavory ones.
All aid is distorted by politics at both ends, he says, citing the example of Mauritania several years back, when aid was in danger of being cut off. The country’s president hatched the brilliant idea of becoming one of the few Arab countries to recognize Israel. The aid taps were reopened and the reforms rescinded.
THE author has found no credible evidence that foreign aid promotes economic growth; indeed, he says, signs show that the relationship is negative. Regretfully, he identifies a “central dilemma”: When the conditions for development are present, aid is not required. When they do not exist, aid is not useful and probably damaging.
Professor Deaton makes the case that foreign aid is antidemocratic because it frees local leaders from having to obtain the consent of the governed. “Western-led population control, often with the assistance of nondemocratic or well-rewarded recipient governments, is the most egregious example of antidemocratic and oppressive aid,” he writes. In its day, it seemed like a no-brainer. Yet the global population grew by four billion in half a century, and the vast majority of the seven billion people now on the planet live longer and more prosperous lives than their parents did. 
So what should the West do instead of providing aid? Well, it can invest in finding a vaccine for malaria, still a mass killer. It can push drug companies to tackle diseases that threaten poorer countries. It can support the free flow of information about inventions and new management techniques. It can relax trade barriers and provide poor countries with expert advice at the bargaining table. It can ease immigration restraints and accept more newcomers.
Many options exist, but Professor Deaton suggests that the question is fundamentally wrong and self-centered. “Why is it we who must do something?” he wonders. “Who putus in charge?” What the West should do, he says, is stand aside and let poorer countries find their own paths, in fits and starts, at their own pace, to development and prosperity, just as the West had to do a century or so earlier.
That is a powerful argument from a scholar who has done his homework, but it is more provocative than ultimately convincing. Defenders of foreign aid would reply that past efforts have contributed greatly to the enormous gains in life expectancy that the professor celebrates. The professor’s maverick views fly in the face of an enormous global effort, and he paints with a very broad brush. The World Bank counts nearly 12,000 projects under way in 172 countries. It’s hard to believe that all are nearly as flawed or misguided as Professor Deaton suggests. Aid is not a door that should slam shut.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Brasil persiste no erro da ajuda ao desenvolvimento do ultimo meio seculo

Ajuda ao desenvolvimento raramente traz desenvolvimento. Só ajuda elites corruptas a manterem estruturas espoliativas dos mais pobres. Leiam William Easterly para comprovar o que digo: paises "ajudados" nunca se desenvolveram, só se tornam dependentes da ajuda externa.
Brasil persiste no erro. 
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil eleva ajuda a países da América Latina e África


Lígia Formenti / BRASÍLIA
O Estado de S.Paulo, 23/09/2013

Relatório do Development Initiatives que será lançado nesta segunda-feira, 23, na Assembleia-Geral das Nações Unidas mostra que o Brasil é o quarto maior financiador de projetos de cooperação fora do Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - atrás de Japão, Noruega e Alemanha. Em 2010, o Brasil destinou US$ 1 bilhão para 124 países. A maior parte (69%) para América Latina e Caribe. A África Subsaariana recebeu 23% dos recursos.
Os números refletem o esforço do País para ampliar sua participação no cenário internacional. Entre 2005 e 2010, os recursos destinados à cooperação mais que dobraram. O crescimento foi direcionado sobretudo para operações de paz e ações de assistência humanitária. E com endereço certo: o Haiti. Em 2010, 80% dos financiamentos para operações de paz foram feitos para aquele país - US$ 301 milhões do total de US$ 377 milhões.
Depois de operações de paz e assistência humanitárias, o Brasil financiou projetos de cooperação técnica, científica e de cunho educacional. Apenas parte dos projetos de cooperação técnica teve como alvo países pobres - o principal foco nesta área foi buscar parceiros dentro da América Latina.
Saldo. Embora tenha ampliado sua participação nos financiamentos, o Brasil continua a figurar como receptor de recursos. O País recebe a mesma quantia que destina aos financiamentos: US$ 1 bilhão.
O relatório indica que os projetos de assistência ao Brasil cresceram, em números absolutos, 70% entre 2000 e 2001. No entanto, quando comparado à renda nacional, os investimentos caíram. O levantamento destaca a redução significativa do número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. De 1999 a 2009, caiu de 20 milhões para 12 milhões.

domingo, 28 de abril de 2013

Ajuda alimentar dos EUA: uma hipocrisia parcialmente corrigida

Não elimina o viés assistencialista, mas é menos distorcivo que o esquema anterior.

EDITORIAL
Food Aid Reform
By THE EDITORIAL BOARD
The New York Times, April 27, 2013

Food aid is one of the most important tools of American foreign policy. Since the mid-1950s, the United States has spent nearly $2 billion annually to feed the world’s poor, saving millions of lives. But the process is so rigid and outdated that many more people who could be helped still go hungry. Reforms proposed by President Obama will go a long way toward fixing that problem and should be promptly enacted by Congress.

Under current law, a vast majority of international food aid must be purchased from American farmers through the Department of Agriculture and shipped overseas in American-flagged vessels. This has been a boon for domestic farmers and shippers, but more than 30 studies in the last decade have concluded that the system is inefficient, costly and even harmful to the very communities in Africa, the Middle East and elsewhere that Washington purports to help.

The United States is the only donor that still gives food rather than cash, including to some humanitarian groups who sell the food in overseas markets and use the proceeds for development projects. Some experts say the sale of American commodities in developing countries often drives down local market prices and discourages local food production, which runs counter to the goal of encouraging self-sufficiency.

Under a proposal in Mr. Obama’s new budget, nearly half the $1.5 billion requested for food aid in 2014 could instead be used to buy food in bulk in countries in need or to provide individual recipients with vouchers or debit cards for local food purchases. Food bought locally is cheaper — 50 percent less in some cases — and saves shipping costs that consume as much as 16 percent of the food aid budget. American officials say the reforms could hasten the delivery of lifesaving aid by as much as 14 weeks and feed many more people.

Although international aid groups have endorsed the changes, there is opposition from the farm and shipping lobbies that have scuttled previous reforms. The food aid budget should not be a backdoor subsidy for domestic producers; and even under the new approach, 55 percent of food aid dollars would still be used to purchase and ship American commodities. When budgets are tight, every program must be scrutinized for maximum return. Mr. Obama’s proposed reforms will feed more people for the same amount the United States spends now. There is no excuse for not putting them into effect.

Meet The New York Times’s Editorial Board »
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segunda-feira, 22 de abril de 2013

ONU: fim da pobreza fica adiada sine die...

Adiaram mais uma vez, e vão adiar, quando estiver próximo de 2030, para uma data ainda mais distante...
Se continuar na base da assistência pública internacional, a pobreza tem um belo futuro pela frente...
Paulo Roberto de Almeida


Desigualdade

Banco Mundial fixa 2030 como meta para fim da pobreza extrema

Países emergentes diminuíram desigualdade, mas ainda há 1,2 bilhão de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia

Presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim: esta é a primeira vez que é fixada uma meta para fim da pobreza (John Macdougall/AFP)
"Para reduzir a pobreza, é fundamental que o crescimento se acelere", diz Bird
O Banco Mundial (Bird) definiu uma meta para acabar com a pobreza extrema: o ano de 2030. Em meio ao maior crescimento das economias emergentes, o nível de renda da população melhorou e o porcentual de pessoas vivendo na pobreza extrema atingiu níveis recordes de baixa, mas ainda há 1,2 bilhão de pessoas vivendo com menos de 1,25 dólar por dia. "Pela primeira vez na história, nos comprometemos em estabelecer uma meta para acabar com a pobreza", declarou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.

A meta foi definida no fim de semana, em encontros fechados à imprensa na reunião anual do órgão multilateral e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que acabou no domingo em meio a um pequeno protesto de africanos em frente à sede do Fundo por mais emprego e crescimento. O grupo também fez protestos no sábado.

Dados divulgados durante a reunião mostram que, com o crescimento maior dos países emergentes, o porcentual da população que vive na extrema pobreza se reduziu nos últimos anos, passando de 43,1% da população mundial em 1990 para 22,7% em 2008, o menor da história.

Estatísticas preliminares de 2010 mostram que o porcentual desacelerou ainda mais, para 20,6%, uma meta estabelecida pelo Banco Mundial para ser alcançada somente em 2015. Com o objetivo fixado na reunião que acabou no domingo, 21, a projeção é de que esse porcentual se reduza para 3% em 2030.

O Brasil foi citado na reunião do Banco Mundial como um exemplo de país que conseguiu reduzir a pobreza e a desigualdade. Já a China foi mencionada como o exemplo oposto, onde a concentração de renda aumentou. As projeções do Banco Mundial apontam para uma aceleração do crescimento dos países emergentes até 2015. Yong Kim citou em sua apresentação que, de uma média de 5,5% de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, o número deve subir para a casa dos 6%. "Para reduzir a pobreza, é fundamental que o crescimento se acelere", disse ele por meio de comunicado.

Com maior aceleração do crescimento, a previsão é de que, em 2015, o número de pessoas vivendo na extrema pobreza caia para menos de um bilhão, dos quais 40% estarão na Ásia e 40% na África Subsaariana. No encerramento da conferência do FMI, sua diretora-executiva, Christine Lagarde, voltou a falar que os países membros precisam estimular o crescimento econômico que gere emprego. O Fundo estima que há mais de 200 milhões de desempregados hoje no mundo.

sábado, 10 de novembro de 2012

O fracasso da ajuda ao desenvolvimento, Deutsche Welle


Documentário alemão reflete sobre erros da ajuda ao desenvolvimento

Jochen Kürten
Deutsche Welle, 10/11/2012
Exibido no 20° Festival de Cinema de Hamburgo, o filme “Doce veneno – Ajuda como negócio” registra as consequências da ajuda ao desenvolvimento equivocada na África, no decorrer das últimas décadas.
Süsses Gift– Hilfe als Geschäft (Doce veneno – Ajuda como negócio) é um documentário que deverá desencadear muitas reações adversas na Alemanha, pois ataca diretamente a ajuda estatal ao desenvolvimento. E, para tal, não propõe teses críticas, nem levanta polêmicas contra a inflação desse tipo de iniciativa, mas simplesmente deixa falarem as pessoas in loco. O resultado é uma maior proximidade e verosimilhança.
Peter Heller trabalha há 40 anos com documentários. Na África, já rodou 30 filmes sobre os mais diversos assuntos, do colonialismo aos problemas sociais do continente. Em seus filmes, porém, o diretor sempre manteve o olhar também voltado para seu país, explorando a relação dos alemães com a África.
50 anos de independência
Essa experiência anterior do diretor é um dos trunfos de Doce veneno. Heller, que já esteve em função de seus outros filmes no Quênia, Tanzânia e Mali, pôde recorrer a muito material de seus trabalhos anteriores. Sendo assim, Doce veneno se tornou uma espécie de documentação de longo prazo, que trata do assunto “ajuda ao desenvolvimento” num contexto histórico mais amplo.
Mas o que inspirou o diretor a retomar o tema exatamente agora? “Há 50 anos, muitos países africanos se tornaram independentes”, contou o diretor depois da estreia de seu filme em Hamburgo. “Sempre me incomodaram a dependência e a letargia em que as pessoas caíam, devido á ajuda ao desenvolvimento.”
Mas o que há de errado na ajuda ao desenvolvimento? O que há de errado com a meta de ajudar às pessoas in loco? Heller esclarece não ter nada contra, por exemplo, a ajuda emergencial em caso de catástrofes naturais, embora também aponte irregularidades nestas doações internacionais. “Muitas empresas na UE, nos EUA e no Canadá fazem bons negócios com isso”, afirma. Em Doce veneno, contudo, Peter Heller aborda sobretudo a ajuda de longo prazo concedida pelos países ocidentais, com base em três exemplos.
No Lago Turkana, norte do Quênia, o diretor se deparou com um caso evidente de ajuda ao desenvolvimento mal conduzida. Lá organizações norueguesas tentam há anos auxiliar as vítimas da seca, através de um programa de relocação. Os nômades turkana foram removidos do interior seco para a região do lago e “treinados” para serem pescadores.
Os noruegueses investiram muito dinheiro no projeto e mandaram construir enormes fábricas altamente tecnológicas para a indústria da pesca. “Eles tinham boas intenções”, ressalta Heller, “e queriam inserir os turkana no mercado internacional, muito antes da globalização”. Só que deu tudo errado.
Vitória do calor africano
A fábrica hipermoderna era grande demais, e não adaptada às necessidades da população local. Além disso, não havia energia elétrica suficiente para manter os frigoríficos gigantescos em constante funcionamento. Depois de apenas seis semanas a fábrica foi fechada.
Outro erro cometido pelos mentores noruegueses da ajuda ao desenvolvimento foi subestimar a mentalidade, os costumes e as tradições dos nativos. Pois tão logo os homens e mulheres iam ganhando um pouco de dinheiro com a pesca, investiam o que tinham em gado e retomavam seus hábitos nômades. Três anos mais tarde, os noruegueses também abandonaram o local.
Como mostra o filme de maneira impressionante, hoje os habitantes tornaram-se permanentemente dependentes da ajuda vinda dos países ocidentais. “Quando os noruegueses brancos vão voltar e trazer para cá o progresso?”, pergunta um ancião camponês no filme. A fábrica, hoje uma ruína enorme e monstruosa, é usada como depósito para peixe seco. Apenas recentemente os investidores voltaram a demonstrar interesse pelas instalações.
Fome “made in Germany”
Outro exemplo drástico foi pesquisado por Peter Heller no Mali. Décadas atrás, empresas alemãs lá construíram uma represa enorme, a fim de garantir o fornecimento de água para a agricultura. As intenções eram as melhoras, mas também aqui o tiro saiu pela culatra: 34 povoados foram inundados e muitas pessoas foram desalojadas para regiões menos férteis.
O projeto foi feito para durar de 10 a 15 anos, mas acabou sendo interrompido depois de três anos. Na Alemanha, ocorreu uma mudança de governo e os novos políticos no poder tinham outras prioridades. Hoje, a maioria dos homens deixou a região para migrar para a Europa, enquanto mulheres e crianças passam fome.
Outro projeto documentado por Doce veneno é uma plantação de algodão na Tanzânia, no fim dos anos 70. Heller presenciou quando tudo começou. “Era um projeto-modelo com tratores alemães e bombas de aplicação de agrotóxicos. Falava-se de uma ‘revolução verde’ na época”, recorda. “Revolução verde”, no caso, tinha um significado muito diferente do que tem hoje. Naquele momento, ainda não se falava em proteção ambiental.
“Diziam para simplesmente colocarmos um lenço de papel duplo sobre o nariz, enquanto os africanos espalhavam a substância tóxica”, lembra o diretor. Mas já nos anos 80, o projeto começou a decair. E nos anos 90, a queda nos preços internacionais do algodão puseram um fim à história. A ideia era produzir em grande escala para o mercado mundial, desde o início – um erro fatal.
Pelo fim da ajuda estatal ao desenvolvimento
No filme, Heller não defende de maneira explícita o fim da ajuda estatal ao desenvolvimento, deixando que isso seja, antes, dito através dos comentários e posições tomadas pelos africanos in loco. Em entrevista à Deutsche Welle, no em tanto, ele citou diversos argumentos contra o procedimento.
A ajuda ao desenvolvimento é, em primeira linha, um negócio para empresas ocidentais; há muito dinheiro envolvido; muitos grandes projetos de ajuda ao desenvolvimento não são ajustados às condições locais, argumenta Heller. Dever-se-ia investir recursos sobretudo no setor agrícola; o certo seria plantar e vender alimentos no local, em vez de importá-los dos países ocidentais; e é preciso apoiar as diversas pequenas ONGs, que têm experiência prática nesse campo.
Por fim, o filme de Heller questiona por que os estimados 600 bilhões de dólares de ajuda ao desenvolvimento investidos nos últimos 50 anos não contribuíram para um progresso visível das regiões em questão. As respostas são dadas por encarregados de ajuda ao desenvolvimento, intelectuais, ativistas políticos e comerciantes.
“A ajuda ao desenvolvimento cria uma espécie de letargia”, diz um jornalista africano, que considera o auxílio internacional nocivo e muito perigoso. Segundo ele, a ajuda destrói toda motivação, por vir de fora e não incentivar o esforço próprio. Um exportador africano de algodão conclui: “Cinquenta anos depois da independência dos países africanos, chegou a hora de assumirmos a responsabilidade, e não só esperar até que a ajuda chegue”.