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quarta-feira, 24 de maio de 2023

A Argentina precisa desesperadamente do apoio do Brasil: entrevista com o embaixador Daniel Scioli (Valor)

 ‘Argentina pode superar a crise com ajuda do Brasil’, diz pré-candidato à presidência

Embaixador argentino em Brasília, peronista Daniel Scioli fala de voto, inflação e cooperação
Por Marcos de Moura Souza, Valor — São Paulo
23/05/2023 20h57 

O embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, está em campanha para tentar emplacar seu nome como candidato governista nas eleições presidenciais de outubro. As primárias — etapa na qual os eleitores votam nos nomes que efetivamente disputarão a eleição — se realizarão em 13 de agosto.

No bloco governista, a Frente de Todos, foi o primeiro a se colocar como pré-candidato. Outros se movem, de forma mais aberta ou cautelosa, para tentar a vaga. Entre eles, o ministro do Interior, Eduardo de Pedro e o chefe de Gabinete do atual governo, Agustín Rossi. O ministro da Economia, Sergio Massa, não se lançou, mas é visto também como presidenciável. Scioli é um veterano da política e o nome, entre os quatro, que os eleitores conhecem há mais tempo.

Em entrevista ao Valor, ele descarta reformas estruturais ou corte de gastos, como defendem muitos economistas, para estabilizar a economia de seu país, que sofre com uma inflação de mais de 100%. Aposta em um cenário otimista de supersafra em 2024, com a expectativa de fim da prolongada seca, e no início das operações de um novo gasoduto, que, numa primeira fase, atenderá à demanda interna do país e, numa segunda fase, permitirá exportações para o Chile e para o Brasil.

Scioli vê nesses dois elementos o início de uma virada de página na atual crise argentina. Mas até que isso ocorra, diz ele, seu país precisa da ajuda do Brasil.

Scioli foi vice-presidente da Argentina no governo Néstor Kirchner (2003-2007), governador da Província de Buenos Aires (2007-2015) e candidato a presidente derrotado por estreita margem de votos e 2015. Desde 2019 é embaixador no Brasil.

Como pré-candidato governista, sua tarefa não é fácil dada a baixíssima popularidade do governo de Alberto Fernández.

Aos 66 anos, Scioli se apresenta como uma voz sensata e moderada para enfrentar os candidatos da oposição. Um deles, o economista e deputado Javier Milei, que faz sucesso entre uma faixa de eleitores pregando, entre outras ideias, o fim do peso e a adoção do dólar como moeda nacional. A seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: A Argentina vive um momento de rápida deterioração das expectativas em relação a inflação e câmbio, além de as reservas estarem dilapidadas. O que é possível fazer para estabilizar a economia neste momento?
Daniel Scioli: Desenvolvê-la, colocar todo o esforço no desenvolvimento produtivo, impulsionar setores estratégicos, como energia, mineração, a economia do conhecimento, do turismo, que ajudam a fortalecer nossas reservas. E há a perspectiva de que em 2024 teremos uma safra recorde. O agronegócio, setor tão importante para a economia argentina, foi afetado por uma seca histórica que reduziu em US$ 20 bilhões o que a Argentina tinha previsto para este ano. E isso afetou muito fortemente as reservas. Trouxe consequências para o conjunto da economia. Por isso com nossa aliança estratégica com o Brasil estamos trabalhando em um marco de cooperação e de complementação para passarmos esse momento.

Valor: Que medidas o Brasil poderia adotar para ajudar a Argentina a administrar esse quadro?
Scioli: Há uma demanda de empresários brasileiros que exportam para a Argentina para que o Brasil possa encontrar mecanismos para aumentar o comércio bilateral. A Argentina não veio aqui [no último encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Fernández em maio, em Brasília] pedir dinheiro. Veio apresentar uma situação relacionada à seca, somada aos impactos da guerra no aumento dos preços da energia. E para atravessar este momento seria muito importante que o Brasil, através de todas essas reuniões periódicas entre as autoridades, com o ministro Haddad, com vice-presidente Alckmin, com BNDES, com a própria Dilma Rousseff, conseguisse algumas garantias para ajudar a indústria brasileira que abastece a indústria argentina de insumos, matéria-prima e auto-peças.

Valor: Esse, na sua visão, é um dos pontos centrais? Mais disponibilidade de financiamento?
Scioli: Sim, para que o problema conjuntural com a seca na Argentina, que não tem dólares de forma imediata para importar, possa, através de financiamento de entidades brasileiras a suas empresas, conseguir que o comércio bilateral não seja interrompido. E isso por alguns meses e nada mais. Porque a Argentina tem projetada uma safra recorde, um superávit energético quando o gasoduto for concluído; um superávit muito importante relacionado às exportações de minerais estratégicos, como o lítio e o cobre; uma entrada de dólares também muito importante na economia do conhecimento.

Valor: As conversas com o Brasil estão avançando?
Scioli: Acredito que estamos muito próximos. Porque no acordo que foi firmado em janeiro, que é um plano de governo binacional, com interesses mútuos, houve avanço em todos os objetivos.

Valor: Financiar empresas que exportam para a Argentina enfrenta críticas no Brasil. Teme-se que as empresas brasileiras não recebam na Argentina e, consequentemente, não teriam como saldar o financiamento concedido a elas pelo Brasil. Há razão para esse temor?
Scioli: Não há nenhum risco. A Argentina tem uma situação conjuntural por esse fenômeno da seca. Mas todos os especialistas confirmam que no ano que vem teremos uma safra recorde. E a situação que tivemos neste ano e no ano passado, de ter de importar gás, será revertida e vamos passar a exportar. E apesar de tudo o que houve, estamos aumentando o comércio bilateral em mais de 25% em relação ao ano passado — a Argentina importando do Brasil— em um setor estratégico que é o automobilístico. Portanto, não há absolutamente nenhum risco porque a Argentina é um país que tem toda a condição para poder superar essa situação conjuntural. Veja o que está acontecendo no comércio bilateral com a China. China facilitou para que se possa pagar com yuan as importações da Argentina de empresas chinesas. Como defendo a integração, o nosso comércio bilateral, nossa aliança estratégica, estamos buscando mecanismos para que o Brasil não perca o mercado argentino para a China. Porque como as exportações vêm com financiamento da China, isso dá a ela uma vantagem. Vemos como muito mais natural [o comércio com o Brasil], estratégico, porque o Brasil é nosso principal sócio comercial e mais de 50% das exportações são de origem industrial. Então que se encontre uma fórmula, e será encontrada não tenho nenhuma dúvida.

Valor: Em quais setores empresas chinesas estão ampliando sua presença na Argentina, deslocando as empresas brasileiras?
Scioli: Podem ser calçados, têxteis. Também setores de autopeças, de pneus, químicos, insumos petroquímicos. Até no gasoduto. Porque há a possibilidade de a China fornecer os tubos com financiamento. A primeira etapa do gasoduto fizemos com tubos fabricados no Brasil. E se o grande beneficiário, quando a segunda etapa do gasoduto for concretizada daqui a um ano, vai ser o Brasil [fará sentido] que os tubos [desta segunda etapa] sejam fabricados no Brasil.

Valor: Voltando à crise da economia. Para além desse cenário otimista que o senhor apresenta pós-seca, com o novo gasoduto, o que o futuro governo precisará fazer para baixar a inflação?
Scioli: Vamos falar um pouco do cenário político argentino. Aqui há três caminhos. Os que propõem a dolarização; os que dizem que vão fazer o mesmo, só que mais rápido, que são aqueles que fizeram a Argentina voltar ao FMI com um hiperendividamento em dólares; e os que [como nós] estão convencidos que com desenvolvimento, crescimento, equilíbrio fiscal — não por meio de mais ajustes e mais sofrimento, mas, sim, por meio da expansão produtiva — serão geradas as condições para reverter essa situação. [...] O grande desafio é baixar a inflação e aumentar os salários porque a inflação afeta os salários. Não solucionaremos isso dolarizando a economia ou eliminando o BC, como defendem alguns, ou taxando a educação, a saúde ou tirando direitos dos trabalhadores.

Existem múltiplas causas para a inflação, não é só seca. Há também o impacto da guerra, que gerou aumento no preço da energia e a Argentina teve que importar gás. Houve também uma ajuda por parte do governo durante a pandemia que mudou o planejamento fiscal. Durante a pandemia a Argentina adotou medidas ativas para que nenhuma empresa fechasse suas portas. Então, com respeito ao futuro, a Argentina tem como encarar os seus desafios por isso estou convencido de que a alternativa segura será eleita de uma forma soberana — um nacionalismo moderno, de integração inteligente com o mundo, de industrializar e gerar valor com a economia do conhecimento, com a nossa matéria-prima. [A saída] não é a dolarização, nem mais ajuste que a sociedade não suporta nem mais endividamento. Não temos que pedir nem um dólar mais ao FMI. Temos que planejar e encarar o futuro expandindo nossos recursos aumentando as exportações.

Valor: O ministro Sérgio Massa tem feito gestões para adiantar os desembolsos do FMI. O senhor defende essa demanda e por que o Fundo aceitaria isso?
Scioli: Porque no acordo que foi firmado, o artigo 11 diz que qualquer acontecimento extraordinário seria possível rever metas e outros aspectos. E o que o ministro Massa está pedindo é que se considere essa nova situação.

Valor: Governo e oposição ainda não definiram seus candidatos. Enquanto isso, o candidato Javier Milei avança numa fatia importante do eleitorado? A indefinição dos concorrentes ajuda Milei?
Scioli: Na Argentina existe uma lei que são as primárias que eu defendo e decidi participar delas para que democraticamente a sociedade argentina escolha os melhores candidatos. No caso dessa força política que se chama Libertad Avanza, tem um só candidato que é Milei, com suas ideias e seu programa de governo. E as pessoas, como estão com raiva, encontraram nele um candidato para expressar essa inconformidade com a política. Mas eu espero que as pessoas votem com esperança em um país melhor e não com raiva, que é razoável que as pessoas tenham. Existe uma alternativa que é muito mais razoável e sensata de progresso, de desenvolvimento do país, de soberania, que tem a ver com essas ideias que eu fiz referência. O caminho não é dolarizar a economia e perder a nossa soberania enquanto política monetária expansiva de crédito, de fortalecimento da moeda que nos permite enfrentar esses desafios que temos.

Valor: Como o senhor espera que as pessoas votem com esperança em um candidato de um governo impopular que deixa uma inflação de mais de 100%?
Scioli: Porque as pessoas sabem escolher uma pessoa com mais experiência. Fui governador, vice-presidente, ministro, secretário de Turismo e de Esportes e comandei esse trabalho de reconstrução na relação com o Brasil, que começou no ano passado e tem produzido um grande impacto. Um trabalho que começou no ano passado com o governo com uma diferença ideológica e política notável e que agora está avançando na concretização de uma aliança e um acordo de integração profundos. [...] Agora, começou uma etapa de reindustrialização da Argentina, a finalização da obra binacional mais importante da história que é o gasoduto, o marco para investimentos na área de mineração, obras de infraestrutura. Então, sobre isso o desafio é construir um país melhor e atacar de forma urgente a maior preocupação que a sociedade argentina tem que é a inflação e a recuperação dos salários.

Valor: Em um dos vídeos nas suas redes sociais, o senhor destaca que a experiência como embaixador no Brasil lhe deu ideias renovadas. Efetivamente, de que maneira a experiência em Brasília lhe ajuda em uma possível candidatura à presidência e em um possível governo?Scioli: Eu insisto na globalização da região e para encarar mais rápido a recuperação [é preciso] integração com Brasil, que seja benéfica para os dois países. Vamos poder expandir o crescimento, que é de onde vem a solução de fundo de um país. Todos os programas sociais, de emergência tem que envolver o trabalho e isso se consegue de mãos dadas com educação. O Brasil me deu e me dá a experiência a importância da Integração energética, da infraestrutura, de energias alternativas, no foco no agronegócio, no compromisso que existe nesse programa de neoindustrialização buscando em todos os setores produtivos uma melhora na competitividade na produtividade, o que está se fazendo aqui em matéria de simplificação e redução de imposto para melhorar a competitividade melhor crescimento estes pontos entre outros.

Valor: Em janeiro o presidente Lula e presidente Alberto Fernández falaram sobre o interesse em discutir uma moeda comum não necessariamente para substituir o peso e o Real mas para que fosse usada nas transações comerciais o senhor se manifestou positivamente sobre essas ideias de que maneira na sua avaliação isso poderia ajudar a Argentina?
Scioli: Esse é um objetivo de longo prazos que não depende apenas da vontade apenas de Brasil e da Argentina (...) Isso depende de articulação e acordos entre os nossos países. Hoje existem caminhos imediatos intermediários, por exemplo potencializar o pagamento com moedas locais, no caso real ou peso argentino. Ou como no caso da China o caso dos yuan e isso vai no caminho do que dizia antes: é preciso repensar essa transformação geopolítica com maior autonomia e auto-abastecimento entre os nossos países. Por exemplo, no caso dos fertilizantes ou no caso do semicondutores com o objetivo de reativar um projeto binacional que temos. Argentina tem a maior bacia de potássio do mundo que é fundamental para desenvolver fertilizantes.

Valor: Por fim, para dar um impulso a sua pré-candidatura seria necessário um gesto, uma posição do presidente da vice-presidente e o senhor espera isso?
Scioli: Não,não. Eu confio no povo argentino e o povo argentino confia em mim. Me conhecem há 25 anos na minha carreira política e em outras atividades no mundo desportivo, por exemplo. O presidente está [trabalhando para] resolver os problemas da Argentina e a vice-presidente tem o seu papel instituciona. Eu tomei uma decisão [de me pré-candidatar] convencido que é preciso dar ao nosso país essa alternativa que é a que eu represento frente ao que os outros grupos políticos tem proposto. Estou seguro que vai ganhar o previsível, o confiável, a sensatez, a moderação que possa harmonizar melhores acordos dentro da Argentina e com o mundo como eu demonstrei aqui no Brasil.
 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

EUA rompem um compromisso firmado desde 1960 – apoiado unicamente pelo Brasil – de não assumir a presidência do BID

Os EUA se comprometeram solenemente, no momento da criação do BID, em 1960, a não apresentar candidatos do país para a presidência do BID, que teve unicamente presidentes latino-americanos durante esses 60 anos. 
Agora resolveram apresentar um candidato, com o imediato apoio do Brasil, que provavelmente não será seguido pelos outros países latino-americanos. Dependendo dos demais países, sobretudo pequenos, essa candidatura pode não se materializar, e o Brasil ficará isolado no hemisfério.
Paulo Roberto de Almeida

DECLARACIÓN DE EXPRESIDENTES LATINOAMERICANOS ANTE ANUNCIO DE ESTADOS UNIDOS SOBRE FUTURA PRESIDENCIA DEL BANCO INTERAMERICANO DE DESARROLLO.
Ante el anuncio hecho por el gobierno de Estados Unidos de nominar para la presidencia del Banco Interamericano de Desarrollo (BID) a Mauricio Claver-Carone, ciudadano norteamericano, actual alto asesor del presidente Donald Trump para Latinoamérica y director para asuntos de América Latina en el Consejo de Seguridad Nacional de la Casa Blanca, deseamos manifestar nuestra profunda preocupación y desacuerdo con tal propuesta. Ella implica una ruptura de la norma no escrita, pero respetada desde el origen, por la cual el BID, por razones, entre otras, de eficiencia financiera, tendría su sede en Washington, pero cambio siempre estaría conducido por un latinoamericano.
Esta no es sólo una cuestión de alteración protocolar. Es un quiebre, con obvias derivaciones políticas, en el quehacer de uno de los instrumentos más eficaces para la convivencia hemisférica. El BID llevó adelante su tarea desde 1960 con diligencia y alta comprensión de las condiciones de la región y las diversidades en su desarrollo. Así lo han hecho sus distintos presidentes: el chileno Felipe Herrera (1960-1970), el mexicano Antonio Ortiz Mena (1970-1988), el uruguayo Enrique Iglesias (1988-2005), y el colombiano Luis Alberto Moreno, del 2005 a la fecha. A su vez, siempre la vicepresidencia ha estado en manos de un ciudadano de Estados Unidos.
El nombramiento propuesto del señor Claver-Carone en el BID no anuncia buenos tiempos para el futuro de la entidad, lo que nos lleva a expresar nuestra consternación por esta nueva agresión del gobierno de los Estados Unidos al sistema multilateral basado en reglas convenidas por los países miembros. Respetuosamente exhortamos a los otros socios del BID a oponerse a la acción emprendida por el gobierno de los Estados Unidos, recordando que tanto de Argentina como de Brasil se han planteado alternativas en una decisión que reclama hacerse con ponderación y realismo.
No es hora de complicar aún más el dificil episodio que América Latina y el Caribe enfrentan debido a la pandemia y sus gravísimas consecuencias económicas y sociales. Con esta propuesta, el presidente Donald Trump levanta un muro más en su forma de entender la relación de Estados Unidos con el resto del continente. Aún es tiempo de hacer ver, con argumentos y determinación, la alta inconveniencia de aceptar la imposición pretendida por el gobierno de los Estados Unidos.
Ricardo Lagos
Julio María Sanguinetti
Juan Manuel Santos
Ernesto Zedillo
18 de junio de 2020.