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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Regime de Controle de Tecnologia de Misseis (MTCR): Brasil Assume a presidência (Nota do Itamaraty)

Ministério das Relações Exteriores

Assessoria Especial de Comunicação Social

 

Nota nº 509

1 de novembro de 2023

Reunião Plenária do Regime de Controle de Tecnologia de Misseis (MTCR) - Rio de Janeiro, 30/10-3/11/2023

O Brasil assumiu hoje, 1º/11, a presidência do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (“Missile Technology Control Regime - MTCR”), para o biênio 2023-2024.

A Presidência inicia-se com a realização, no Rio de Janeiro, da 35ª Reunião Plenária do MTCR, entre 1º e 3 de novembro, aberta esta tarde pelo Ministro Mauro Vieira. A presidência brasileira será exercida pelo Embaixador Flávio Soares Damico, representante especial do Brasil junto à Conferência do Desarmamento.

O MTCR é um regime informal, composto por 35 Estados participantes, que tem como objetivo limitar o risco da proliferação de tecnologias de mísseis e veículos aéreos não tripulados (VANTs) como vetores de armas de destruição em massa (nucleares, químicas e biológicas).

No exercício da presidência do MTCR, o governo brasileiro buscará promover o equilíbrio entre o controle de tecnologias missilísticas sensíveis e o direito ao intercâmbio, acesso e desenvolvimento dessas tecnologias para propósitos legítimos, incluindo programas espaciais.

Membro do MTCR desde 1995, a eleição do Brasil por seus pares, de forma unânime, para presidir o regime evidencia as credenciais do país no controle de exportações de bens sensíveis e de uso dual.

 

[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/reuniao-plenaria-do-regime-de-controle-de-tecnologia-de-misseis-mtcr-rio-de-janeiro-30-10-3-11-2023  

domingo, 16 de julho de 2023

Eleição do Brasil para a presidência do Grupo de Supridores Nucleares - Nota do Itamaraty

 Nota do Itamaraty nº 288

14 de julho de 2023

 

Eleição do Brasil para a presidência do Grupo 

de Supridores Nucleares

O governo brasileiro acolheu, com grande satisfação, a eleição hoje, 14 de julho, em Buenos Aires, por unanimidade, da Embaixadora brasileira Claudia Vieira Santos para presidir o Grupo de Supridores Nucleares (NSG, em inglês), no período 2023-24.

O NSG é um regime informal de controle de exportações constituído para promover a coordenação de políticas nacionais de seus 48 governos participantes no controle de transferência de bens e tecnologias sensíveis na área nuclear, com o objetivo de garantir que sejam usadas para fins exclusivamente pacíficos.

Será a segunda vez que o Brasil presidirá o NSG. Ao final do atual mandato, em julho de 2024, será realizada, no Brasil, a 33ª Reunião Plenária do NSG.

A eleição do Brasil para presidir o NSG confirma suas credenciais no controle de exportações de bens sensíveis e de uso dual, que, se desviados dos fins exclusivamente pacíficos, podem contribuir para a proliferação de armas de destruição em massa.

[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/eleicao-do-brasil-para-a-presidencia-do-nsg]

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Eleições diretas na OAB: casa de ferreiro, espeto de pau? - Wagner Rocha D’Angelis

ELEIÇÕES DIRETAS NA O. A. B.

[Casa de Ferreiro, Espeto de Pau?]


 Wagner Rocha D’Angelis 

 

Chega da manutenção desse mecanismo que cheira e exala a ditadura! Inadmissível que a classe dos advogados tenha adentrado ao século XXI curvada a um processo eleitoral indireto para a presidência do Conselho Federal da OAB. Ora, tenho me colocado contra isso desde a década de 1990, mas a sistemática de conchavos e compadrismos conseguiu empurrar essa geringonça antidemocrática até este 2020 – e, lamentavelmente, ainda há os que a querem permanentemente!

 

Seja com que intenções – e espero que a mais sã e ética possível – a Seccional da OAB do Paraná, desde a sessão realizada no dia 8 de maio deste ano, deliberou clamar por eleições diretas para presidente do Conselho Federal. E agora decidiu colocar essa campanha à luz da opinião pública. Meno male que tenha acordado! Com um atraso de décadas, nas quais chegou a se valer do mecanismo em proveito próprio, eis que agora concorda em varrer esse entulho eleitoreiro para o lixo da história.

 

O Brasil tem hoje um pouco mais de 1 milhão e duzentos mil advogados, segundo dados de 2019. Uma gama imensa de profissionais esbulhada de um de seus mais elementares direitos: o de eleger por voto direto o presidente do Conselho Federal.

 

Somos advogados e advogadas de militância diuturna na defesa das liberdades públicas e dos direitos sociais regidos por uma diretoria sem a devida ou adequada representatividade (o que lhe diminui a legalidade), que prega e fala em nome da democracia, conquanto valendo-se de um processo viciado e antidemocrático. Somos operadores e operadoras do Direito admitindo um embuste à semelhança do pleito presidencial adotado pelo regime militar para impor seus governantes e manter o “status quo” político por um pouco mais de 20 anos no país.

 

Basta de tamanho acinte! Como é possível que, em pleno século XXI, uma classe que ajudou a construir e reconstruir a democracia no país, tenha por governo uma diretoria eleita apenas pelos – pasmem! – 81 conselheiros Federais das diversas seccionais, grandes detentores e possivelmente beneficiários desse famigerado poder indireto de sufragar o nome de quem irá presidir a Instituição em âmbito federal

 

Concito-os, caros amigos e amigas da área jurídica, a cerrarem fileiras e endossarem publicamente essa campanha: DIRETAS JÁ PARA A PRESIDÊNCIA DO CONSELHO FEDERAL DA OAB!

 

Orgulhem-se de suas togas e não deixem que argumentos pueris possam abaixar esta bandeira. Avante!! 

 

WAGNER ROCHA D’ANGELIS  

[OABPR nº 6042]

Advogado, historiógrafo e professor universitário. Mestre e Doutor em Direito. Presidente da AJIAL e do CHF. 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

EUA rompem um compromisso firmado desde 1960 – apoiado unicamente pelo Brasil – de não assumir a presidência do BID

Os EUA se comprometeram solenemente, no momento da criação do BID, em 1960, a não apresentar candidatos do país para a presidência do BID, que teve unicamente presidentes latino-americanos durante esses 60 anos. 
Agora resolveram apresentar um candidato, com o imediato apoio do Brasil, que provavelmente não será seguido pelos outros países latino-americanos. Dependendo dos demais países, sobretudo pequenos, essa candidatura pode não se materializar, e o Brasil ficará isolado no hemisfério.
Paulo Roberto de Almeida

DECLARACIÓN DE EXPRESIDENTES LATINOAMERICANOS ANTE ANUNCIO DE ESTADOS UNIDOS SOBRE FUTURA PRESIDENCIA DEL BANCO INTERAMERICANO DE DESARROLLO.
Ante el anuncio hecho por el gobierno de Estados Unidos de nominar para la presidencia del Banco Interamericano de Desarrollo (BID) a Mauricio Claver-Carone, ciudadano norteamericano, actual alto asesor del presidente Donald Trump para Latinoamérica y director para asuntos de América Latina en el Consejo de Seguridad Nacional de la Casa Blanca, deseamos manifestar nuestra profunda preocupación y desacuerdo con tal propuesta. Ella implica una ruptura de la norma no escrita, pero respetada desde el origen, por la cual el BID, por razones, entre otras, de eficiencia financiera, tendría su sede en Washington, pero cambio siempre estaría conducido por un latinoamericano.
Esta no es sólo una cuestión de alteración protocolar. Es un quiebre, con obvias derivaciones políticas, en el quehacer de uno de los instrumentos más eficaces para la convivencia hemisférica. El BID llevó adelante su tarea desde 1960 con diligencia y alta comprensión de las condiciones de la región y las diversidades en su desarrollo. Así lo han hecho sus distintos presidentes: el chileno Felipe Herrera (1960-1970), el mexicano Antonio Ortiz Mena (1970-1988), el uruguayo Enrique Iglesias (1988-2005), y el colombiano Luis Alberto Moreno, del 2005 a la fecha. A su vez, siempre la vicepresidencia ha estado en manos de un ciudadano de Estados Unidos.
El nombramiento propuesto del señor Claver-Carone en el BID no anuncia buenos tiempos para el futuro de la entidad, lo que nos lleva a expresar nuestra consternación por esta nueva agresión del gobierno de los Estados Unidos al sistema multilateral basado en reglas convenidas por los países miembros. Respetuosamente exhortamos a los otros socios del BID a oponerse a la acción emprendida por el gobierno de los Estados Unidos, recordando que tanto de Argentina como de Brasil se han planteado alternativas en una decisión que reclama hacerse con ponderación y realismo.
No es hora de complicar aún más el dificil episodio que América Latina y el Caribe enfrentan debido a la pandemia y sus gravísimas consecuencias económicas y sociales. Con esta propuesta, el presidente Donald Trump levanta un muro más en su forma de entender la relación de Estados Unidos con el resto del continente. Aún es tiempo de hacer ver, con argumentos y determinación, la alta inconveniencia de aceptar la imposición pretendida por el gobierno de los Estados Unidos.
Ricardo Lagos
Julio María Sanguinetti
Juan Manuel Santos
Ernesto Zedillo
18 de junio de 2020. 

quinta-feira, 5 de março de 2020

Comunicado do Partido Novo: João Amoedo deixa a presidência

Comunicamos que João Amoêdo deixa hoje (05/03) o Diretório Nacional e o cargo de presidente nacional do Partido Novo, sendo substituído na presidência por Eduardo Ribeiro, atualmente integrante do Diretório Nacional, diretor executivo da Fundação Brasil Novo e ex-presidente do Diretório Estadual de Santa Catarina.
Eduardo foi eleito por unanimidade pelos demais membros do Diretório Nacional, em conformidade com o estabelecido no Estatuto do NOVO. Ele é catarinense, empresário, formado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Santa Catarina e tem toda a sua atuação profissional voltada ao setor de saúde.
João Amoêdo permanecerá na Fundação Brasil Novo, como membro do Conselho Curador e como filiado, divulgando e defendendo os princípios e valores do NOVO. Ele escreveu uma carta que pode ser lida aqui.
O NOVO agradece todo o inestimável esforço de João Amoêdo, que se dedicou por quase uma década para a construção do partido.
O NOVO segue com o objetivo de se consolidar como uma instituição inovadora e diferenciada na política brasileira, crescendo com coerência, qualidade, sem atalhos, de forma sustentável, sem dinheiro do pagador de impostos e fiel aos seus princípios e valores.
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Renovação Na Presidência Do NOVO

5 De Março De 2020
Após 10 anos dedicados à idealização, construção e administração do NOVO, deixo hoje o Diretório Nacional do partido. Serei substituído, no cargo de presidente, por Eduardo Ribeiro, ex-presidente do diretório do NOVO de Santa Catarina e atualmente integrante do Diretório Nacional.
Acredito que toda instituição, baseada em valores e ideias, como é o NOVO, precisa de renovação nos seus comandos, para seguir amadurecendo e crescendo.
Em 2010, apesar da economia em alta e de nossas potencialidades como nação, não vislumbrava um futuro próspero para o nosso País. Tínhamos um Estado intervencionista, que cobrava altos impostos e devolvia péssimos serviços para a população. As oportunidades para a maioria eram poucas e os privilégios para poucos, eram muitos. Concluí que era preciso mudar o nosso modelo de Estado, e o único caminho seria pela política.
A partir daquele ano, decidi me dedicar, junto com um pequeno grupo, a criar uma plataforma política diferente, que atraísse novas lideranças e inovasse na forma de se fazer política. Era fundamental que esse projeto fosse baseado na criação de uma instituição que, com princípios e valores, invertesse a lógica em vigor na política tradicional. Os políticos dessa nova instituição deveriam ser pessoas admiradas pela população e, ao chegarem ao poder, ter como principal objetivo devolver o poder ao cidadão. Esse era o sonho. O legado que gostaríamos de deixar.
O trabalho, desde o início, se mostrou desafiador: a descrença da população com a política; a burocracia para a montagem de um partido; a associação e dependência de parte da nossa elite com status-quo e a falta de bons modelos foram alguns dos obstáculos enfrentados.
A história que se seguiu vocês já conhecem e fazem parte dela. Gostaria de agradecer por terem assumido esse árduo trabalho, saindo da indignação e partindo para a ação. Sempre acreditei que a frustração de não tentar seria maior do que a de não conseguir.
Com 4 anos e meio do nosso registro no TSE, somos ainda uma instituição jovem, mas que já apresenta resultados relevantes e serve como exemplo de boas práticas na política. Entretanto, somos e seremos continuamente testados e inúmeras vezes pressionados para utilizar atalhos e adotar procedimentos usuais da velha política. A separação entre a atuação política e a gestão partidária, uma das inovações do NOVO, e a nossa visão de longo prazo, são os antídotos para isso.
Temos que lembrar sempre o nosso objetivo primordial: melhorar de forma sustentável a qualidade de vida do maior número de pessoas, o mais rápido possível. Manter a coerência, a humildade e fazer o certo fazem parte do DNA do NOVO.
Deixo o diretório, mas continuarei atuando ativamente na vida política do País. Permanecerei na Fundação Brasil Novo, como membro do Conselho Curador, auxiliando as candidaturas que teremos e na defesa e divulgação dos nossos princípios e valores, contribuindo assim para o crescimento do Partido.
Gostaria de finalizar essa mensagem agradecendo a cada um de vocês que participaram e tornaram o NOVO uma realidade. Temos ainda um longo trabalho pela frente na construção de um País para ser admirado. Muito obrigado.
João Amoêdo

domingo, 31 de março de 2019

Para ler os militares, em 1964 e em 2019 - Paulo Roberto de Almeida e Mario Sabino


Sobre as intervenções de militares na política brasileira

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: comentar Ordem do Dia das FFAA; finalidade: expressar minha posição]


Analiso e comento a relação dos militares com a política no Brasil, por ocasião da divulgação da Ordem do Dia das FFAA sobre o significado de 31 de março de 1964, tal como determinou o presidente da República, poucos dias atrás, mas aproveitando, provavelmente sob a influência do general Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército e atual assessor do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, essa oportunidade para contextualizar os eventos históricos que levaram a 1964, e refletindo sobre o significado especial dessa intervenção tal como vista na presente conjuntura e no âmbito da missão constitucional das FFAA. Aproveito para expor e explicar minha “tese” sobre as intervenções das FFAA e de militares na política brasileira. Não confundir com o vídeo horrível da PR sobre esse dia, que só pode ter sido obra de bolsonaristas radicais, ignorantes e medíocres.

O jornalista Mario Sabino, editor de Crusoé, da qual sou assinante, e um dos animadores do blog político O Antagonista, que sempre leio, escreve sobre, e interpreta, a Ordem do Dia dos militares sobre 1964, obedecendo portanto, ao presidente da República, que pretendia "comemorar" da data de 31 de março, mas que são plenamente conscientes do que a sociedade brasileira realmente deseja, distanciando-se, portanto, ao mesmo tempo, das franjas bolsonaristas mais radicais, que estão sempre pensando em vingar-se daqueles derrotados em 1964, e que governaram o país de 2003 a 2016.
Minha tese sobre as intervenções militares é a de que 1964, diferentemente do que se prega habitualmente, não foi um golpe militar dado pelas FFAA, a exemplo de outras intervenções dos militares na política, no Brasil ou nos demais países da América Latina, mas sim foi uma crise político-militar, resolvido com a intervenção de militares na política, sem que houvesse, inicialmente, a intenção explícita de tomar o poder para nele se perpetuar, o que foi consequência da dinâmica criada pelo movimento que se desenvolveu nos primeiros dias de abril de 1964.
Explico essa minha "tese", para que isso fique muito claro.
Só reconheço TRÊS oportunidades nas quais as FFAA tomaram o poder no Brasil, e nem 1889, nem 1964 pertencem a esses três únicos exemplos ou se enquadram no contexto geral das intervenções militares na política dos países latino-americanos. Quando eu escrevo FFAA, com maiúsculas, estou referindo-me às Forças Armadas enquanto corpo constituído do Estado brasileiro, ou seja, os comandantes militares atuando em conjunto, e com o consenso do conjunto das tropas, por ocasião de algum evento político com significado maior para a história do país. Distingo esse acrônimo, as FFAA, das intervenções de militares na política, muito mais numerosas, pois que situadas no contextos de graves crises políticas nas quais os militares também foram envolvidos, individualmente ou como setores das FFAA, ou que se envolveram a título político por julgarem que era de seu dever, ou sua vontade, participar de eventos, fatos e processos que também tocavam gravemente nos destinos do país. Quais foram, pois essas três únicas oportunidades, no quadro das muitas intervenções de militares na política, que aliás começam no próprio Império e passam notadamente na proclamação da República, que NÃO é, segundo essa minha tese, uma intervenção das FFAA na política, e sim o envolvimento de militares com a política. 1889 é um movimento político, com grande envolvimento de militares republicanos, vários “jacobinos”, que conseguem a própria participação do chefe do Exército (apenas do Exército e não da Marinha) na deposição do gabinete de Ouro Preto (tal como concebia esse movimento o próprio marechal Deodoro da Fonseca, tomado de surpresa, ou enganado, pelos oficiais republicanos). A República é um movimento político com expressiva participação de militares, não um mero golpe militar, ao estilo das quarteladas de caudilhos latinos.
A primeira intervenção das FFAA (e apenas dos comandantes do Exército e da Marinha) na política, depois de todas as agitações de tenentes e outras patentes em episódios da política brasileira nos primeiros 30 anos da República, se dá exatamente em outubro de 1930, quando essa junta de dois comandantes militares (a Aeronáutica ainda não existia enquanto Força) depõe o presidente Washington Luis, o mantém detido por poucos dias, até que as forças do líder revoltoso Getúlio Vargas chega ao Rio de Janeiro e toma posse de um governo provisório, tal como ocorreu com Deodoro em 1889. Ou seja, as FFAA efetuaram essa intervenção para evitar um possível sangrento embate entre forças legalistas e forças revoltosas, que poderia ocorrer nos limites entre os estados de S. Paulo e Paraná, a famosa “batalha de Itararé”, que não ocorreu, e deu margem a que Aparício Torelly, famoso humorista da época, se autoproclamasse “Barão de Itararé”, e assim passasse a assinar suas saborosas crônicas que vão, justamente, até o golpe de 1964 (atenção: eu disse golpe, e não revolução).
A segunda intervenção das FFAA na política brasileira se deu exatamente 15 anos depois, em outubro de 1945, quando elas depõem o ditador Getúlio Vargas, que fazia ensaios continuístas no poder, depois que as FFAA, seus soldados e oficiais participaram da defesa da democracia nos campos de batalha da Segunda Guerra. Não o fizeram exatamente por amor à democracia, mas o ditador estava recebendo o apoio do Partido Comunista e do seu líder, Luis Carlos Prestes, os mesmos que tinham intentado tomar o poder pela força, comandados pela III Internacional e pelo Partido Comunista da União Soviética, em novembro de 1935, ocasião na qual vários soldados e oficiais foram mortos pelos revoltosos comunistas. A partir de então, o Brasil e as FFAA se tornaram oficialmente anticomunistas, e assim permanecerão até hoje, inclusive em 1964, quando militares se envolveram na política novamente, depois de vários outros exemplos ao longo dessas décadas. Assim como 1889, 1937 não é um golpe militar, e sim um golpe de líderes políticos, com participação e apoio de militares, até de sua alta cúpula, mas não um movimento planejado e implementado pelas FFAA para ser o início de um regime militar, com um plano de governo para a ocasião.
Venho ao meu terceiro episódio de intervenção das FFAA na política brasileira, que não é 1964, sequer 1961, e menos ainda as diversas revoltas e ações militares, ou de militares, em 1954 (suicídio de Getúlio, para evitar uma possível intervenção das FFAA na política), em 1955 (garantia pelo general Lott à posse de JK, eleito minoritariamente) e outros episódios menores (revoltas locais de militares). Em 1961 ocorreu, sim, uma reação das FFAA e dos militares na política, mas de forma improvisada e desorganizada em função da crise aberta com a renúncia de Jânio Quadros, um processo que se arrastou por mais de duas semanas, até que se chegasse, no âmbito do Congresso, ao remendo do parlamentarismo também improvisado (e removido um ano depois). Tampouco 1964 se encaixa na “teoria” do golpe militar, e não constitui, em minha visão, em uma intervenção das FFAA na política, que poderia, sim, ocorrer, caso o presidente ousasse uma ruptura democrática (fechar o Congresso, por exemplo), de acordo com a visão do chefe do Estado Maior à época, general Castello Branco, um grande democrata e um dos raros intelectuais (com Golbery) do Exército. 1964 foi um movimento civil-militar, empurrado por governadores ambiciosos, e pela ansiedade das classes médias ante o descalabro inflacionário e político do inepto João Goulart, que patrocinou diversos episódios de quebra de hierarquia nas FFAA (sargentos em setembro de 1963 em Brasília, cabos e marinheiros em 1964, arroubos irresponsáveis sobre um “dispositivo militar” e outro “sindical” no grande caos que foi o seu governo) e ensejou a reação das FFAA e dos militares a partir do gesto ousado de um único general, Olympio Mourão Filho, ao mobilizar tropas e tanques em Juiz de Fora para, irrealisticamente, “depor” Goulart no Rio de Janeiro. Deu no que deu, ao precipitar o movimento, e a direita militar fez o resto, mas nisso Castello Branco não teve parte.
A terceira, e única, intervenção das FFAA, e não de “simples” militares, na política, se refere, não ao Ato Institucional n. 5, em dezembro de 1968, uma reação autoritária ainda comandada pelo presidente, enquanto chefe das FFAA, mas sobretudo enquanto chefe de Estado, e sim ao impedimento do vice-presidente Pedro Aleixo de assumir o poder, em agosto de 1969, quando as FFAA se constituem em Junta Militar e emitem a Emenda Constitucional n. 1 (à Constituição de 1967), e ficam no poder até a eleição, pelo Congresso, do general Emílio Médici, como novo presidente do Brasil, da mesma forma como tinha sido o Congresso que havia “eleito” o general Castello Branco como “presidente” do Brasil, em princípio até 1965, data de nova eleição presidencial no quadro da Constituição de 1946.
Esta é a minha visão das intervenções das FFAA, de um lado, e de militares, de outro, na política brasileira ao longo do século e meio republicano. Atualmente, no governo confuso do presidente Bolsonaro, com militares eleitos e outros escolhidos para participar no governo, em diversos níveis, o que temos é o mais próximo possível de uma intervenção de militares e das FFAA na política, sem o ser, pois não há uma crise declarada, não há um movimento em curso, não existe um programa de governo das FFAA, ou de militares, para conduzir o país, como talvez surgiu bem depois de março-abril de 1964 (o assunto “governo militar” foi finalmente decidido entre o final de 1964 e o início de 1965, dando início a um regime não previsto inicialmente, e que tampouco estava planejado para durar tanto tempo; foi durando por inépcia da esquerda, que foram as verdadeiras responsáveis pela ditadura que finalmente se estabeleceu, e que teve vários ciclos, como demonstrou Elio Gaspari, Marco Antonio Villa e diversos outros historiadores ao longo do tempo, inclusive brasilianistas, como Tom Skidmore).
Resumindo, o que temos hoje é uma espécie de “maçonaria militar” – como já houve outros episódios em nossa história, a independência, a própria República e outras coisas que seria preciso identificar). Eu digo “maçonaria” num sentido lato, e não estrito, pois nem sei se os militares que “mandam” no governo Bolsonaro – que tem uma outra metade, a “kakistocracia”, comandada por uma família medíocre – são ou foram, ou integram de fato, uma das maçonarias existentes no Brasil. Pode ser que sim ou pode ser que não, o que não tem a menor importância. O que é importante é que os militares atualmente “no poder” já estão organizados nesse sentido desde 2013, e mais formalmente entre 2016 e 2017, quando aceitaram conviver com um “cavalo pangaré” no comando da República, pois era o único que tinha restado da grande mixórdia da política brasileira, tingida pela megacorrupção dos companheiros e dos tucanos, e pela mediocridade da classe política de forma geral. Eles, os militares – e não ainda as FFAA – sabem o que NÃO querem, mas não sabem ainda (ou não podem) o que querem, ainda que alguns deles saibam exatamente o que é preciso fazer.
Feitas estas longas digressões sobre as relações das FFAA e dos militares – aprendam a distinguir entre um conceito e outro – passo agora ao texto de Mario Sabino sobre a Ordem do Dia de 31 de março de 2019, que não tem NADA A VER com 1964, a não ser como mera nota de rodapé na bibliografia da história. Quem redigiu a nota, e eu imagino quem seja, sabe exatamente o que é história, o que é atualidade, o que é o governo atual, e quais são as condições, existentes ou não, para uma nova intervenção DE militares na política brasileira (e não das FFAA). Eles estão atentos, vigilantes, são controladores, até o limite da intervenção soft, ou seja, não declarada.
Ouso dizer que é o de que precisamos, no momento, até que a coisa se deteriore eventualmente, em função da mediocridade geral da política e das elites brasileiras. Se e quando isso ocorrer, os militares, e não as FFAA, estarão prontos para exercer o seu “poder moderador”, que deveria ser – se acreditou num determinado momento – o da Suprema Corte, mas que não foi, pela mediocridade da maior parte de seus integrantes.
Estamos numa situação delicada, e as ÚNICAS forças democráticas do país são exatamente as FFAA e os militares (eles mereceriam também maiúsculas, mas também tenho dúvidas sobre alguns de seus integrantes), e cabe a eles conduzir o Brasil a bom porto até 2022, quando teremos mais uma oportunidade de verdadeiramente transformar o país, uma vez que 2018 foi uma nova oportunidade perdida. Termino com Roberto Campos, para quem o Brasil é um país “que não perde oportunidade de perder oportunidades”. Por enquanto ainda estamos nisso, mas espero que estejamos melhor preparados chegando a 2022. Esta é uma das razões pelas quais eu gostaria de fazer do vice-presidente atual o coordenador de uma comissão supraministerial em torno dos preparativos para o Bicentenário da Independência, em 2022. Espero que ele aceite.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31 de março de 2019

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Segue a postagem que eu pretendia colocar em primeiro lugar, mas que ficou como anexo à minha longa digressão sobre as FFAA e os militares na política.




Para ler o recado dos militares sobre 64

Mario Sabino
Revista Crusoé, n. 48, 31 de março de 2019

Em 31 de março de 1964, eu estava a uma semana de completar 2 anos de idade  (...); em 1968, ano em que os generais linha-dura derrotaram os generais moderados, eu tinha 6 anos de idade – a professora da primeira série mandou que todos ficássemos debaixo da carteira, enquanto o pau comia na rua entre estudantes e soldados. As mães foram buscar os filhos mais cedo na escola e, enquanto voltávamos para casa, vi caminhões do Exército carregados de moços presos, numa rua com lojas fechadas e pedras, muitas pedras no meio-fio, os restos do conflito que se travara havia pouco. Dias antes do Natal, a família se reuniu e as crianças ouviram que deveríamos tomar cuidado para “não falar mal do governo na frente de estranhos, porque o vovô poderia ser preso”. O regime militar havia baixado o AI-5. Meu avô italiano, socialista, havia sido perseguido por Getúlio Vargas, em conluio com os fascistas, e agora receava ter de enfrentar tudo de novo. Não enfrentou. Morreu menos de dois anos depois, de enfisema pulmonar.
As minhas memórias dos acontecimentos políticos de 1964 e 1968 não se comparam com as dos filhos das vítimas de ambos os lados, mas certamente são semelhantes em insignificância às das dezenas de milhões de cidadãos que hoje têm mais de 55 anos. A maioria dos brasileiros nem era nascida nessa época. Mas 1964 voltou a ser assunto politico, quando deveria ser apenas histórico, por causa da insistência de Jair Bolsonaro.
Meses atrás, eu disse aqui na Crusoé que discutir 1964 a esta altura é como se, em 1964, o tema dos debates fosse a presidência de Hermes da Fonseca, que governou o país de 1910 a 1914. Outra ideia fora de lugar. Mas Jair Bolsonaro ordenou que as Forças Armadas comemorassem – ou rememorassem, vá lá — a data, obnubilado pela tal guerra cultural que os seus ideólogos teimam em trazer para o palco, como se dela dependesse a permanência da direita no poder conquistado nas urnas. Não depende. A direita só continuará no poder se for capaz de tirar o Brasil do buraco, por meio da reforma da Previdência, e proporcionar emprego, educação, saúde, segurança e transporte dignos desses nomes à massa dos eleitores. O resto é conversa mole.
Os militares não queriam saber de 1964, mas se viram obrigados a obedecer à determinação do presidente da República. Bolsonaro é o chefe supremo das Forças Armadas. Se ele manda, está mandado. Os militares queriam deixar isso para lá, porque tudo o que eles não desejam, agora que estão presentes no primeiro escalão da República, é ver ressuscitadas as acusações de que exilaram, prenderam, mataram e torturaram um monte de gente – que, por sua vez, também sequestrou, roubou e matou um monte de gente antípoda. Mas não teve jeito: a imprensa voltou a bater em 1964, porque Bolsonaro encasquetou de reverter a decisão de Dilma de proibir manifestações de militares a respeito da data.
A Ordem do Dia sobre 1964 que o Ministério da Defesa divulgou, a ser lida nos quartéis de Exército, Marinha e Aeronáutica, foi escrita a muitas mãos. Aposto que o General Eduardo Villas Bôas revisou a versão final. Os jornais já disseram, claro, que as Forças Armadas não fizeram autocrítica, mas ninguém ouviu também José Dirceu e Dilma Rousseff declarando-se culpados pelos crimes que cometeram em organizações esquerdistas que queriam implantar outra ditadura no Brasil, a pretexto de lutar pela democracia. Todo mundo acha que fez certo – e será assim até o final dos tempos. A História não é feita de inteiras verdades, porque lhes falta abundância. A História é um edifício alicerçado ao mesmo tempo nas versões de vitoriosos e derrotados. Sob a cúpula dourada que domina a Esplanada dos Inválidos, em Paris, jaz a tumba majestosa de um homem que, em Londres, teria sido enforcado e enterrado numa cova destinada a criminosos da pior estirpe. O próprio Napoleão Bonaparte, com toda a sua vaidade, tinha a dimensão de que “há somente um degrau entre o sublime e o ridículo”. Ele disse a frase ao embaixador polonês depois do fracasso da invasão da  Rússia, em 1812. Não raro, sublime e ridículo, verdade e mentira, terror e terror convivem no mesmo plano, sem degrau que os separe.
Na minha opinião, a Ordem do Dia deste 31 de março é um primor de diplomacia. Obviamente, as Forças Armadas não abrem mão da sua versão, dando uma ajustadinha nos fatos iniciais, mas é altamente significativo que os militares evitem falar em “Revolução de 1964”.
Vou interpretar o texto:
As Forças Armadas participam da história da nossa gente, sempre alinhadas com as suas legítimas aspirações. O 31 de Março de 1964 foi um episódio simbólico dessa identificação, dando ensejo ao cumprimento da Constituição Federal de 1946, quando o Congresso Nacional, em 2 de abril, declarou a vacância do cargo de Presidente da República e realizou, no dia 11, a eleição indireta do Presidente Castello Branco, que tomou posse no dia 15.

A ajustadinha foi que a vacância em 2 de abril foi motivada pelo movimento dos quartéis no dia 31. João Goulart não saiu porque quis, mas porque foi apeado pelas Forças Armadas — e a Constituição de 1946 não previa general eleito indiretamente para a presidência da República. “Dar ensejo” é um eufemismo. Segue a Ordem do Dia:

Enxergar o Brasil daquela época em perspectiva histórica nos oferece a oportunidade de constatar a verdade e, principalmente, de exercitar o maior ativo humano – a capacidade de aprender. 
Desde o início da formação da nacionalidade, ainda no período colonial, passando pelos processos de independência, de afirmação da soberania e de consolidação territorial, até a adoção do modelo republicano, o País vivenciou, com maior ou menor nível de conflitos, evolução civilizatória que o trouxe até o alvorecer do Século XX. 
O início do século passado representou para a sociedade brasileira o despertar para os fenômenos da industrialização, da urbanização e da modernização, que haviam produzido desequilíbrios de poder, notadamente no continente europeu. 
Como resultado do impacto político, econômico e social, a humanidade se viu envolvida na Primeira Guerra Mundial e assistiu ao avanço de ideologias totalitárias, em ambos os extremos do espectro ideológico. Como faces de uma mesma moeda, tanto o comunismo quanto o nazifascismo passaram a constituir as principais ameaças à liberdade e à democracia.

A contextualização histórica é correta e, ao afirmar que o século XX assistiu ao avanço de ideologias totalitárias em ambos os extremos do espectro ideológico, e que comunismo e nazifascismo são faces da mesma moeda, os autores mandam um recado principalmente para as franjas bolsonaristas que continuam a sonhar com um golpe direitista. O recado é que os militares não participarão dessa aventura irresponsável. Tiveram a capacidade de aprender. O parágrafo seguinte enfatiza o combate das Forças Armadas contra os totalitarismos e, assim, reforça o recado:

Contra esses radicalismos, o povo brasileiro teve que defender a democracia com seus cidadãos fardados. Em 1935, foram desarticulados os amotinados da Intentona Comunista. Na Segunda Guerra Mundial, foram derrotadas as forças do Eixo, com a participação da Marinha do Brasil, no patrulhamento do Atlântico Sul e Caribe; do Exército Brasileiro, com a Força Expedicionária Brasileira, nos campos de batalha da Itália; e da Força Aérea Brasileira, nos céus europeus.

A Ordem do Dia fornece uma moldura para o que ocorreu em 1964, inserindo o 31 de março no âmbito da Guerra Fria e como consequência dela:

A geração que empreendeu essa defesa dos ideais de liberdade, com o sacrifício de muitos brasileiros, voltaria a ser testada no pós-guerra. A polarização provocada pela Guerra Fria, entre as democracias e o bloco comunista, afetou todas as regiões do globo, provocando conflitos de natureza revolucionária no continente americano, a partir da década de 1950.
O 31 de março de 1964 estava inserido no ambiente da Guerra Fria, que se refletia pelo mundo e penetrava no País. 

Está certo, mas houve também conflitos de natureza revolucionária na Europa Ocidental, centro nevrálgico da Guerra Fria, e nem por isso países como França, Itália e Alemanha Ocidental, sacudidos por atentados terroristas, deixaram de ser democráticos. Na sequência, o texto aborda características próprias daquele momento brasileiro:  

 As famílias no Brasil estavam alarmadas e colocaram-se em marcha. Diante de um cenário de graves convulsões, foi interrompida a escalada em direção ao totalitarismo. As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo. 

A ampla maioria da classe média realmente clamava pela intervenção militar, diante dos desatinos de João Goulart, aliado a esquerdistas desmiolados. É fato. A grande imprensa brasileira também foi bulir com os granadeiros nos bivaques. O Globo, O Estado de S.PauloFolha de S.Paulo e Jornal do Brasil (que tinha Alberto Dines como editor-chefe) eram favoráreis a que os militares assumissem o controle da situação. A “estabilização” era para ser provisória, mas se perpetuou por 21 anos.
O texto, então, dá um salto de mais de uma década, para evitar falar do endurecimento do regime a partir de 1968. O aspecto salutar é que, se omite,  não o justifica. Vamos ao trecho:

Em 1979, um pacto de pacificação foi configurado na Lei da Anistia e viabilizou a transição para uma democracia que se estabeleceu definitiva e enriquecida com os aprendizados daqueles tempos difíceis. As lições aprendidas com a História foram transformadas em ensinamentos para as novas gerações. Como todo processo histórico, o período que se seguiu experimentou avanços. 
As Forças Armadas, como instituições brasileiras, acompanharam essas mudanças. Em estrita observância ao regramento democrático, vêm mantendo o foco na sua missão constitucional e subordinadas ao poder constitucional, com o propósito de manter a paz e a estabilidade, para que as pessoas possam construir suas vidas. 
Cinquenta e cinco anos passados, a Marinha, o Exército e a Aeronáutica reconhecem o papel desempenhado por aqueles que, ao se depararem com os desafios próprios da época, agiram conforme os anseios da Nação Brasileira. Mais que isso, reafirmam o compromisso com a liberdade e a democracia, pelas quais têm lutado ao longo da História.

Ao dizer que a lei de anistia de 1979 viabilizou a transição para uma democracia definitiva – definitiva, frise-se –, as Forças Armadas voltam a dar um recado, desta vez para ambos os extremos do espectro ideológico: não há mais lugar para golpes de qualquer espécie no Brasil. Os militares avançaram, porque igualmente aprenderam com a história. O verbo “aprender” é relevante nessa Ordem do Dia. E, embora reconheçam o papel dos responsáveis por 1964 (será assim até o final dos tempos, repito), eles reafirmam mais que isso o compromisso com a liberdade e democracia. O “mais que isso” não é muleta conectiva. É conteúdo fundamental.
Para ler os militares, é preciso prestar atenção aos detalhes. As Forças Armadas estão em 2019 (não é à toa que ressaltam os 55 anos do 31 de março), ao contrário de Bolsonaro e as suas franjas, que não saem de 1964, para a alegria da esquerda que usa o passado para arruinar o presente.

Mario Sabino