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segunda-feira, 1 de maio de 2023

Washington finalmente está superando a falsa "armadilha de Tucídides"? Um novo Consenso de Washington? - Ishaan Tharoor (WP)

 Tradução para o Português in fine:

The Washington Post, May 1st, 2023

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Sobre uma falsa analogia em torno de supostos imperialismos rivais - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre uma falsa analogia em torno de supostos imperialismos rivais

Paulo Roberto de Almeida 


A história não se repete; analogias são em geral falsas ou indevidas. 

A tal “armadilha de Tucídides” é uma fantasmagoria criada pelo relativo declínio dos EUA e pela dificuldade em aceitar as novas realidades. 

Não há sequer termo de comparação possível no caso do conflito entre Atenas e Esparta e a atual postura adversária dos EUA para com a China.

As pessoas deveriam primeiro ler Tucídides, que continua a ser uma grande fonte de reflexões sobre os erros de diplomacia que pode cometer uma potência estabelecida, tornada arrogante e dominada pela hubris. 

Atenas foi derrotada por seus próprios erros, não por algum destino fatal determinado pela potência de Esparta.

A melhor reflexão a partir do grande livro de Tucídides está na “oração aos mortos”, a defesa da democracia por Péricles. Os EUA parecem ter esquecido algumas lições. Os episódios propriamente militares são irrelevantes para o cenário atual.

Os acadêmicos americanos que difundem essa falsa analogia da “armadilha” prestam um desserviço à sua própria inteligência.

Paulo Roberto de Almeida

4/01/2022

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Os acadêmicos americanos decididamente enlouqueceram com a "competição" chinesa - Graham Allison (Harvard)


  Observem que o professor americano, membro do Belfer Center, não fala sequer em competição militar, mas em RIVALIDADE, ou seja, confrontação. Graham Allison é autor do livro sobre a inevitável guerra entre as duas grandes potências, sob a inacreditavelmente FALSA ANALOGIA da "Armadilha de Tucídides". Ele começa falando de rivalidade militar "China vs USA", como se essa fosse a realidade.

Não se trata sequer de uma competição ou rivalidade EUA-China, e sim de uma postura adversária UNILATERALMENTE DECIDIDA entre os EUA e a China, sendo que esta jamais descreveu a relação bilateral em termos tão diretamente confrontacionistas. Os americanos decididamente enlouqueceram, pois não admitem que qualquer outro poder possa sequer chegar a igualar, ou equiparar-se em capacidade de projeção, sua própria primazia hegemônica, que eles imaginam ser não apenas eterna, como inevitável, necessária e benéfica para toda a humanidade.

Os chineses precisam manter a calma, nos próximos 50 anos, período no qual sua primazia tecnológica e militar terá condições de alcançar e talvez superar a dos EUA.

Paulo Roberto de Almeida


The Great Military Rivalry: China vs. the U.S.

The Harvard China Working Group has just completed the next installment in our series on the “Great Rivalry” between the U.S. and China. The first paper, on the Great Tech Rivalry, reported an uncomfortable finding: on current trajectories, China could become the global leader within the next decade in every one of the 21st century’s foundational technologies. Our second paper on the Great Military Rivalry documents what has happened in the military competition between China and the U.S. since 2000. While America’s position as a global military superpower remains unique, China has made great leaps forward on many fronts. What that means for the bottom line is that the era of American military primacy is over—dead, buried, gone. Indeed, in the most likely scenario of conflict between the U.S. and China—a hot war over Taiwan—America could very well lose.

Unfortunately, too many politicians and pundits have missed the harsh realities of a grave new world. One leader who recognized China’s military rise and spoke bluntly about its consequences is former Secretary of Defense Jim Mattis. His 2018 National Defense Strategy states directly: “for decades the U.S. has enjoyed uncontested or dominant superiority in every operating domain… Today, every domain is contested—air, land, sea, space, and cyberspace.”

The reason for finally confronting ugly realities is not to discourage, or counsel defeatism, but to motivate political and military leaders to act now to change current trendlines. The decisions that can have the greatest positive impact are the hardest to make and execute.

If you have a chance to look at the paper and have reactions, we’ll be eager to hear from you. 

For those interested in a shorter version of the argument, see my recent op-ed for The National Interest. A slide deckprovides a visual illustration of the paper’s key findings.

Graham Allison
Douglas Dillon Professor of Government, Harvard Kennedy School


Read the Paper


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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A paranoia anti-China dos melhores acadêmicos americanos: criam uma nova guerra por si próprios - Graham Allison e Paulo Roberto de Almeida

Ao mesmo tempo em que assisto a um webinar da Carnegie Institution sobre: 

 Ending the United States' Forever Wars

 (link: https://www.youtube.com/watch?v=1jx8pW0yL7s), 

recebo mais uma das cartas do maior especialista americano em "decision making", Graham Allison, do Belfer Center da Harvard University, autor do famoso The Essence of Decision (sobre a crise dos mísseis soviéticos em Cuba em 1962, que foi superada brilhantemente por Kennedy, mais racional do que Kruschev), trazendo mais uma vez as elaborações paranóicas sobre a China como adversária.

Inacreditável como os universitários, os melhores, os maiores, supostamente os mais brilhantes, se deixaram contaminar pela paranoia – que eu sempre considerei normal – dos militares do Pentágonos. Não é possível que eles estejam considerando a China como uma adversária, ao mesmo título que foi a suprema "encarnação do mal", a União Soviética dos tempos da Guerra Fria (e mesmo antes). Não é que eles não reconhecem que a China seja diferente da URSS, mas é que eles interpretam o mundo, e a China, EXCLUSIVAMENTE DO PONTO DE VISTA AMERICANO, numa demonstração de miopia inacreditável para uma grande potência que não é dirigida por nenhum líder psicopata como Stalin ou Hitler – OK, tem o idiota do Trump, mas ele é so um grande idiota, capaz de desmantelar um monte de coisas, mas incapaz de conceber qualquer coisa para colocar no lugar –, mas por presidentes que são assessorados pelas melhores cabeças que um país democrático pode oferecer.

O que realmente me tem surpreendido de maneira frustrante é como esses intelectuais podem ser cegos pela hubris, pela arrogância do poder, como revelado por esta frase da carta abaixo: 

"Recognition that China is not just a twin of Russia and thus another “great power competitor” but a genuine Thucydidean rival whose meteoric rise threatens to upend the American-led international order".

Ou seja, o que vale é a ordem internacional liderada pelos EUA, que eles acham a melhor possível. Não há dúvida de que uma ordem internacional aberta e democrática, livre e flexível às mais diversas variedades culturais e intelectuais, é muito melhor do que um mundo autocrático, dominado pela censura e pelo poder irrestrito do Estado.

Mas quem disse que a China quer e pretende moldar o mundo à sua imagem e semelhança? Os americanos estão ignorando a história milenar da China, com todas as suas magníficas manifestações culturais e artísticas, com todos os progressos científicos e tecnológicos, a extraordinária vitalidade, energia e inventividade do seu povo?

Será que eles acham que o comunismo – do governo, não do povo – é o ponto final da história de uma nação estraordinária, é a realização evolutiva última dessa cultura extraordinária? Será que eles pensam que meros 70 anos de dominação autocrática do Partido Comunista vão dominar a história, a vida e o futuro da China por toda a eternidade? Como eles podem ser tão míopes, e achar que a China quer destruir os EUA e o mundo "dominado" ou liderado pelos EUA?

Parece que sim: eles ainda estão vivendo no mundo da Guerra Fria geopolítica, como revelado ainda por esta pequena frase de Graham Allison: 

"Realism about the inescapable fact that the U.S. and China live on a small globe where each one faces existential threats neither can defeat by itself (including climate MAD as well as nuclear MAD)."

Esse "small globe", eles o tomam como seu, ou devendo ficar eternamente sob sua liderança exclusiva. Essa história de "Thucydidean rival" é uma loucura completa, mas o pior é que essa cegueira pode realmente levar os americanos a tratar a China como um rival, o que é pior coisa que poderá ocorrer no século XXI, talvez condenado a viver sob a sombra de uma catástrofe nuclear, um novo Armageddon, como já ocorreu na segunda metade do século XX (o primeiro foi uma repetição da Guerra de Trinta Anos, do século XVII). Temos que escapar dessa loucura, mas parece que vai ser difícil com os "acadêmicos" americanos.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3 de dezembro de 2020

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From Belfer Center, December 2, 2020: 

President-elect Biden recognizes that the impact of the rise of China on the U.S. and the international order will pose the defining international challenge for his first term—and as far beyond that as any eye can see. Because his national security team includes many familiar faces from the Obama Administration, some in the press have suggested that it will be the third term of the Obama Administration. But that misses the extent to which the world has changed, the U.S. has changed, and most importantly, in the new administration Biden will be the decider.

Others, particularly in China, have speculated that in relations with China, this could be a second term of the Trump Administration. That misses what are sure to be even starker differences between what we’ve seen in the past four years and the incoming Biden Administration’s approach to foreign policy in general, and China in particular.

In my recent interview with the Global Times (China’s major English-language mouthpiece of the People’s Daily), I summarize differences that should become visible from day one between Biden and Trump’s China policy under 5 Rs: Restoration of normal foreign policy practices (e.g., an end to idiosyncratic, personalized government by tweet); Reversal of Trump's harmful initiatives (rejoining the Paris Accord, the WHO, etc.); Review of Trump’s “159 accomplishments” in dealing with China asking about each how it impacts American national interests (e.g., tariffs that harmed the U.S. more than China); Recognition that China is not just a twin of Russia and thus another “great power competitor” but a genuine Thucydidean rival whose meteoric rise threatens to upend the American-led international order; and Realism about the inescapable fact that the U.S. and China live on a small globe where each one faces existential threats neither can defeat by itself (including climate MAD as well as nuclear MAD).

If you have reactions, I’ll be interested.

Best regards.

Graham Allison
Douglas Dillon Professor of Government, Harvard Kennedy School
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