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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 27 de abril de 2024

“Caro amigo Putin: parabéns pela sua brilhante vitória para um quinto mandato à frente da Rússia.

Carta "pessoal" de Lula a Putin

comentário Paulo Roberto de Almeida 

Lula não quer que se saiba todo o carinho que ele tem pelo seu querido amigo Putin, por isso colocou sigilo de 100 anos sobre a carta que acaba de enviar ao tirano russo, o criminoso de guerra, assassino de ucranianos e sequestrador de crianças. Diplomacia brasileira no plano mais baixo do ponto de vista da transparência e da ética pública.

Paulo Roberto de Almeida 

Trecho de argumento de Demetrio Magnoli sobre essa bela amizade:

“ "É risível. É absurdo o argumento de que se trata de uma carta pessoal. Não se trata de uma carta pessoal, se trata de uma carta enviada pelo estado brasileiro ao estado russo (...) Quando o governo impõe sigilo, por tempo indeterminado que diz respeito à vontade de Lula, enquanto o cidadão Lula quiser, no fundo, o que ele está fazendo é uma pilhéria com a Lei de Acesso à Informação, porque o que está posto sob sigilo é a política externa brasileira (...) Isso é típico de uma ditadura", analisa Demétrio Magnoli sobre sigilo posto pelo governo federal em carta enviada por Lula ao presidente da Rússia, Vladimir Putin.

➡ Assista ao #EmPauta, com @cosmemarcelo, na #GloboNews: glo.bo/2Mxn1fC “

Outra matéria de imprens:

“ O governo federal impôs sigilo sobre uma carta enviada pelo presidente Lula ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, logo após a reeleição de Putin, em março. Mesmo após um pedido da imprensa via Lei de Acesso à Informação, o governo se negou a divulgar o conteúdo da carta, alegando que foi uma correspondência pessoal. @guibalza traz os detalhes.

➡ Assista ao #EmPauta, com @cosmemarcelo, na #GloboNews: glo.bo/2Mxn1fC “

 Lula zomba dos diplomatas, zomba dos brasileiros. Lula vai visitar Putin na próxima reunião do Brics+ em Kazan, mas está se esforçando para que Putin venha ao Brasil por ocasião da cúpula do G20 em novembro.

Lula não hesita em sabotar a política externa brasileira, mesmo sabendo que se Putin vier ao Rio vários outros chefes de Estado ou de governo não comparecerão. Mas isso não importa, o que importa mesmo e a companhia do seu querido amigo Putin. Nem vale a pena cogitar de sua presença na reunião internacional sobre a paz na Ucrânia, a realizar-se em junho na Suíça, mas provavelmente irá ao G7 da Itália, mesmo correndo o risco de se encontrar com Zelensky, a quem detesta.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasilia.27/04/2024



domingo, 8 de junho de 2014

O que fazer com os ingenuos e inocentes? Ou seriam apenas toscos e ignorantes?

Recebo, a propósito de uma  postagem já antiga (de Fevereiro de 2-14), sobre a Ucrânia e as atitudes respectivas dos países ocidentais (de condenação do antigo governo ucraniano e dos russos) e dos Brics (um dos quais, a Rússia, interessada em sustentar seu aliado em Kiev, contra os ucranianos pró-europeus, que queriam um país em processo de adesão à União Europeia), esta mensagem, que transcrevo abaixo, de um leitor visivelmente anti-americano e anti-capitalista.
Ele me acha pró-americano, ou seja, um aliado fiel do imperialismo, e um defensor desse capitalismo horrível que explora todos os povos e espalha miséria, desolação e dominação militar por todos os lados.
Como eu poderia responder ao DRF, que me acusa de ser conivente com todas essas barbaridades?
Acho que não tenho condições. Ele já sabe de tudo, tem todas as certezas e está convencido que o Brasil estaria muito melhor com democracias formidáveis como Rússia e China, em lugar de se alinhar com ditaduras detestáveis como as dos Estados Unidos e União Europeia.
Concordo, meu caro DRF, a vida deve ser muito melhor na China e na Rússia, ou em Cuba, talvez, do que nesses lugares capitalistas, exploradores não só de sua própria mão-de-obra como de todos os demais povos do planeta, que tem a infelicidade de cair sob a dominação das potências ocidentais.
Esses ucranianos devem ser uns malucos, ao preferirem padrões ocidentais de vida, certamente inferiores aos russos, do que aqueles oferecidos por seus tradicionais dominadores, pelos últimos 300 ou 400 anos.
E o que dizer de todos esses africanos e latino-americanos, que teimam em emigrar clandestinamente para a Europa e para os Estados Unidos: só podem ser loucos, em busca da sua própria exploração por todos esses ocidentais arrogantes, com seus horríveis McDonalds, seus iPhones desprezíveis, seus filmes amorais.
Tem muita gente louca no mundo.
Acho que você tem razão DRF, melhor mesmo é apoiar a Rússia e a China. Não é por outra razão que o Brasil adora o Brics, e pretende tecer uma aliança cada vez mais estreita com eles, para se proteger desses imperialistas bisbilhoteiros, que ficam nos espionando eletronicamente. Isso é inaceitável.
Estamos a caminho, meu caro. Mais um pouco estaremos em perfeita sintonia com essas pujantes democracias...
Paulo Roberto de Almeida

Dxxxx Rxxx Fxxx comentou a postagem de seu blog
Voce tem nome de Brasileiro, mas parecer um defensor do Imperialismo Anglo-Americano, que tem feito a grande maioria das nações de escravas e submissas as Ordens de Washington. Eles dominam o mundo e esfolam os países sub-desenvolvidos ricos em energia, porque por mais que se tem desenvolvido outras formas de energias alternativas, o mundo ainda é escravo dos motores a combustão onde os EUA, Alemanha, Japão e Coréia do sul mandam no negócio de automóveis movidos a esses motores. E as maiores empresas do mundo de extracão e refino de petroleo são dos EUA.
O assunto de quem manda no pedaço (mundo) é energia. E os BRICS são ricos em petroleo e gás.
Deixa de ser tolo e leia o que o George Soros fêz na Ucrânia, criando Ongs, para aliciar jovens neo-nazistas para invadirem a praça Maidam, tudo foi patrocinado pelos EUA, para desestabilizar o governo. Nunca esqueça que pela Ucrânia passa todos os gasodutos e oleodutos oiginários da Russia que é atualmente o maior produtir de petróleo e gás do mundo., e alimenta 40% de toda avdnergia consumida pela Europa. Os EUA querem cortar a fonte de recursos da Russia, para enfraquecê-la, dai a Russia vai a China e fecha um contrato de 400 bilhoes de dolares para suprir a China de gas po 30 anos.
Os EUA acabaram de juntar 2 potências contra o ocidente, e realmente acho que depois do nosso Brasil saber que  NSA esteve espionando a Petrobras, vai se juntar ao outros, assim como ja se manifestou o prim. Ministro da Índia, e da Africa do sul. 

Deixa de falar bobagem seu tolo, acorda para a vida. O mundo é uma guerra pela sobrevivência, quando os EUA estiverem sob pressão economica dos BRICS, fazendo suas trocas comerciais na suas próprias moedas, o dolar vai ficar totalmente enfraquecido, até porque, não sei se o nobre amigo sabe que a dívida dos EUA em dolar esta no patamar total de 102% de todo o seu PIB.
Simplificando,a América deve para o mundo outra América, está falida, e não resta a ela outra alternativa, a não ser mostrar suas garras( poder militar, poder nuclear), e é ai que a cobra cai fumar, porque a Russia esteve 20 anos quietinha, desde a época do Gorvachov, modernizando sua máquina de guerra, é por isso que a China se associou a Russia, porque agora os EUA estáo intimidando também a China por causa de seus poços de petróleo perto do Vietnã, e também as ilhas reividicadas pela China e pelo Japão.

A coisa tá ficando muito feia, ve se lê mais um pouco antes de tecer uma porcaria de matéria dessa.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Verdades Nao Convencionais: texto completo do artigo de PRAlmeida, e comentário

Verdades não convencionais, para começar o ano pensando...

Paulo Roberto de Almeida, diplomata e professor
O Estado de S. Paulo (8/01/2013;

Costumo iniciar o ano elaborando “previsões imprevidentes”, feitas a contrário senso dos astrólogos e videntes tradicionais: elas são destinadas a não se realizarem. De vez em quando, governos ineptos me fazem “acertar”, e perder minhas apostas. Em 2012, apostando que o novo presidente francês seria teimoso a ponto de implementar uma tresloucada promessa eleitoral, previ que a gloriosa seleção tricolor se exilaria na Bélgica, caso ele decidisse concretizar a intenção de taxar em 75% ganhos anuais de mais de um milhão de euros. Passou 2013 e imaginei que ele havia abandonado tão insensato projeto. E não é que ele segue adiante? Agora só falta a seleção – ou alguns de seus expoentes – trocar de camisa e de país. A da Bélgica, para não ficar atrás, e para não incitar seus políticos a imitar os vizinhos, se exilaria no Luxemburgo. Vamos ver...
O exercício que proponho agora é diferente: não se trata mais de acertar errando (pois sempre tem o perigo de dirigentes descerem aos extremos; vide a Venezuela), mas de afirmar algumas verdades que considero comprovadas na prática, embora alguns sempre poderão exigir as provas empíricas do que pretendo afirmar. Algumas dessas verdades são tão evidentes que eu nem arriscaria qualquer uma de minhas previsões imprevidentes na sua comprovação. Vejamos algumas delas...

Programas para eliminar a pobreza terminam, de fato, consolidando-a. Almas generosas, espíritos socialistas, vocações distributivistas estão sempre querendo corrigir as desigualdades sociais por meio de algum programa de transferência de renda em grande escala. Não existe, na história econômica mundial, exemplos de eliminação da pobreza via transferências governamentais. Existem, sim, trajetórias bem sucedidas de redução da pobreza e para menores níveis de desigualdade via qualificação da mão-de-obra mediante a educação de qualidade. Empregos e renda por meio dos mercados ainda é a melhor forma inventada pela civilização para a criação da prosperidade, o que não quer dizer supressão da riqueza de alguns, como pretendem adeptos do imposto sobre as grandes fortunas. O Brasil deve ser o único país no mundo que mantém um quarto da sua população oficialmente na assistência pública. Isso é normal?

A Justiça do Trabalho não é justiça e não resolve conflitos trabalhistas, ela os atiça; deveria ser simplesmente extirpada. Toda a justiça do trabalho é uma gigantesca contradição nos termos: ela alimenta conflitos, cria enxames imensos de advogados trabalhistas que incitam justamente ao conflito, com imensas perdas para os empresários, os empregadores, e para o país como um todo. As relações trabalhistas deveriam estar baseadas no contratualismo direto e nos mecanismos arbitrais de solução de conflitos, com algumas poucas varas trabalhistas para os casos mais complexos. A sociedade economizaria provavelmente vários pontos percentuais do PIB eliminando esse gigantesco aparato alimentador de conflitos que é a justiça do trabalho.

Os sindicatos se converteram em aparatos mafiosos para extrair dinheiro dos trabalhadores. Na verdade, eles são mais do que isso: eles são máquinas de provocar desemprego e atraso tecnológico. No terreno simplesmente institucional, parece claro, hoje em dia, que os sindicatos se converteram em mecanismos de extração de recursos de todos os trabalhadores via imposto sindical, aliás, com a colaboração ativa do governo dos trabalhadores, que ainda distribuiu parte do maná para centrais de fachada, que não precisam prestar conta do que recebem. Abrir um sindicato é um meio abusado de ganhar dinheiro, quase tão fácil quanto abrir as igrejas da “teologia da prosperidade”, que também vivem do dinheiro dos ingênuos e dos incautos.

Salário mínimo nacional e compulsório é um alimentador da inflação, do desemprego e do déficit público. As pessoas estão convencidas de que ele “protege” os trabalhadores, quando na verdade destrói a empregabilidade de milhões de pessoas, inferniza a vida dos empresários, compromete o equilíbrio das contas públicas e cria um indutor inflacionário automático. Países que construíram sua prosperidade o fizeram sem esse constrangimento microeconômico e essa camisa de força macroeconômica. Todos os ativos estariam empregados se não fosse pelo salário mínimo; ele é antipobre.

A esquerda é de elite e defensora de privilégios, para si. Bem pensantes que são, pretendem ser contra as elites, quando a integram desde sempre. Não me refiro aos militantes de base, que não possuem poder decisório, mas aos apparatchiks do partido do pensamento único, aliás, agora todos no governo, aos gramscianos da academia, aos formuladores das políticas que julgam redistributivas, quando na verdade estão dirigidas a consolidar o poder da nova classe, a Nomenklatura que pretende manter o monopólio sobre as verdades orwellianas destes tempos. Eles ganharam, temporariamente, a batalha das ideias, mas apenas devido à ignorância da maioria da população, não à sua educação política. Mas as mentiras se desvanecerão aos poucos.

Todo governo é inepto, salvo prova em contrário. Mecanismos de coalizão reduzem tudo ao mínimo denominador, isto é, a partilha dos despojos do Estado, nacos da riqueza social apropriados por dirigentes políticos assistidos por mandarins extratores. Resultados: ineficiência estatal, fragmentação do orçamento e ausência de prioridades. Partidos, como entidades de direito privado, não podem viver de recursos estatais; um sistema de financiamento aberto e transparente pela sociedade talvez começasse a corrigir a inépcia de governos produzida por essa deformação da democracia que é a partidocracia.
Bem, a despeito de tudo, desejo um bom ano a todos.


[Washington, 29 Dezembro 2013]
Comentário recebido em 12/01/2014:

Prezado Prof. Paulo Roberto;
Muito lúcido seu artigo "Verdades não convencionais".
Todos os itens abordados são verdadeiros e importantes, mas para mim, o principal deles, é o referente à Justiça do Trabalho. Temos visto com frequência citação de que a produtividade não tem acompanhado a média mundial; que o reajuste dos salários tem sido em descompasso com a produtividade; que um brasileiro produz nada menos do que 18% (?) de um norte-americano ou coreano; mas ninguém diz o motivo principal. Derivam para a melhoria da educação, mas na verdade, com uma dita "Justiça do Trabalho" existente, quem vai pensar ou exigir produtividade?
A estrutura desse monstro, é verdadeiramente disfuncional; a lógica e bom senso passam longe de suas decisões; os juízes que a exercem, a maioria deles, veste sua capinha de Robin Wood e desancam contra os empresários empregadores sem dó nem piedade. Tratam os empregadores como se fossem escravocratas, aproveitadores; jamais como provedores de riquezas e empregos.
Só para não me estender muito, diria que essa "Justiça" só serve mesmo para "fabricar" vagabundos, tratar de advogados incapazes de atuar em qualquer outra área, pois nesta, basta manter na memória dos computadores toda sorte de reivindicações e depois apenas mudar o nome do réu e submetê-las à justiça. O ganho é certo, pois a prova em contrário pertence ao empregador e é simplesmente impossível desmenti-las na totalidade!
O certo mesmo seria, como o senhor disse, simplesmente extirpá-la. Mas nesse País disfuncional, onde impera o assistencialismo e o trabalho é simplesmente tido como maldição (o certo é ganhar sem trabalhar), quando poderemos ver essa luz no fundo do túnel?
Mais uma vez, parabéns pela atualidade de suas observações.
Atenciosamente,
Sônia D. F. Mondadori

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Meu comentário resposta, postada neste blog: 

A (in)Justica do Trabalho deveria ser extinta: comentario recebido ameu artigo sobre as Verdades Nao Convencionais

Recebi muitos comentários, vários deles diretos, a meu artigo Verdades Não Convencionais, publicados no Estadão de 8/01/2014, e reproduzido neste blog (aqui: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/01/verdades-nao-convencionais-artigo-p-r.html).
Quase todos de cumprimentos, elogiando a coragem e demonstrando concordância com meus argumentos, mas geralmente pouco elaborados.
Este que reproduzo abaixo, porém, toca num ponto fundamental, um dos maiores problemas dentre todas as nossas disfuncionalidades, e que está atrasando o Brasil e provocando perdas monumentais, para os empresários e sobretudo para a economia brasileira como um todo. 
A (in)Justiça do Trabalho é um monstro deformado, dominado pela alcatéia de"adevogados" semi-especializados, e que no seu funcionamento disforme, distorcido e deliberadamente enviesado contra os empregadores em geral, deve reduzir o PIB em vários pontos percentuais.
 Não sei calcular exatamente, mas estimo, por alto, que várias centenas de milhões de reais, talvez mesmo alguns bilhões, sejam perdidos, todos os anos, em causas "trabalhistas" que simplesmente transferem dinheiro legitimamente ganho por entes privados empregadores (empresários e famíllias individuais) para empregados que não mereceriam receber, se não fosse essa monstruosa máquina de transferir recursos de um lado para o outro, para esses "adevogados" famélicos e desonestos, sem falar em todo o dinheiro que o Estado (ou seja, todos os brasileiros) perde com todos os palácios do monstro e seus milhares de juízes e funcionários todos nababescamente (e ilegitamamente) remunerados.
Trata-se de uma ficção especialmente prejudicial ao Brasil e que deveria ser simplesmente EXTINTA.
Todos sabem que é uma hipocrisia e que em 90% dos casos o empregador será obrigado a pagar indevidamente, e também que os vampiros trabalhistas ficarão com 25% do ganho do empregado, que, na verdade, é apenas uma peça numa engrenagem de extorsão de dinheiro dos empregadores.
Todos sabem disso, mas ninguém faz nada para extinguir essa deformação anti-econômica e essa perversão social.
Por isso mesmo, ESTOU INICIANDO UM DEBATE SOBRE A EXTINÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, em nosso país, que espero tenha resultados práticos.
Agradeço à minha correspondente pela oportunidade que me deu de externar alguns argumentos a mais sobre esse problema fundamental.
O Brasil, volto a dizer, não é um país tão atrasado materialmente (em relação a outros de maior renda e mais avançados tecnologicamente, quero dizer), quanto ele é um país fundamentalmente atrasado no plano mental. Ele ainda cultiva uma legislação trabalhista fascista, corporativa e anti-econômica e mantém esse monstro disforme que se chama Justiça do Trabalho.
Paulo Roberto de Almeida 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Itamaraty, as ideologias, os partidarismos, e os diplomatas - Questoes de candidatos

As questões colocadas por este candidato à carreira não têm nada a ver com a preparação substantiva para o concurso de ingresso, e sim com preocupações ex-post, na medida em que ele ouviu falar, leu, sobre os constrangimentos causados pelos posicionamentos sectários de certos conselheiros presidenciais, interferindo na política externa.
A mensagem, enviada em formato de comentário a um dos posts deste blog, foi a seguinte:

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Embaixador Roberto Abdenur e a diplomacia brasilei...": 

Caríssimo Sr. Paulo Roberto Almeida

Busquei conhecer a carreira - com especial cuidado para não incorrer em falsos romantismos -, e acabei por identificar substanciais (e reais) afinidades, que me inclinaram à realização de compenetrados estudos para o CACD.

Não é nenhum segredo, porém, que diante da conhecida dificuldade do certame, a motivação e atitude para ingressar na casa devem ser mesmo "férreas", não havendo, ou ao menos não devendo haver, espaço para nada que possa diminuir a determinação.

No entanto, ainda que eu mantenha uma postura proativa e focada no objetivo, um único fator (mas que fator!) cisma em fazer "murchar" a expectativa vocacional, e, como indissociável consequência, o empenho na aprovação.

Trata-se da tal contaminação ideológica que o MRE vem sendo alvo nos últimos anos e que, segundo o Embaixador Roberto Abdenur, no artigo acima, já inclusive interfere na inserção externa. 

Enfim, professor, a grande (e acredito, relevante) dúvida que me assola é seguinte: 

Hoje, um diplomata que não é simpático à ideologias de esquerda, e que, noutra ponta, poderia até ganhar o subjetivo e impreciso rótulo de 'conservador', consegue progredir na carreira? Consegue manter o emprego? A sanidade física e mental?

Ou o repetido cânone "diplomatas servem ao estado e não a governos" foi definitivamente enterrado? 

Na estimada opinião do professor, tais circunstâncias tem o condão de impedir a vocação?
Ou deve-se encarar esse triste momento como ponto fora da curva, que haverá, mais cedo ou mais tarde, de dobrar-se à tradicional continuidade da política externa brasileira?

Agradeço antecipadamente quaisquer ponderações e reflexões.


Com os melhores cumprimentos,
[Fulano de Tal]

Eliminei o nome do remetente, para não lhe causar constrangimentos, e passo a comentar também, com diversos constrangimentos, uma vez que sou diplomata e já assisti a essa "contaminação ideológica" -- foi a expressão usada por ele -- alguns aspectos desse comentário.

Eu diria ao candidato em causa que ele não deve temer pela sua carreira, pois essas coisas são passageiras, e podem passar, sem deixar traços, mas também podem continuar, o que é uma possibilidade, num Brasil cada vez mais partidarizado e dividido.
Mas mesmo nesse caso, ou seja, de uma deterioração ainda maior dos serviços diplomáticos por indevida "contaminação ideológica", minha única recomendação seria a de manter um perfil baixo.
Diplomata, em geral, salvo os muito afoitos, não tem ideologia. Todos eles se comportam profissionalmente e tratam os assuntos de forma perfeitamente técnica, sem ceder às paixões políticas do momento. Sempre tem aqueles que aderem de modo entusiasmado às novas tendências políticas, seja por crença sincera nas novas verdades partidárias, ou por simples oportunismo carreirista, e também tem aqueles que por liberalismo visceral, ou anarquismo literal, resistem aos novos tempos, se o ZeitGeist discrepa muito do que se espera de um serviço diplomático "normal". Difícil avaliar o que quer dizer tudo isso, pois as percepções e sensibilidade políticas são um pouco como preferências gastronômicas ou futebolísticas: cada um tem as suas.
Sobre essa divisão entre Estado e governo, pode, ou não, funcionar, pois sempre tem aqueles que o Estado é uma abstração e ele só existe de fato quando encarnado em algum governo.
Não acredito e já escrevi muito a respeito, inclusive as "Dez Novas Regras de Diplomacia", que estão em meu site.
Os muito oportunistas dirão que a população já aprovou a política externa do governo (e do partido) nas eleições, e que por isso os diplomatas precisam "vestir a camisa" do governo.
Pode ser, mas continuo não acreditando nisso.
Em todo caso, o Itamaraty é um grande lugar para se trabalhar.
Partidários e oportunistas são poucos, e acabam passando.
Paulo Roberto de Almeida