Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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terça-feira, 11 de novembro de 2014
Debate: os ricos sao ricos porque roubam, porque o capitalismo e' desigual, ou o que?
Provavelmente vou discordar dele, porque essa história de "capitalismo" é coisa de acadêmico com a cabeça nas nuvens. As economias de mercado são o que são, os intelectuais é que inventam um tal de capitalismo e jogam toda a culpa neles.
Mas, eu me antecipo.
Reproduzo aqui mensagem recebida e reação preliminar, tentativa, da minha parte.
Volto ao debate, que está aberto a cada um -- e a cada uma, para ser politicamente correto -- de vocês.
Paulo Roberto de Almeida
Meu caro Roque,
Comento ainda antes de ler a entrevista, apenas com base em seus argumentos iniciais.
Eu nunca tenho, tive ou terei esse sentimento de despeito, de inveja dos ricos. Posso ter tido raiva, em minha juventude marxista, mas depois de conhecer TODOS os socialismos e TODOS os capitalismos, tenho uma visão bem mais matizada do mundo.
Começo por dizer que não é o capitalismo que cria desigualdades, e sim instituições mantidas por homens, ou grupos (pode chamar de classe) que permitem a alguns acumular mais do que ocorreria numa economia de livres mercados.
É justamente porque os mercados não são livres que alguns ganham mais do que outros, sempre com base em alguma atividade regulamentada, cartelizada, monopolizada.
Vou ler com atenção o texto, para depois me pronunciar.
Creio que este é um bom debate…
O abraço do
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Paulo Roberto de Almeida
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On Nov 10, 2014, at 21:08, Roque Callage . <xxxxxxx@gmail.com> wrote:
Paulo, não chame isto de inveja dos ricos, porque não é...conheço Antonio Cattani há muito tempo, é um excelente sociólogo. Está mostrando que os monopólios criados pelos super ricos e suas formas ilegais de fazer dinheiro e acumular ser trabalhar legitimamente são a grande fraude que alimenta a desigualdade da sociedade e mina o empreendedorismo democrático que distribui renda e gera oportunidades maiores a imensa maioria
Roque Callage
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Fortuna de super-ricos é 'incontrolável" diz sociólogo
Ruth Costas
Da BBC Brasil em São Paulo10/11/2014
O sociólogo Antonio David Cattani, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com formação na Paris-Sorbonne, diz ter escolhido um caminho diferente de 99% de seus colegas.
Enquanto a maioria dos cientistas sociais se debruçam sobre questões relativas a pobreza e a miséria, Cattani resolveu desbravar o outro lado da problemática da desiguandade social´: a extrema riqueza, ou os super-ricos.
A escolha já foi mais difícil de ser justificada. Desde que o francês Thomas Piketty tornou-se um best-seller com a tese de que o capitalismo está concentrando renda em vários países, o que ocorre no topo da pirâmide social global tem ganhado um pouco mais de espaço nos debates de economistas e sociólogos --ao menos no exterior.
Para Cattani, no Brasil a situação é um pouco diferente da de outros países, porque aqui ao menos se avançou no combate à pobreza. "Mas só isso não basta. Precisamos reduzir a distância entre ricos e pobres para termos uma sociedade equilibrada, com qualidade de vida e sem violência", defende.
Em "A Riqueza Desmistificada" (ed. Marcavisual) --livro escrito durante um ano de estudos na Universidade de Oxford, no Reino Unido-- o pesquisador defende que a extrema riqueza precisa deixar de ser um "tabu" para que possamos entender o papel dos multimilionários na economia, na política e na sociedade brasileria.
Confira abaixo a entrevista concedida por Cattani à BBC Brasil:
BBC BRASIL: O que o caso Eike Batista diz sobre o modo como encaramos a riqueza em nossa sociedade?
Cattani - Eike teve uma ascenção meteórica que envolveu o uso de recursos públicos e, aparentemente, também informação previlegiada. Mas havia um certo deslumbramento da opinião pública por ele. No auge de sua carreira, centenas de pessoas pareciam dispostas a pagar US$ 1.000 ou US$ 2.000 para ouvir uma palestra sua. E não havia qualquer questionamento sobre a forma como seu império foi construído - um gigante com os pés de barro.
De certa forma isso ocorreu porque há um fascínio em torno da riqueza, um deslumbre. Os grandes empresários, executivos, e ricos de uma maneira geral são tratados como superiores.
É natural que a riqueza seja vista como algo positivo, que todos almejam. Isso é até legítimo. Mas esse deslumbramento tem impedido uma análise mais rigorosa sobre como algumas dessas fortunas são construídas - o que pode envolver processos abusivos e predatórios, monopólios, vantagens junto ao poder público e outros subterfúgios, como no caso de Eike.
BBC BRASIL: Por que o sr. escolheu estudar os ricos?
Cattani - Cerca de 99% dos estudos na área de ciências sociais se debruçam sobre os pobres, a classe média e a classe trabalhadora. Poucos estudam os ricos. Mas em um dos países mais desiguais do mundo o estudo da riqueza é crucial. É o topo da pirâmide social que controla os meios de comunicação, as grandes empresas, os negócios e processos políticos e eleitorais, tomando decisões que afetam todo o resto da população. Ou seja, os ricos e super-ricos ajudam a influenciar processos que determinam a estrutura da sociedade.
Os pobres são milhões mas têm um poder mais limitado, não estão organizados, estão sob a influência dos meios de comunicações. Às vezes, meia dúzia de megaempresários influencia decisões econômicas que alteram a vida de todos.
O financiamento das empresas às campanhas políticas, por exemplo, me parece inconveniente. Por que elas dão milhões para esse ou aquele candidato? De alguma forma, querem retorno - e isso não ajuda a melhorar a qualidade de nossa democracia.
Alguns dados apontam que 1% da população controla de 17% a 20% de toda riqueza nacional. E os ricos, como os pobres, não são autorreferentes ou autoexplicativos. Ou seja, a riqueza ajuda a explicar a pobreza - e vice-versa. Por isso, temos de entender como se estrutura essa sociedade de alto a baixo. Não que os estudos sobre os pobres não sejam importantes, mas eles precisam ser complementados com análises de economistas e sociólogos sobre o topo da pirâmide - e sobre de que forma esse topo está acumulando sua fortuna.
BBC BRASIL: Por que é tão difícil estudar o topo da pirâmide social?
Cattani - A riqueza é tratada em nossa sociedade como um objeto de veneração, um totem, algo superior que precisa ser respeitado. É um tema proibido.
Além dessa dimensão ideológica, há as dificuldades práticas. Os pobres são acessíveis. Os pesquisadores podem entrar em suas casas e fazer as perguntas mais inconvenientes sobre todos os aspectos de suas vidas. Eles respondem porque esperam que isso possa ajudá-los a melhorar a sua situação.
Já os multimilionários não respondem às pesquisas porque não têm interesse em informar sobre a origem e a exata dimensão de sua riqueza. Não querem que ninguém vá bisbilhotar seu patrimônio. E o resultado é que os dados estatísticos sobre eles são extremamente fracos. Não dá para confiar apenas na declaração de imposto de renda - até porque poucos ricos são assalariados. E é difícil obter dados sobre o patrimônio. Muitos multimilionários mantêm parte de sua riqueza no exterior - têm imóveis em Paris, Londres ou Miami e escondem fortunas em paraísos fiscais.
Para completar, eles são protegidos por mecanismos legais e jurídicos, como o sigilo bancário e de declaração do imposto de renda.
BBC BRASIL: Piketty tenta há alguns anos estudar o Brasil, mas um de seus colaboradores relatou a BBC Brasil ter dificuldade em acessar dados da Receita Federal...
Cattani - Acho que no Brasil há regras específicas que garantem o sigilo desses dados e pouca colaboração das autoridades.
BBC BRASIL: Quem são esses ricos?
Cattani - É difícil quantificar isso. No Brasil, em geral as pesquisas demográficas e sociais estabelecem um patamar de renda de R$ 6.000, às vezes R$ 10 mil por mês --elas dizem: todo mundo que está acima disso é rico, é classe A. Mas precisamos estabelecer melhor as diferenças dentro desse grupo. Quem ganha R$ 6.000 por mês pode ter um bom padrão de vida, mas seu poder e o impacto na sociedade é muito diferente do que quem ganha centenas de milhares de reais.
A partir de um certo patamar, o indivíduo em questão dispõe de uma corte de serviçais, assessores tributaristas e advogados para ajudar a multiplicar sua fortuna, assessores de marketing pessoal e institucional. Faz parte do topo da pirâmide que verdadeiramente tem poder. No caso dos super-ricos eu trabalho com um percentual de 0,1% da população adulta, por exemplo.
Também há um patamar em que a riqueza gera riqueza continuamente - mesmo em situação de crise, quando a economia real sofre. Uso um conceito interessante que é o de "riqueza substantiva" - essa riqueza tão grande que escapa até ao controle político. Quem é assalariado não tem noção do que é ganhar milhões de dólares, mês após mês, ano após ano. Nem quem tem uma pequena empresa, um apartamento na praia e um mesmo automóvel do ano. Tem lá seu capital, alguns trabalhadores - mas não tem uma riqueza que se multiplica continuamente.
BBC BRASIL: O sr menciona no livro a série de TV Mulheres Ricas, de 2012. Temos os colunistas sociais, revistas sobre ricos e famosos... Até que ponto o mundo dos super-ricos está mesmo oculto, como o sr diz?
Cattani - Um famoso apresentador de TV pode tirar uma foto em seu iate para mostrar como é bem sucedido. Mas essa publicidade é pouco relevante - e eles só mostram o que interessa. O próprio Eike era uma excessão. Há toda uma camada de ricos do setor financeiro, do agronegócio que são discretissimos, não tem interesse nenhum em se mostrar. Circulam incolusive em outra esfera, internacional.
BBC BRASIL: Afinal, há algum problema em ser milionário ou bilionário? Não é "justo" que um indivíduo talentoso e trabalha duro possa gozar dos frutos de seus esforços?
Cattani - A partir de um certo nível muitas fortunas não tem mais origem no empreendedorismo, mas em situacões de poder. É esse o caso dos monopólios, por exemplo, que reduzem a eficiência da economia como um todo. Ao anular a concorrência, um determinado grupo impõe seu preço, sua prática de negócios, se vale de mecanismos tributários para aumentar sua riqueza.
É um mito essa ideia de que toda riqueza é produto de talento e trabalho duro. Há fortunas que são, sim resultado de um esforço legítimo e talentos empresariais. Mas há também herdeiros que não fazem bom uso do que receberam, multimilionários de mentalidade rentista, riquezas montadas a partir de privilégios e práticas ilegítimas. A riqueza extrema também pode ser nefasta para os negócios, para a democracia e para o próprio capitalismo.
BBC BRASIL: O Brasil é um dos poucos países em que a desigualdade de renda teria diminuído nos últimos anos. Estamos no caminho certo?
Cattani - Estamos no caminho correto das políticas públicas para redução da pobreza, mas as distâncias entre os ricos e os demais ainda são imensas. Há muito a fazer no tema da concentração de renda.
O problema é que quem está no topo da pirâmide quer manter seus privilégios. No Brasil, o pobre paga proporcionalmente mais imposto, por exemplo. Não há impostos sobre heranças e doações, como em muitos países desenvolvidos. Também não há imposto sobre dividendos e rendimentos do capital. Quem ganha milhões com dividendos não paga nada, enquanto um assalariado a partir de dois mil, três mil reais já paga imposto de renda. Precisamos de uma reforma na área tributária, além de um combate mais firme a paraísos fiscais.
BBC BRASIL: Por que é importante combater a desigualdade? Não basta combater a pobreza?
Cattani - Enquanto não avançarmos nessa área, não teremos uma sociedade mais equilibrada, com mais qualidade de vida e no qual todos tenham boas oportunidades de trabalho para desenvolver suas capacidades. Há estudos que mostram que a violência está diretamente relacionada às distâncias sociais, por exemplo. Além disso, a partir de determinado patamar, a concentração de renda prejudica a eficiência de uma economia, tira dinamismo do mercado interno. É melhor ter uma fortuna reinvestida na produção, gerando emprego, do que imobilizada em uma mansão luxuosa ou em contas no exterior.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Um debate sobre a concentracao de renda e o distributivismo estatal - neste blog
Desigualdade: desaba a lenda da desconcentração
quinta-feira, 25 de setembro
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/desigualdade-desaba-lenda-da.html?google_comment_id=z12tf1grtwacfhusv22jul3hxwvkvrjet&google_view_type#gpluscommentsEuclides Vega
1 dia atrás - Compartilhada publicamentePedro Cunha
4 horas atrás - Compartilhada publicamenteMinha resposta:
Paulo Roberto de Almeida:
Pedro Cunha,
Agradeço pelo comentário, o que mais uma vez nos confirma a fiabilidade muito relativa desses estudos sobre desigualdade, concentração da renda, com base nas metodologias de indicadores (Gini, Theil, etc) e nas pesquisas tipo PNAD ou via IRPF, como criticado. Como se trata de um tema sensível politicamente, ele se presta a vieses metodologicos de diferentes naturezas, e por isso caberia um trabalho multidisplinar, por um centro de pesquisas econômicas, utilizando abordagens complementares para séries históricas mais consistentes nos últimos 20 ou 30 anos.
Parece visível que houve uma desconcentração nos últimos 10 ou 15 anos, mas caberia determinar exatamente os fatores, os mecanismos e os impactos setoriais e sobre a inserção ocupacional das várias categorias.
Uma coisa é certa: existe uma tendência, em todas as esferas e estratos sociais, a subdeclarar e a minimizar a renda monetária e os ativos de diversis tipos, inclusive porque com um Estado fascista como o nosso todos têm medo de declarar todos os seus rendimentos, inclusive os não monetários.
Em todo caso, tenho por princípio sempre desconfiar de dados e análises de governos e de certos acadêmicos. Aí sobra muito pouca gente, não é mesmo: existem consultorias empresarias (tipo McKinsey) que não teriam interesse em deformar os dados. Orgãos multilaterais (tipo PNUD) ou plurilaterais, como OCDE, também poderiam ser considerados relativamente isentos, mas os vieses políticos e burocráticos sempre existem.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 26/09/2014
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Bomba atomica sobre o Japao, 1945: um debate interminavel nos EUA, e no mundo
O Japão dificilmente se renderia, a despeito de já estar praticamente derrotado em todas as frentes.
O que aconteceria, provavelmente, entre agosto e janeiro ou fevereiro de 1946, teria sido uma penosa conquista de territórios japoneses, ilha por ilha, praia por praia, com combates ferozes até de baioneta, e a continuidade do lançamento de bombas incendiárias, bombardeio por navios e toda espécie de armas convencionais.
Seria possível estimar a morte de 300 a 500 mil japoneses mais, uma vez que eles não se renderiam, a não ser por uma decisão do imperador. Mesmo depois das duas bombas atômicas, militares japoneses tentaram impedir o imperador de declarar a guerra perdida e aceitar a rendição incondicional, como exigida pelos americanos.
Do lado destes, morreriam, provavelmente, mais 50 a 100 mil soldados, apenas nas cabeças de ponte das ilhas japonesas, sem contar mais alguns navios afundados com base nos ataques de kamikazes.
Ou seja, sem a bomba atômica, por mais horrível que ela pode ter sido, teriam morrido muito mais pessoas, soldados e civis, e mais cidades japonesas, e instalações industriais, portuárias e ferroviárias teriam sido destruidas, com alguma perda adicional de construções históricas ou religiosas.
Abaixo, alguns reflexos deste debate, do ponto de vista de conservadores que também condenam, absolutamente, a decisão pelo uso das bombas atômicas. Como se vê, a abominação não vem só do lado da esquerda politicamente correta.
Paulo Roberto de Almeida
The Atomic Bombing of Japan--and Its Conservative Critics
The Lighthouse (The Independent Institute), August 11, 2014
Last week marked the anniversary of the dropping of atomic bombs on Hiroshima and Nagasaki in 1945. For the past few decades, condemning the attacks has carried the risk of being branded "left-wing" or "anti-American," but Stanford University Professor of History, Emeritus, Barton J. Bernstein, an advisor to the Independent Institute's Center on Peace and Liberty, reminds us that it wasn't always so. Some of the harshest critics of President Harry Truman's decision to drop the bombs came from America's political right, including conservative stalwarts such as former President Herbert Hoover and National Review contributor Medford Evans. READ MORE
American Conservatives Are the Forgotten Critics of the Atomic Bombing of Japan, by Barton J. Bernstein (The San Jose Mercury News, 8/2/14)
Terrorism by Any Reasonable Definition, by Anthony Gregory (The Beacon, 8/6/12)
The Man Who Bombed Hiroshima, by Anthony Gregory (11/8/07)
August 9, 1945, a Date that Will Live in Infamy, by Robert Higgs (The Beacon, 8/9/08)
Delusions of Power: New Explorations of the State, War, and Economy, by Robert Higgs
domingo, 6 de abril de 2014
Brasil: debate entre intervencionistas e sensatos sobre industria e desenvolvimento
Indústria e Desenvolvimento Produtivo do Brasil – FGVby mansueto |
- Luiz Schymura (IBRE)
- Yoshiaki Nakano (EESP)
- João Carlos Ferraz (BNDES)
- Rodrigo Loures (FIESP)
- Coordenação: Nelson Marconi (EESP)
- David Kupfer (UFRJ e BNDES)
- Francisco Eduardo Pires de Souza (UFRJ e BNDES)
- Rogerio Cesar de Souza (IEDI) e Cristina Reis (UFABC)
- Coordenação: Nelson Barbosa (EESP)
- Luiz Carlos Bresser-Pereira (EESP)
- Samuel Pessoa (IBRE)
- José Luis Oreiro (UFRJ)
- Coordenação: Nelson Marconi (EESP)
- Vera Thorstensen e Lucas Ferraz (EESP)
- Lia Valls (IBRE)
- Eliane Araujo (UEM)
- Celio Hiratuka (Unicamp)
- Coordenação: Laura Carvalho (EESP)
- Mariano Laplane (Unicamp e CGEE)
- João de Negri (IPEA e FINEP)
- Gustavo Britto (UFMG)
- José Eduardo Cassiolato (UFRJ)
- Coordenação: Mauricio Canêdo Pinheiro (IBRE)
- Mansueto Almeida (IPEA)
- Jose Ricardo Roriz Coelho (FIESP)
- Marcelo Miterhof (BNDES)
- Coordenação: Laura Carvalho (EESP)
- Regis Bonelli (IBRE)
- Fabio Freitas e Marta Castilho (UFRJ)
- Fernando Sarti (UNICAMP)
- Coordenação: Nelson Barbosa (EESP)
- Angelo Costa Gurgel (EESP)
- Jorge Arbache (UnB e BNDES)
- Lucas Ferraz (EESP)
- Carlos Frederico Rocha (UFRJ)
sábado, 20 de julho de 2013
Divida externa, periferia, dependencia, etc: falacias academicas - Paulo Roberto de Almeida
Vejamos o que acabo de receber como comentário, de um leitor deste blog:
mas que argumentos sustentam sua opinião que a dívida não é mais um problema? O fato de termos reservas suficientes para pagá-la? As economias periféricas são altamente dependentes do mercado de ações para financiarem suas dívidas, grande parte do orçamento que poderia ser usado para reduzir as diferenças sociais (que eu não acredito que seja discriminar classe alguma) vão para fora do Brasil pagar algo que desconhecemos.
Acredito igualmente que a SOLUÇÃO para TODOS os problemas brasileiros devem ser MADE IN BRAZIL, mas como entender esses problemas sem inserir o país em um contexto histórico e econômico de dependência externa?
Cxxxx
1) Dívida externa: Não se trata apenas do fato de ter acumulado reservas internacionais em volume suficiente para a liquidação de todas as obrigações externas do Brasil. Isso pode contar para minimizar o peso da dívida no conjunto dos passivos brasileiros.
Trata-se, basicamente, do fato de que o volume da dívida representa atualmente uma proporção mínima do valor agregado anualmente como riquezas pelo país, ou seja, tanto a relação dívida/PIB, que caiu bastante nos últimos dez anos, como a relação serviço da dívida/exportações brasileiras, ou seja, a quantidade de dólares suficientes para cobrir os juros da dívida em relação aos ganhos exteriores das vendas brasileiras em divisas. Trata-se de pura matemática elementar portanto.
Tem mais: a parte da dívida do governo no total da dívida externa é muito limitada, já que a maior parte é dívida comercial, ou seja, bancos e empresas que captam recursos lá fora e a quem cabe pagar. Ora, é sabido que as empresas do setor captam a juros extremamente reduzidos e "vendem" esse dinheiro no mercado interno a juros extremamente elevados. Cada vez que você compra a "dez vezes sem juros", você está dando um lucro extraordinário a esses gigolôs nacionais, que acumulam dinheiro de sobra para pagar os créditos externos.
2) Dependência: Esse é um conceito vazio, que só existe na boca de professores ignorantes, que não conseguem visualizar a realidade das relações econômicas internacionais. Economias "periféricas" (outra bobagem conceitual) não precisam ser dependentes de ações ou investimentos externos para financiarem suas "dívidas"; ninguém as obriga a se endividarem no exterior. É certo que países emergentes, não integrados na economia internacional, e insuficientemente capitalistas (como é o caso do Brasil), não produzem poupança suficiente para os investimentos produtivos. Mas isso não significa que necessitem se endividar externamente para realizar investimentos, se forem abertos e aceitarem investimentos diretos estrangeiros.
É apenas o nacionalismo econômico, essa doença nefasta (junto com o patriotismo ingênuo), que impede os países de se abrirem aos investimentos externos. Países esquizofrênicos, como o Brasil, amam o capital estrangeiro e detestam o capitalista estrangeiro: em consequência, em lugar de aceitarem investimentos externos, se endividam inutilmente.
Só existe dependência externa quando se é incapaz de resolver os problemas nacionais de maneira autônoma. O conceito, em si, é uma bobagem, mas governos irresponsáveis o transformam em realidade, ao fazer apelo ao dinheiro fácil do exterior, em lugar de criar as condições internas para aumentar a poupança e os investimentos nacionais, deixando, em primeiro lugar, de gastar no próprio Estado, para investir em saúde e educação.
3) Orçamento para redução das diferenças sociais: outro sinal de deficiência econômico. As desigualdades sociais devem ser reduzidas preferencialmente por ações de mercado -- ou seja, crescimento econômico, com transformação produtiva, que gera empregos mais bem remunerados -- e complementarmente por investimentos estatais em educação de base (primário, secundário, escolas técnicas, ponto), não com base em distributivismo político inconsequente, que só consegue criar uma nação de assistidos, como é o caso do curral eleitoral a que se dá o nome de Bolsa Família.
Infelizmente, o "debate" público sobre essas questões não deixa de refletir o estado de indigência intelectual a que se reduziu, hoje, boa parte dos cursos de humanidades nas faculdades brasileiras.
Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 9 de abril de 2013
Um debate de ideias: sem justificativas, mas preservando a independencia intelectual, e individual
Por isso mesmo não me defino em função dos conceitos normalmente esgrimidos por polemistas, debatedores, intelectuais, tribunos, enfim, quaisquer personalidades que pretendem intervir no debate público (quando existe, o que infelizmente não é quase o caso no Brasil). Muitos se dizem, ou são acusados de, progressistas, esquerdistas, marxistas, avançados, liberais, conservadores, direitistas, livre-cambistas, radicais ou até reacionários. Que seja!
De minha parte, não sou nada disso, pois seria simplesmente redutor. Acredito que a realidade impõe determinadas escolhas, em circunstâncias dadas (e não transformáveis pelos indivíduos), que nos obrigam a definir a melhor utilidade possível, ou o menor custo de todas as demais opções, e isso é feito na prática, ainda que valores possam inspirar nossas ações. Sacrificar a liberdade individual em favor de um hipotético bem coletivo não faz parte de minhas opções, e portanto a única coisa que eu poderia ser seria a de ser um contrarianista ou um libertário radical, sempre disposta a escolher o melhor caminho, indepedentemente da afiliação ideológica de certas soluções. Algumas serão estatais, por certo, outras privadas e de mercado. Assim sou, ponto.
Por que digo isto?
Por ter recebido esta manha um comentário que de certa forma censura minha postura em relação a determinados "intelectuais" (não gosto do conceito, sendo mais um adepto de Paul Johnson, para quem os "intelectuais" são um perigo público), já que eu me distancio, de certa forma, de polemistas como Olavo de Carvalho ou Reinaldo Azevedo.
Vou explicar minha posição e postar o que recebi (e que exclui da zona dos comentários para postar aqui, com distinção), para facilitar o debate futuro. Não defendo pessoas, ou posturas de outrém: defendo ideias e debato ideias. Daí a preservação de minha independência mesmo em relação a pessoas que poderiam comungar do mesmo universo mental que o meu, que defendem mais ou menos os mesmos princípios e valores. Mas nunca abdico de minha independência para julgar eu mesmo o que é melhor do ponto de vista individual e social.
Dito isto, vou postar aqui o que recebi, e preparar o terreno para um debate futuro. Agora preciso trabalhar.
Voltarei ao assunto.
Paulo Roberto de Almeida
Eduardo Leite deixou um novo comentário sobre a sua postagem ""Debate" de ideias: miseria da academia, e do jorn...":
Não entendo porque um homem como o senhor, de reconhecida erudição e inteligência, também demonstra esta necessidade juvenil de se justificar por ler este ou aquele autor.
A fraqueza perante a opinião é sem dúvida um dos grandes causadores da decadência cultural, intelectual e educacional que hoje enfrentamos. E se ela atinge até mesmo homens de coragem e brilhantismo como o senhor, que esperança podemos ter em algo que um dia mereceu a alcunha de cultura brasileira?
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Postado por Eduardo Leite no blog Diplomatizzando em 09/04/13 03:28
sábado, 9 de fevereiro de 2013
"Debate" de ideias: miseria da academia, e do jornalismo (Olavo de Carvalho)
Sou um homem de ideias, se posso ousar na autocaracterização, ou pelo menos respeito ideias (quando consistentes, claro, lógicas, e sólidas), e seu poder de mudar o mundo. Como eu mesmo não tenho poder algum -- certamente não material, ou de fortuna, sequer o do alcance nos meios de comunicação, não tenho nenhuma influência sobre os que decidem, de verdade, e meu único poder é o de divulgar ideias e de as debater para o pequeno público que porventura frequenta estas páginas --, como eu não tenho poder algum, repito, minha única força é a de selecionar ideias, conceitos, problemas, exemplos e posições, e de trazer tudo isso aqui para uma exposição, um debate, e uma tomada de posição.
Tenho uma enorme carga de leitura todos os dias: dezenas, senão centenas de mensagens que entram no InBox, que precisa ser selecionadas, lidas, pela sua relevância, ou descartadas por inúteis ou simples spam (cada vez mais, infelizmente). São boletins de imprensa (dos mais importantes jornais diários e de revistas de análise e opinião), colunas especializadas, newsletters de fundações, think tanks, grupos de interesse, mensagens de alunos ou pesquisadores, enfim, todo tipo de material que tento acompanhar. Sobra-me, assim, pouco tempo para escrever, o que é um problema sério de administração do meu pouco tempo disponível. Mas, no meio de cada mensagem, de cada matéria lida, sempre tenho reações mentais, reflexões momentâneas, sugestões de novos artigos, que nunca são escritos porque justamente dedico mais tempo à leitura do que à escrita, que exige sempre mais cuidados, mais tempo e atenção, do que a leitura rápida dos materiais entrantes.
Daí a tendência a simplesmente postar matérias que considero relevantes ou interessantes -- pode ser uma simples reportagem de jornal, puramente factual, ou uma análise assinada -- e fazê-la preceder de rápidos comentários meus, geralmente escritos tão rapidamente que os erros são inevitáveis, de estilo, de concordância, de simples digitação, já que o pensamento flui mais rápido do que a escrita dedilhada. Não deixo de fazer, contudo, pensando que poderei um dia retomar todas essas postagens, para escrever algo mais alentado sobre os problemas aqui enfocados.
Trata-se, obviamente, de uma ilusão, um pouco como todos os livros que compro, folheio um pouco, e depois tenho de deixar de lado, por ocupações mais urgentes. Como já adiantei, vou precisar de mais uns 150 anos, para ler todos os livros que tenho ou que pretendo ler... Também vou precisar de vários anos para voltar a todos os postos acumulados nos meus diversos blogs, milhares deles.
Isso não me impede de continuar acompanhando o debate sobre a cultura brasileira (ou a falta dela). Como fiz na postagem anterior, ou precedente, coloco aqui matérias desse outro jornalista conhecido, não porque eu concorde com tudo o que ele, ou com suas outras posições, em matérias religiosas, filosóficas ou políticas, por exemplo, mas simplesmente porque ele trata de questões reais, que tem a ver com a deterioração do debate intelectual no Brasil, algo que me preocupa sumamente.
Paulo Roberto de Almeida
A imbecilidade, segundo ela própria
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio,
Faz dezessete anos que publiquei O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras, onde ilustrava com toda sorte de exemplos o desmantelamento da cultura superior no Brasil e sondava as causas de tão deprimente estado de coisas. Desde então, à medida que o fenômeno alcançava dimensões maiores e mais alarmantes, não cessei de acrescentar a essa obra, em artigos e conferências, inúmeras atualizações, esclarecimentos e novas análises.
Ao longo de todo esse período, não veio, da mídia ou do establishment universitário, nenhum sinal de que alguém ali desejasse discutir seriamente o problema ou reconhecer, ao menos, que um cidadão desperto havia soado o alarma.
Ao contrário: tudo fizeram para ocultar a presença do mensageiro e dar por inexistente o mal que ele apontava, do qual eles próprios, por suas ações e omissões, eram os sintomas mais salientes.
Chegaram ao cúmulo de, não podendo ignorar de todo as obras essenciais que eu recolocava em circulação com extensas introduções, notas e comentários, noticiá-las sem mencionar o nome do preparador, como se os textos abandonados no fundo do baú da desmemória nacional tivessem saltado dali por suas próprias forças, sem nenhuma ajuda minha.
Inaugurado quando da minha edição dos Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux em 1998, o “Consenso Nacional da Vaca Amarela”, como o chamei na ocasião, continua em pleno vigor, como se vê por dois exemplos recentes.
Na Folha de S. Paulo, um sr. Michel Laub faz ponderações sobre a “Dialética Erística” de Schopenhauer, usando a edição comentada que dela publiquei pela Topbooks em 1998 e esmerando-se em suprimir o meu nome ao ponto de atribuir ao filósofo alemão o título editorial “Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão”, como se fosse do texto original e não dos meus comentários.
Na Carta Capital desta semana, o sr. Mino Carta deplora o que ele chama de “imbecilização coletiva”, no tom de quem soa um alerta pioneiro e fingindo ignorar que esse termo, há muito tempo, já deixou de ser uma expressão genérica para se tornar alusão a um dos livros mais lidos das últimas décadas.
Talvez eu devesse estar contente de que, mesmo sem menção ao tremendo esforço que fiz para revelá-lo, o fenômeno mesmo se tornasse por fim objeto de alguma atenção. Mas o sr. Carta só toca no problema com a finalidade de encobrir suas causas, lançar as culpas sobre os bodes expiatórios de sempre e bloquear, enfim, toda possibilidade da discussão séria pela qual venho clamando desde 1996.
Desde logo, ele só enxerga a degradação cultural do Brasil pelo aspecto quantitativo da escassez de grandes obras – a qual, em si, não seria tão grave se a massa da produção mediana e os debates correntes dessem testemunho de um nível de consciência elevado, honrando uma herança que já não se consegue emular. É justamente a queda do nível de consciência geral que justifica falar de “imbecilização”, quando a mera diminuição do número de gênios por quilômetro quadrado seria chamada mais propriamente de “empobrecimento” ou coisa assim. Desprovido de qualquer tino de historiador ou sociólogo, o sr. Carta limita-se a registrar o fenômeno com a superficialidade de um resenhista cultural. Não apenas entra no debate com um atraso monstruoso, mas rebaixa formidavelmente o nível de análise já alcançado uma década e meia antes.
Com aquele automatismo de quem já tem resposta pronta para todas as questões em que não pensou, ele lança o débito da miséria cultural brasileira na conta dos culpados genéricos mais à mão, os malditos capitalistas, sobretudo os donos da mídia. Em suma: os concorrentes comerciais do sr. Carta, que odeia o capitalismo mas ama o capital ao ponto de fazer dele o nome da sua revista.
Pergunto eu, em que foi que os expoentes da cultura brasileira antiga, um Guimarães Rosa, um Graciliano Ramos, um Gilberto Freyre, um Manuel Bandeira, dependeram jamais da mídia para produzir suas altas criações? O sr. Carta, com toda a evidência, confunde cultura com show business: este não sobrevive sem a mídia, mas os grandes, os espíritos criadores, trabalham não só longe dela como contra ela. O que quer que ela diga ou faça não pode reforçar ou tolher sua inspiração.
Em segundo lugar, a imbecilização da própria midia, que reflete na esfera mais baixa o decréscimo de QI nos andares superiores, não é de maneira alguma culpa dos empresários. Quem quer que tenha alguma experiência de jornalismo no Brasil sabe que os donos e acionistas só interferem na redação muito raramente e na defesa de pontos específicos do seu interesse, deixando a orientação geral das publicações aos cuidados das celebridades jornalísticas, das primas donas, que aí imperam com invejável liberdade de movimentos, como o próprio Sr. Carta imperou no Jornal da Tarde, na Veja e em não sei mais quantos lugares. E sabe também que essas lindas criaturas implantaram nas redações, desde a década de 80, o mais estrito monopólio esquerdista, restringindo o espaço das vozes discordantes, eliminando qualquer possibilidade de confrontação de idéias e ainda discursando cinicamente contra o “pensamento único”, como se o único “pensamento único” que ali se praticava não fosse o delas próprias. Mais sobre este assunto no próximo artigo.
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Causa mortis
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio
A tal ponto chegou a padronização esquerdista da mídia, da qual falava o meu artigo anterior, que em 2001 O Globo, segundo confessou seu chefe de redação, Luís Garcia, teve de contratar pelo menos um colunista tido como “de direita”, para não dar muito na vista. Esse colunista era eu, mas, assim que se tornou patente a minha insistência em denunciar as atividades do Foro de São Paulo – cuja simples existência o establishment iluminado negava --, fui expelido não somente daquele jornal, mas da Zero Hora, do Jornal da Tarde e da revista Época.
Fui substituído por uma geração de direitistas soft, que se limitam a defender genericamente a economia de mercado e as liberdades democráticas, sem deixar de fazer toda sorte de concessões ao programa sociocultural da esquerda. E tanto se reduziu nesse ínterim a quota de “direitismo” admissível, que mesmo esses, hoje em dia, são rotulados de radicais, extremistas e golpistas, inclusive pela revista do sr. Carta.
A História já comprovou mil vezes que o rebaixamento da cultura a instrumento de um esquema de poder, acompanhado da supressão das vozes discordantes, é o caminho mais curto para a imbecilização geral.
É claro que a mídia, por si, não pode secar a criatividade das melhores inteligências. O que ela pode fazer, e fez, foi baixar o nível do debate geral para ajustá-lo a uma política que festejava o analfabetismo do sr. Lula como prova de suas “raízes populares” (uma ofensa brutal aos pobres estudiosos) e, coerentemente com o mais rasteiro populismo intelectual, entregava o Ministério da Cultura a homens incapazes de escrever três palavras sem errar duas e meia.
Isso começou com o dogma progressista-populista (já comentado no próprio Imbecil Coletivo), de que todo es igual, nada es mejor, de que toda distinção entre o mais alto e o mais baixo é um elitismo fascista, devendo portanto ser extinta a noção mesma de cultura superior e instaurado o cambalache universal que hoje arranca lágrimas de crocodilo do sr. Mino Carta.
Significativamente, o sr. Carta não diz uma palavra sobre a essencial causa mortis da cultura brasileira, a instrumentalização das universidades como centros de formação da militância comunista. Num ambiente de compressiva uniformização doutrinal, intoxicados de slogans, chavões e cacoetes mentais obrigatórios, protegidos de todo desafio intelectual e cientes de que o menor desvio da ortodoxia dominante pode destruir suas carreiras, milhões de jovens entendem hoje a formação universitária como subserviência canina aos mandamentos de seus orientadores, incluindo, entre as demonstrações rituais de fidelidade, as expressões histéricas de ódio às bêtes noires da mitologia professoral -- eu, é claro, em primeiríssimo lugar. Que alta cultura pode sobreviver nessa atmosfera? Não foi decerto coincidência que alunos da maior universidade brasileira, tendo descido da condição de estudiosos acadêmicos para a de ativistas e militantes, tenham caído daí para a de drogados e praticantes do sex lib e em seguida para a de bandidos comuns. Qual será a próxima etapa?
Já que o sr. Carta deplora as diferenças entre a cultura brasileira dos anos 40 ou 50 e a de hoje, por que não diz que, dessas diferenças, a maior foi a passagem de um saudável pluralismo ideológico a uma atmosfera de monopolismo partidário, rancor insano e repressão do pensamento divergente? Será possível imaginar, naquela época remota, um intelectual de boa reputação bloqueando o acesso dos seus adversários à mídia, ou baixando sobre eles uma cortina de silêncio em público ao mesmo tempo que, pelas costas, instigasse contra eles o ódio da juventude universitária? Naquele tempo, o editor José Olympio costumava reunir no fundo da sua livraria os escritores das mais variadas tendências ideológicas, para conversações que hoje seriam impossíveis. Naquele tempo, foram sobretudo os críticos de esquerda que fizeram a fama de Gilberto Freyre, o inverso de um esquerdista. Naquele tempo, o socialista Álvaro Lins abria as portas do jornalismo a Otto Maria Carpeaux, que chegava da Áustria com a fama de doutrinário-mor do regime católico-autoritário do chanceler Dolfuss. Não que inexistissem antagonismos. Existiam e eram feios. Mas ninguém fugia de lidar com eles no campo da palavra, ninguém seguia o preceito leninista de tentar destruir socialmente o adversário em vez de discutir com ele.
Diferença por diferença, pergunto se naqueles tempos áureos algum colunista de mídia seria capaz de falar de um problema já abundantemente denunciado e analisado por outro colunista, e fazê-lo com ares de pioneirismo absoluto, sem dar o menor sinal de ter ouvido falar do antecessor. Se o sr. Carta diverge de mim, que seja homem e fale o português claro. Que pare de camuflar sua covardia por trás de uma afetação de superioridade olímpica.
Os exemplos poderiam multiplicar-se ad infinitum. Não foi só a produção de boas obras que diminuiu. Foi muito mais a estatura moral da classe opinante, hoje mais empenhada em consolidar o poder do PT e beneficiar-se financeiramente dele do que em preservar aquele mínimo de integridade e honradez sem o qual não existe vida intelectual nenhuma.
O sr. Carta imita enfim o mafioso que mandou matar o adversário e depois ainda foi ao enterro perguntar à viúva: “De quê morreu o seu marido, minha senhora?” A dona, não podendo dar nome aos bois, saiu-se com este maravilhoso eufemismo: “Foi de encontro a um projétil que vinha em sentido contrário.” Pois bem, sr. Carta, foi disso que morreu a cultura brasileira: foi de encontro a um bloco de imbecis presunçosos que vinham em sentido contrário.
Olavo De Carvalho
oakwoodwolf3@aol.com
"Debate" de ideias: miseria do jornalismo (Reinaldo Azevedo)
Volto a dizer: o que me interessa são as ideias, e o que se pode fazer com elas. Infelizmente, o Brasil tornou-se vítima de um conjunto de militantes de uma mesma causa -- chamemo-los, apenas como sugestão, de distributivistas vingativos -- o que empobrece o debate público de ideias, e atrasa nosso país, já que as "soluções" propostas provavelmente vão deixá-lo mais pobre intelectualmente, e vão também atrasá-lo no plano econômico e material.
O que mais me assusta, também, é constatar a mediocridade crescente da academia, gente que não estuda, que não lê, mas que não acha nada de errado em assistir, na TV, um programa, por exemplo, como Big Brother, uma das maiores mediocridades vulgares que já pude contemplar em minha existência de algumas décadas. Definitivamente, estou engajado no debate de ideias, mas encontro poucos motivos para me satisfazer com o que leio na imprensa. Raras vezes se pode assistir, ou ler, um verdadeiro debate de ideias.
Apenas por isto vou transcrever duas grandes matérias aqui.
Aqui vai a primeira.
Paulo Roberto de Almeida
Caça às bruxas salta o muro dos blogs sujos e paraestatais e chega ao “Valor”; editor de livros mete um triângulo no uniforme de alguns jornalistas e deixa claro: “Conservador bom é conservador morto”. Lá do além, dou um pé no traseiro do fascistinha. Ou: Na era da “Infraestrutura & Negócios”
Reinaldo Azevedo, 8/02/2013
O “Valor Econômico” é, de longe, o veículo mais petista do Brasil. Não dá para saber se o é por convicção ou por oportunidade. Os blogs sujos não têm como competir porque a turma do jornal é, ao menos, alfabetizada. Se, um dia, o PT deixar o governo federal (com a oposição que está aí, é difícil), saberemos se é crença ou oportunismo. Talvez seja uma mistura das duas coisas. Empreendimento dos grupos Folha e Globo, começou a circular no ano 2000, com o objetivo, cumprido, de ocupar o lugar da Gazeta Mercantil, então em fase terminal por méritos próprios. Seria um jornal especializado em economia, sem se descuidar da política. Os outros grandes, como sabemos, invertem os termos dessa equação. Demora um tempo até que se ache um caminho. O jornal claudicou no começo. Empresário gosta da verdade, claro!, mas ela não pode se confundir com pessimismo. Acidez em excesso faz mal no café da manhã. O Valor achou o tom, que deve considerar o ideal, sendo uma espécie de porta-voz inteligente da verdade oficial. Sim, há opiniões dissonantes aqui e ali, mas o que interessa é o produto como um todo. No melhor de sua forma, confere ares de economia política aos improvisos do Planalto.
Esse negócio de governismo estratégico — ou tático — é coisa complicada. Vicia. Sempre pede mais. Embates intelectuais são parte da natureza dessa atividade. Quando se adota uma causa, no entanto, o horizonte não é mais o confronto de ideias, mas a eliminação do outro, como numa guerra. Nesta sexta, dia 8 de fevereiro de 2013, um rapaz chamado Flávio Moura, editor de livros da Companhia das Letras, escreve um texto em que decreta a obsolescência — tudo bem lido, a morte mesmo! — de um grupo de jornalistas e colunistas. Além de mim, são vítimas da chacina promovida por Flavinho VE Diogo Mainardi, Mario Sabino, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé — os dois últimos, colunistas da Folha. A íntegra do texto está aqui. Talvez o artigo marque uma nova fase do Valor. Teria chegado a hora de caçar as bruxas. Não, Flavinho VE não é agressivo na aparência, como esses pistoleiros dos blogs sujos financiados por estatais. O trabalho que ele faz — e, em certa medida, como veremos, também o Valor, é mais limpinho. Já chego à questão maior. Antes, falo mais um pouco da menor: o texto de Flávio.
Metade de seu artigo, talvez um pouco mais, é dedicada a falar de Daniel Piza, que morreu no dia 30 de dezembro de 2011. O texto marca, assim, a passagem de um ano, um mês e nove dias de sua morte. É o gancho. Ele conta que não gostava muito daquele jornalista, não. Confessional, revela que, quando mais jovem, tinha invejinha do outro. Malvado, diz não entender por que Piza informara, em um artigo escrito no ano 2000, tomar água Perrier em taça de cristal. Em 2002, conta, ele o entrevistou para um trabalho escolar. Não expôs ao entrevistado a sua curiosidade. Agora que Piza está morto, Flávio relembra o episódio da água Perrier. Trata-se de um detalhe que ajudaria, creio, a desenhar o perfil do outro. Talvez esnobe, um tanto autocentrado, tendente a se distanciar da raia-miúda.
Há suspeitas de patologia no artigo. Nota-se que ele tenta, aqui e ali, emular o texto do morto. Ao desdém, somam-se também elogios. Piza, discípulo de Paulo Francis, conta Flávio, também era culto, polêmico, mais para conservador do que para progressista etc. e tal. Mas morreu. E, com ele, este é o espírito do texto, teria morrido um “tempo do jornalismo cultural”. Ele permite que se entrevejam algumas suspeitas de lamento, mas nada excessivo que o deixe mal com os muitos detratores que Piza também tinha. E onde é que entram Diogo Mainardi, Mario Sabino, Reinaldo Azevedo, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé nessa história?
A exemplo de Piza, mas, tudo indica, abaixo dele, seríamos todos tentativas frustradas de ser Paulo Francis — até parece que essa crítica é novidade… Teríamos ganhado relevo com a chegada do PT ao poder. Ninguém, ele deixa claro, tão profundo como Piza (aquele que ele retratou com uma taça de Perrier na mão só para demonstrar o seu apreço pelo morto). Escreve Flávio:
“Diogo Mainardi virou a estrela dos colunistas da “Veja”. Reinaldo Azevedo transferiu-se para as hostes da mesma revista. Na “Folha de S. Paulo”, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé ganharam colunas e começaram a exercitar um tipo de provocação cultural e política que passou a repercutir. Revistas de ensaios de corte liberal e católico ganharam voz e apoio de arautos em posição de destaque.
Claro que não formavam um bloco homogêneo. Mainardi era o mais estridente e ferino, com a vantagem de que caprichava na autoironia. Azevedo assumiu a linha de frente da indignação moral com a corrupção. Coutinho trouxe leituras de liberais ingleses e afetava uma superioridade dândi capaz de irritar os leitores mais serenos. Pondé veio com sua teologia à moda antiga temperada por Dostoiévski e citações de filósofos de prestígio.”
Notaram? Eu “me transferi” para a VEJA, como se isso fizesse parte de uma estratégia maligna de enfrentamento do lulismo, assumindo “a linha de frente da indignação moral com a corrupção”. Pelo visto, Flávio não aprecia quem se indigna moralmente com a corrupção, o que revela, é evidente, uma escolha moral! Eu adoraria ver esse rapaz opor a sua “teologia à moda moderna” à “teologia à moda antiga” de Pondé. Na verdade, eu ignorava a existência de modas e modos teológicos. Mas posso aprender com Flávio.
O salto
Aí Flávio dá um salto, e é nesse ponto que começo a juntar, mas ainda vai demorar um pouco até a conclusão, o conteúdo de seu texto ao fato de ele ter sido publicado no Valor Econômico. Ele passa, então, a fazer o elenco das vitórias dos governos petistas, de suas inequívocas conquistas. Isso tudo teria nos liquidado. Escreve o rapaz:
“A saída de Lula do centro do poder dissolveu o grupo. A competição para lançar petardos ao mandatário e ao que ele representava perdeu sentido. A resistência do Brasil à crise de 2008 e a queda nos índices de desigualdade social se tornaram trunfos fortes. E a entrada em cena na “nova classe C” trouxe um elemento aos quais os dirigentes da imprensa não podiam ficar indiferentes.
Com o fim do governo Lula, Mainardi deixou sua coluna na “Veja”. O jornalista Mario Sabino, que ao lado dele e de Azevedo, imprimia o tom ácido da revista, também abandonou a publicação. Coutinho e Pondé continuam em seus postos, mas suas colunas não repercutem como naquele período.”
Pela ordem
Começo corrigindo a informação factual — existe “Erramos” no Valor? Sabino não saiu da VEJA. É correspondente da revista em Paris. Diogo deixou a coluna porque estava empenhado em escrever “A Queda”, com os desdobramentos conhecidos, não só no Brasil. O que diz sobre a repercussão das colunas de Pondé e Coutinho é mera opinião, sei lá com base em que dados objetivos. Quem precisa disso? No que me diz respeito, como atestam os números, o blog nunca foi tão lido. É grande a chance de que eu tenha mais leitores do que o Valor Econômico — a relação custo/repercussão certamente me é favorável.
Diogo e Mario são meus amigos, sim, felizmente. Com Coutinho, estive uma única vez, num jantar que reuniu um grupo grande. Jamais conversei com Pondé. Certamente estou perdendo bastante. O que nunca foi um grupo jamais poderia se dissolver. Não sei se Piza reivindicava a herança de Francis. Sei que os outros, o que me inclui, definitivamente não! Francis riria do meu catolicismo e das considerações teológicas e doutas de Pondé, por exemplo. Consideraria, sem sombra de dúvidas, excesso de otimismo o liberalismo de Coutinho. Recomendaria a Diogo e a Mario que cuidassem de suas respectivas carreiras literárias e deixassem de lado a política. Diogo fez isso parcialmente. Mas não porque o PT venceu. Em certa medida, é o contrário: é porque o PT perdeu. Quando começou no colunismo, já era um escritor consagrado. Hoje, mais do que antes — e aí está a derrota petista.
Quer refletir, Flavinho VE? Ao“Valor” de quarta-feira!
Flavinho VE tem ambições de pensador da cultura. Ele sugere que nós, os críticos do petismo (“Credo, que nojo!”) tentávamos negar as conquistas do governo, mas acabamos “dissolvidos” pelos “dirigentes da imprensa”, que não podiam ficar indiferentes. A exemplo do parajornalismo financiado por estatais, o articulista que escreve para o Valor também acha que a “mídia” (da qual ele, claro!, não faz parte) está de um lado, e o povo, de outro. Pois é… Flávio, ele sim, é sintoma de um tempo, e não dos mais felizes.
O artigo de Moura me obrigou a voltar à edição de quarta-feira do Valor. Tinha me destinado a escrever a respeito, mas depois desisti, tocado por outras urgências. Mas, agora, o caso virou primeiro da fila. A exemplo de Flavinho VE, que chacina jornalistas de direita (afinal, seja no caso de Piza, seja no nosso, direitista bom é direitista morto…), eu também gosto de refletir sobre os tempos. Adiante.
Na terça, o governo Dilma anunciou mudança das regras de concessão para as obras de infraestrutura. Essa já é a terceira versão, como demonstrei no blog. Na minha página, os insucessos de Guido Mantega são chamados de insucessos; nas do Valor, com a exceção da pena de alguns colunistas, seus fracassos são um sucesso. Cada um na sua. Quem quer controlar a imprensa e decretar a morte dos adversários são Flávio e seus amigos do governo, não eu. Convivo bem com a diferença — sem abrir mão de dizer o que penso.
Muito bem! Na terça, o governo divulgou o seu novo “pacote”. No próprio dia, os veículos eletrônicos divulgaram as medidas gerais, reproduzidas nos jornais impressos no dia seguinte, com o detalhamento possível — que não era tanto assim. Não havia tempo hábil para um trabalho mais detido. Não foi o caso do Valor. Com riqueza de detalhes, estava tudo explicitado num suplemento especial intitulado “Infraestrutura & Negócios”. A foto de quase meia página é de Mantega. Quem conhece como se faz jornalismo impresso sabe que aquilo é coisa demorada. O jornal teve acesso às medidas antes dos demais veículos, certo como dois e dois são quatro.
“Até aí, vantagem dos espertos, né? Vai ver os jornalistas do Valor têm mais fontes…” É, vai ver… O suplemento de dez páginas traz um anúncio de página dupla, central, do governo Dilma exaltando justamente a infraestrutura. Título: “O Brasil constrói caminhos para crescer ainda mais”. Na página 9, a Caixa Econômica Federal anuncia o seu apreço pelas empresas etc. e tal. Em Dois Córregos, a gente chama isso de “juntar a fome com a vontade de comer”. O clima do caderno, bastante informativo, sem dúvida, é de “agora vai”, festivo mesmo! A pegada um pouco crítica, lembrando que o pacote de agora é evidência do insucesso das duas jornadas anteriores, ficou para a “Folha” e o “Globo”. No “Valor”, só o amor constrói, como cantariam Dom e Ravel, no tempo de uma ditadura que Flavinho VE não pôde combater. Ele se empenha agora em exaltar uma outra, de um novo consenso.
Mas ainda não esgotei os elementos para a reflexão desse valente. Na página A9 do mesmo jornal, lê-se a manchete: “Lula cogita Mantega para disputar SP” — o Mantega, no caso, era aquele mesmo herói do suplemento de infraestrutura, com anúncio de página dupla do governo federal e de página inteira da CEF. O texto é de Raymundo Costa, e não estou sugerindo que ele participe de algum conluio. Aliás, eu não estou acusando conluio nenhum. Não lido com essas categorias. Estou apenas refletindo, como faz Flávio — só que com fatos, não com opiniões —, sobre os novos tempos do jornalismo e seu espírito: o Zeitgeist! Nota à margem: eu, que torço para que o PT seja derrotado em São Paulo, torço, então, para que o candidato seja mesmo Mantega, o Fortão do Bairro Peixoto da Infraestrutura. Torço, mas sei que não será ele. É uma pena!
Caminhando para a conclusão
O que estou demonstrando é que o texto de um rapaz que decreta a morte de um grupo de jornalistas (porque, diz, o petismo ganhou a batalha, e a gente nota que ele não está infeliz; está do lado dos supostos vitoriosos) não é fruto só de um arroubo individual. Estamos diante do produto de uma cultura interna e, sem dúvida, de um modo de fazer jornalismo.
O texto desse rapaz tem mais importância do que ele mesmo se dá conta. Ele tentou nos matar, mas eu o promovo, se me permitem o chiste, no degrau da degradação intelectual de setores importantes da imprensa. Com esse artigo, a linguagem da caça às bruxas salta o muro do parajoralismo, também financiado por estatais, e chega ao que já foi chamado de “grande imprensa”.
Certa feita, um dos blogueiros de Lula sugeriu uma pauta ao jornalismo brasileiro: identificar onde estavam e quem eram aqueles 3% ou 4% que achavam seu governo “ruim ou péssimo”: ele queria os nomes, saber onde moravam, o que pensavam. Fazia de conta que sua pegada persecutória era mera curiosidade intelectual. Com uns dois uísques a mais, sugeriria que fossem devidamente chipados e marcados com um triângulo — a cor seria definida por uma enquete na Internet para evidenciar o caráter democrático da coisa.
Eis aí. Um editor de livros, da Companhia das Letras, acaba de explicar no “Valor Econômico” por que aquele grupo de jornalistas merece um triângulo. Dois deles — a rigor, três, porque Diogo está no Manhattan Connection, da Globo Nes, que é do grupo Globo — produzem conteúdo (como se diz hoje em dia) para os controladores do Valor: Folha e Globo. “Que bom! Evidência de democracia interna…” Nada disso! Ele não disse o que há de errado com o pensamento dessas pessoas, contestando-o. Ele tentou excluí-las do mundo, como um bom fascistinha que é, disfarçado de pensador delicado. Pelo visto, chegou a hora da guerra interna também.
E depois aquela canalha fica cobrando “controle da mídia”. Controlar o quê e para quê? Já temos Flavinho VE e o caderno “Infraestrutura & Negócios”. Mais negócios do que infraestrutura.
PS – Eu estou morto, e Flavinho VE é muito vivo. Agora ele vai ver o que é, de fato, repercussão. Acabo de criar mais um herói do nariz marrom para a rede petralha. Bom proveito entre os de sua estirpe, rapaz!
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Leia o texto “Ah, entendi: o Moura é editor da Companhia das Letras, não do Valor; o que muda e o que não muda”
Ah, entendi: o Moura é editor da Companhia das Letras, não do Valor; o que muda e o que não muda
O fascismo de esquerda, Merquior, Piza e os que “infelizmente estão vivos”
Eu sou a melhor proteção da cabeça de quem quer me mandar para a guilhotina. Ou: Os novos bárbaros
E há, claro, a questão política propriamente. Mesmo quando minoritárias no Parlamento, as esquerdas sempre foram, do processo de redemocratização a esta data, muito mobilizadas, contando, antes como agora, com forte apoio da imprensa. Em muitos aspectos, já tratei do assunto aqui, foi o jornalismo que inventou Lula — antes até que ele inventasse a si mesmo. Ao menor sinal de “retrocesso”, lá estavam os valentes a botar a boca no trombone.
Eu não tenho a ambição de que Moura me leia. As considerações ligeiras e idiotas que faz a meu respeito, diga-se, provam que não me lê. Segundo escreve, “Azevedo assumiu a linha de frente da indignação moral com a corrupção.” Não que a corrupção, com efeito, não me indigne — sim, e muito! —, mas os milhares de leitores desta página sabem que esse nem é o tema mais frequente dos meus textos. Os posts que tratam de ilegalidades cometidas por políticos, no mais das vezes, fazem parte do clipping do noticiário.