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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 9 de fevereiro de 2013

"Debate" de ideias: miseria do jornalismo (Reinaldo Azevedo)

Não que eu concorde com tudo o que está dito nesta postagem desse jornalista conhecido, como já esclareci várias vezes. Na verdade, o que me interessa não é tanto a pessoa, o jornalista em si, ou suas posições, no argumento exato que ele defende, e sim as questões que ele coloca, os problemas reais que eu vejo no Brasil atualmente, e que resumo de modo muito simples: contemplo, atualmente, uma erosão da qualidade do debate público, se debate existe (dai as aspas do título), e constato uma crescente mediocrização dos meios de comunicação, da academia, dos meios políticos, da sociedade em geral, o que certamente é fruto da perda de qualidade da educação brasileira nos últimos anos, e também o resultado da conquista de posições de poder pela mesma turma de "gramscianos" de botequim (ou seja, que nunca leram Gramsci, mas que apenas refletem uma vulgata mal passada de alguns ensinamentos simplificados a partir de suas posições).
Volto a dizer: o que me interessa são as ideias, e o que se pode fazer com elas. Infelizmente, o Brasil tornou-se vítima de um conjunto de militantes de uma mesma causa -- chamemo-los, apenas como sugestão, de distributivistas vingativos -- o que empobrece o debate público de ideias, e atrasa nosso país, já que as "soluções" propostas provavelmente vão deixá-lo mais pobre intelectualmente, e vão também atrasá-lo no plano econômico e material.
O que mais me assusta, também, é constatar a mediocridade crescente da academia, gente que não estuda, que não lê, mas que não acha nada de errado em assistir, na TV, um programa, por exemplo, como Big Brother, uma das maiores mediocridades vulgares que já pude contemplar em minha existência de algumas décadas. Definitivamente, estou engajado no debate de ideias, mas encontro poucos motivos para me satisfazer com o que leio na imprensa. Raras vezes se pode assistir, ou ler, um verdadeiro debate de ideias.
Apenas por isto vou transcrever duas grandes matérias aqui.
Aqui vai a primeira.
Paulo Roberto de Almeida 

Caça às bruxas salta o muro dos blogs sujos e paraestatais e chega ao “Valor”; editor de livros mete um triângulo no uniforme de alguns jornalistas e deixa claro: “Conservador bom é conservador morto”. Lá do além, dou um pé no traseiro do fascistinha. Ou: Na era da “Infraestrutura & Negócios”
Reinaldo Azevedo, 8/02/2013

O “Valor Econômico” é, de longe, o veículo mais petista do Brasil. Não dá para saber se o é por convicção ou por oportunidade. Os blogs sujos não têm como competir porque a turma do jornal é, ao menos, alfabetizada. Se, um dia, o PT deixar o governo federal (com a oposição que está aí, é difícil), saberemos se é crença ou oportunismo. Talvez seja uma mistura das duas coisas. Empreendimento dos grupos Folha e Globo, começou a circular no ano 2000, com o objetivo, cumprido, de ocupar o lugar da Gazeta Mercantil, então em fase terminal por méritos próprios. Seria um jornal especializado em economia, sem se descuidar da política. Os outros grandes, como sabemos, invertem os termos dessa equação. Demora um tempo até que se ache um caminho. O jornal claudicou no começo. Empresário gosta da verdade, claro!, mas ela não pode se confundir com pessimismo. Acidez em excesso faz mal no café da manhã. O Valor achou o tom, que deve considerar o ideal, sendo uma espécie de porta-voz inteligente da verdade oficial. Sim, há opiniões dissonantes aqui e ali, mas o que interessa é o produto como um todo. No melhor de sua forma, confere ares de economia política aos improvisos do Planalto.

Esse negócio de governismo estratégico — ou tático — é coisa complicada. Vicia. Sempre pede mais. Embates intelectuais são parte da natureza dessa atividade. Quando se adota uma causa, no entanto, o horizonte não é mais o confronto de ideias, mas a eliminação do outro, como numa guerra. Nesta sexta, dia 8 de fevereiro de 2013, um rapaz chamado Flávio Moura, editor de livros da Companhia das Letras, escreve um texto em que decreta a obsolescência — tudo bem lido, a morte mesmo! — de um grupo de jornalistas e colunistas. Além de mim, são vítimas da chacina promovida por Flavinho VE Diogo Mainardi, Mario Sabino, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé — os dois últimos, colunistas da Folha. A íntegra do texto está aqui. Talvez o artigo marque uma nova fase do Valor. Teria chegado a hora de caçar as bruxas. Não, Flavinho VE não é agressivo na aparência, como esses pistoleiros dos blogs sujos financiados por estatais. O trabalho que ele faz — e, em certa medida, como veremos, também o Valor, é mais limpinho. Já chego à questão maior. Antes, falo mais um pouco da menor: o texto de Flávio.

Metade de seu artigo, talvez um pouco mais, é dedicada a falar de Daniel Piza, que morreu no dia 30 de dezembro de 2011. O texto marca, assim, a passagem de um ano, um mês e nove dias de sua morte. É o gancho. Ele conta que não gostava muito daquele jornalista, não. Confessional, revela que, quando mais jovem, tinha invejinha do outro. Malvado, diz não entender por que Piza informara, em um artigo escrito no ano 2000, tomar água Perrier em taça de cristal. Em 2002, conta, ele o entrevistou para um trabalho escolar. Não expôs ao entrevistado a sua curiosidade. Agora que Piza está morto, Flávio relembra o episódio da água Perrier. Trata-se de um detalhe que ajudaria, creio, a desenhar o perfil do outro. Talvez esnobe, um tanto autocentrado, tendente a se distanciar da raia-miúda.

Há suspeitas de patologia no artigo. Nota-se que ele tenta, aqui e ali, emular o texto do morto. Ao desdém, somam-se também elogios. Piza, discípulo de Paulo Francis, conta Flávio, também era culto, polêmico, mais para conservador do que para progressista etc. e tal. Mas morreu. E, com ele, este é o espírito do texto, teria morrido um “tempo do jornalismo cultural”. Ele permite que se entrevejam algumas suspeitas de lamento, mas nada excessivo que o deixe mal com os muitos detratores que Piza também tinha. E onde é que entram Diogo Mainardi, Mario Sabino, Reinaldo Azevedo, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé nessa história?

A exemplo de Piza, mas, tudo indica, abaixo dele, seríamos todos tentativas frustradas de ser Paulo Francis — até parece que essa crítica é novidade… Teríamos ganhado relevo com a chegada do PT ao poder. Ninguém, ele deixa claro, tão profundo como Piza (aquele que ele retratou com uma taça de Perrier na mão só para demonstrar o seu apreço pelo morto). Escreve Flávio:

“Diogo Mainardi virou a estrela dos colunistas da “Veja”. Reinaldo Azevedo transferiu-se para as hostes da mesma revista. Na “Folha de S. Paulo”, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé ganharam colunas e começaram a exercitar um tipo de provocação cultural e política que passou a repercutir. Revistas de ensaios de corte liberal e católico ganharam voz e apoio de arautos em posição de destaque.
Claro que não formavam um bloco homogêneo. Mainardi era o mais estridente e ferino, com a vantagem de que caprichava na autoironia. Azevedo assumiu a linha de frente da indignação moral com a corrupção. Coutinho trouxe leituras de liberais ingleses e afetava uma superioridade dândi capaz de irritar os leitores mais serenos. Pondé veio com sua teologia à moda antiga temperada por Dostoiévski e citações de filósofos de prestígio.”


Notaram? Eu “me transferi” para a VEJA, como se isso fizesse parte de uma estratégia maligna de enfrentamento do lulismo, assumindo “a linha de frente da indignação moral com a corrupção”. Pelo visto, Flávio não aprecia quem se indigna moralmente com a corrupção, o que revela, é evidente, uma escolha moral! Eu adoraria ver esse rapaz opor a sua “teologia à moda moderna” à “teologia à moda antiga” de Pondé. Na verdade, eu ignorava a existência de modas e modos teológicos. Mas posso aprender com Flávio.

O salto
Aí Flávio dá um salto, e é nesse ponto que começo a juntar, mas ainda vai demorar um pouco até a conclusão, o conteúdo de seu texto ao fato de ele ter sido publicado no Valor Econômico. Ele passa, então, a fazer o elenco das vitórias dos governos petistas, de suas inequívocas conquistas. Isso tudo teria nos liquidado. Escreve o rapaz:
“A saída de Lula do centro do poder dissolveu o grupo. A competição para lançar petardos ao mandatário e ao que ele representava perdeu sentido. A resistência do Brasil à crise de 2008 e a queda nos índices de desigualdade social se tornaram trunfos fortes. E a entrada em cena na “nova classe C” trouxe um elemento aos quais os dirigentes da imprensa não podiam ficar indiferentes.
Com o fim do governo Lula, Mainardi deixou sua coluna na “Veja”. O jornalista Mario Sabino, que ao lado dele e de Azevedo, imprimia o tom ácido da revista, também abandonou a publicação. Coutinho e Pondé continuam em seus postos, mas suas colunas não repercutem como naquele período.”


Pela ordem
Começo corrigindo a informação factual — existe “Erramos” no Valor? Sabino não saiu da VEJA. É correspondente da revista em Paris. Diogo deixou a coluna porque estava empenhado em escrever “A Queda”, com os desdobramentos conhecidos, não só no Brasil. O que diz sobre a repercussão das colunas de Pondé e Coutinho é mera opinião, sei lá com base em que dados objetivos. Quem precisa disso? No que me diz respeito, como atestam os números, o blog nunca foi tão lido. É grande a chance de que eu tenha mais leitores do que o Valor Econômico — a relação custo/repercussão certamente me é favorável.

Diogo e Mario são meus amigos, sim, felizmente. Com Coutinho, estive uma única vez, num jantar que reuniu um grupo grande. Jamais conversei com Pondé. Certamente estou perdendo bastante. O que nunca foi um grupo jamais poderia se dissolver. Não sei se Piza reivindicava a herança de Francis. Sei que os outros, o que me inclui, definitivamente não! Francis riria do meu catolicismo e das considerações teológicas e doutas de Pondé, por exemplo. Consideraria, sem sombra de dúvidas, excesso de otimismo o liberalismo de Coutinho. Recomendaria a Diogo e a Mario que cuidassem de suas respectivas carreiras literárias e deixassem de lado a política. Diogo fez isso parcialmente. Mas não porque o PT venceu. Em certa medida, é o contrário: é porque o PT perdeu. Quando começou no colunismo, já era um escritor consagrado. Hoje, mais do que antes — e aí está a derrota petista.

Quer refletir, Flavinho VE? Ao“Valor” de quarta-feira!
Flavinho VE tem ambições de pensador da cultura. Ele sugere que nós, os críticos do petismo (“Credo, que nojo!”) tentávamos negar as conquistas do governo, mas acabamos “dissolvidos” pelos “dirigentes da imprensa”, que não podiam ficar indiferentes. A exemplo do parajornalismo financiado por estatais, o articulista que escreve para o Valor também acha que a “mídia” (da qual ele, claro!, não faz parte) está de um lado, e o povo, de outro. Pois é… Flávio, ele sim, é sintoma de um tempo, e não dos mais felizes.

O artigo de Moura me obrigou a voltar à edição de quarta-feira do Valor. Tinha me destinado a escrever a respeito, mas depois desisti, tocado por outras urgências. Mas, agora, o caso virou primeiro da fila. A exemplo de Flavinho VE, que chacina jornalistas de direita (afinal, seja no caso de Piza, seja no nosso, direitista bom é direitista morto…), eu também gosto de refletir sobre os tempos. Adiante.

Na terça, o governo Dilma anunciou mudança das regras de concessão para as obras de infraestrutura. Essa já é a terceira versão, como demonstrei no blog. Na minha página, os insucessos de Guido Mantega são chamados de insucessos; nas do Valor, com a exceção da pena de alguns colunistas, seus fracassos são um sucesso. Cada um na sua. Quem quer controlar a imprensa e decretar a morte dos adversários são Flávio e seus amigos do governo, não eu. Convivo bem com a diferença — sem abrir mão de dizer o que penso.

Muito bem! Na terça, o governo divulgou o seu novo “pacote”. No próprio dia, os veículos eletrônicos divulgaram as medidas gerais, reproduzidas nos jornais impressos no dia seguinte, com o detalhamento possível — que não era tanto assim. Não havia tempo hábil para um trabalho mais detido. Não foi o caso do Valor. Com riqueza de detalhes, estava tudo explicitado num suplemento especial intitulado “Infraestrutura & Negócios”. A foto de quase meia página é de Mantega. Quem conhece como se faz jornalismo impresso sabe que aquilo é coisa demorada. O jornal teve acesso às medidas antes dos demais veículos, certo como dois e dois são quatro.

“Até aí, vantagem dos espertos, né? Vai ver os jornalistas do Valor têm mais fontes…” É, vai ver… O suplemento de dez páginas traz um anúncio de página dupla, central, do governo Dilma exaltando justamente a infraestrutura. Título: “O Brasil constrói caminhos para crescer ainda mais”. Na página 9, a Caixa Econômica Federal anuncia o seu apreço pelas empresas etc. e tal. Em Dois Córregos, a gente chama isso de “juntar a fome com a vontade de comer”. O clima do caderno, bastante informativo, sem dúvida, é de “agora vai”, festivo mesmo! A pegada um pouco crítica, lembrando que o pacote de agora é evidência do insucesso das duas jornadas anteriores, ficou para a “Folha” e o “Globo”. No “Valor”, só o amor constrói, como cantariam Dom e Ravel, no tempo de uma ditadura que Flavinho VE não pôde combater. Ele se empenha agora em exaltar uma outra, de um novo consenso.

Mas ainda não esgotei os elementos para a reflexão desse valente. Na página A9 do mesmo jornal, lê-se a manchete: “Lula cogita Mantega para disputar SP” — o Mantega, no caso, era aquele mesmo herói do suplemento de infraestrutura, com anúncio de página dupla do governo federal e de página inteira da CEF. O texto é de Raymundo Costa, e não estou sugerindo que ele participe de algum conluio. Aliás, eu não estou acusando conluio nenhum. Não lido com essas categorias. Estou apenas refletindo, como faz Flávio — só que com fatos, não com opiniões —, sobre os novos tempos do jornalismo e seu espírito: o Zeitgeist! Nota à margem: eu, que torço para que o PT seja derrotado em São Paulo, torço, então, para que o candidato seja mesmo Mantega, o Fortão do Bairro Peixoto da Infraestrutura. Torço, mas sei que não será ele. É uma pena!

Caminhando para a conclusão
O que estou demonstrando é que o texto de um rapaz que decreta a morte de um grupo de jornalistas (porque, diz, o petismo ganhou a batalha, e a gente nota que ele não está infeliz; está do lado dos supostos vitoriosos) não é fruto só de um arroubo individual. Estamos diante do produto de uma cultura interna e, sem dúvida, de um modo de fazer jornalismo.

O texto desse rapaz tem mais importância do que ele mesmo se dá conta. Ele tentou nos matar, mas eu o promovo, se me permitem o chiste, no degrau da degradação intelectual de setores importantes da imprensa. Com esse artigo, a linguagem da caça às bruxas salta o muro do parajoralismo, também financiado por estatais, e chega ao que já foi chamado de “grande imprensa”.

Certa feita, um dos blogueiros de Lula sugeriu uma pauta ao jornalismo brasileiro: identificar onde estavam e quem eram aqueles 3% ou 4% que achavam seu governo “ruim ou péssimo”: ele queria os nomes, saber onde moravam, o que pensavam. Fazia de conta que sua pegada persecutória era mera curiosidade intelectual. Com uns dois uísques a mais, sugeriria que fossem devidamente chipados e marcados com um triângulo — a cor seria definida por uma enquete na Internet para evidenciar o caráter democrático da coisa.

Eis aí. Um editor de livros, da Companhia das Letras, acaba de explicar no “Valor Econômico” por que aquele grupo de jornalistas merece um triângulo. Dois deles — a rigor, três, porque Diogo está no Manhattan Connection, da Globo Nes, que é do grupo Globo — produzem conteúdo (como se diz hoje em dia) para os controladores do Valor: Folha e Globo. “Que bom! Evidência de democracia interna…” Nada disso! Ele não disse o que há de errado com o pensamento dessas pessoas, contestando-o. Ele tentou excluí-las do mundo, como um bom fascistinha que é, disfarçado de pensador delicado. Pelo visto, chegou a hora da guerra interna também.

E depois aquela canalha fica cobrando “controle da mídia”. Controlar o quê e para quê? Já temos Flavinho VE e o caderno “Infraestrutura & Negócios”. Mais negócios do que infraestrutura.

PS – Eu estou morto, e Flavinho VE é muito vivo. Agora ele vai ver o que é, de fato, repercussão. Acabo de criar mais um herói do nariz marrom para a rede petralha. Bom proveito entre os de sua estirpe, rapaz!
*
Leia o texto “Ah, entendi: o Moura é editor da Companhia das Letras, não do Valor; o que muda e o que não muda

08/02/2013
às 20:55

Ah, entendi: o Moura é editor da Companhia das Letras, não do Valor; o que muda e o que não muda

Leitores dizem que Flávio Moura (o cara que decretou a minha morte e a de outros no Valor) não é editor de livros do jornal, mas editor de livros da Companhia das Letras. Vou ao Google. É verdade. Então é preciso corrigir o pé biográfico dele. Está assim: “Flávio Moura é jornalista, editor de livros e doutor em sociologia pela USP”. Tem de dizer de onde. André Gide também era “editor de livros” e não era Flávio Moura.
Vou fazer as devidas correções nos outros textos. Não muda uma vírgula do que eu disse sobre o Valor, mas requalifica a crítica que fiz a Moura e a que ele me fez — e a outros jornalistas e colunistas. Editor da Companhia das Letras, é? Entendo. Já bati boca com o patrão dele, Luiz Schwarcz, que decidiu me atacar em artigo de jornal. Como se vê, eles sempre tomam a iniciativa, intolerantes que são. Eu reajo. É claro que respondi. Agora vem o empregadinho. Pelo menos não erra ao usar o modo subjuntivo…
O ódio, está explicado, ainda é desdobramento do caso Jabuti, lembram-se? É aquele prêmio literário que, na forma anterior, poderia ser dado a qualquer um, desde que o Chico Buarque não estivesse concorrendo. Sim, fui eu quem primeiro botou a boca no trombone. Estou morto, como diz o empregadinho, mas o fato é que as regras do Jabuti foram alteradas. Schwarcz, que edita Chico Buarque, não gostou e me acusou de criticá-las porque sou um autor da Editora Record. Huuummm… O tal Moura, na folha de pagamentos dele, me ataca agora porque é um homem independente, com ideias próprias, certo?
Sim, houve um tempo em que era uma espécie de suicídio intelectual, cultura e moral confrontar os “Schwarczen” e os “Chicos” da vida, dada a influência, poder mesmo!, que essa gente tinha e ainda tem nos tais “segundos cadernos”. Tentaram liquidar “O País dos Petralhas II” sem nem o trabalho de lê-lo. Inútil. O livro vai chegar fácil aos 50 mil exemplares vendidos. Eu não dependo desses bacanas para absolutamente nada! Escrevo o que quero, penso o que quero e não tenho de me ajoelhar para as suas igrejinhas influentes.
À época, eu até lancei um desafio, incitando a turma a escrever ensaios demonstrando por que o Chico é um grande romancista, o mais laureado do Brasil. Ninguém topou. Ele é o melhor porque dizem que ele é o melhor. Pra mim, é pouco. Certo! O Moura não é do Valor. O jornal o contratou para essa chacina em particular…
Por Reinaldo Azevedo
08/02/2013
às 21:55

O fascismo de esquerda, Merquior, Piza e os que “infelizmente estão vivos”

O fascismo de esquerda não muda. A tática é sempre é mesma. Flávio Moura, o tal “editor de livros” da Companhia das Letras que chacina jornalistas e colunistas com a conivência do “Valor” — aquele do caderno “Infraestrutura & Negócios” —, repete um mantra velho, de incrível vigarice intelectual. Quem leu seu artigo (ver posts abaixo) percebeu que ele resolveu salvar a alma de Daniel Piza do que imagina ser o inferno. Agora Piza, que era alvo da maledicência, sim, de muitos quando vivo — o próprio Moura confessa a sua inveja —, foi para o mesmo lugar no Paraíso em que está, por exemplo, José Guilherme Merquior.
Em vida, Merquior tomava mais chutes do que cão sarnento que tenta invadir restaurante. “Reacionário, direitista, fascista, defensor da ditadura…” Essas eram apenas algumas das palavras com que o mimoseavam. E olhem que ele não estava tão distante assim de certa esquerda francesa mais ilustrada… Mas não era um comunista, isso é certo. Caiu definitivamente em desgraça quando, ao ler o livro “Cultura & Democracia”, de Marilena Chaui (ela também usava o “&”, como o Valor…), encontrou algumas dezenas de páginas iguaizinhas às que o francês Claude Lefort, amigão da sedizente filósofa, havia escrito bem antes. Podiam mesmo ser consideradas traduções.
Marilena despontava, então, como o furacão esquerdista da USP, dona de um pensamento supostamente original e coisa e tal.
Sabem quem começou a apanhar nos jornais? Ainda não havia internet e redes sociais. Não foi a plagiadora, não! Merquior só não foi chamado de santo. “Intelectuais” e cantores de MPB decidiram fazer um abaixo-assinado contra ele. O próprio Lefort veio a público para afirmar que o plágio de sua amigona plágio não era. Tentaram esfregar a negativa na cara de Merquior: “Viu, o autor diz que não é…” — ainda que as palavras provassem o contrário.
Merquior morreu cedo, aos 50 anos, em 1991. Morto, resolveram reabilitá-lo, mas não por bons propósitos. Ele sempre é citado como expressão de um tempo em que “a direita tinha qualidade”, sabia pensar. “Ah, Merquior, sim! Não esses de agora”. Até a publicação do texto de Moura, os jornalistas cujo fim ele decreta éramos, então, comparados a Merquior, com a conclusão inevitável: “Ele era profundo; a ‘direita’ de agora não é de nada”. Nota: foram também eles que decretaram que somos expressão do pensamento de direita. No que me diz respeito, não recuso porque não vejo crime nenhum nisso.
Estava claro: Merquior havia se transformado num “bom”, entre outros motivos, porque morto. Enquanto Piza estava vivo, inveja e ressentimento se misturavam contra ele. Não que o seu trabalho, a exemplo do meu ou do de qualquer outro, estivesse acima de qualquer crítica. Isso não existe. Piza agora virou santo. Porque o amam? Não! Para que possam continuar a secretar seu ódio contra os vivos.
Conheci Piza. Ele foi colaborador das revistas República e BRAVO!, das quais fui redator-chefe, no fim dos anos 90. Tínhamos uma relação cordial, mas não de amizade. Nas vezes em que conversamos, convergências e divergências se equilibravam em quantidades idênticas. E o mesmo vale para este outro grupo de jornalistas. Uma das características disso a que chamam “jornalismo da direita” — uma redução estúpida — é não formamos uma quadrilha de pensamento. Quem compareceu a um debate com a comunidade judaica, em São Paulo, no passado, viu  Diogo e eu divergirmos vivamente sobre a Primavera Árabe, por exemplo. Já discordei de Coutinho por escrito. Nenhum de nós entende a voz dissonante como ameaça.
Com os fascistas de esquerda, as coisas não são assim. Essa gente até poderia nos dar uma colher de chá algum dia. Mas, antes, exige que façamos companhia a Merquior e Piza. O que pensamos — e pensamos coisas tão diferentes! — incomoda menos do que o fato de estarmos vivos.
Por Reinaldo Azevedo
09/02/2013
às 2:35

Eu sou a melhor proteção da cabeça de quem quer me mandar para a guilhotina. Ou: Os novos bárbaros

Escrevi ontem alguns posts (às 16h10, 18h58, 20h, 20h55 e 21h55) sobre um texto escrito por um tal Flávio Moura, editor da Companhia das Letras, no jornal Valor Econômico. Ele decidiu decretar a morte de um grupo de jornalistas e articulistas, que teriam sido, ele afirma com visível satisfação, vencidos pelas supostas conquistas sociais do petismo. Sugere quer formávamos uma espécie de frente antipatriótica para resistir ao PT, mas que a qualidade do governo dos companheiros nos nocauteou. Ao se referir ao destino de cada um dos que ele decidiu fuzilar (além de mim, Diogo Mainardi, Mario Sabino, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé), mistura opinião banal com informação errada, vai metendo os pés pelas mãos, sugerindo, contra os fatos, que essa turma quebrou a cara. Sei menos de Pondé e Coutinho, que me parecem muito bem. Meu blog e meus livros nunca tiveram tantos leitores; Diogo escreveu um livro sem rivais em muitas décadas e em vários idiomas, e Mario está sendo martirizado em Paris… “Mas o grupo se dissolveu”, esganiça Flavinho. Que grupo? Nunca houve um grupo! Não emulamos as comunidades petralhas. Neste texto, quero abordar um outro aspecto desse tema. Como é que se chega a esse ponto? Como é que um “editor de livros” e “doutor em sociologia”, segundo seu pé biográfico, chega a se sentir à vontade para decretar a morte das pessoas de quem discorda? Já demonstrei no post das 18h58 como esse espírito persecutório se casa com a era da “infraestrutura & negócios”. Mas também isso é consequência de algo maior, de natureza institucional.
Cumpre apelar aqui um pouco à memória. Tenho sido, ao longo do tempo, menos esperto do que alguns contemporâneos. Fui um crítico bastante severo do governo FHC, embora seu principal adversário, o PT, não me agradasse. Mas, como editor de site e revista, preferia, mesmo quando atuei no extinto jornalismo cultural, voltar a minha pontaria contra o governo. Gosto da ideia — na verdade, este talvez seja um dos pilares do meu pensamento — de que governos são necessários, mas que nossa tarefa é vigiá-los, criticá-los. Quando o PT chegou ao poder, continuei na oposição. Os mais espertos do que eu ganhavam dinheiro sendo governistas no tucanato e continuaram a ganhar dinheiro sendo governistas no petismo. Mesmo na era da Internet, que facilita a pesquisa, a coerência não tem sido a característica mais visível da profissão. É evidente que as pessoas podem mudar de ideia ao longo dos anos se chegam à conclusão de que estavam erradas. Mas desconfio de quem conclui que esteve errado sempre em consonância com o governo de turno. Será que um dia vou concluir que o PT era bom? Quem sabe quando — e se — o partido voltar a ser oposição…
Na verdade, antes como agora, não me pergunto se o que penso é contra o governo ou a favor dele. Penso o que penso. Às vezes, coincide com a política oficial; frequentemente, não. De toda sorte, textos como o de Flávio Moura seriam impensáveis na imprensa brasileira de há 10, 15, 20 ou mesmo 30 anos. O começo da década de 1980, diga-se, estava fortemente pautado pela chamada abertura, a ditadura estava moribunda, e muitos militantes estudantis tinham ido parar nas redações de jornal. Vivia-se até uma certa algazarra libertária. Isso acabou.
O que antes era alternativa agora é poder. O que antes se calava pela força bruta agora se busca silenciar por intermédio do falso consenso. Enquanto estiveram na oposição — até dezembro de 2002 —, as esquerdas seguiram o que é, de fato, seu padrão histórico: usaram a causa da liberdade de imprensa e de crítica a seu favor. Ocorre, e isto também é de sua natureza (e foi uma das causas de eu ter passado a repudiá-las), que não se veem como um pensamento possível entre outros. Ao contrário: os “companheiros” de hoje não abandonaram a tara dos “camaradas” de ontem e se entendem como uma etapa posterior e superior da civilização. Não é por acaso que Flávio Moura define o pensamento de Luiz Felipe Pondé como “teologia à moda antiga”. Devemos concluir que há uma “teologia à moda moderna”. As esquerdas, mesmo na sua expressão mais grotesca, caricatural e primitiva, como é o tal Moura, continuam partidárias do fim da história — que é uma tese hegeliana, não do Fukuyama, como sugeriu outro dia no Jornal da Globo o Arnaldo Jabor. Vencidos, então, os adversários, aí se trataria de cuidar das pendengas lá deles, das contradições existente num lado só. Não passa pela cabeça dessa gente, acreditem, perder eleições porque isso significaria um retrocesso, uma volta ao período em que ainda havia história…
Textos como o de Moura não seriam publicados há 10, 20 ou mesmo 30 anos porque as forças capazes de fazer esse juízo ainda não estavam no poder e não eram donas do novo consenso. Ao contrário. Era necessário fingir-se de plural para chegar ao que diziam ser o “horizonte socialista”. Os que defendíamos a diversidade de pensamento éramos obviamente úteis àqueles que tinham na diversidade apenas uma etapa da conquista do estado. Em outros tempos, as revoluções devoravam seus filhos de maneira cruenta, como o Saturno no quadro de Goya. Nos novos tempos, busca-se desqualificar a divergência e provar a sua obsolescência. Em qualquer dos casos, antes e agora, os altos interesses do povo e as conquistas sociais servem de maquiagem para a eliminação do adversário. Um texto como o de Moura sai num jornal como o Valor porque também o Valor está interessado, como Deng Xiaoping, em gatos que cacem ratos, pouco importando a sua cor.
Se, nessas décadas passadas, alguém se atrevesse a pedir o banimento de um pensamento considerado divergente, haveria, por certo, protestos. O texto nem seria publicado. A direita liberal jamais o faria porque, de fato, não é de sua natureza — muito pelo contrário; e as esquerdas, mesmo as autoritárias, não eram tolas de entregar o serviço. Já demonstrei aqui que a “anistia ampla, geral e irrestrita”, por exemplo, era uma reivindicação delas (à época, posso dizer “nossa”). É também é delas a reivindicação de hoje para rever a Lei da Anistia. Antes, a causa servia à proteção de seus assassinos. Agora que estão a salvo, querem dar um jeito de pegar os assassinos “do outro lado”. Por quê? Porque um esquerdista sempre acha que mata por bons propósitos. Leiam, continua atualíssimo, recomendo de novo, “O Zero e O Infinito”, de Arthur Koestler, que foi, vamos dizer assim, bem mais esquerdista do que eu na juventude.
A questão política
E há, claro, a questão política propriamente. Mesmo quando minoritárias no Parlamento, as esquerdas sempre foram, do processo de redemocratização a esta data, muito mobilizadas, contando, antes como agora, com forte apoio da imprensa. Em muitos aspectos, já tratei do assunto aqui, foi o jornalismo que inventou Lula — antes até que ele inventasse a si mesmo. Ao menor sinal de “retrocesso”, lá estavam os valentes a botar a boca no trombone.
Nestes tempos, esses jornalistas que Flávio Moura decidiu fuzilar — e há outros tantos que ele não citou, talvez por ignorância — acabaram se sobressaindo, o que é um absurdo, como “a oposição” do Brasil pela simples, óbvia e até macabra razão de que não há oposição no Brasil — não como voz institucional e alternativa viável de poder federal. É claro que há valorosos parlamentares que se opõem ao governo. Reitero: refiro-me a uma força organizada e viável como alternativa de poder.
Moura segue a trilha aberta pelos blogs sujos e decide demonizar pessoas, mas o que está em pauta, de fato, é a imprensa independente, aquela que faz o seu trabalho e chama desmando de “desmando”, roubalheira de “roubalheira”. Como inexiste, então, a força organizada para obrigar o governo a se explicar, o que é próprio das democracias, o jornalismo que cumpre a tarefa de informar e o colunismo que não está alinhado com o poder acabam sendo tomados, lembrando o presidente do PT, Rui Falcão, como a “verdadeira oposição”, só que não organizada em partido. Eu duvido que o tal Moura seja um interlocutor de Falcão. Eu duvido que o rapaz obedeça diretamente às ordens do partido. Os dois falam a mesma coisa porque o que os une não é uma relação de hierarquia, mas o espírito de um tempo. O que Moura tentou fazer é demonstrar que estamos sozinhos na crítica, que aquela abordagem, com aqueles valores, perdeu sentido porque vencida pela história. Como, com efeito, expressamos pontos de vista que não se ouvem nem no governismo nem na oposição, então fica fácil apontar o dedo e gritar, como a Rainha de Copas: “Cortem-lhes a cabeça!”
Não estou pedindo nem apoio nem penico para as oposições. Em primeiro lugar, porque, de fato, isso não é necessário. Em segundo lugar, porque seria inútil. A imprensa independente e os cabras marcados por Moura para morrer jamais poderão fazer pelas oposições o que os blogs sujos fazem pelo petismo. Nesse caso, uns entendem de comprar, e o outros entendem de vender. Deste outro lado, não sei se haveria gente disposta a comprar; o que sei é que NÃO há gente disposta a vender. Até por uma questão de lógica elementar. Se for para “entregar a mercadoria” no balcão do “jornalismo & negócios”, mister é fazer a transação com o poder, que certamente pode pagar mais, não é mesmo? Entre ser mercenário em favor do vitorioso e sê-lo em favor dos derrotados, as duas opções são igualmente imorais, mas ua é mais estúpida do que a outra. Convenham: ninguém é crítico de governos por pragmatismo.
Finalmente
Eu não tenho a ambição de que Moura me leia. As considerações ligeiras e idiotas que faz a meu respeito, diga-se, provam que não me lê. Segundo escreve, “Azevedo assumiu a linha de frente da indignação moral com a corrupção.” Não que a corrupção, com efeito, não me indigne — sim, e muito! —, mas os milhares de leitores desta página sabem que esse nem é o tema mais frequente dos meus textos. Os posts que tratam de ilegalidades cometidas por políticos, no mais das vezes, fazem parte do clipping do noticiário.
As 800 e poucas páginas de “O País dos Petralhas I e II” debatem outros temas. Se Moura tivesse dito que assumi a linha de frente do debate — ou do embate — ideológico, aí estaria falando a verdade. O segundo volume do livro, por exemplo, passa longe da roubalheira, petista ou não. Ele tem todo o direito de não ler o meu o meu blog e os meus livros, mas tem o compromisso de falar a verdade para aqueles que eventualmente o leem. Ocorre que esse espírito persecutório parece ser também preguiçoso. Ouviu dizer isso a meu respeito por aí e repete sem ao menos verificar se essa opinião coincide com os fatos. Eu não me importaria nem um pouco em ser uma espécie de archote da “indignação moral com a corrupção”, só que o meu trabalho e o meu texto têm outro objeto.
Eu não acho que um dia o Brasil ficará livre dos Mouras como ele crê que possa ficar livre dos Reinaldos. Aliás, espero que não ocorra nem uma coisa nem outra. O paraíso dos iguais pelo qual ele parece ansiar seria, pra mim, a experiência viva do inferno. A única razão de ser de um embate intelectual é a existência do adversário. A minha ética, se posso chamar assim, é a de uma guerra sem vencidos. “Ah, mas, então, o mundo não sai do lugar”. Sai, sim. É que o jogo não tem fim. Eles é querem sair babando a sua vitória, saqueando e incendiando casas, violando as virgens, sacrificando as crianças. Para quê? Para que possam gritar: “Venceeemos!” E depois? Tudo saindo conforme o esperado — não sairá —, começariam a se matar em seguida. Os Mouras seriam os primeiros da fila. No mundo pelo qual ele luta, não há lugar para editores de livros. Enquanto existirem os Reinaldos, os Diogos, os Sabinos, os Pondés e os Coutinhos, gente como Moura pode nos odiar que estaremos a proteger o seu nobre pescocinho.
É isto: a “direita liberal”, no fim das contas, protege esses babacas de suas próprias utopias. Ou terminariam todos com uma picareta enfiada no crânio ou no paredão, para onde seriam enviados pelos próprios ex-companheiros. Entendeu, Moura, ou agora quer que o Tio Rei desenhe?
Por Reinaldo Azevedo  

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Daniel Piza: uma homenagem merecida


Daniel Piza (1970-2011)
Colunistas e Colaboradores
Digestivo Cultural, 
Quinta-feira, 9/2/2012

Memória insuficiente
>>> Agora que possuímos o banquete do conteúdo, lembremos do Daniel Piza escritor, um grande homem que se dedicou ao conhecimento e a compartilhá-lo. Adaptando da Odisseia, de Homero: "O leitor sempre vai se lembrar, durante toda a vida, da pessoa hospitaleira que dá mostras de amizade". E não existe hospitalidade maior do que dividir o conhecimento. No caso do Piza, uma amizade entre escritor e leitor desconhecidos.
por Vicente Escudero

Daniel Piza me fez começar a escrever
>>> Não sei dimensionar a relevância de Daniel Piza para o jornalismo cultural. Não tenho o conhecimento, nem o interesse para tanto. Mas sei de sua importância para mim. Ele foi a minha referência de erudição cultural. Por muito tempo, a primeira coisa que eu fazia no domingo era abrir o Estadão na página da Sinopse. Sem saber, Daniel Piza me fez começar a escrever. Eu quis escrever como ele. Eu quis ter uma coluna como a Sinopse.
por Rafael Fernandes

Daniel Piza: uma lanterna cultural
>>> Por vários anos achei que o Daniel Piza blefava, que suas opiniões e polêmicas eram puro marketing. Por um momento pensei que ele tivesse sido apadrinhado, na imprensa, pelo Paulo Francis. Não conseguia conceber ― na verdade, aceitar ― um cara tão novo escrevendo sobre temas tão variados e complexos. Desconfiava de seu tom de voz macio, da sua calma ao falar, da sua polidez...
por Wellington Machado

Daniel Piza, sempre aberto ao diálogo
>>> Em 2003 iniciei um diálogo com Daniel Piza através de uma missiva que reconheço dura e, talvez para alguns, pedante e arrogante. Com a morte precoce, e recente, de Daniel, torno-o público para dar aos leitores e admiradores uma ideia do enorme respeito que ele tinha por quem o lia. O modo como me expressei levaria qualquer outro a simplesmente me ignorar. Não foi o caso com ele. Estranhos caminhos da vida...
por Humberto Pereira da Silva

Alguns momentos com Daniel Piza
>>> Daniel Piza tinha um estilo ― digamos ― jornalisticamente impecável e ao mesmo tempo facilmente reconhecível. Era direto, como Paulo Francis, e rápido, preciso, como Machado de Assis. A última frase dos seus textos tinha normalmente alguma sacada. Eu gostava de ver ele escapar dos manuais de redação. Seu aforismo preferido, aliás: "Estilo é aquilo que você construiu e já era seu".
por Eduardo Carvalho

Encontros (e desencontros) com Daniel Piza
>>> Lamento, sinceramente, não ter tido mais encontros com o Daniel Piza. Perdi alguém que, além de uma admiração, foi uma espécie de mentor. Quase um irmão mais velho que o jornalismo cultural me legou. E perdi um intelocutor como poucos. Gostaria de dizer, ainda, que perdi um amigo, se não estivéssemos, muitas vezes, em arenas opostas, e se tivéssemos sabido aproveitar mais a amizade, pura e simples. O Daniel vai ficar como um dos grandes do nosso jornalismo.
por Julio Daio Borges