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domingo, 18 de fevereiro de 2024

Xi Jinping perdeu controle dos mercados? The Economist

Xi Jinping perdeu controle dos mercados?

The Economist, Feb 17, 2024

Conforme a crise imobiliária arrasta a economia para a deflação, a confiança dos investidores se esvai gradualmente

Quem investiu este ano em ações chinesas tem empreendido uma jornada arrepiante. Mesmo enquanto o índice americano S&P 500 alcançou altas-recorde, as bolsas na China e em Hong Kong perderam US$ 1,5 trilhão apenas em janeiro. Pequenos investidores ventilaram sua frustração nas redes sociais chinesas. A queda foi tão brutal que em 6 de fevereiro emergiram boatos de que o presidente da China, Xi Jinping, chegou a ser alertado; no dia seguinte, o então diretor da agência reguladora de títulos e obrigações, Yi Huiman, foi demitido. Os preços recuperaram-se um pouco, conforme o Estado começou a comprar ações. Nos próximos dias, deverão apreciar ainda mais.

A uma certa distância, contudo, o desalento no cenário maior fica nítido. O valor de mercado das empresas em bolsas da China e de Hong Kong despencou cerca de US$ 7 trilhões desde o pico, em 2021 — uma queda de aproximadamente 35%, mesmo enquanto as ações americanas subiram 14% e as indianas, 60%. O declínio sinaliza um problema fundamental. Investidores externos e domésticos consideravam no passado o governo chinês um cuidador confiável da economia. Agora essa confiança tem se esvaído, com consequências severas para o crescimento da China.

Menos de uma década atrás, o humor nos mercados chineses era fervilhante. Investidores estrangeiros estavam ávidos para acessar o potencial da estrela econômica mundial em ascensão. A China crescia a um ritmo constante e impressionante, mais que 6% ao ano. Carteiras estrangeiras de investimento entraram com tudo quando os investidores de fora obtiveram acesso direto a ações chinesas por meio de Hong Kong, em 2014.

Quatro anos depois, a MSCI, uma firma financeira, começou a incluir ações da China continental em seus índices globais. O governo chinês, de sua parte, esperava profissionalizar seus mercados para atrair capital estrangeiro e qualificação, para construir uma classe de ativos para substituir o mercado imobiliário. Uma elite de empresários e investidores abastados emergia, exortada pelo próprio Xi a viver o sonho chinês.

O entendimento implícito era que, fosse qual fosse a política da China, era possível confiar em suas autoridades para orientar sua economia no sentido da prosperidade. A China continuaria a crescer num ritmo invejável, seus cidadãos ainda colocariam riqueza e estabilidade econômica acima das liberdades políticas, e investidores estrangeiros colheriam lucros fartos. Todos poderiam enriquecer.

O que deu errado? Um problema amplamente notado é a formulação política inconstante de Xi. As ações regulatórias sobre empresas de tecnologia adotadas em 2020 derrubaram a confiança dos investidores. A política covid-zero foi um fiasco. O governo foi hesitante em uma crise no setor imobiliário que consumiu poupanças e sentimentos — e arrastou a economia para a deflação, com os preços caindo em janeiro deste ano no ritmo mais rápido desde a crise financeira de 2007-09.

Pequim pretende evitar, corretamente, voltar a inflar uma bolha. Mas também quer evitar ajudas e colocar o foco do crescimento em setores de “alta qualidade” que, acredita o governo, ajudarão a China a rivalizar com o poder tecnológico, econômico e militar dos Estados Unidos. Mas os lucros diminuíram este ano até nesses setores. E falta à China o estímulo necessário.

Um fator menos observado é quanto amor pela China os investidores estrangeiros perderam. Eles têm de enfrentar não apenas a formulação política ruim, mas também o risco de que a piora da relação de Pequim com os EUA possa colocar em perigo seus investimentos. Eles têm vendido mais ações do que compram na China continental há meses. Ainda que administradoras de ativos vibrassem no passado com a inclusão da China em índices globais, agora elas estão formatando produtos que deixam o país de fora.

Em vez disso, os investidores estão de olho na Índia, com sua grande população, e no Japão, com sua tecnologia de última geração. Hong Kong também tem sofrido. Empresas da China continental são responsáveis por três quartos de sua capitalização de mercado. Em 22 de janeiro, a Índia superou a China brevemente enquanto quarto maior mercado de ações do mundo.

O mais preocupante de tudo é que investidores na China continental também estão perdendo a confiança. Depois de três décadas de crescimento extraordinário, os chineses ricos estão experimentando uma dolorosa mudança de sorte. Seus investimentos imobiliários e financeiros estão afundando, e pesquisas indicam que muitos executivos tiveram ganhos cortados no ano passado.

Evidências sugerem que mais capital está deixando a China. Quem não consegue contornar os controles chineses sobre capital ou move seu dinheiro para fundos do mercado monetário mais seguros ou escapa para fundos listados nas bolsas da China continental que acompanham ações estrangeiras.

Tudo isso prejudicará o crescimento da China. Nossa análise de pesquisas socioeconômicas sugere que um grupo pequeno mas influente de pessoas detém a maioria dos ativos financeiros da China. Suas circunstâncias estreitadas surtirão efeitos em cadeia, reduzindo o consumo e influenciando decisões de investimento. Investidores presos na China continental poderão ter pouca opção a não ser colocar parte de seu dinheiro conquistado a duras penas em ações.

Em contraste, poderá ser difícil convencer os estrangeiros a retornar. Isso terá um custo para a China, mesmo que investidores estrangeiros ainda tenham uma pequena parte de seus ativos financeiros. Ao longo dos anos, eles forneceram um útil controle externo sobre preços de obrigações. Além disso, sua entrada no mercado, uma década atrás, foi associada com mais gastos de capital e investimentos em pesquisa e desenvolvimento das empresas chinesas. Sua partida, inversamente, poderia atrapalhar a inovação.

Xi parece saber que algo vai mal. Além de demitir Yi, o governo limitou vendas a descoberto, e administradoras de ativos pertencentes ao Estado receberam ordens de comprar ações. Isso poderá sustentar os preços das ações por algum tempo. Mas interferências desse tipo só fazem transparecer a desconfiança da China em relação aos mercados, sublinhando por que os investidores partiram.

Tudo isso prejudicará o crescimento da China. Nossa análise de pesquisas socioeconômicas sugere que um grupo pequeno mas influente de pessoas detém a maioria dos ativos financeiros da China. Suas circunstâncias estreitadas surtirão efeitos em cadeia, reduzindo o consumo e influenciando decisões de investimento. Investidores presos na China continental poderão ter pouca opção a não ser colocar parte de seu dinheiro conquistado a duras penas em ações.

Em contraste, poderá ser difícil convencer os estrangeiros a retornar. Isso terá um custo para a China, mesmo que investidores estrangeiros ainda tenham uma pequena parte de seus ativos financeiros. Ao longo dos anos, eles forneceram um útil controle externo sobre preços de obrigações. Além disso, sua entrada no mercado, uma década atrás, foi associada com mais gastos de capital e investimentos em pesquisa e desenvolvimento das empresas chinesas. Sua partida, inversamente, poderia atrapalhar a inovação.

Xi parece saber que algo vai mal. Além de demitir Yi, o governo limitou vendas a descoberto, e administradoras de ativos pertencentes ao Estado receberam ordens de comprar ações. Isso poderá sustentar os preços das ações por algum tempo. Mas interferências desse tipo só fazem transparecer a desconfiança da China em relação aos mercados, sublinhando por que os investidores partiram.

https://www.estadao.com.br/economia/the-economist-xi-jinping-controle-mercados-acoes-china/