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sábado, 9 de dezembro de 2023

O baile do motorista (quem é Maduro, o ditador de um país falido) - Ricardo Seitenfus (O Globo)

 O baile do motorista

Maduro infringirá todas as regras diplomáticas de maneira recorrente, baseado na premissa do ‘anti-imperialismo’

Por Ricardo Seitenfus

0O Globo, 9/12/2023 00h05  

 

Embora Nicolás Maduro Moros já tenha demonstrado suas habilidades nestes últimos dez anos durante os quais se mantém, contra ventos e marés, à frente da Venezuela, foi nos últimos dias que se transformou em vedete de salão do baile internacional. Ele escolhe a música, e todos devem dançar segundo seu tempo e ritmo. Não se trata do sofisticado pas de deux. Mas de marchas patrióticas em que a ausência de qualidade musical é compensada pelo excesso de ruído militar. Calejados diplomatas, príncipes, presidentes e assemelhados são meros assistentes de suas travessuras e malabarismos.

Em razão de sua impressionante envergadura física, foi guarda-costas do político chavista e jornalista José Vicente Rangel. Essa corpulência, quando confrontada com seus colegas estrangeiros, é visualmente chocante. Ao contrário de outros políticos, nenhuma preocupação em enganar sobre sua estatura física. Esta deve provocar um efeito amedrontador e dissuasivo nos interlocutores.

A outra experiência formadora provém de uma atividade trivial que obriga seus profissionais à constante atenção: motorista de ônibus urbano de uma empresa de transporte coletivo de Caracas. Foi no caótico trânsito da capital venezuelana que o jovem Nicolás aprendeu a driblar os obstáculos e a fazer bailar seus adversários.

Não procurem estudos, escritos, reflexões. Eles não existem. Logo o motorista Nicolás segue escrupulosamente a cartilha sindical que o conduz ao mundo da política.

Fiel entre os fiéis de Hugo Chávez, embora monoglota, ele foi guindado em 2006 ao Ministério das Relações Exteriores. Escancara-se o que lhe faltava: a tarimba do mundo. Neste, o agora maduro Nicolás infringirá todas as regras diplomáticas de maneira recorrente baseado na premissa dicotômica, simplista portanto eficaz, do “anti-imperialismo”.

Escolhido por um Chávez agonizante e apoiado por seus parceiros estrangeiros mais relevantes, como Brasil e Cuba, ele conquistou o poder supremo e nele se mantém.

O risco de perdê-lo no ano vindouro o obriga a uma extraordinária jogada, digna dos maiores mestres do xadrez internacional. Sem estampidos, ausente o ruído de botas e munido unicamente da ousadia de seu gogó, Maduro apropria- se de dois terços do território de seu vizinho. A quem, um dos países mais pobres do hemisfério, acusa de “imperialista”.

Transformado o salão de baile em picadeiro circense, o mundo olha embasbacado, entre surpresa e dúbios protestos. Alguns, incrédulos e pouco à vontade, tentam esconder sua admiração por essa obra de arte da política internacional.

Para os demais, considerados os palhaços desse circo, diante das diabruras maduristas restam unicamente os olhos para chorar.

 

*Ricardo Seitenfus, professor universitário e autor de livros sobre relações e organizações internacionais, foi representante da OEA no Haiti (2009-2011) e na Nicarágua (2011-2013)

 

domingo, 20 de março de 2022

Ainda existe essa coisa chamada comunidade internacional? - Paulo Roberto de Almeida

 Ainda existe essa coisa chamada comunidade internacional?


Depois da Blitzkrieg contra a Polônia em 1939 e da invasão da URSS “aliada” em 1941, a história mundial não tinha mais registrado esse tipo de agressão total contra uma nação inteira, como esta, de um novo ditador contra um país vizinho. 

Mas os sinais estavam dados desde vários meses antes. 

Por que então se permitiu? Quais as razões da passividade em face de uma clara violação do Direito internacional, de uma ruptura aberta e flagrante a vários artigos da Carta das Nações (des)Unidas?

Depois de um terrível meio século destruidor, iniciado mais de cem anos atrás, estamos sendo levados a assistir passivamente a uma nova manifestação de um ultimatum que precipitou o vórtice da Grande Guerra?

A comunidade internacional ainda não conseguiu superar o direito da força bruta pela força incontornável do Direito? 

Onde foi que os grandes falharam?

Como foi que os médios se acovardaram?

Por que os pequenos sequer protestaram?

Qual o futuro de um mundo tão fragmentado em suas causas exclusivamente nacionais?

Esqueceram as recomendações do Abade Pierre (1710) e do Filósofo Kant (1795)?

Já tinham esquecido antes; acabam de fazê-lo novamente…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20/03/2022