O PORÃO NO PODER
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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sexta-feira, 19 de março de 2021
O porão no poder - Gustavo Bezerra
segunda-feira, 27 de julho de 2020
A ditadura do PCC se instala em Hong Kong - Florence De Changy (Le Monde)
A Hongkong, un milliardaire tient tête à Pékin
Semblant visé par la nouvelle loi sécuritaire, le magnat de la presse d’opposition Jimmy Lai refuse de se taire
Florence De Changy
« Pékin ne plaisante plus »
Prêt à assumer son destin
sábado, 18 de julho de 2020
A China conseguiu eliminar a pobreza? Uma visão abrangente do gigante asiático Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida
Em 2015, o atual imperador chinês havia prometido que a pobreza seria completamente eliminada do país em 2020. Não sabemos ainda se esse objetivo foi alcançado, em função da pandemia.
Mas, o volume de pessoas vivendo na miséria é absolutamente inexpressivo e o índice de pobreza é propriamente residual.
Ela está destinada a ser eliminada, bem mais pelo sistema de mercado do que pela via de ações do Estado.
Este sempre foi relevante no caso da China, inclusive por ter sido “moderno” séculos antes que ocorresse tal processo no Ocidente. Quando na Europa tribos bárbaras ainda se deslocavam de um lugar a outro e senhores “feudais” guerreavam entre si, a China já dispunha de um “Estado weberiano”, com seus burocratas recrutados pelo mérito dos concursos para mandarins (em diversos níveis).
A China é um caso extraordinário de transformação econômica, jamais visto na história da Humanidade. Nunca houve, na história econômica mundial, nem nunca mais haverá, mudança tão impactante socialmente, alcançando centenas de milhões de pessoas, em prazo tão curto de tempo: pouco mais de uma geração.
O fato de ser uma autocracia pode ter ajudado na tarefa, mas a China sempre foi autoritária, totalitária, tirânica, ditatorial, despótica, segundo as épocas, mas os despotismos anteriores nunca tinham conseguido, se por acaso tentaram (o que nunca parecer ter sido o caso) retirar a grande maioria da população de uma miséria ancestral, estrutural.
Cabe registrar que a China tradicional também sempre contou com governos burocraticamente organizados e, sobretudo, com uma grande cultura, em geral sofisticada, e acima de tudo, uma extraordinária energia de seu povo, para sobreviver e progredir, contra ventos e marés, nos bons e maus momentos.
As questões da democracia e dos direitos humanos são relevantes, tanto do nosso ponto de vista (isto é, ocidental), quanto universalmente, mas não podem ser colocadas nos mesmos termos evolutivos e civilizatórios com que se analisa a trajetória do Ocidente desde a herança clássica, no mundo greco-romano (inclusive o cristianismo), realidades que foram e são muito diferentes em outros complexos societais.
Isto não vale apenas para a China, mas para o Oriente como um todo, inclusive Oriente Médio e norte da África, e toda a África Sub-saariana.
No caso da China, o fato de que essa trajetória de sucesso econômico e social tenha sido realizada sob o domínio do Partido Comunista pode ser importante, mas não deve ser considerado como absolutamente essencial no plano do desenvolvimento civilizatório do povo chinês, por dois motivos básicos: (a) o “comunismo” como um todo é um período de tempo relativamente curto (70 anos até aqui) para os padrões evolutivos da cultura e da sociedade chinesas, e mesmo sua forma “demencial”, sob o maoísmo, foi mais curto ainda; (b) o “comunismo” da era Deng (que se prolonga até a ascensão de Xi Jinping) foi mais burocrático no sentido weberiano do que ao estilo bolchevique do “centralismo democrático” leninista-stalinista, e os membros do PCC reproduzem em grande medida a trajetória de carreira dos antigos mandarins, ou seja, mérito, dedicação e competência em tarefas administrativas.
Se a China conseguiu ou não eliminar a pobreza como prometido pelo atual imperador (mas funcionando num regime “constitucional” relativamente estável), é algo a ser estabelecido proximamente.
Mas algumas coisas já são certas, e prometem perdurar pelo resto deste século: trata-se da maior economia do planeta, da nação mais importante no contexto do sistema de comércio multilateral, o maior investidor do mundo prospectivamente, uma economia de mercado sofisticada no plano global (a despeito do papel crucial do Estado em diversas áreas, mas todas tendentes a criar um bom ambiente de negócios para “capitalistas” e empreendedores, de modo geral), uma possível iniciadora de nova revolução monetária (já tendo inventado o papel-moeda séculos atrás) e, concorrentemente com outras nações avançadas, a China passa a ser, crescentemente (depois de ter copiado e pirateado marcas e produtos estrangeiros durante poucas décadas), uma das grandes contribuidoras líquidas ao estoque mundial de produção científica e avanços tecnológicos, com volumes progressivamente maiores de inovações proprietárias e exclusivas.
Assim como o século XIX foi dominado por padrões europeus de transformação tecnológica, e consequentes normas industriais, e o século XX o foi por padrões americanos (adicionalmente aos europeus), o século XXI deve receber imensas contribuições chinesas, no bojo das próximas revoluções industriais, a da nanotecnologia, da inteligência artificial, da energia renovável e TICs.
Mais um motivo para o Brasil preservar sua autonomia de escolhas, uma vez que continuaremos a estar submetidos a novas formas de dependência no futuro previsível (esperando que não seja apenas dos EUA, por trumpismo doentio e equivocado dos atuais dirigentes ineptos).
O século XXI não será exclusivamente chinês, assim como os dois anteriores não foram exclusivamente europeu ou americano, mas ele será determinantemente chinês e asiático, no sentido weberiano e wallersteiniano do conceito de Weltwirtschaft, a economia-mundo que se constroi deste Colombo e Fernão de Magalhães, 500 anos atrás, o que aliás remete igualmente a Braudel, em sua visão macrohistórica.
Ao cumprir sua missão histórica como a maior economia de mercado no século XXI, a China vai contribuir poderosamente para retirar de uma miséria ancestral vários povos da África, da Ásia do Sul e alguns da América Latina.
Esta é uma visão otimista sobre o futuro da Humanidade sob o “século chinês”, independentemente da conformação política de todas as nações e Estados atualmente existentes no cenário onusiano (que deve perdurar, mesmo na preeminência persistente da atual configuração de Estados-nacionais soberanos), que nada mais é do que um prolongamento do modelo estatal westfaliano.
Mas, se ouso terminar de modo pessimista (que eu diria apenas realista), creio antecipar que o Brasil demorará a maior parte deste século para eliminar a sua miséria social residual e para superar completamente o estado de pobreza de boa parte de sua população. Isto não se deve a nenhuma fatalidade do sistema internacional ou a problemas exógenos, ou ainda a fantasmagorias de intelectuais alienados (que insistem ainda na “ação perversa” de uma ideologia capitalista supostamente baseada na desigualdade estrutural de um pretenso “sistema”), mas inteiramente à miséria intelectual e à mediocridade egoista de suas elites dirigentes.
Espero estar errado nesta minha última “previsão”.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18/07/2020
sexta-feira, 17 de julho de 2020
A China, o capitalismo, as democracias de mercado e as democracias ocidentais - Paulo Roberto de Almeida e China Daily
Paulo Roberto de Almeida
Se a China, em lugar de ser uma ditadura comunista, fosse uma ditadura de direita, talvez houvesse menos pressão sobre ela, com chances de perder outras coisas que não apenas o lucro empresarial.
O Brasil da era do milagre, por exemplo, atravessou um dos períodos autoritários mais sombrios de nossa história, com, torturas, assassinatos, desaparecimentos. E nunca deixou de receber vultosos investimentos estrangeiros.
Xi hails execs' faith in growth, pledges reform
domingo, 23 de fevereiro de 2020
A diferença entre Estados autoritários e os democráticos: China como "homem doente da Ásia" no Wall Street Journal
Qual foi a reação dos dirigentes alemães?
Nenhuma, absolutamente nenhuma.
Ou melhor, reconheceram os problemas do momento e trataram de corrigi-los para que o país retomasse seus antigos níveis de produtividade e competitividade que sempre distinguiram a Alemanha, temporariamente afetados por políticas erradas e pelos impactos reais da integração da RDA, acrescidos dos problemas trazidos pouco antes pela moratória russa, que afetou muitos bancos alemães.
A China já foi chamada de "homem doente da Ásia", no final do século XIX, quando ela realmente estava em decadência e tinha perdido guerras contra a Rússia czarista e o Japão ascendente, assim como estava sendo humilhada pelos imperialismos ocidentais, e não tinha sequer como retaliar.
Logo depois foi a vez do Império Otomano, de ser chamado de "homem doente", o que era também um fato, em breve confirmado pelo fim do Império e o nascimento da Turquia moderna, com um território reduzido em relação ao enorme império antes espalhado pelo sul da Europa, Oriente Médio e norte da África.
Hoje, a China, que não tem nada de "homem doente" da Europa, enfrenta um problema episódico, que vai ser superado dada sua enorme capacidade de reação, sua organização, seu poderio econômico.
O grande historiador e especialista de relações internacionais, Walter Russell Mead, realmente perpetrou um erro grave – ou então a responsabilidade incumbe aos editores –, ao chamar a China de "homem doente da Ásia", mas ele é um colunista baseados nos EUA, que tem liberdade para publicar o que deseja no Wall Street Journal, um jornal conservador, mas provavelmente o melhor jornal do mundo, junto com o Financial Times. A decisão da China de expulsar três jornalistas do escritório de Beijing do WSJ apenas revela o espírito totalitário do PCC, sua intolerância com as opiniões de um acadêmico, que não afetariam em nada a capacidade da China de resolver um grave problema de saúde pública.
Essa é a diferença entre as democracias e as ditaduras: as primeiras não interferem na liberdade de imprensa e sobretudo na opinião de comentaristas e acadêmicos. Ditaduras costumam controlar seus cidadãos e os próprios jornalistas estrangeiros que escrevem sobre o país. A retaliação inaceitável da China contra jornalistas estrangeiros apenas confirma essa diferença básica, que um dia será superada, para felicidade do próprio povo chinês.
Paulo Roberto de Almeida
Inside The Wall Street Journal, Tensions Rise Over ‘Sick Man’ China Headline
Apropos of nothing in particular, a word to my new Chinese followers: at American newspapers, writers typically do NOT write or approve the headlines. Argue with the writer about the article content, with the editors about the headlines.
terça-feira, 3 de abril de 2018
Venezuela indo para a derrocada famelica final - Daniel J. Mitchell (FEE)
Estes simples relatos, como abaixo, são absolutamente insuportáveis, de ler, de imaginar, de acompanhar a degringolada fatal de todo um país, dominado pelos seus amos do Caribe.
O que fazem os vizinhos?
Paulo Roberto de Almeida
The Ongoing Implosion of Venezuelan Statism
Venezuela's continuing economic collapse is a horrifying condemnation of how socialism actually works.
At 16, Liliana has become the mother figure for a gang of Venezuelan children and young adults called the Chacao, named after the neighborhood they’ve claimed as their territory. The 15 members, ranging in age from 10 to 23, work together to survive vicious fights for “quality” garbage in crumbling, shortage-plagued Venezuela. Their weapons are knives and sticks and machetes. The prize? Garbage that contains food good enough to eat. …A year ago, the gang was “stationed” around a supermarket at a mall called Centro Comercial Ciudad Tamanaco that generates tons of garbage. But a feared rival gang from the neighborhood Las Mercedes also wanted the garbage.
The Pharmaceutical Federation of Venezuela estimates the country is suffering from an 85 percent shortage of medicine amid an economic crisis… "The entire Venezuelan health care system is on the verge of collapse," says Francisco Valencia, head of the public health advocacy group Codevida. Some hospitals lack electricity, and more than 13,000 doctors have left Venezuela in the past four years in search of better opportunities. “They don’t give food to the patients in the hospital…” Government data shows infant mortality rose by 30 percent in 2016… The International Monetary Fund predicts inflation will soar to 13,000 percent this year and the economy will shrink by 15 percent. …The monthly minimum wage for many Venezuelans is now equal to $3, according to the AP. …Maduro blames the country’s growing crisis on…the U.S…leading an effort to wipe out socialism in Venezuela.
Venezuela’s devastating food crisis means wheat flour has become a rare commodity in the country. Some churches have run out of the ingredient needed to make the sacramental bread that is central to celebrating the Holy Eucharist… So, members of the Catholic diocese of Cúcuta, Colombia, braved heavy rain this week to deliver the wafers over a bridge that connects the two countries… Venezuela’s economic crisis, fueled by a decline in oil production, shows no signs of improvement.People are starving because of routine food shortages. They are dying in hospitals because basic medicine and equipment aren’t available.
Ruiz’s weekly salary of 110,000 bolivares—about 50 cents at the black-market exchange rate—buys him less than a kilo of corn meal or rice. His only protein comes from 170 grams of canned tuna included in a food box the government provides to low-income families. It shows up every 45 days or so. “I haven’t eaten meat for two months,” he said. …Hunger is hastening the ruin of the Venezuelan’s oil industry as workers grow too weak and hungry for heavy labor. With children dying of malnutrition and adults sifting garbage for table scraps, food has become more important than employment, and thousands are walking off the job. …Venezuela, a socialist autocracy that once was South America’s most prosperous nation, is suffering a collapse almost without precedent.
For the past three weeks, Wilya Hernández, her husband and their daughter, 2, have been sleeping on the garbage-strewn streets of Cúcuta, a sprawling and chaotic city on Colombia’s side of the border with Venezuela. Though Antonela, the toddler, often misses meals, Ms. Hernández has no desire to return home to Venezuela. …“I sold my hair to feed my girl,” Ms. Hernández said, pulling back her locks to reveal a shaved head underneath, adding that wigmakers now walk the plazas of Cúcuta where many Venezuelans congregate, wearing signs advertising that they give cash for hair. …“If I can’t afford to go the bathroom, I’ll go on the street,” Ms. Hernández added. “That’s when guys walking by say creepy things.”
A friend recently sent me a photograph…, just a blurry cellphone shot of trash… And yet I can’t stop thinking about it, because strewn about in the trash are at least a dozen 20-bolivar bills, small-denomination currency now so worthless even looters didn’t think it was worth their time to stop and pick them up. …according to the “official” exchange rate, …each of those bills is worth $2. In fact, as Venezuela sinks deeper…into…hyperinflation…, bolivar banknotes have come to be worth basically nothing: Each bill is worth about $0.0001 at the current exchange rate… It’s easy to see why the thieves left them behind.
More than half of young Venezuelans want to move abroad permanently, after food shortages, violence and a political crisis escalated to new extremes in 2017, according to a new survey. Once Latin America’s richest country, Venezuela’s economy is now collapsing… One of the most painful effects of the current crisis has been widespread hunger. In 2015, when inflation and food shortages were well below current levels, nearly 45% of Venezuelans said there were times when they were unable to afford food; in the latest study, that figure had risen to 79%—one of the highest rates in the world. …Norma Gutiérrez, a radiologist in eastern Caracas, is one of those…would-be migrants. Acute shortages in the hospital where she works depress her, and she says the idea of emigrating crosses her mind at least once a week.