O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador ditadura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ditadura. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 19 de março de 2021

O porão no poder - Gustavo Bezerra

 O PORÃO NO PODER

Gustavo Bezerra, 01/03/2021

Em 5 de outubro de 1988, o deputado Ulysses Guimarães, segurando um exemplar da recém-aprovada Constituição Federal, proclamou, em um famoso discurso perante seus pares na Câmara dos Deputados: "Temos ódio e nojo da ditadura. A sociedade é Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram".
Ulysses estava se referindo ao ex-deputado Rubens Beirodt Paiva, torturado até a morte em 1971 pelos esbirros da repressão a serviço da ditadura militar. O corpo dele jamais foi encontrado. Os carrascos do DOI-CODI que o assassinaram trataram de destruir a prova do crime, transformando-o num "desaparecido politico".
A data do discurso de Ulysses marcou o fim, de direito, do regime militar iniciado em 1964. Desde então, oficialmente, o Brasil é uma democracia, com uma Constituição democrática.
Trinta anos depois, esse regime, a Democracia, que está longe de ser um fato da natureza, está enfrentando sua maior ameaça. E vinda de quem exerce os mais altos cargos do país. Os facínoras de que falou Ulysses chegaram ao governo. O porão está no poder.
Muito se discute sobre a relação do atual PR com os militares. Boçalnato, como se sabe, não esconde sua devoção ao regime de 64, à mesma ditadura odiosa e nojenta repudiada por Ulysses em seu discurso histórico. Isso já seria o suficiente para desqualifica-lo como o contrário de um democrata. Mas acontece que a ameaça bolsonarista ao regime democrático é ainda mais perniciosa, pois está baseada naquilo que o regime dos generais tinha de pior, de mais repulsivo e execrável: não é exatamente os supostos dotes de estadista dos generais-presidentes, mas o que acontecia nos porões da repressão política - no DOPS, na OBAN, no DOI-CODI, no esquadrão da morte -, o que ele louva e reivindica. É a tortura. É o.assassinato de presos políticos. É Ustra. É o delegado Fleury. É o Riocentro. 
São esses personagens - a escória moral da ditadura, aliás da humanidade .-, mais do que Médici ou Costa e Silva, os heróis e ídolos do atual PR. A "tigrada,", como os definiu o ex-ministro (de Costa e Silva, Médici e Figueiredo) Delfim Netto. O, digamos assim, baixo clero da ditadura. Os agentes da repressão. Aqueles que faziam o serviço sujo. Os que acionavam a máquina de choques elétricos. Que quebravam ossos. Que dependuravam no pau de arara. Que torturavam até a morte. E que, depois que matavam, sumiam com os corpos. Gente que atacava teatro, e que jogava bomba em banca de revista. Em nome do regime do AI-5, tão defendido por Boçalnato e seus filhos.
Não é somente Boçalnato e sua prole, claro. Os militares que o sustentam também pensam da mesma forma. Basta lembrar do episódio do deputado bolsonarista que tomou uma merecida cana do STF por ter pregado contra a Democracia. O deputado em si é irrelevante, ele não é ninguém (um parlamentar invocando a imunidade parlamentar e a liberdade de expressão para defender o AI-5, que acabou com a imunidade parlamentar e a liberdade de expressão, é roteiro de comédia besteirol); o fato é grave porque o que o motivou foi a reação de um ministro do STF a um tuite do ex-comandante das Forças Armadas, o general Villas-Boas, claramente ameaçando o STF caso o resultado de um julgamento não fosse o esperado por Villas-Boas. Um claro flerte com o autoritarismo. Outro general das hostes governistas, Augusto Heleno, chefe do GSI, já foi flagrado praguejando em público contra o Congresso. Augusto Heleno, aliás, que foi assessor do chefe da linha-dura militar, o então ministro do Exercito, general Sylvio Frota, quando de sua demissão por Ernesto Geisel em 1977, por se opor ao processo de abertura política iniciada por Geisel (mesmo Geisel que chamou Boçalnato, então deputado, de "mau militar"). E há o vice Mourão, que muitos consideram "moderado" (até Atila, o Huno, parece "moderado" perto de Boçalnato), o qual vira e mexe solta um elogio a Ustra, um "bom instrutor". Ustra, o torturador que o atual PR considera um herói. Liguem os pontos. 
É esse setor - militares saudosos da repressão -, o principal esteio do desgoverno Boçalnato. É o ódio à Democracia, juntamente com o lavajatismo (a corrupção da Lava-Jato), o liberalismo de fachada (encarnado pelo vendedor de redes Paulo Guedes), a truculência parapolicial e miliciana e o moralismo de galinheiro (a "guerra cultural" dos fanáticos religiosos, gurus de internet e evangélicos dinheiristas), o que move os que fizeram campanha para essa figura grotesca e caricatural, elevando-o desgraçadamente ao cargo máximo da nação. A internet, com sua vocação para a.boçalidade, fez o resto. Sem falar nos oportunistas de sempre. Houve quem acreditasse que seria um governo liberal, honesto, de perfil técnico, sem viés ideológico - e democrata (!). Pois é.
Villas-Boas, Heleno, Mourão e mesmo Boçalnato (este mais pela idade, e não por falta de vontade) não foram torturadores, mas se identificam com quem o foi. E, no caso do PR, têm neles um modelo e uma inspiração. Só isso já bastaria para considerá-lo um inimigo da Democracia e da Civilização. Mas tem mais. 
Boçalnato se elegeu com um discurso - infelizmente, popular, ou melhor dizendo: populista -, anti-política, contra o "sistema". Que sistema? O da Constituição de 1988. O sistema democrático. Seu objetivo não é outro senão destruir a Democracia, e isso não é (ou não deveria ser) segredo pra ninguém. 
Como JB faz isso? Ele já deu algumas pistas. Um dos caminhos é se aproximando de setores subalternos dos militares, participando de eventos como formação de cadetes (sua principal agenda nos últimos meses, além de provocar aglomerações em meio à pandemia) e apoiando projetos que visam a aumentar o poder das PMs, de modo a retirá-las da alçada estadual para a federal. Outro sinal é a obsessão com a liberação de armas - algo que não tem absolutamente nada a ver com segurança pública ou liberdade individual, como creem alguns incautos, mas com o armamento de milícias pró-governo, à moda chavista (fato confessado pelo próprio PR, naquela famosa reunião ministerial no ano passado).
Boçalnato e sua corja conspiram contra a Constituição no que ela tem de melhor- os direitos e garantias individuais -, mas não no que ela tem de pior- o corporativismo, a defesa de privilegios, o excesso de intervencionismo estatal (a intervenção desastrosa na Petrobras é o último exemplo; há outros). Nisso, aliás, eles se aproximam dos petistas (o PT, é bom lembrar, se recusou a assinar a CF-88).
Enfim, é um projeto claramente autoritário, urdido por um ex-milico de passado terrorista, que sempre odiou a Democracia, embora deva tudo a ela. Um projeto autoritário e golpista. "Ah, mas e o Centrão?". O Centrão está com qualquer governo. E a aproximação só se deu pelo medo do impeachment, assim como a aproximação com o STF só se deu por causa do medo da condenação do filhote Zero Um no caso das rachadinhas. Alguém vê algo de republicano nisso? 
Há alguns anos, foi inaugurado um busto de Rubens Paiva num dos anexos da Câmara dos Deputados, em Brasília. Presente ao local, a família dele. No meio da cerimônia, um deputado apareceu causando tumulto. Inclusive, cuspiu no busto do homenageado. O nome do então deputado? Ele mesmo, o atual PR.
O atual governo brasileiro é um governo de facínoras. De inimigos da Democracia. De adoradores da morte. Merece, portanto, todo o asco e repulsa, como discursou o Dr. Ulysses.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

A ditadura do PCC se instala em Hong Kong - Florence De Changy (Le Monde)

A Hongkong, un milliardaire tient tête à Pékin

Semblant visé par la nouvelle loi sécuritaire, le magnat de la presse d’opposition Jimmy Lai refuse de se taire

Florence De Changy

Le Monde, Mardi 28 juillet 2020
Si les autorités chinoises tiennent une liste bien à jour des personnalités les plus pénibles et les plus tenaces de la rébellion hongkongaise, le milliardaire militant Jimmy Lai y figure assurément en bonne place. Et ce, de longue date.
Depuis le début des années 1990, par le biais de son groupe de presse populaire, d’inspiration tabloïde, Next Media, devenu Next Digital en 2019, et de son titre-phare, l’Apple Daily, lancé en 1995, Jimmy Lai n’a eu de cesse de s’en prendre au Parti communiste chinois (PCC), exposant ses abus, ses injustices, son cynisme et ses complots… Le Global Times, le journal de propagande de Pékin, lui renvoie abondamment les politesses, le qualifiant de « traître sécessionniste »« à la solde de la CIA », l’accusant de « financer les émeutes » et d’« utiliser la jeunesse de Hongkong comme chair à canon ».
L’homme d’affaires de 71 ans, qui nous reçoit chez lui au petit matin d’un jour de semaine, est actuellement en liberté sous caution. Le juge lui a refusé à deux reprises le droit de quitter Hongkong pour des voyages d’affaires et des visites de famille. Le 19 août, il devra répondre de deux chefs d’accusation, « intimidation » et « participation à un rassemblement illégal ». Mais, c’est surtout la nouvelle loi sur la sécurité nationale, promulguée à Hongkong le 30 juin, qui semble le viser directement. Pourtant, malgré la menace qui pèse sur lui et ses proches, il persiste et signe.
« Cette loi sonne le glas pour Hongkong. Elle s’attaque en même temps à l’Etat de droit qui prévalait à Hongkong et à nos libertés. C’est pire que ce que les plus pessimistes avaient imaginé », affirme-t-il en guise d’entrée en matière, entre deux verres d’un jus vert persil fait maison, son régime des lendemains de dîner en ville. Le petit déjeuner est servi sur une nappe blanche, dans le grand jardin d’hiver attenant au salon où règne un chaleureux désordre.

« Pékin ne plaisante plus »

Cet homme aujourd’hui richissime et influent est arrivé jeune enfant sans-le-sou du sud de la Chine au milieu des années 1950. Il n’est pas du genre à échanger des banalités. Pendant dix ans, jusqu’en 2019, il n’a quasiment pas donné d’interviews. Mais voilà un an qu’il est passé à l’offensive. On dirait presque un baroud d’honneur. Car l’heure est grave. « Cette fois, Pékin ne plaisante plus », dit-il. En juillet 2019, il est allé personnellement à Washington demander l’appui des Etats-Unis au secrétaire d’Etat, Mike Pompeo, ainsi qu’au vice-président, Mike Pence, un acte qui pourrait relever de la « collusion avec un pouvoir étranger » sous la nouvelle loi, qui n’est toutefois pas rétroactive.
Il admet avoir espéré, il y a une dizaine années, qu’avec l’embourgeoisement de la classe moyenne en Chine, les citoyens du continent réclameraient plus de libertés civiles, « mais cela n’a pas eu lieu ». Au contraire, la montée en puissance de la Chine l’a dotée d’une nouvelle assurance pour imposer sa façon de faire, tant au reste du monde qu’à sa propre population. « Jamais un dictateur n’a eu les moyens de contrôler sa population comme Xi Jinping. Ils savent tout : où vous allez, ce que vous achetez, les gens auxquels vous parlez, en vrai, par téléphone ou en ligne… », affirme M. Lai, ahuri de l’arsenal technologique de surveillance déployé aujourd’hui en Chine. « Et si vous faites quelque chose qui leur déplaît, vous ne pouvez même plus vous acheter un billet de train ! », s’emporte-t-il soudain.
Il se demande comment les Hongkongais, pour qui les libertés individuelles et les valeurs occidentales sont une seconde nature, vont peu à peu s’adapter au changement de contexte créé par la nouvelle loi. Il a déjà remarqué un changement d’attitude chez certains, une plus grande prudence dans leur façon de parler. « Certains ont l’air de penser qu’un ami pourrait les dénoncer, qui sait ? »
D’après lui, arrêter les transferts de technologie vers la Chine, notamment dans les secteurs de la communication et de la surveillance, serait le moyen le plus efficace de faire pression sur Pékin et de ralentir l’ascension chinoise. Car si la Chine estime avoir réussi son coup de force à Hongkong, elle l’a tout de même payé en se mettant à dos une bonne partie du reste du monde. « Beaucoup de pays faisaient semblant de ne pas savoir car ils voulaient continuer à faire des affaires avec la Chine. Maintenant vous ne pouvez plus prétendre que vous ne savez pas », juge-t-il. Alors que se pose à présent la question de la survie du centre financier de Hongkong, quatrième place internationale, Jimmy Lai pense que, quand bien même Pékin n’avait pas comme intention initiale de détruire la place financière, la nouvelle loi va se charger de le faire, avec ou contre son gré. 
« En privant Hongkong de son Etat de droit, vous lui enlevez le climat de confiance indispensable à une grande place financière. » Il sait que l’argent chinois va continuer d’affluer, ce qui en volume compensera largement la perte des investissements américains. Mais la confiance ne sera plus là.
Il plaint les fonctionnaires qui vont devoir faire allégeance au gouvernement et à la Basic Law, la mini-Constitution de Hongkong, désormais placés sous l’autorité de la nouvelle loi sécuritaire. « Dans ces conditions, soit vous faites ce que l’on vous dit, soit vous perdez votre emploi. » Et tôt ou tard, il est persuadé que le même régime d’allégeance forcée va s’appliquer à tout le monde.

Prêt à assumer son destin

Donc, tant que le calcul reste gagnant pour les entreprises, les banques et même les tycoons, ces milliardaires à la tête des quelques familles patriciennes qui contrôlent toute l’économie de Hongkong, ils resteront. C’est l’homme d’affaires qui parle. Il n’empêche, dans son entourage, tout le monde sans exception se prépare, au cas où il faille vraiment partir. « Ils se disent, commençons à emballer. Liquidons nos biens pour sortir plus facilement le jour venu… »
Dans son groupe de presse, plusieurs journalistes ont déjà renoncé : il y a eu des démissions et des demandes d’affectation dans les services non politiques. Ceux qui ont un second passeport vont tenter leur chance en Australie ou au Royaume-Uni. Au sein de la rédaction de Apple Daily, porte-voix du camp prodémocratie, les journalistes sont persuadés que la nouvelle police politique guette avidement le premier faux-pas de l’un d’eux pour y faire une descente, et tôt ou tard forcer la fermeture du titre. Quant au mouvement démocratique, « tout le monde a eu très peur, certains ont fui et ceux qui restent ne sont pas forcément prêts à passer leurs meilleures années en prison. Personne ne peut exiger de quiconque de devenir martyr. »
A cet égard, Jimmy Lai estime que Pékin a déjà gagné : « Ils n’ont pas besoin d’aller plus loin pour le moment. Ils ont eu leur effet d’intimidation. Ensuite, ils vont sélectionner calmement un par un ceux qu’ils veulent éliminer. »Quant à lui, il n’envisage pas une minute de fuir. « Je les ennuie depuis trente ans, je ne vais pas leur faire le cadeau d’abandonner maintenant. Je me ferais honte à moi-même, au journal et au camp prodémocratie. Au pire, Teresa [sa femme] et les enfants partiront. Je resterai seul », déclare-t-il.
Cela fait déjà longtemps que l’on cherche à le faire taire. Pendant le « mouvement des parapluies », en 2014, quand, soixante-dix-neuf jours durant, les manifestants prodémocratie bloquèrent le quartier administratif de Hongkong, Jimmy Lai avait été aspergé d’un seau de viscères animales. Hormis le désagrément passager, cela ne l’avait nullement atteint.
Sa résidence a été la cible de plusieurs attaques. Ces derniers temps, il est régulièrement suivi. Ses gardes se sont habitués à la présence de voitures suspectes garées devant chez lui. « On m’a fait passer des messages explicites : Tu vas finir tes jours dans une cellule en Chine, tu vas être abattu… Si je réfléchissais à cela, je ne pourrais plus dormir, ni travailler. Je n’y pense pas, c’est tout », confie-t-il. Il semble prêt à assumer son propre destin, déjà exceptionnel, quel qu’il soit, et jusqu’au bout.
Avant de commencer l’entretien, Jimmy Lai avait allumé un cône d’encens devant un ensemble éclectique de sculptures saintes et d’icônes. Comme la plupart des aînés du combat démocratique à Hongkong, notamment l’avocat et fondateur du Parti démocratique Martin Lee, et l’ancienne première secrétaire du gouvernement, Anson Chan, Jimmy Lai est catholique. Lui a été baptisé adulte, à la  cathédrale de Hongkong, le 7 juillet 1997, soit sept jours après la rétrocession de l’ancienne colonie britannique à la Chine, par un autre membre éminent de la lutte pour la démocratie, l’infatigable cardinal Zen, 88 ans, alors évêque.
Tout cela crée des liens. « Nous, nous sommes à la fin de notre vie. C’est plus facile que pour les jeunes. Mais tous, on tient bon parce que l’on sait qu’on est du bon côté de l’histoire. Même si l’on perd aujourd’hui, ceux qui reprendront le flambeau gagneront. C’est notre espoir. »

sábado, 18 de julho de 2020

A China conseguiu eliminar a pobreza? Uma visão abrangente do gigante asiático Paulo Roberto de Almeida

A China conseguiu eliminar a pobreza? Uma visão abrangente do gigante asiático
Paulo Roberto de Almeida

Em 2015, o atual imperador chinês havia prometido que a pobreza seria completamente eliminada do país em 2020. Não sabemos ainda se esse objetivo foi alcançado, em função da pandemia.
Mas, o volume de pessoas vivendo na miséria é absolutamente inexpressivo e o índice de pobreza é propriamente residual.
Ela está destinada a ser eliminada, bem mais pelo sistema de mercado do que pela via de ações do Estado.
Este sempre foi relevante no caso da China, inclusive por ter sido “moderno” séculos antes que ocorresse tal processo no Ocidente. Quando na Europa tribos bárbaras ainda se deslocavam de um lugar a outro e senhores “feudais” guerreavam entre si, a China já dispunha de um “Estado weberiano”, com seus burocratas recrutados pelo mérito dos concursos para mandarins (em diversos níveis).
A China é um caso extraordinário de transformação econômica, jamais visto na história da Humanidade. Nunca houve, na história econômica mundial, nem nunca mais haverá, mudança tão impactante socialmente, alcançando centenas de milhões de pessoas, em prazo tão curto de tempo: pouco mais de uma geração.
O fato de ser uma autocracia pode ter ajudado na tarefa, mas a China sempre foi autoritária, totalitária, tirânica, ditatorial, despótica, segundo as épocas, mas os despotismos anteriores nunca tinham conseguido, se por acaso tentaram (o que nunca parecer ter sido o caso) retirar a grande maioria da população de uma miséria ancestral, estrutural.
Cabe registrar que a China tradicional também sempre contou com governos burocraticamente organizados e, sobretudo, com uma grande cultura, em geral sofisticada, e acima de tudo, uma extraordinária energia de seu povo, para sobreviver e progredir, contra ventos e marés, nos bons e maus momentos.
As questões da democracia e dos direitos humanos são relevantes, tanto do nosso ponto de vista (isto é, ocidental), quanto universalmente, mas não podem ser colocadas nos mesmos termos evolutivos e civilizatórios com que se analisa a trajetória do Ocidente desde a herança clássica, no mundo greco-romano (inclusive o cristianismo), realidades que foram e são muito diferentes em outros complexos societais.
Isto não vale apenas para a China, mas para o Oriente como um todo, inclusive Oriente Médio e norte da África, e toda a África Sub-saariana.
No caso da China, o fato de que essa trajetória de sucesso econômico e social tenha sido realizada sob o domínio do Partido Comunista pode ser importante, mas não deve ser considerado como absolutamente essencial no plano do desenvolvimento civilizatório do povo chinês, por dois motivos básicos: (a) o “comunismo” como um todo é um período de tempo relativamente curto (70 anos até aqui) para os padrões evolutivos da cultura e da sociedade chinesas, e mesmo sua forma “demencial”, sob o maoísmo, foi mais curto ainda; (b) o “comunismo” da era Deng (que se prolonga até a ascensão de Xi Jinping) foi mais burocrático no sentido weberiano do que ao estilo bolchevique do “centralismo democrático” leninista-stalinista, e os membros do PCC reproduzem em grande medida a trajetória de carreira dos antigos mandarins, ou seja, mérito, dedicação e competência em tarefas administrativas.
Se a China conseguiu ou não eliminar a pobreza como prometido pelo atual imperador (mas funcionando num regime “constitucional” relativamente estável), é algo a ser estabelecido proximamente.
Mas algumas coisas já são certas, e prometem perdurar pelo resto deste século: trata-se da maior economia do planeta, da nação mais importante no contexto do sistema de comércio multilateral, o maior investidor do mundo prospectivamente, uma economia de mercado sofisticada no plano global (a despeito do papel crucial do Estado em diversas áreas, mas todas tendentes a criar um bom ambiente de negócios para “capitalistas” e empreendedores, de modo geral), uma possível iniciadora de nova revolução monetária (já tendo inventado o papel-moeda séculos atrás) e, concorrentemente com outras nações avançadas, a China passa a ser, crescentemente (depois de ter copiado e pirateado marcas e produtos estrangeiros durante poucas décadas), uma das grandes contribuidoras líquidas ao estoque mundial de produção científica e avanços tecnológicos, com volumes progressivamente maiores de inovações proprietárias e exclusivas.
Assim como o século XIX foi dominado por padrões europeus de transformação tecnológica, e consequentes normas industriais, e o século XX o foi por padrões americanos (adicionalmente aos europeus), o século XXI deve receber imensas contribuições chinesas, no bojo das próximas revoluções industriais, a da nanotecnologia, da inteligência artificial, da energia renovável e TICs.
Mais um motivo para o Brasil preservar sua autonomia de escolhas, uma vez que continuaremos a estar submetidos a novas formas de dependência no futuro previsível (esperando que não seja apenas dos EUA, por trumpismo doentio e equivocado dos atuais dirigentes ineptos).
O século XXI não será exclusivamente chinês, assim como os dois anteriores não foram exclusivamente europeu ou americano, mas ele será determinantemente chinês e asiático, no sentido weberiano e wallersteiniano do conceito de Weltwirtschaft, a economia-mundo que se constroi deste Colombo e Fernão de Magalhães, 500 anos atrás, o que aliás remete igualmente a Braudel, em sua visão macrohistórica.
Ao cumprir sua missão histórica como a maior economia de mercado no século XXI, a China vai contribuir poderosamente para retirar de uma miséria ancestral vários povos da África, da Ásia do Sul e alguns da América Latina.
Esta é uma visão otimista sobre o futuro da Humanidade sob o “século chinês”, independentemente da conformação política de todas as nações e Estados atualmente existentes no cenário onusiano (que deve perdurar, mesmo na preeminência persistente da atual configuração de Estados-nacionais soberanos), que nada mais é do que um prolongamento do modelo estatal westfaliano.
Mas, se ouso terminar de modo pessimista (que eu diria apenas realista), creio antecipar que o Brasil demorará a maior parte deste século para eliminar a sua miséria social residual e para superar completamente o estado de pobreza de boa parte de sua população. Isto não se deve a nenhuma fatalidade do sistema internacional ou a problemas exógenos, ou ainda a fantasmagorias de intelectuais alienados (que insistem ainda na “ação perversa” de uma ideologia capitalista supostamente baseada na desigualdade estrutural de um pretenso “sistema”), mas inteiramente à miséria intelectual e à mediocridade egoista de suas elites dirigentes.
Espero estar errado nesta minha última “previsão”.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18/07/2020

sexta-feira, 17 de julho de 2020

A China, o capitalismo, as democracias de mercado e as democracias ocidentais - Paulo Roberto de Almeida e China Daily

Sobre a China, seu progresso material e a ditadura do Partido Comunista
Paulo Roberto de Almeida

Se a China, em lugar de ser uma ditadura comunista, fosse uma ditadura de direita, talvez houvesse menos pressão sobre ela, com chances de perder outras coisas que não apenas o lucro empresarial.
O Brasil da era do milagre, por exemplo, atravessou um dos períodos autoritários mais sombrios de nossa história, com, torturas, assassinatos, desaparecimentos. E nunca deixou de receber vultosos investimentos estrangeiros.
O novo despotismo oriental já não se fundamenta no luxo ostentatório do soberano absoluto, erguido sobre a miséria dos camponeses controlados pela chusma de mandarins fieis ao despota (mas nem sempre).
Agora, o regime autocrático busca o “desenvolvimento socioeconômico, lutando para construir uma sociedade moderamente próspera em todos os aspectos, e erradicando a pobreza”. Trata-se de algo extraordinário na história da Humanidade.
Para alcançar essa finalidade, “a China vai implementar de maneira abrangente grandes políticas e medidas destinadas a assegurar as seis prioridades do emprego, os padrões de vida da população, o desenvolvimento das entidades de mercado, segurança alimentar e energética, o funcionamento estável das cadeias industriais e de suprimentos ao nível das comunidades.”
Finalmente, ela “também está fazendo esforços para assegurar estabilidade nas seis áreas do emprego, das finanças, comércio exterior, investimentos estrangeiros e domésticos e as expectativas dos mercados”.
Estes são os grandes objetivos do despotismo oriental contemporâneo, fundado na prosperidade do povo, na boa conduta dos mandarins e na benevolência do novo imperador, não absoluto, mas dispondo de amplos poderes, limitados apenas por sua competência em entregar o que promete. Trata-se de um excelente programa de governo, mas que não contempla pontos essenciais de qualquer regime democrático moderno. Seria suportável no Ocidente? Provavelmente não. Mas a China nunca conheceu um regime democrático. E várias “democracias burguesas” do Ocidente — Itália, Alemanha, Brasil, Argentina — caíram eventualmente sob o tacão de ferro de ditaduras de direita, civis ou militares, que não entregaram nem a metade do que a autocracia chinesa está entregando ao seu povo.
O problema de muitas análises ocidentais sobre a China é o fato de pretenderem que ela seja algo que ela nunca foi, uma democracia competitiva, modelo sob o qual elas tendem a examinar o gigante asiático. Elas não veem que se trata de uma das maiores democracias estritamente de mercado do mundo, sem o componente político das liberdades democráticas justamente. Isso virá, um dia, e a China premiará o mundo, democrático e menos democrático (como os paises em desenvolvimento), com altas doses de prosperidade e bem-estar com base em mercados competitivos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de julho de 2020

Xi hails execs' faith in growth, pledges reform


China Daily, July 17, 2020

China will expand opening-up, improve business environment, president says
China will keep deepening reform and expanding opening-up and provide a better business environment for the investment and business development of Chinese and foreign enterprises, President Xi Jinping said in a letter of reply to representatives of Global CEO Council members.
In the letter dated on Wednesday, Xi assured the global CEOs that China will foster new opportunities and create new prospects for Chinese and foreign enterprises. He said that those CEOs have made the right choice to stay rooted in China.
Saying the interests of all countries are highly integrated in today's world and humanity is a community with a shared future, Xi said win-win cooperation conforms with the trend of the times.
China unswervingly commits itself to pursuing the path of peaceful development, making economic globalization more open, inclusive, balanced and beneficial to all, and promoting the building of an open world economy, the president noted.
Xi expressed hope that those CEOs will adhere to the principle of win-win cooperation and common development, strengthen exchanges and cooperation with Chinese companies, and contribute to the world economic recovery.
Speaking of China's economy amid the COVID-19 pandemic, Xi said the fundamentals of China's long-term sound economic growth remain unchanged and will not change.
China is coordinating efforts in dealing with the COVID-19 pandemic and socioeconomic development, striving for a decisive victory in building a moderately prosperous society in all respects and eradicating poverty, he said.
To this end, Xi said, China will comprehensively implement major policies and measures aimed at ensuring the six priorities of employment, people's livelihoods, development of market entities, food and energy security, stable operation of industrial and supply chains, and smooth functioning at the community level.
It is also making efforts to ensure stability in the six areas of employment, finance, foreign trade, foreign investment, domestic investment and market expectations, he added.
Eighteen CEOs from the Global CEO Council, which groups 39 multinational companies that are global leaders in their respective industries, wrote to Xi recently and offered suggestions on China's economic development and international cooperation in the post-pandemic era.
In their letter to Xi, the CEOs spoke highly of China's efforts to successfully contain the novel coronavirus under Xi's leadership and take the lead in resuming work and production as well as its positive role in supporting the global COVID-19 fight and maintaining global economic stability.
They said that Xi's proposals on creating new opportunities out of crises and opening up new prospects in changing circumstances, as well as his resolve to unswervingly promote economic globalization, have further boosted their confidence in China and their commitment to staying rooted in China.
The Global CEO Council was founded in 2013. The initial CEO Council was formed by the CEOs of 14 multinational companies.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

A diferença entre Estados autoritários e os democráticos: China como "homem doente da Ásia" no Wall Street Journal

Vinte anos atrás, a prestigiosa revista mais do que secular The Economist tinha uma capa, um editorial e várias matérias sobre a Alemanha, como "o homem doente da Europa", a propósito da relativa estagnação da economia alemã naquela conjuntura.
Qual foi a reação dos dirigentes alemães?
Nenhuma, absolutamente nenhuma.
Ou melhor, reconheceram os problemas do momento e trataram de corrigi-los para que o país retomasse seus antigos níveis de produtividade e competitividade que sempre distinguiram a Alemanha, temporariamente afetados por políticas erradas e pelos impactos reais da integração da RDA, acrescidos dos problemas trazidos pouco antes pela moratória russa, que afetou muitos bancos alemães.
A China já foi chamada de "homem doente da Ásia", no final do século XIX, quando ela realmente estava em decadência e tinha perdido guerras contra a Rússia czarista e o Japão ascendente, assim como estava sendo humilhada pelos imperialismos ocidentais, e não tinha sequer como retaliar.
Logo depois foi a vez do Império Otomano, de ser chamado de "homem doente", o que era também um fato, em breve confirmado pelo fim do Império e o nascimento da Turquia moderna, com um território reduzido em relação ao enorme império antes espalhado pelo sul da Europa, Oriente Médio e norte da África.
Hoje, a China, que não tem nada de "homem doente" da Europa, enfrenta um problema episódico, que vai ser superado dada sua enorme capacidade de reação, sua organização, seu poderio econômico.
O grande historiador e especialista de relações internacionais, Walter Russell Mead, realmente perpetrou um erro grave – ou então a responsabilidade incumbe aos editores –, ao chamar a China de "homem doente da Ásia", mas ele é um colunista baseados nos EUA, que tem liberdade para publicar o que deseja no Wall Street Journal, um jornal conservador, mas provavelmente o melhor jornal do mundo, junto com o Financial Times. A decisão da China de expulsar três jornalistas do escritório de Beijing do WSJ apenas revela o espírito totalitário do PCC, sua intolerância com as opiniões de um acadêmico, que não afetariam em nada a capacidade da China de resolver um grave problema de saúde pública. 
Essa é a diferença entre as democracias e as ditaduras: as primeiras não interferem na liberdade de imprensa e sobretudo na opinião de comentaristas e acadêmicos. Ditaduras costumam controlar seus cidadãos e os próprios jornalistas estrangeiros que escrevem sobre o país. A retaliação inaceitável da China contra jornalistas estrangeiros apenas confirma essa diferença básica, que um dia será superada, para felicidade do próprio povo chinês.
Paulo Roberto de Almeida

Inside The Wall Street Journal, Tensions Rise Over ‘Sick Man’ China Headline

After China announced the expulsion of three of the paper’s journalists, 53 reporters and editors at The Journal asked top executives to consider changing the headline and apologizing.
John Wisniewski
More than four dozen journalists at The Wall Street Journal challenged their bosses and criticized the newspaper’s opinion side in a letter that was sent to top executives on Thursday, the day after China announced that it would expel three Journal staff members in retaliation for a headline that offended the country’s leaders.
In all, 53 reporters and editors signed the letter. They criticized the newspaper’s response to the fallout from the headline, “China Is the Real Sick Man of Asia,”that went with a Feb. 3 opinion essay by Walter Russell Mead, a Journal columnist, on economic repercussions of the coronavirus outbreak.
The letter, which was reviewed by The New York Times, urged the newspaper’s leaders “to consider correcting the headline and apologizing to our readers, sources, colleagues and anyone else who was offended by it.”
Describing the headline as “derogatory,” the letter was sent on Thursday from the email account of the China bureau chief, Jonathan Cheng, to William Lewis, the chief executive of Dow Jones and the newspaper’s publisher, and Robert Thomson, the chief executive of News Corp, the Rupert Murdoch-controlled parent company of Dow Jones.
Mr. Cheng, who did not sign the letter, wrote in a separate note that he was passing the letter along to the two executives, adding that he believed their “proper handling of this matter is essential to the future of our presence in China.”
The in-house criticism brought to the surface longstanding tensions at The Journal between the reporters and editors who cover the news and the opinion journalists who work under the longtime editorial page editor, Paul A. Gigot. As at other major newspapers, including The Times and The Washington Post, the news side and the opinion department are run separately.
Mr. Gigot oversees the unsigned editorials that represent the newspaper’s institutional voice, the op-ed columns like the one by Mr. Mead and the criticism in the arts and culture sections. He also hosts a program on Mr. Murdoch’s network, the Fox News Channel.
Foreign news media organizations in China tread a difficult path. The nation’s growing economic and political clout make it an essential story. Chinese officials covet attention from the global stage, and images of foreign reporters jotting down their comments at news conferences are a staple of state-controlled evening news shows.
The Chinese government uses visas for foreign journalists as leverage, doling out and retracting credentials as a way to influence news outlets. Foreign news media organizations face pressure to steer clear of sensitive topics like the wealth and political pull of the families of the country’s leaders.
Like many other international news organizations, The Times among them, The Journal is blocked online in China, and the “Sick Man” headline was brought to wide attention there by state-controlled media, amid nationwide concern over an epidemic that has infected over 76,000 people in China and killed more than 2,400.

China was sometimes described as the “sick man of Asia” at the end of the 1800s, in “the depths of what we now call China’s ‘Century of Humiliation,’” said Stephen R. Platt, a historian of modern China at the University of Massachusetts. The empire had then lost a series of wars and had feared being divvied up by imperial powers.
“Nobody in their right mind would confuse China today with China at the end of the 19th century,” Mr. Platt said. “I think that’s where the insult lies, this hearkening back to this terrible period and somehow implying that it’s all the same.”
On Wednesday, Geng Shuang, a spokesman for China’s Ministry of Foreign Affairs, said in a transcript provided by the Chinese government that Chinese officials “demanded that The Wall Street Journal recognize the seriousness of the error, openly and formally apologize, and investigate and punish those responsible, while retaining the need to take further measures against the newspaper.”
The statement added that “the Chinese people do not welcome media that publish racist statements and smear China with malicious attacks.”
The Journal has not made a formal apology. The closest it came was when Mr. Lewis, the publisher, said in a statement on Wednesday that the headline “clearly caused upset and concern amongst the Chinese people, which we regret.”
Susan L. Shirk, the chair of the 21st Century China Center at the University of California, San Diego, said that there was reason for the newspaper to refrain from making an apology now that the Chinese government had demanded one.
“The Chinese government has been coercive in its demands for apologies from all sorts of international groups on issues that are essentially domestic political issues,” Ms. Shirk, a deputy secretary of state under former President Bill Clinton, said. “This has the effect of interfering in freedom of expression in our own countries.”
A majority of the reporters and editors who signed the letter are based in the newspaper’s China and Hong Kong bureaus.
They included the three journalists whom China ordered to leave the country on Wednesday: Josh Chin, the deputy bureau chief in Beijing and an American citizen; Chao Deng, a reporter, who is also an American; and Philip Wen, a correspondent and Australian citizen who reported on an Australian investigation of a cousin of President Xi Jinping of China as part of an inquiry into organized crime. The Chinese government gave the journalists until Monday to leave the country.
The letter argued that “the public outrage” over the headline in China “was genuine” and said the “Sick Man” headline should be changed online.
“We are deeply concerned that failure to take such action within the next few days will not only inflict further damage on our China bureau’s operations and morale in the short term,” the letter said, “but also cause lasting damage to our brand and ability to sustain our unrivaled coverage of one of the world’s most important stories.”
The letter also noted that people at The Journal had raised concerns about the “Sick Man” headline before China announced that it would revoke the journalists’ visas and order them out of the country. It also questioned whether the headline was “distasteful,” given the coronavirus outbreak.
A Dow Jones spokeswoman confirmed that the executives had received the letter and said in a statement, “We understand the extreme challenges our employees and their families are facing in China.” The company added that it “will continue to push” to have the visas of its three journalists reinstated.
Mr. Cheng, the China bureau chief, and more than a dozen others who signed the letter did not respond to requests for comment.
In addition to criticizing the headline, the letter took issue with an unsigned editorial published by the newspaper on Wednesday, after China’s announcement that the journalists would be expelled.
In the punchy style the editorial page is known for, it got right to the point: “President Xi Jinping says China deserves to be treated as a great power, but on Wednesday his country expelled three Wall Street Journal reporters over a headline. Yes, a headline. Or at least that was the official justification.” The editorial went on to argue that the Chinese government had revoked the reporters’ credentials to divert attention from its “management of the coronavirus scourge.”
The editorial acknowledged criticism of the headline but defended it as echoing a description familiar to American readers that cast the late Ottoman Empire as the “sick old man of Europe.”
Shen Yi, a lecturer on international relations at Fudan University in Shanghai, said The Journal’s headline displayed a sense of racial superiority. The language was similar to comments by Kiron Skinner, a former director of policy planning at the State Department, who had said that with China, the United States had “a great power competitor that is not Caucasian,” Mr. Shen wrote in a recent essay.
“The increasing prominence and scope of this sort of language gives you a feeling for the despicable thoughts that underlie it,” Mr. Shen wrote. “Even now, in the 21st century, some U.S. officials and elites still deep in their hearts know and understand the world through the framework of the suzerain and its colonies.”
Mr. Mead, the writer of the op-ed, suggested in a Twitter post on Feb. 8 that he was opposed to the headline, writing, “Argue with the writer about the article content, with the editors about the headlines.” He declined to comment for this article.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Venezuela indo para a derrocada famelica final - Daniel J. Mitchell (FEE)

Pessoas estão morrendo, cada vez mais, na Venezuela, por falta de remédios e sobretudo por falta de comida, crianças sobretudo.
Estes simples relatos, como abaixo, são absolutamente insuportáveis, de ler, de imaginar, de acompanhar a degringolada fatal de todo um país, dominado pelos seus amos do Caribe.
O que fazem os vizinhos?
Paulo Roberto de Almeida

The Ongoing Implosion of Venezuelan Statism

Venezuela's continuing economic collapse is a horrifying condemnation of how socialism actually works.

As far as I’m concerned, everything you need to know about capitalism vs. statism is captured in this chart comparing per-capita economic output in Chile and Venezuela.

Ask yourself which country offers more opportunity, especially for the poor? The obvious answer is Chile, where poverty has rapidly declined ever since the country shifted to free enterprise. In Venezuela, by contrast, poor children die of malnutrition thanks to pervasive interventionism.
Indeed, having shared several horrifying stories of human suffering and government venality from Venezuela (including 28 separate examples in April 2017 and 28 different separate examples in December 2017), I’ve reached the point where nothing shocks me.
So now I mostly wonder whether leftist apologists feel any shame when they see grim news from that statist hellhole.
For instance, what does Joe Stiglitz think about this report from the Miami Herald?
At 16, Liliana has become the mother figure for a gang of Venezuelan children and young adults called the Chacao, named after the neighborhood they’ve claimed as their territory. The 15 members, ranging in age from 10 to 23, work together to survive vicious fights for “quality” garbage in crumbling, shortage-plagued Venezuela. Their weapons are knives and sticks and machetes. The prize? Garbage that contains food good enough to eat. …A year ago, the gang was “stationed” around a supermarket at a mall called Centro Comercial Ciudad Tamanaco that generates tons of garbage. But a feared rival gang from the neighborhood Las Mercedes also wanted the garbage.
And what does Bernie Sanders think about this story from NPR?
The Pharmaceutical Federation of Venezuela estimates the country is suffering from an 85 percent shortage of medicine amid an economic crisis… "The entire Venezuelan health care system is on the verge of collapse," says Francisco Valencia, head of the public health advocacy group Codevida. Some hospitals lack electricity, and more than 13,000 doctors have left Venezuela in the past four years in search of better opportunities. “They don’t give food to the patients in the hospital…” Government data shows infant mortality rose by 30 percent in 2016… The International Monetary Fund predicts inflation will soar to 13,000 percent this year and the economy will shrink by 15 percent. …The monthly minimum wage for many Venezuelans is now equal to $3, according to the AP. …Maduro blames the country’s growing crisis on…the U.S…leading an effort to wipe out socialism in Venezuela.
I’d be curious to know what Michael Moore thinks about this news from CNN?
Venezuela’s devastating food crisis means wheat flour has become a rare commodity in the country. Some churches have run out of the ingredient needed to make the sacramental bread that is central to celebrating the Holy Eucharist… So, members of the Catholic diocese of Cúcuta, Colombia, braved heavy rain this week to deliver the wafers over a bridge that connects the two countries… Venezuela’s economic crisis, fueled by a decline in oil production, shows no signs of improvement.People are starving because of routine food shortages. They are dying in hospitals because basic medicine and equipment aren’t available.
And what does Jeremy Corbyn think about this Bloomberg report?
Ruiz’s weekly salary of 110,000 bolivares—about 50 cents at the black-market exchange rate—buys him less than a kilo of corn meal or rice. His only protein comes from 170 grams of canned tuna included in a food box the government provides to low-income families. It shows up every 45 days or so. “I haven’t eaten meat for two months,” he said. …Hunger is hastening the ruin of the Venezuelan’s oil industry as workers grow too weak and hungry for heavy labor. With children dying of malnutrition and adults sifting garbage for table scraps, food has become more important than employment, and thousands are walking off the job. …Venezuela, a socialist autocracy that once was South America’s most prosperous nation, is suffering a collapse almost without precedent.
Or how about getting Sean Penn‘s reaction to this story from the New York Times?
For the past three weeks, Wilya Hernández, her husband and their daughter, 2, have been sleeping on the garbage-strewn streets of Cúcuta, a sprawling and chaotic city on Colombia’s side of the border with Venezuela. Though Antonela, the toddler, often misses meals, Ms. Hernández has no desire to return home to Venezuela. …“I sold my hair to feed my girl,” Ms. Hernández said, pulling back her locks to reveal a shaved head underneath, adding that wigmakers now walk the plazas of Cúcuta where many Venezuelans congregate, wearing signs advertising that they give cash for hair. …“If I can’t afford to go the bathroom, I’ll go on the street,” Ms. Hernández added. “That’s when guys walking by say creepy things.”
I wonder if Noam Chomsky has any comments about this Washington Post story?
A friend recently sent me a photograph…, just a blurry cellphone shot of trash… And yet I can’t stop thinking about it, because strewn about in the trash are at least a dozen 20-bolivar bills, small-denomination currency now so worthless even looters didn’t think it was worth their time to stop and pick them up. …according to the “official” exchange rate, …each of those bills is worth $2. In fact, as Venezuela sinks deeper…into…hyperinflation…, bolivar banknotes have come to be worth basically nothing: Each bill is worth about $0.0001 at the current exchange rate… It’s easy to see why the thieves left them behind.
Last but not least, I wonder what Jesse Jackson thinks about this news from the U.K.-based Guardian?
More than half of young Venezuelans want to move abroad permanently, after food shortages, violence and a political crisis escalated to new extremes in 2017, according to a new survey. Once Latin America’s richest country, Venezuela’s economy is now collapsing… One of the most painful effects of the current crisis has been widespread hunger. In 2015, when inflation and food shortages were well below current levels, nearly 45% of Venezuelans said there were times when they were unable to afford food; in the latest study, that figure had risen to 79%—one of the highest rates in the world. …Norma Gutiérrez, a radiologist in eastern Caracas, is one of those…would-be migrants. Acute shortages in the hospital where she works depress her, and she says the idea of emigrating crosses her mind at least once a week.
By the way, in an example of unintended humor, the Socialist Party of Great Britain has a ready-made answer to all those questions. The misery is the fault of capitalism. I’m not kidding.
And folks on the establishment-left occasionally try to imply that it’s all the result of falling oil prices.
Two years ago, I concocted a visual showing the “Five Circles of Statist Hell” and speculated that Venezuela was getting close to the fourth level. Though I still don’t think it’s nearly as bad as North Korea.

P.S. Since I mentioned unintentional humor, you’ll be amused to know a “Happy Planet Index” created by radical environmentalists places Venezuela above the United States.
P.P.S. And here’s some intentional dark humor about hunger in Venezuela.
Reprinted from International Liberty.
Daniel J. Mitchell is a Washington-based economist who specializes in fiscal policy, particularly tax reform, international tax competition, and the economic burden of government spending. He also serves on the editorial board of the Cayman Financial Review.