"Segundo números do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) trabalhados pelo think tank Conselho Europeu sobre Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês), em 2008, as economias dos países da União Europeia somavam US$ 16,2 trilhões, contra US$ 14,7 trilhões dos Estados Unidos.
Porém, no ano passado, o PIB americano chegou a US$ 25 trilhões, enquanto a UE e o Reino Unido (que deixou o bloco nesse intervalo) juntos atingiram apenas US$ 19,8 trilhões. (...)
Em um artigo recente para o Financial Times, o colunista Gideon Rachman apresentou dados que ilustram como a Europa ficou para trás. Enquanto as maiores empresas de tecnologia do mundo são americanas e a China vem conseguindo desenvolver também gigantes no setor, há apenas duas big techs europeias no top 20 mundial em valor de mercado (a holandesa ASML e a alemã SAP).
Rachman citou também que os levantamentos Shanghai Ranking e Times Higher Education de melhores universidades do mundo colocaram apenas uma instituição da UE entre as 30 primeiras (o Reino Unido teve mais nomes, como Cambridge e Oxford); que a participação europeia na fabricação mundial de semicondutores caiu de 44% para 9% desde 1990; e que hoje o capital privado para investimentos está muito mais disponível nos Estados Unidos do que na Europa.
O ponto de partida para a disparidade econômica entre os aliados foi a crise de 2008, que, conforme ressaltado por Josilmar Cordenonssi, professor de ciências econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), “apesar de ter surgido nos Estados Unidos, foi pior para a Europa”.
Em 2009, ano seguinte à detonação da crise, o PIB dos Estados Unidos sofreu retração de 2,6%, segundo dados do Banco Mundial; já o da UE teve queda de 4,3%. Com a crise e nos anos seguintes, países do bloco enfrentaram problemas de solvência, recessão profunda, aumento da dívida pública, ajustes fiscais severos e outros obstáculos.
A isso, lembrou Cordenonssi em entrevista à Gazeta do Povo, se somam fatores estruturais. “A economia americana é muito mais dinâmica que a europeia. É muito menos regulada, principalmente no mercado de trabalho, na facilidade de abrir e fechar negócios”, explicou. “Você tem países na Europa, como a Espanha, em que o desemprego dificilmente fica abaixo de 10%. Nos EUA, o nível de desemprego é sistematicamente baixo, [hoje está] abaixo de 4%.”
O analista destacou outras diferenças nos Estados Unidos: uma rede de proteção social menor para os trabalhadores americanos, “então eles precisam trabalhar mais e tendem a ser mais produtivos”; maior abertura para a imigração, o que traz mais dinamismo para o mercado de trabalho, apesar de problemas na fronteira com o México; e o respeito à chamada destruição criativa.
“Se a empresa vai mal, que quebre, ninguém vai lá recuperar, enquanto na Europa, o Estado tenta entrar para salvar se [a empresa] é um símbolo nacional, é uma relação mais paternalista em relação a algumas empresas”, comparou.
Cordenonssi citou o exemplo das grandes demissões realizadas pelas big techs este ano, sem grandes repercussões internas nos Estados Unidos, “enquanto na Europa estavam negociando com governos e sindicatos como fazer”.
“É muito mais difícil [demitir funcionários e reestruturar empresas na Europa]. Os principais talentos, os grandes centros de desenvolvimento tecnológico, como é uma atividade de risco, migram naturalmente para os Estados Unidos, para diminuir esse custo da inovação. Na Europa, há uma mentalidade, parecida com a do Brasil, muito sindical, estatizante, de proteção. Isso sufoca esses setores mais dinâmicos da economia, é difícil inovar, melhor ir para os Estados Unidos”, afirmou o professor."
Eu acrescentaria apenas mais uma variável nesta equação que torna os EUA muito mais dinâmico que a Europa: Nos EUA não tem IVA.