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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 5 de novembro de 2011

O fardo do mulato inzoneiro (2): vamos deixar a tragedia e passar para a farsa...

Parece que o tema rendeu: 

O fardo do mulato inzoneiro...(estamos precisando de um Kipling tropical...)



Capítulo 2: reproduzo o novo poema, da versão periférica do fardo civilizatório...


Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "O fardo do mulato inzoneiro...(estamos precisando ...": 

"(...)princípios de justiça,...jamais impediram alguém de tornar-se maior pela força quando se apresenta a ocasião.(...)A Razão é a seguinte: quem pode usar a força não tem necessidade de apelar para o direito.(...)Os homens parecem revoltar-se mais com a injustiça que com a violência, pois sentem que a primeira, vinda de um igual, é vista como uma usurpação, mas a segunda, vinda de um mais forte, é considerada obra da necessidade.(...)"
*Tucídides;in:"HISTÓRIA DA GUERRA DO PELOPONESO; Liv.I; caps.76-77.

Talvez em lugar do "The White Man's Burden", a resposta de Labouchère (...uma espécie de "Bolsonaro victoriano"...Oscar Wilde que o diga...!) ao poema de Kipling esteja mais de acordo com o fardo do "mulato inzoneiro"...! 

The Brown Man's Burden
by Henry Labouchére

"Pile on the Brown Man's burden
To gratify your greed;
Go, clear away the 'niggers'(Cholos!)
Who progress would impede;
be very stern, for truly
'Tis useless to be mild
Whith new-caught, sullen peoples,
Half devil and half child.

"Pile on the Brown Man's burden,
compel him to be free;
let all your manifestoes
Reek with philanthropy.
And with heathen folly
He dares your will dispute,
Then, in the name of freedom,
Don't hesitate to shoot.

"Pile on the Brown Man's burden,
And if his cry be sore,
That surely need not irk you--
Ye've driven slaves before.
Seize on his ports and pastures,
The fields his people tread;
Go make from them your living;
And mark them with his dead.

"Pile on the Brown man's burden,
Nor deem it hard
If you should earn the rancor
Of those ye yearn to guard.
The screaming of your Eagle
Will drown the victm's sob--
Go on through fire and slaughter.
There's dollars in the job.

"Pile on the Brown Man's burden,
And through the world proclaim
That ye are Freedom's agent--
There's no more paying game!
And, should your own past history
Straight in your teeth be thrown,
Retort that independence
Is good for whites alone.

"Pile on the Brown man's burden,
With equity have done;
Weak, antiquated scruples
Their squeamish course have run,
And, though 'tis freedom's banner
You're waving in the van,
reserve for home consumption
The sacred 'rights of man'!

"And if by chance ye falter,
Or lag along the course,
If, as the blood flows freely,
Ye feel some slight remorse,
Hie ye Rudyard Kipling,
Imperialism's prop,
And bid him, for your confort,
Turn on his jingo stop."

Vale! 

Postado por Anônimo no blog Diplomatizzando em Sábado, Novembro 05, 2011 11:35:00 PM

O fardo do mulato inzoneiro...(estamos precisando de um Kipling tropical...)

A propósito deste meu post: 

O Brasil no NYTimes: imperialismo regional?




um leitor habitual relembrou-me o famoso poema de Rudyard Kipling, sobre as agruras do homem branco, tentando trazer um pouco de civilização aos bárbaros que os imperialistas britânicos colonizavam nos cafundós da África e nos buracos sujos da Ásia.
Nada de errado em postar aqui o poema completo, nem que fosse pelas virtudes propriamente literárias, esquecendo completamente suas perversões colonialistas e imperialistas, suas ilusões civilizatórias e sua carga de horrores tropicais para almas sensíveis europeias.
Mas a carga do "mulato inzoneiro", como diz meu correspondente, nem de perto passará pelas "savage wars of peace", que os nossos bravos soldados não estão aí para isso, mas podem sim enfrentar "The blame of those ye better" e "The hate of those ye guard", que para isso servem os ressentimentos de todos os coitadinhos em face dos mais bem sucedidos.
Pode-se relembrar, também, que o título do poema de Kipling também foi usado por William Easterly em seu livro - The White Man's Burden -- sobre a inanidade da ajuda ocidental aos povos ditos subdesenvolvidos, com o dinheiro da assistência indo parar em bancos ocidentais e toda a corrupção pervertendo o processo de cooperação ao desenvolvimento.
Eu até diria que o Brasil segue o caminho, e o fardo, do Homem Branco, ao tentar fazer bondades no Terceiro Mundo, colocando dinheiro em diversos projetos de desenvolvimento que, na verdade, representam uma gota d'agua no oceano das necessidades, fazendo em certos países o que por vezes se deixa de fazer aqui dentro.
Paulo Roberto de Almeida 


Rudyard Kipling:
The White Man's Burden
(ca.1899).



"Take up the White Man's burden--
Send forth the best ye breed--
Go bind your sons to exile
To serve your captives' need;
To wait in heavy harness,
On fluttered folk and wild--
Your new-caught, sullen peoples,
Half-devil and half child.

"Take up the White Man's burden--
In patience to abide,
To veil the threat of terror
And check the show of pride;
By open speech and simple,
An hundred times made plain
To seek another's gain.

"Take up the White man's burden--
The savage wars of peace--
Fill full the mouth of Famine
And bid the sickness cease;
And when your goal is nearest
The end for others sought,
Watch sloth and heathen Folly
Bring all your hopes to nought.

"Take up the White man's burden--
No tawdry rule of kings,
But toil of serf and sweeper--
The tale of common things.
The ports ye shall not enter,
The road ye shall no tread,
Go mark then with your living,
And mark them with your dead.

"Take up the White Man's burden--
And reap his old reward:
The blame of those ye better,
The hate of those ye guard--
The cry of hosts ye humour
(Ah, slowly!) toward the light:--
'Why brought he us from bondage,
Our loved Egyptian night?'.

"Take up the White Man's burden--
Ye dare not stoop to less--
Nor call too loud on Freedom
To cloke your weariness;
By all ye cry or whisper,
By all ye leave or do,
The silent, sullen peoples
Shall weigh your gods and you.

"Take up the White Man's burden--
Have done with childish days--
The lightly proferred laurel,
The easy, ungrudged praise.
Comes now, to search your manhood
Through all thankless years
Cold, edged with dear-bought wisdom,
The judgment of your peers!"