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segunda-feira, 12 de março de 2018

Hipolito da Costa: judeus perseguidos na Alemanha, 200 anos atras - Correio Braziliense


Transcrevo, abaixo, matéria do primeiro jornalista brasileiro, ou braziliense, como ele gostava de dizer, Hipólito da Costa, em seu Correio Braziliense de 1819, a propósito de perseguições a judeus na Alemanha, quase 200 anos atrás. Ele se refere a uma possível atração de judeus ao Brasil, então Reino Unido ao de Portugal, mas não deixa de registrar a existência de "prejuízos", ou seja, preconceitos, por parte dos ministros de D. João.
Aqui o trecho selecionado, mais abaixo, a matéria completa:

O Governo do Brasil está ainda muito atrasado em princípios de política, para que julguemos, que ele saiba tirar partido desta perseguição dos Judeus na Alemanha. Mas suponhamos, que El Rey podia vencer os prejuízos [preconceitos] de seus Conselheiros, e da parte ignorante do Clero, e que, por meio de boas leis abria no Brasil um asilo seguro a todos os perseguidos Judeus da Alemanha. A emigração, não só importante em número, levaria ao Brasil um imenso capital, que seria bastante para fazer aparecer as produções daquele fértil país; e que precisa de novos capitais, para os avanços de fundos necessários em limpar as terras, lavrar as minas, abrir as comunicações, etc.
Quaisquer, pois, que fossem as causas destas perseguições dos Judeus, a Alemanha perderia um imenso fundo de riquezas, que se transferiria ao Brasil. Mas disto, pela razão que demos acima, não tem a Alemanha, que se temer.

Paulo Roberto de Almeida

CORREIO BRAZILIENSE
ou
ARMAZÉM LITERÁRIO
Julho – Dezembro, 1819

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil):
Costa, Hipólito José da
Correio Braziliense, ou, Armazém literário, vol. XXIII/Hipólito
José da Costa. – São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado:
Brasília, DF: Correio Braziliense, 2002
“Edição fac-similar”

Vol. XXIII, julho-dezembro de 1819, p. 314-317

Perseguição Contra os Judeus

As noticias de Alemanha continuam a informar-nos dos mais vergonhosos atos de opressão contra os Judeus. Em Warteburg, Darmstadt, Hamburgo, Frankfort, Hanau, Bamberg, Bayreuth e Dusseldorff, tem a populaça cometido os maiores excessos contra os Judeus residentes naqueles lugares. Como estes ataques foram quase simultâneos, conjecturou-se que eram execução de algum plano concertado.
Conjecturando as causas de tão inesperada perseguição, custa a atirar com alguma razão suficiente de tal fenômeno? Será ódio contra a religião dos             Judeus, diferente da maioridade dos habitantes dos países, aonde eles residem? Será isto efeito das agitações políticas, que existem na Alemanha? Será efeito da rivalidade do Comércio?
Quanto à diferença de religião, as perseguições por esta causa são diametralmente opostas às ideias tolerantes do nosso século, como tem acontecido em todos os tempos e em todos os países, em que as luzes tem efeito esconder o fanatismo. Os poucos religiosos furiosos, que ainda existem, e que desejariam propagar os seus princípios pelo ferro e fogo, como os Mahometanos, ou como a Inquisição, ano se atrevem a propor hoje em dia tais planos, que os faria objeto do desprezo público. Em uma palavra, estas perseguições da Alemanha, nem se quer mencionam a diferença de religião, como causa acidental.
Quanto a causas políticas, os Judeus, há muitos séculos, vivem nos diferentes Estados da Europa, como estrangeiros, a quem se não permite exercício algum ativo dos direitos de cidadão, nem empregos públicos; sendo meramente protegidos pelas leis, como pessoas de uma residência temporária: com esta mera faculdade de existir, se tem eles contentado, satisfeitos de que os deixem seguir, na obscuridade, as práticas de sua religião. As mais atrozes e injustas perseguições, não tem oposto senão a paciência e o retiro. Não é logo possível atribuir agora estes seus novos males, a inimizades políticas, em que não consta, que eles tenham a menor parte.
Resta, pois, a rivalidade mercantil, a que alguns escritores imputam os atuais sofrimentos dos Judeus, supondo que as suas riquezas e a sua indústria tem excitado a inveja dos mais negociantes Alemães. Não se pode negar a possibilidade desta hipótese; mas nem ainda nela achamos razão cabal, para explicar o mal em toda a sua extensão.
As riquezas dos Judeus, assim como as de todo o outro capitalista, que não tem outra pátria senão aquela em que reside deve redundar em beneficio do país, dando emprego a muitos habitantes, e servindo de produzir novas riquezas. Logo o ódio contra as riquezas dos Judeus, seria dirigido contra o beneficio, que delas resulta a toda a Sociedade: um ou outro negociante individual poderia entreter este ódio contra o rico negociante Judeu e seu vizinho, pelo espirito de rivalidade; mas isto não se podia estender a toda a populaça; nem abranger tantas cidades, desde a margem do Rheno até Copenhaguen, como são aquelas por que esta perseguição se tem difundido.
Suponhamos que os Judeus Alemães se retiravam, com seus haveres, daqueles países em que são perseguidos: nesse caso, não só a população sofreria, mas a falta de seus capitães traria a ruina a muitas fábricas, e até a mesma agricultura; como bem palpavelmente se experimentou em Portugal, que com a expulsão dos Judeus, perdeu os seus cabadaes, e estes foram enriquecer a Holanda, tornando-se ali rivais e ao depois inimigos dos capitais e comércio de Portugal. Daqui concluímos, que a generalidade desta perseguição se não explica pelo ódio contra as riquezas dos Judeus, pois elas são de grande beneficio aos países, em que eles residem.
Quaisquer, pois, que fossem as causas destas perseguições dos Judeus, a Alemanha perderia um imenso fundo de riquezas, que se transferiria ao Brasil. Mas disto, pela razão que demos acima, não tem a Alemanha, que se temer.
Voltando, porém, as causas da perseguição, que parecem tão geral na Alemanha, parece que a proteção dos respectivos Governos não tem sido tão eficaz como devera ser.
Sobre esta matéria achamos um curioso artigo, datado de Carlsbad aos 24 de Agosto; em que se diz, que os Ministros nas conferências, que se faziam naquela cidade, tomaram em consideração a perseguição contra os Judeus; e que notificaram aos respectivos Governos, que deviam obrigar os magistrados a prestar eficaz proteção aos Judeus, como todo o Governo é obrigado a fazer, aos que vivem em seus territórios, sem distinção de classes. Pretende mais este artigo, que os Ministros intimaram, que se aqueles Governos não castigassem os Magistrados, pela falta de proteção dos Judeus, se fariam acessórios e correos dos mesmos crimes; e que seria preciso que os seus territórios fossem ocupados militarmente por tropas da Áustria ou da Prússia.
Assim parece, que estas perseguições populares contra os Judeus, vem cheias de consequências, que não aparecem à primeira vista: pois no mesmo artigo se insinua, que será preciso ceder os territórios, aonde tais ultragens se tem cometido, a algum Estado vizinho, que tenha a vontade e o poder de coibir tais excessos.


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Imigrante ideal: livro do historiador Fabio Koifman (Civilização Brasileira, Pesquisa Fapesp, 2012)

Os indesejáveis

Política imigratória do Estado Novo escondia projeto de branqueamento



Revista Pesquisa Fapesp,  ED. 201 | NOVEMBRO 2012

© ACERVO DO MUSEU LASAR SEGALL – IBRAM / MINC
“Navio de emigrantes”, de Lasar Segall (1939/41), pintura a óleo com areia sobre tela, 230 x 275 cm
Quando, em 1995, o Arquivo Histórico do Itamaraty foi aberto ao público, parte da documentação revelou que a instituição havia participado da política racista e discriminatória de estrangeiros do Estado Novo, colocando o passado do Ministério das Relações Exteriores na incômoda posição de “porteiro do Brasil”. Uma nova pesquisa, Imigrante ideal (Civilização Brasileira), do historiador Fábio Koifman, da Universidade Federal Rural Fluminense (UFRF), isenta o Itamaraty de toda a responsabilidade por essa política restritiva. “É um equívoco historiográfico, já que se ignora que, entre 1941 e 1945, o Serviço de Visto estava alocado no Ministério da Justiça, o real responsável pela palavra final da aceitação ou não de estrangeiros”, diz Koifman. Esse foi o único momento na história da República que a atribuição não esteve no âmbito do Itamaraty.
O pesquisador afirma que é a primeira vez que se analisa o papel central do Ministério da Justiça, de seu titular, o jurista Francisco Campos (1891-1968), e de Ernani Reis (1905-1954), parecerista do ministério, burocrata que, através de sua interpretação, dizia, baseado na legislação, quem entrava ou não no país. Suas sugestões quase sempre eram aceitas pelo ministro e se baseavam na seleção dos imigrantes “desejáveis”, que se encaixassem no projeto de “branqueamento” da população brasileira da ditadura Vargas. Negros, japoneses e judeus, assim como idosos e deficientes, não estavam nos padrões estabelecidos e eram recusados como “indesejáveis”.
A pesquisa de Koifman começou quando ele encontrou o decreto-lei 3.175, de 1941, que passava o poder de decisão de concessão dos vistos do Ministério das Relações Exteriores para o Ministério da Justiça. Mas o Serviço de Visto em si não foi criado por decreto, embora existisse com papel timbrado e tudo. Não foi, porém, instituído formalmente e sua verba vinha de outros órgãos. “Ele foi criado para isolar seus técnicos e tomar as decisões de forma puramente técnica e fria. Eles achavam mais fácil negar o visto do que ter de decidir no porto”, conta o historiador. “Todo o processo não chegou a conhecimento público e é nele que o Francisco Campos explica para  Vargas por que o Brasil deveria restringir a imigração”, fala.
Funcionários do Itamaraty eram obrigados a informar o ministério com detalhes sobre a pessoa que pedia o visto e aguardar o parecer do ministro para concedê-lo ou não. A desobediência de diplomatas às diretrizes do ministério provocava ação direta de Vargas, que poderia determinar a instauração de inquérito administrativo ou até a demissão sumária do infrator. “Esse controle aumentou quando a situação europeia se agravou com a guerra e a escalada do antissemitismo na Alemanha. Judeus e perseguidos políticos começam a sair da Europa, gerando um aumento da demanda nos consulados. Nesse momento, a política imigratória brasileira se voltou contra eles.”
“No início do Estado Novo cabia ao Itamaraty gerir a política de vistos, mas isso mudou a partir de 1941. Essa troca refletia o debate na elite brasileira sobre qual era o imigrante ‘desejável’ para o ‘aprimoramento’ do povo brasileiro”, fala Koif-man. Vargas era simpatizante aberto do ideário eugênico. Em 1930, num discurso de campanha à Presidência, avisou: “Durante anos pensamos a imigração apenas em seus aspectos econômicos. É oportuno obedecer agora ao critério étnico”. Em 1934, durante a Constituinte, o lobby eugenista, bem organizado, conseguiu a aprovação de artigos baseados nas teorias racistas. O alvo, então, era o japonês. De forma silenciosa foi institucionalizado um sistema de cotas para cada nacionalidade que foi manipulado para restringir a entrada de orientais no país.
“O Brasil não foi o único a adotar medidas restritivas contra imigrantes e até ‘demorou’ a implantá-las. Democracias como os EUA e o Canadá já o faziam nos primeiros anos da década de 1920”, lembra o autor. Mas, uma vez iniciado o processo, foram rápidos. Não satisfeitos com as leis de 1934, setores da elite e intelectuais exigiram uma maior intervenção do Estado e uma seleção mais rigorosa na política imigratória. O resultado foi o decreto-lei 3.010, de 1938: exigia-se do solicitante de vistos que se apresentasse pessoalmente ao cônsul para que o diplomata visse o candidato e relatasse se era branco, negro, ou se tinha alguma deficiência física. “Segmentos letrados da sociedade brasileira e muitos homens do governo, incluindo Vargas, acreditavam que o problema do desenvolvimento brasileiro estava relacionado à má formação étnica do povo. Achavam que trazendo ‘bons’ imigrantes, ou seja, brancos que se integrassem à população não branca, o Brasil em 50 anos se transformaria em uma sociedade mais desenvolvida”, conta o pesquisador.
O estrangeiro ideal era branco, católico e apolítico. A preferência pessoal de Vargas era pelos portugueses. “A maioria dos imigrantes vindos de Portugal era de origem modesta e instrução limitada, acostumados à ditadura salazarista”, diz Koifman. Europeus, mas sem “ideias dissolventes”, ao contrário dos grupos intelectualizados originários da Alemanha, França, Áustria, entre outros países, que produziam reflexões em jornais e livros sobre as mazelas nacionais. O ministro da Justiça detestava particularmente os intelectuais estrangeiros e chegou a propor o fechamento total do Brasil à imigração enquanto durasse a guerra na Europa, medida que o pragmatismo de Vargas rejeitou.
“O Brasil, que não contribuiu para que se criassem na Europa as perseguições e as dificuldades de vida, não pode se converter numa fácil hospedaria da massa de refugiados. Não nos serve esse white trash, rebotalho branco que todos os países civilizados refugam”, argumentava Campos, também conhecido como “Chico Ciência”. “Um dos inspiradores intelectuais do Estado Novo foi influenciado pelos fascismos português e italiano, defendendo uma legislação imigratória calcada nas teorias eugênicas americanas.” Para Campos, na contramão do entusiasmo pela imigração em voga no país desde o século XIX, estrangeiros só atrasavam o desenvolvimento do país, “parasitas” que nada contribuíam para o progresso nacional. “Os judeus, por exemplo, só se dedicavam a atividades urbanas, ao pequeno comércio. O problema é que Campos e Reis logo perceberam que essas eram as mesmas atividades às quais os portugueses se dedicavam, apontando a Vargas essa contradição, para ira do ditador, que queria imigrantes de Portugal”, fala Koifman.
O que abalou Campos, cuja ideologia não era isenta de interesses pessoais. Chico Ciência disputava as atenções de Vargas com Oswaldo Aranha, então à frente do Itamaraty. Para atacar o rival, martelava a tecla de que, apesar das restrições, estrangeiros continuavam a entrar no Brasil, prova da incompetência do Itamaraty na gestão da questão imigratória. Bem-sucedido, convenceu o ditador da validade de suas ideias e ganhou o poder de seleção de “desejáveis” e “indesejáveis” para o seu Setor de Vistos. Não conseguiu, porém, impor o ideário eugênico que admirava, sendo obrigado a “tropicalizá-lo”. “As raças admiradas pelos americanos eram minoria num país composto majoritariamente por grupos considerados ‘inferiores’”, lembra o historiador. Isso levou Campos a se concentrar no combate aos imigrantes “infusíveis” que, supostamente, tinham um grau de miscigenação baixo e, logo, não serviam ao projeto de “branqueamento” por miscigenação, entre esses, os judeus.
© ACERVO MARIA LUIZA TUCCI CARNEIRO
Passaporte cancelado pelos nazistas, mas aceito pelas autoridades brasileiras
“Mas as restrições à entrada de judeus, tema recorrente nos estudos sobre a política imigratória do Estado Novo, devem ser vistas num contexto maior, em que vários outros grupos foram igualmente classificados como “indesejáveis”. Se a condição de judeu dificultava a emissão de um visto, a comprovação da ausência dessa condição tampouco era garantia de um visto”, avisa Koifman. Para o pesquisador, o antissemitismo de um fascista como Campos não era análogo ao racismo dos nazistas. “Após a Intentona Comunista de 1935 o Estado adotou uma visão genérica dos judeus que os associava ao comunismo, um antissemitismo de fundo político compartilhado por Vargas”, observa o pesquisador. Nas palavras de Campos: “Os judeus se tem aproveitado do descuido das autoridades brasileiras. Embora o Brasil não seja fascista ou nacional-socialista, o certo é que esses elementos comunizantes, socialistas, esquerdistas ou liberais leem por uma cartilha que está longe de nos convir”.
Sem negar o antissemitismo de membros individuais do governo e da sociedade brasileira, Koifman acredita que o critério adotado mais importante, ao lado da “ameaça vermelha”, era a capacidade, ou não, da suposta capacidade de “fusão” dos imigrantes. “A preocupação estava no potencial de união de europeus brancos com descendentes de africanos e indígenas, condição necessária para conseguir o ‘aprimoramento’ das gerações futuras”, fala. “O Estado Novo não queria reproduzir o racismo, então muito em voga nos EUA e na Europa. A segregação deveria ser evitada a qualquer custo, pois dificultaria a miscigenação, força-motriz do ‘branqueamento’”, diz. Vargas não tolerava racismos contra grupos étnicos dentro do Brasil.
Esse cuidado também se devia à manutenção de uma boa imagem internacional, para agradar, em especial, os EUA, cuja política racial para os outros não refletia a sua realidade interna. “Ser acusado de racista ativo, nas décadas de 1930 e 1940, colocava qualquer nação, diplomata ou intelectual, em posição constrangedora de alinhamento com a política de exclusão da Alemanha nazista”, explica a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo (USP) e autora do estudo referencial Antissemitismo na era Vargas (1987). “Ainda assim o Estado Novo, por meio do Ministério da Justiça e de uma política nacionalista, não admitia fissuras, combatendo grupos migrantes, vistos como elementos de ‘erosão’. O ideal do regime era a homogeneidade em detrimento da diversidade”, continua.
Ambiguidades
Para o brasilianista Jeffrey Lesser, da Emory University e autor de A questão judaica no Brasil (1995), é preciso cuidado ao retratar as políticas de imigração da época apenas com base em documentos oficiais, do Itamaraty ou do Ministério da Justiça. “Os escritos dão conta das ambiguidades que regiam essa política. Como explicar, por exemplo, a entrada expressiva de judeus logo após os decretos restritivos e a absorção expressiva desses grupos ao lado de árabes e japoneses na sociedade brasileira em fins dos anos 1930”, questiona. Para ele, houve muita incongruência entre discurso e prática, gerando curiosos paradoxos. “Os imigrantes viraram o discurso eugênico de brancura, que os discriminava, em favor de seus interesses e conseguiram conquistar um espaço na sociedade. Perceberem que ser branco no Brasil era melhor do que ser negro e também adotaram a retórica eugênica.”
“Há uma série de boletins policiais sobre brigas entre estrangeiros e negros. Imigrantes pobres não queriam ser vistos como os novos escravos e afirmavam sua superioridade atacando os negros”, conta Lesser. Se os documentos contam uma história, no cotidiana do Estado Novo o movimento xenófobo não funcionou como pretendido. O brasilianista não nega o discurso contra a imigração e o antissemitismo das elites brasileiras, mas, ao estudar casos reais, viu que a ação do governo era mais flexível do que letra “dura” dos papéis timbrados. “Um bom exemplo é que, antes de colocar em vigor, em 1934, as leis que restringiam a entrada de japoneses, o governo brasileiro avisou o ministro das Relações Exteriores do Japão. Um diplomata brasileiro contou ao ministro japonês o que estava para acontecer e o acalmou prometendo que os orientais continuariam a entrar no Brasil, utilizando cotas de países como a Finlândia, que praticamente não eram usadas”, conta. Lesser reuniu outros casos do “jeitinho brasileiro” de tratar os entraves da legislação.
Para o americano, a história mais rocambolesca dessa flexibilidade que não se lê nos arquivos oficiais é a cooptação secreta pelo Itamaraty de funcionários do consulado alemão, para que eles falsificassem a assinatura do cônsul, liberando imigrantes para entrar no Brasil. “Numa palestra chamei o cônsul de nazista e pessoas da plateia ficaram indignadas, mostrando vistos assinados pelo cônsul, a quem chamavam de herói, sem imaginar que eram falsificações”, conta.
Koifman respeita a hipótese de Lesser sobre uma “negociação” das leis, mas afirma que os documentos do Serviço de Visto não sustentam essa visão. “A lei foi, sim, aplicada, e a maleabilidade estava condicionada à origem do imigrante. Basta ver a questão pouco conhecida dos suecos: eles tinham colônia representativa no país e tampouco se interessavam em imigrar para o Brasil, mas o Serviço de Visto estava particularmente interessado na vinda deles” observa.
Como revela o caso de um sueco que passou mal numa viagem, desembarcou para se tratar e, quando percebeu, já estavam tratando do seu visto. Ele não queria ficar no país. “Ao mesmo tempo, muitas pessoas com todas as condições de emigrar, que tinham os documentos necessários, enfrentavam medidas protelatórias e pareceres que dificultavam sua entrada, se não fosse o ‘imigrante ideal’. Isso mostra como os critérios se baseavam na bandeira da eugenia”, explica. Para Koifman, isso desmascara o discurso nacionalista e a flexibilidade com as leis, reduzidos à sua real dimensão: a utopia de aprimoramento étnico.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Quem quer estudar os judeus nas Americas? Bolsa da Universidade da Florida. Aproveitem!

Jews in the Americas: A Visiting Research Fellowship at the University of Florida
The Alexander Grass Chair in Jewish History and the Isser and Rae Price Library of Judaica at the University of Florida are pleased to invite applications for short-term research fellowships during the 2017-2018 academic year. Researchers studying different aspects of the Jewish experience in Latin America, the Caribbean, and the southern regions of the United States from the sixteenth century until present day will have the opportunity to spend a maximum period of a month researching in the Price Library. They will have access to the other special and area studies collections of the University of Florida and other library services. Recipients will be expected to deliver a public talk and/or seminar at UF during or after their research visit which will be recognized with an honorarium payment. Recipients of the fellowship will be invited to return and participate in a conference on the Jewish experience in the Americas during fall 2018.
The Price Library was founded in 1981 and is located in the Department of the Special and Area Studies Collections of the George A. Smathers Library at the University of Florida. Today it holds about 110,000 items and its online collections include over 180,000 digital pages. This diverse collection, which offers in-depth insights into numerous fields of research within Jewish studies, is considered the foremost Jewish studies research library in the southeastern United States. The Price Library also collaborates closely with UF’s prestigious Florida and Latin American and Caribbean collections, and thanks to a generous Challenge Grant from the National Endowment for the Humanities, the Price Library is now focusing its collecting activities on recording and preserving Jewish history in Latin America, the Caribbean, and Florida. This fellowship program created by the Alexander Grass Chair in Jewish history aims to help researchers develop new scholarship within these geographical fields based on the Price Library’s holdings.
Preference will be given to advanced graduate students and recent PhDs. We ask applicants to study the Price Library collections and the other UF collections they may want to use during their researchhttp://cms.uflib.ufl.edu/. Please consult the Price Library’s archivesdigital collections, and the materials in UF’s other digital collections, such as the Digital Library of the Caribbean (dLOC), and the Cuban Collection. Applications should not exceed 1000 words and should include the description of the project, and an explanation of how it complements earlier research in the field and what new element it brings to the respective field. Please, indicate the period you plan or prefer to spend in the Price Library. Finally, we ask applicants to attach a CV to their project applications.
We encourage researchers working on themes related to the following topics: migration, community and religious life, institutions (e.g. cemeteries, synagogues); literature in Yiddish, Spanish, Portuguese, Hebrew; food (production, consumption, cuisine); Sephardi experience in the colonial period, transatlantic connections from the colonial era until today, Jewish presses, memory and commemoration, and antisemitism. Proposals of research conducted on other subjects are equally welcome.
Expenses covered: The Research Fellowship covers long distance and local transportation and lodging. The entire Research Fellowship stipend, including honorarium, transportation and lodging does not exceed $5,000. Deadline of application: June 15, 2017.
Successful applicants will be informed until July 15, 2017.
Please send your application to Rebecca Jefferson at rjefferson@ufl.edu and Katalin Rac at katalin.rac@ufl.edu.
Questions and comments should be sent to the same address.
Contact Info: 
Please send your application to Rebecca Jefferson at rjefferson@ufl.edu and Katalin Rac at katalin.rac@ufl.edu
Contact Email: 

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Diplomatas que salvaram judeus na Segunda Guerra Mundial - HypeScience

 Um artigo bem intencionado, mas construído por pessoas pouco informadas e seletivas. Existiram mais diplomatas que salvaram judeus antes e durante a Segunda Guerra e o artigo exclui os diplomatas português Agostinho de Souza Mendes e o brasileiro Luiz de Souza Dantas, ao mesmo tempo em que perpetua o mito de Aracy de Carvalho (que não era diplomata, mas funcionária local), cuja história está engrandecida por uma versão construída em causa própria.
Paulo Roberto de Almeida 

Dez corajosos diplomatas da Segunda Guerra Mundial que salvaram a vida de milhares de judeus
HypeScience, 20/02/2016
http://hypescience.com/10-corajosos-diplomatas-da-segunda-guerra-mundial-que-salvaram-a-vida-de-milhares-de-judeus/

Enquanto muitos almejam a posição pelo prestígio e pela imunidade, há, surpreendentemente, alguns diplomatas que realmente querem ajudar as pessoas. Esse foi o caso em algumas histórias que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial, quando cônsules de todo o mundo ajudaram judeus a escapar da perseguição na Alemanha nazista. Confira alguns desses relatos, de restaurar a fé na humanidade:

10. Príncipe Constantin Karadja, da Romênia

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Acredita-se que Constantin Karadja, como Cônsul Geral da Romênia em Berlim entre 1931 e 41, tenha salvado a vida de nada mais nada menos do que 51 mil pessoas.
Constantin teve uma educação humanística e jurídica, dedicando atenção especial para a garantia dos direitos humanos ao longo de sua carreira. O príncipe se dedicou a proteger principalmente os cidadãos romenos, independentemente de etnia ou religião.
O trabalho salvador de Constantin consistia em emitir centenas de vistos tanto para judeus romenos quanto para os não romenos durante a guerra. Os boatos sobre a ajuda que prestava ultrapassou os limites da cidade de Berlim e se espalhou principalmente pela França e pela Hungria.
Porém, ele não apenas concedia visto aos que eram perseguidos por serem judeus – ele desafiava as ordens de seu próprio país ao fazê-lo. No dia 7 de março de 1941, Constantin desobedeceu a imposição feita por seu governo para começar a colocar uma indicação da religião nos passaportes de judeus romenos, temendo que a informação atrapalhasse quem tentasse fugir.
Mais tarde, naquele mesmo ano, depois de ter sido nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros romeno, Constantin Karadja foi capaz de aprovar uma lei que protegia todos os romenos no exterior, sem distinção ou discriminação. Indo ainda mais longe, em 1943, convenceu o governo romeno a mudar sua postura pró-Alemanha. Na realidade, ele era tão irritantemente bom em seu trabalho de salvar pessoas que acabou sendo demitido. Mais tarde, o país se recusou a lhe pagar pensão.

9. Carl Lutz, Suíça

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Nominado vice-cônsul suíço em Budapeste no ano de 1942, Carl Lutz causou o maior rebuliço em seu país de origem quando “ameaçou” sua neutralidade, inventando uma “carta de proteção” que concedia esta neutralidade a judeus.
Carl entregou estes modelos de carta a mais de 10 mil crianças judias, permitindo-lhes fugir. Quando os alemães tomaram o controle da capital húngara, em 1944, Lutz conseguiu negociar a proteção de 8 mil judeus locais. Explorando o acordo que ele havia criado, Lutz imediatamente começou a proteger 8 mil famílias judias – ou seja, concedeu proteção à família inteira daqueles primeiramente amparados.
O vice-cônsul foi além e instalou 76 casas seguras por toda a cidade, declarando-as solo suíço. Cerca de 3 mil judeus estavam abrigados em um único prédio. Lutz chegou a pular em um rio atrás de uma mulher judia que estava ferida. Ele, depois, declarou que a moça em questão era cidadã suíça. Lutz salvou a vida dela e, segundo estimativas, foi o responsável por salvar outras 62 mil vidas também.

8. Hiram Bingham IV, dos Estados Unidos

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Hiram Bingham IV servia como o Cônsul dos Estados Unidos em Marselha, na França, quando se deu a eclosão da guerra. Em uma tentativa de manter boas relações com a França de Vichy (o Estado francês entre os anos 1940 e 1944 basicamente era um fantoche sob a influência nazista dos vizinhos alemães), o governo dos Estados Unidos desencorajava seus diplomatas a ajudar refugiados.
Harry foi uma exceção a esta regra desumana. Em 1940, Hiram emitiu ilegalmente um falso conjunto de documentos de viagem a Varian Fry, romancista norte-americano e membro do Comitê de Resgate de Emergência. Com esses documentos de viagem, Fry ajudou mais de 2 mil judeus a escaparem da França.
Hiram também refugiou judeus desabrigados e se reuniu com grupos de escape para auxiliar a evacuação dos perseguidos. No final de 1940, Bingham começou a visitar campos de concentração e emitir ordens de proteção e vistos às pessoas que lá estavam. Estes campos incluíam Gurs, Le Vernet, Argelès-sur-Mer, Agde e Les Milles.
Bingham concedia a cidadania àqueles que sofriam nos campos, colocando-os sob a proteção norte-americana. Em 1941, o governo dos Estados Unidos retirou Bingham de seu cargo e o transferiu para a Argentina, provavelmente apenas para tentar se livrar dele. Bingham foi, posteriormente, fundamental no rastreamento de criminosos de guerra nazistas.

7. Arcebispo Angelo Giuseppe Roncalli (Papa João 23), do Vaticano

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O arcebispo Angelo Giuseppe Roncalli, que mais tarde se tornou o Papa João 23, atuou como Delegado Apostólico na Turquia e Grécia. Angelo usou sua posição para ajudar o movimento clandestino judeu e salvar milhares de refugiados na Europa. Ele ainda auxiliou refugiados judeus que chegavam a Istambul a fugir para a Palestina ao arranjar dinheiro, transporte e suprimentos.
Angelo ainda liberou um grande número de judeus dos campos de concentração Jasenovac e Serede, concedendo-lhes documentos falsos de batismo. Em 28 de outubro de 1958, ele foi eleito papa e, mais tarde, foi o responsável por convocar o Concílio Vaticano II, que teve como objetivo renovar os ritos da Igreja Católica. O Papa João 23 também eliminou a descrição dos judeus como “enganosos” na liturgia da sexta-feira santa e fez uma confissão em nome da Igreja pelo pecado do anti-semitismo.

6. Selahattin Ulkumen, da Turquia

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O turco Selahattin Ulkumen era o Cônsul da Turquia em Rhodes, na Grécia, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele agiu contra os desejos dos nazistas quando interveio na perseguição contra os judeus na cidade, a qual começou em 19 de julho de 1944. Ulkumen exigiu que os judeus turcos que haviam sido reunidos para a deportação fossem liberados, uma vez que o governo turco não discriminava os direitos de proteção dos seus cidadãos.
Finalmente, depois de muitos entraves burocráticos (e com medo de fazer ainda mais inimigos), a Gestapo desistiu dos judeus, que, em seguida, ficaram sob os cuidados e a proteção de Ulkumen. Em represália, os alemães bombardearam a embaixada turca, matando a esposa grávida de Ulkumen e prendendo-o junto com sua equipe durante todo o resto da guerra. Ulkumen sobreviveu ao conflito e morreu apenas em 2003.

5. Angelo Rotta, do Vaticano

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Como diplomata do Vaticano em Sofia, capital da Bulgária, Angelo Rotta salvou milhares de judeus por meio da emissão de certidões de batismo falsas, que concediam a eles uma passagem segura para a Palestina. Apesar de ter praticado repetidas vezes esse crime, passível de ser punido com a morte pelos nazistas, Monsignore não parou por aí.
Quando ele se tornou decano do corpo diplomático em Budapeste, na Hungria, ativamente condenou o holocausto no quintal de Hitler. Rotta emitiu mais de 15 mil certificados de conduta segura, o que concedia neutralidade aos judeus.
Angelo até mesmo visitou campos de trabalhos forçados e participou de marchas da morte para distribuir ainda mais certidões falsas de batismo. Além disso, ele pessoalmente instalou e protegeu diversas casas seguras em toda a cidade de Budapeste para acolher aqueles que havia salvado.

4. Friedrich Borns, da Cruz Vermelha da Suíça

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Friedrich Born foi delegado da Cruz Vermelha em Budapeste, capital húngara, entre maio de 1944 e janeiro de 1945. Seguindo o exemplo de Carl Lutz, Born também salvou milhares de judeus na cidade. Ele recrutou cerca de 3 mil para “trabalhar” em seu escritório, concedendo-lhes proteção, além de declarar várias casas seguras por toda a cidade e protegê-las por meio da Cruz Vermelha.
Além de tudo isso, ele também distribuiu 15 mil documentos de proteção que impedia a deportação de judeus húngaros. No total, estima-se que Fredrich tenha sido o responsável por poupar a vida de 11 a 15 mil pessoas.

3. Gilberto Bosques Saldivar, do México

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O mexicano Gilberto Bosques Saldivar era o Cônsul do México na França de Vichy durante a guerra. Gilberto ordenou sua equipe a emitir vistos a qualquer pessoa em busca de refúgio, em sua maioria judeus. Mais de 40 mil foram expedidos.
Giberto chegou a alugar um castelo e uma casa de veraneio na cidade de Marselha para abrigar os refugiados sob a proteção do território mexicano. Em 1943, Saldivar e sua família, juntamente com 40 de seus funcionários, foram presos pela Gestapo e detidos por um ano. Ele foi liberado durante uma troca de prisioneiros entre os governos mexicano e alemão. Gilberto não apenas sobreviveu à guerra como também só faleceu aos 103 anos. Outro caso de “anjo” que viveu muitos anos depois para contar suas histórias.

2. José Castellanos Contreras, de El Salvador

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Trabalhando como Cônsul de El Salvador na Suíça, José começou pequeno, concedendo a um empresário judeu da região da Transilvânia, na Romênia, e a seus familiares um visto para salvar a família inteira de um esquadrão da Gestapo que estava prestes a deportá-los.
Depois que ele se tornou o Cônsul Geral de El Salvador em Genebra, em 1942, José passou a emitir milhares de vistos para refugiados judeus, permitindo-lhes fugir para o continente americano.
Em 1944, a distribuição de documentos salvadorenhos tinha se tornado uma produção em série: José ajudava grupos judaicos para que eles próprios pudessem produzir as falsificações ilegais e permitir que mais judeus fossem salvos. Nesse ano, ele percebeu que poderia fazer ainda mais, de modo que secretamente começou a emitir 13 mil “certificados de cidadania salvadorenha” para judeus da Europa Central de graça.
O consulado salvadorenho foi o primeiro da América Latina a produzir esse tipo de documento contra a vontade de seus superiores e, obviamente, dos nazistas. Os judeus que possuíam o certificado ganhavam o direito de buscar refúgio com a Cruz Vermelha, além do próprio consulado suíço em Genebra. Os documentos foram os responsáveis por salvar milhares de judeus da extradição para os campos de extermínio nazistas. Acredita-se que as ações de José Castellanos Contreras e sua equipe salvaram a vida de uma quantia espantosa de vidas: entre 30 e 50 mil pessoas.

1. Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, do Brasil

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A brasileira Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, segunda esposa do escritor Guimarães Rosa, não podia ficar de fora desta lista. Aracy foi muito além dos deveres como uma funcionária que trabalhava no departamento de vistos na embaixada brasileira em Hamburgo, na Alemanha.
Ela usou sua posição como chefe da Seção de Passaportes – e contrariou ordens – para conceder vistos a judeus entre os anos de 1938 até 1942, quando o Brasil se juntou aos Aliados. O chamado Anjo de Hamburgo não só fornecia vistos, como também ajudava os refugiados financeiramente e com suprimentos para a viagem ao Brasil comprados com o dinheiro de seu próprio bolso. Ela ainda abrigava alguns deles.
Em 1938, entrou em vigor no Brasil a Circular Secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a ordem oficial e continuou preparando vistos para judeus, permitindo a entrada deles por aqui. Como despachava documentos com o Cônsul Geral, a paranaense colocava os vistos entre a papelada para ser assinada. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de por neles a letra J, que identificava quem era judeu.
Nessa época, Guimarães Rosa era Cônsul Adjunto e eles ainda não eram casados. Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte. O “anjo” viveu até os 102 anos de idade, e faleceu apenas em 2011. Certamente podemos dizer que ela mereceu estes anos extras.