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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Diagnostico do setor medico - Adib Jatene, José da Silva Guedes

Medicina tumultuada

Adib Jatene, José da Silva Guedes
O Estado de S.Paulo, 20 de agosto de 2013

Desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou que iria importar médicos, estabeleceu-se um tumulto no setor. Na verdade, o número de médicos é menor que o de muitos países geralmente mais desenvolvidos.
Acontece que desde 1996 o número de escolas médicas e, em consequência, o de graduados em Medicina vem crescendo de maneira até excessiva. Naquele ano havia 82 cursos de Medicina, 60% dos quais eram públicos e 40%, privados. A maioria dos privados era ministrada por entidades que não tinham tradição no setor de saúde e, por isso, não possuíam complexo médico-hospitalar e ambulatorial que permitisse o ensino na sua fase clínica. A solução foi utilizar hospitais e ambulatórios do SUS para ministrar seu curso médico, com evidente prejuízo para o ensino.
Os serviços eminentemente assistenciais não são adequados ao ensino. Mal comparando, seria como ensinar a guiar automóvel nas avenidas de grande tráfego. Enquanto se discutia como melhorar a qualidade do ensino, com 11 entidades médicas reunidas no Cinaem para ajudar as escolas a se adequar, fomos atropelados, a partir de 1996, pela criação de mais de 120 cursos, dos quais 70% privados, com os mesmos vícios dos que buscávamos corrigir. De cerca de 9 mil graduandos, passamos a graduar mais de 18 mil médicos por ano.
Neste momento se descobre o que já era sabido: a distribuição de médicos é desigual, deixando parcelas da população até com excesso, enquanto outras não dispõem de nenhum médico. Por que isso, que é fato, ocorre?
O primeiro argumento é que a urbanização em nosso país é recente. A concentração urbana ocorreu nas grandes cidades, em especial nas áreas metropolitanas, e hoje mais de metade da população vive em apenas 3% dos 5.564 municípios. Não foi possível, em tão curto intervalo de tempo, dotar essas cidades de todos os determinantes sociais de saúde, como saneamento básico, transporte, segurança, educação e também os equipamentos de saúde de que a população necessita. Por outro lado, mais da metade dos municípios tem menos de 10 mil habitantes, igualmente com deficiências comparáveis às das populações periféricas das grandes cidades. A consequência do desenvolvimento urbano equivocado é que onde vivem grandes parcelas da população os profissionais de que ela necessita não aceitam morar.
Outro argumento é que o médico formado atualmente não está sendo preparado para atender a população. Todos concordam com a necessidade da residência médica, mas, como está estruturada hoje, ela resulta, ao final, na formação de especialistas. Só existe residência em hospitais públicos, ou privados, onde está instalada toda a moderna tecnologia. E é exatamente a existência dessa tecnologia que dificulta a formação do chamado médico geral ou generalista. Este deve ser capaz de resolver 80% dos casos e encaminhar para atendimento especializado os 20% que eventualmente precisem de internação.
Aí é que as coisas se complicam. O médico generalista não tem para quem encaminhar o cliente do SUS.
Para as populações de pequenos municípios a proposta seria a organização de consórcios intermunicipais, tendo como sede um município polo. É comum, em municípios com menos de 20 mil habitantes, a existência de hospitais praticamente vazios. Em muitos desses locais, nem mesmo partos são realizados.
A estratégia implantada em 1995 foi o Programa Saúde da Família (PSF), com base no agente comunitário. Este deve obrigatoriamente residir na microárea onde vive a população a que serve, constituída por 100 a 200 famílias, dependendo da concentração. Os agentes - na maioria, mulheres - cadastram a população, que passam a visitar a cada mês. Dessa forma, todas as doenças existentes, como hipertensão, diabetes, tuberculose, passam a ser controladas, o mesmo ocorrendo com as gestantes e a caderneta de vacinação. Para cada cinco ou seis agentes se põe num posto pelo menos um médico, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem e um dentista. Para complementar o modelo equipes de ao menos 12 especialistas, com acesso a tecnologia e estrutura hospitalar, deveriam dar cobertura à varias equipes do PSF. Sua quase total ausência limita e desestimula a atuação dos médicos de família.
Entretanto, para que essa estrutura funcione teríamos de reformar o ensino médico. Essa reforma significa entregar a graduação a professores que não queiram ensinar especialidades, mas, de cada especialidade, o que nenhum médico pode deixar de saber, seja em situações eletivas, seja, principalmente, nas situações de emergência.
Essa estratégia estava em início de discussão e precisaria de amplo debate com as escolas, as entidades e os alunos. Subitamente foi imposta por medida provisória, o que acarretou rejeição pela classe médica, pelos alunos e por todas as entidades do setor.
Temos hoje perto de 30 mil equipes de Saúde da Família e cerca de 200 mil agentes comunitários. Precisamos do dobro. E não temos equipes de especialistas em condições de receber referência e fazer a contrarreferência, bem como os hospitais relacionados com as equipes.
Decidiu-se importar médicos. Parece-nos que o governo, na pressa de atender deficiências que são reais, tenha posto a perder um esquema que poderia tomar tempo, mas teria tudo para reformar o ensino médico e organizar o atendimento. É urgente que o governo reveja suas propostas e acione os mecanismos dos Ministérios da Saúde e da Educação para que propostas realmente estruturantes e duradouras sejam desencadeadas. É necessário que as entidades representativas dos profissionais da saúde e do sistema educacional façam uma análise crítica da situação atual, com uma visão fundamentada na real necessidade de toda a população.

* Adib D. Jatene e José da Silva Guedes são membros da comissão de especialistas do ensino médico do MEC 

terça-feira, 3 de maio de 2011

A razao de Estado contra o juramento de Hipocrates (Bahrain)

Aliás, não se trata bem de razão de Estado, e sim de ditadura estatal sobre o simples cumprimento do dever elementar de todo e qualquer médico, em qualquer lugar do mundo, e qualquer época, de socorrer qualquer ser humano padecendo de qualquer tipo de enfermidade, acidente, ou ameaça a sua segurança física. Inacreditável que isso esteja ocorrendo.
Um caso para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, se ela ainda serve para algo.
Paulo Roberto de Almeida

Bahrain doctors to be tried for helping protesters
Foreign Policy, May 3, 2011 (Yahoo News)

MANAMA, Bahrain – Several doctors and nurses who treated injured anti-government protesters during months of unrest in the Gulf kingdom have been charged with acts against the state and will be tried in a military court, the justice minister said Tuesday.
Khaled bin Ali Al Khalifa said the charges against 23 doctors and 24 nurses include participating in attempts to topple the island's Sunni monarchy and taking part in illegal rallies.
The announcement is the latest in the Sunni rulers' relentless pursuit of Shiite opposition supporters after weeks of street marches demanding greater freedoms, equal rights and an elected government in Bahrain.
Separately, two former parliament members of the country's main Shiite party Al Wefaq were arrested Monday night, according to a senior party leader, Abdul-Jalil Khalil.
Al Wefaq has been the leading political backer of Bahrain's uprising, inspired by revolts in Tunisia and Egypt earlier this year.
Bahrain's Sunni rulers declared martial law on March 15 to crush the Shiite revolt. Hundreds of protesters, opposition leaders, human rights activists and lawyers have been detained since emergency rule was imposed. Dozens of doctors, nurses and other medical staff have also been arrested.
At a press conference on Tuesday, the justice minister read the charges against the 23 doctors and the 24 nurses, which also include "promoting efforts to bring down the government" and "harming the public by spreading false news."
International rights groups say Bahrain is targeting medical professionals who treated injured demonstrators at the Salmaniya medical center, which was later overrun by the military.
At least 30 people have died since the protests in Bahrain began in mid February. Among the dead are also four opposition supporters who died in custody, including a blogger.
On Thursday, four anti-government protesters were convicted of killing two policemen during the protests and sentenced to death by a military court. Three other demonstrators got life sentences.
The military took over the state-run Salmaniya hospital in March, and doctors and patients said soldiers and police had conducted interrogations and detentions inside the complex.
Physicians for Human Rights said in a report last month that at least 32 health care professionals have been detained since Bahrain declared martial law. The report by the U.S.-based group detailed attacks on physicians, medical staff and patients "with weapons, beatings and tear gas."