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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Politica economica: o governo volta a fazer populismo cambial (desta vez para baixo)? - Celso Ming

Uma das mais contundentes acusações dos petistas contra os tucanos, quando os primeiros estavam ainda na oposição -- ou seja, no Ancien Régime tucanês, antes do "nunca antes" do glorioso regime lulista -- era que os segundos praticavam, além da submissão ao FMI, "populismo cambial", ou seja, deixavam que o real se valorizasse além da conta, para agradar a classe média -- que sempre adorou ir a Paris uma vez por ano, ou passear duas vezes por ano na Disney World de Orlando -- e para dar a impressão de que os brasileiros estavam mais ricos.
Sumidades econômicas como Mercadante e Guido Mantega gritavam nos jornais contra os riscos do "populismo cambial", que segundo eles iria acabar com a nossa indústria e jogar o Brasil novamente nos braços do FMI.
Pois bem, nunca antes no Brasil houve uma valorização do real tão forte quanto no governo Lula, com as sumidades acima concordando com o novo populismo cambial.
Agora se faz a política inversa: se usa o câmbio para combater a inflação, que eles mesmos provocaram com o seu populismo do crédito e manipulação de preços e tarifas (Petrobras, sistema elétrico, etc.).
Ou seja, os companheiros não sabem o que fazer, e por isso dão uma no cravo e outra na ferradura, apenas mostrando a cavalgadura que são.
Paulo Roberto de Almeida

Âncora cambial

09 de abril de 2014
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Ontem, as cotações do dólar no câmbio oficial chegaram a recuar para abaixo de R$ 2,20. A queda acumulada no ano é de 6,4%. Apenas nos seis primeiros dias úteis de abril, alcança 2,7% (veja o gráfico).
No ano passado o governo Dilma se empenhou para produzir o efeito contrário, ou seja, puxar para cima as cotações do dólar de maneira a encarecer importações e dar mais competitividade à indústria. Agora festeja a queda das cotações. O momento é de uso do câmbio como âncora de preços. O Banco Central (BC) está deixando que o dólar fique mais barato para, com isso, reduzir a inflação. Já não se importa em reduzir a volatilidade, desta vez para baixo.
Essa baixa (valorização do real) não era esperada. Ao contrário, o governo se preparara para a tal tempestade perfeita, cujo efeito principal seria a forte desvalorização do real. Mas não veio a tempestade. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está sendo mais cuidadoso na sua política monetária, para não produzir vagalhões. Voltaram a sobrar dólares. A política de juros no Brasil favorece a entrada de moeda estrangeira por aqui porque ficou mais vantajoso tomar empréstimos lá fora a juros baixos para comprar reais, aplicá-los no mercado financeiro interno e ter bom lucro com isso.
Por aí se vê que o jogo virou e o quadro passou a ser de abundância de dólares. Sabemos que o governo e o BC passaram a tirar proveito dessa queda das cotações para combater a inflação não só porque estão comemorando, mas pelo jeito de administrar a política cambial.
Foi para responder à ameaça de tempestade perfeita que o BC adotou uma política de leilões de swap cambial e de venda de dólares, a fim de fornecer hedge (defesa) às empresas com compromissos em moeda estrangeira e impedir a disparada do câmbio. O quadro mudou, como se viu, e, no entanto, o BC continua mantendo os leilões, como se nada tivesse acontecido.
Tudo se passa como se agora o governo tivesse outro objetivo: o de impedir a cavalgada dos preços. A derrubada das cotações do câmbio barateia em reais as importações e, assim, concorre para segurar a inflação. De quebra, reduz em reais a conta da Petrobrás com importação de óleo diesel que está sendo queimado nas termoelétricas para suprir a quebra de produção de energia pelas hidrelétricas. O efeito colateral é a redução da capacidade de exportar da indústria nacional. Mas, aparentemente, o governo não está ligando para esse impacto sobre as empresas. Elegeu como prioridade segurar a inflação e deixou para depois o desempenho da indústria.
Os cálculos que correm no mercado são de que, em 12 meses, uma redução das cotações do dólar concorre para tirar 0,45 ponto porcentual da inflação. Pode ser o suficiente para evitar o estouro do teto da meta, que é de uma inflação de 6,5% em cada ano-calendário.
Sobram perguntas sem respostas: (1) até que nível o BC deve tolerar a escorregada do dólar?; (2) a âncora cambial é suficiente para evitar o estouro da meta, considerando-se o salto dos preços dos serviços acima dos 8% ao ano?; e (3) até quando perdurará a nova abundância de moeda estrangeira nos mercados?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Venezuela: esquizofrenia cambial, loucuras politicas...

Como a lei venezuelana, que não permite divulgar o valor da taxa de câmbio no mercado paralelo, não vigora no Brasil, eu aqui divulgo: o câmbio negro está cotado a mais de 9 bolívares por dólares, muito acima da irreal taxa oficial.
Paulo Roberto de Almeida 

Economia e Negócios

Venezuela: Chávez descarta ajuste da taxa de câmbio oficial no país

O presidente venezuelano Hugo Chávez.
AFP
Las claves
  • Na Venezuela vigora desde 2003 um duro controle do câmbio, que fixa o dólar em 4,3 bolívares, enquanto existe um mercado parapelo no qual a moeda americana é vendida a um preço muito maior, cujo valor é proibido difundir por lei.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que tentará se reeleger em 7 de outubro, descartou esta terça-feira que seu governo prepare um ajuste da taxa de câmbio oficial, assegurando que as finanças estatais no país estão bem.
“Nós não temos previsto nenhum ajuste do câmbio, acreditamos que as variáveis macroeconômicas estão bastante estabilizadas, a política cambiária está funcionando”, disse Chávezdurante coletiva.
Na Venezuela vigora desde 2003 um duro controle do câmbio, que fixa o dólar em 4,3 bolívares, enquanto existe um mercado parapelo no qual a moeda americana é vendida a um preço muito maior, cujo valor é proibido difundir por lei.
Questionado se as condições cambiárias atuais prejudicam a entrada da Venezuela no Mercosul – do qual também fazem parte Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai -, Chávez assegurou que o ingresso no bloco regional, que seu país formalizou no final de julho, “não depende de elementos” como esse.
“Nossa incorporação com êxito ao Mercosul, como estamos certos de que vai acontecer ou começou a acontecer, não depende de elementos tão específicos como este, depende do desenvolvimento real da economia”, que está “muito sólida”, afirmou.
Empresários venezuelanos afirmam que o controle cambiário é o grande entrave para as exportações e só beneficia as importações, majoritárias no modelo venezuelano, uma vez que o país importa, por exemplo, 70% dos alimentos que consome.
Esta situação, advertem, só beneficiaria os gigantes do bloco regional, como Brasil e Argentina.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fascismo cambial argentino: retrocedendo meio seculo...

Houve um tempo, no Brasil, em que para assinar uma revista estrangeira, eu tinha de ir ao Banco do Brasil, como agente cambial oficial, para ter a permissão de remeter 30 ou 50 dólares ao exterior. 
Apenas depois de 1992 é que começamos a ter cartões de crédito válidos no exterior. Antes era preciso ir aos bancos acreditados para comprar, em limites que variavam de 1.000 a 4.000 dólares, os dólares para viajar ao exterior. O resto era com o cambista, que chegou a ser, em meu ministério, a segunda pessoa mais importante da estrutura oficial, depois do ministro (e ainda assim, se tinha mais relações com o cambista do que com o ministro).
Escapamos dos aspectos mais nocivos, e ridículos, do controle cambial, mas a obsessão cambial ainda não acabou no Brasil. Somos impedidos, por exemplo, de ter contas em moedas estrangeiras. Assim, se você chega com um resto de dinheiro do exterior, ou quer fazer uma pequena poupança em cash em divisas, para eventuais viagens-surpresa, você tem três soluções: (a) troca de volta no banco, que agradece pelas generosas e extorsivas comissões que cobra a cada vez; (b) aluga um cofre no banco, ou faz um em sua casa, com as despesas correspondentes; (c) guarda de qualquer jeito em sua casa, esperando a passagem de algum bandido.
A proibição de se ter contas em dólares é uma lembrança dos tempos de depressão, 80 anos atrás, quando havia penúria de dólares.
O atraso mental brasileiro é tão grande que ainda não nos libertamos dessa obsessão, numa fase de abundância de dólares (para o bem e para o mal). As autoridades mantêm controles de capitais alegadamente para preservar o equilíbrio monetário e evitar problemas de balanço de pagamentos. Melhor seria se o Brasil caminhasse no sentido da plena conversibilidade, que abandonamos em 1931 e ainda não restabelecemos plenamente. Um dia o atraso mental acaba e viramos normais outra vez.
Mas o caso da Argentina é diferente. Não se trata apenas de atraso mental, mas de retrocesso voluntário, de loucuras kafkianas, como demonstrado nesta circular do Banco Central, dizendo que o Estado, esse ente fascista por excelência, vai ter de controlar se os cidadãos possuem de fato recursos -- legalmente declarados -- para poder comprar dólares.
É o fascismo no seu estado mais elementar.
E um retrocesso de mais de 80 anos na história econômica.
Paulo Roberto de Almeida 

BANCO CENTRAL DE LA REPUBLICA ARGENTINA
MODIFICACIONES EN LA REGULACION DE MERCADO CAMBIARIO

En cumplimiento de los mandatos que impone su Carta Orgánica respecto de la preservación de la estabilidad financiera y la promoción del crecimiento y el empleo, el Directorio del BCRA dispuso las siguientes modificaciones en la regulación del mercado cambiario:

° Permitir el acceso al mercado de cambios por el concepto de viajes y turismo por parte de personas físicas y jurídicas residentes para los viajes propios y también de empresas por los viajes de su personal, previa validación fiscal de cada operación.
° Mantener vigentes los códigos por los cuales es posible cursar diferentes clases de operaciones en el mercado de cambios para pago y cobro de mercancías, servicios, rentas y capital de acuerdo con la normativa actualmente en vigor, que entre las compras y ventas de cambios suman alrededor de 300 códigos.
° Permitir el acceso al mercado de cambios para la compra de billetes en moneda extranjera por los montos correspondientes a créditos hipotecarios, que no sean de corto plazo, otorgados por entidades financieras a personas físicas para la compra de vivienda a aquellos que hubieran gestionado carpetas preacordadas a la entrada en vigencia de la presente norma y hasta el 31 de octubre del 2012.
° Permitir con validación fiscal previa el acceso al mercado de cambios para los casos previstos en la Comunicación A 4834, cuando superen los 1.000 dólares o equivalente. Por esta Comunicación se canalizan pequeñas operaciones de personas que regularmente no operan en el mercado de cambios, a través de un sistema simplificado para operaciones de hasta US$ 5.000 dólares contra la presentación de una declaración jurada y con acreditación en cuenta (sea compra o venta). Se trata de una norma para clientes que no operan habitualmente con el exterior. Entre los casos contemplados por esta norma pueden mencionarse los siguientes: a) en el caso de ingreso de divisas, un cheque por la prestación de un servicio por una sola vez (ej. una conferencia) o por el pago de gastos de un viaje (invitación a un seminario). Los dólares ingresan contra declaración jurada y los pesos deben acreditarse obligatoriamente en una cuenta bancaria; b) para la salida de divisas, casos como los de turistas argentinos que sufren en el exterior la pérdida o robo de documentos y dinero y se quedan sin fondos. Los familiares entonces pueden acceder al mercado para enviarles las divisas. El límite máximo para el envío es de 5.000 dólares o equivalente; pero para remitir más de 1.000 dólares se requiere validación fiscal previa. También se requiere declaración jurada y los fondos deben provenir de una cuenta bancaria. 
° Autorizar el acceso al mercado de cambios sin la conformidad previa para la compra de divisas para realizar donaciones en casos de desastres naturales, urgencias sanitarias u otras situaciones de carácter humanitario de conocimiento público. Estas donaciones pueden ser recibidas únicamente por organismos y entidades gubernamentales, u otras entidades con presencia en el país y reconocidas internacionalmente por sus obras benéficas. 
° Suspender el acceso al mercado local de cambios para la compra de activos externos sin aplicación a un destino específico previsto en el punto 4 del Anexo a la Comunicación A 5236.

Gerencia de Prensa
Banco Central de la República Argentina
Reconquista 266, 4to piso of. 408
Buenos Aires
Tel. (011) 4348-3624
www.bcra.gov.ar


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E se não bastasse como fascismo econômico, ainda tem mais esta: os bancos são obrigados a emprestar, mesmo que queiram fazer reservas ou ter outras aplicações. O Estado fascista é assim: ele não permite você dispor do seu próprio dinheiro, ele é quem determina o que fazer, já que sabe melhor do que nós como ficar pobres e arruinados...
Paulo Roberto de Almeida 


Argentina obriga bancos a dar crédito

Valor Econômico - A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, determinou ontem que os bancos com mais de 1% dos depósitos no país devem oferecer uma linha de crédito a empresas para investimentos. A linha terá suas condições estabelecidas pelo governo: três anos de prazo e juros variáveis conforme a taxa Badlar - referência no país para transações interbancárias - mais 4%. Em valores de ontem, isto correspondia a cerca de 15%.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sindicalistas iludidos e os verdadeiros inimigos

Leio isto no boletim eletrônico da UNIÃO GERAL DOS TRABALHADORES
cujo presidente é: RICARDO PATAH


DISCREPÂNCIA: qual a discrepância cambial entre Brasil e China? Segundo estimativas do Instituto Peterson ela é abismal, nada menos do que 40% (quarenta por cento mesmo!), o que, em termos de competitividade industrial, é um exagero. Esses 40% são compostos por 25% de desvalorização do yuan frente ao dólar e mais 15% de valorização do real frente ao mesmo dólar. Essa posição da moeda chinesa não deixa de ser um subsídio disfarçado. Há inúmeras formas de compensar essas assimetrias, mas, parece, as medidas têm sido insuficientes. Ultimamente, o governo brasileiro se mostra mais disposto a aplicar sanções e tem tomado atitudes compensatórias, como a elevação de tarifas ou a valoração aduaneira dos produtos importados (para fins tributários). Todavia, continuamos sendo inundados por bugigangas chinesas.


Respondi isto a eles:


Isto, simplesmente, não é verdade: 
"Todavia, continuamos sendo inundados por bugigangas chinesas."

Os chineses exportam para o Brasil exatamente as mesmas mercadorias que exportam para o resto do mundo. 
Se vocês entrarem num Wall Mart dos EUA, qualquer um, vão encontrar 95% de produtos "made in China". Vão dizer que os americanos estão consumindo "bugigangas chinesas"?
Será que o mundo todo consome bugigangas chinesas?
Quanta ingenuidade!
Todos consomem produtos chineses porque eles são mais baratos, e porque são de qualidade mediana, que compensa seu custo baixo com alguma satisfação. Mas estão deixando de ser, rapidamente, bugigangas, para se converter em produtos normais.
NINGUEM, no mundo, consome produtos chineses para fazer bondade aos chineses, por generosidade ou por alguma conspiração chinesa. As pessoas consomem produtos chineses porque eles são aceitáveis e mais baratos do que os locais, tão simples assim.

Por que vocês, sindicalistas, não reconhecem uma coisa absolutamente transparente?: o Brasil se tornou um país muito caro, por causa da extorsão tributária do governo, e por causa dos custos laborais, em parte porque vocês, sindicalistas, foram bem sucedidos em aumentar o preço da mão-de-obra.
Não podem reclamar agora que as pessoas prefiram produtos chineses aos produtos caros que vocês, empresários e trabalhadores, produzem, com essa "pequena ajuda" tributária de 40% por parte do governo.
Quando é que vocês vão reconhecer a realidade e atacar seus verdadeiros inimigos, o governo e os politicos que os saqueiam? 
Os inimigos não são os chineses: olhem para dentro, por uma vez...

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Paulo R. de Almeida

PS.: Acrescento agora isto:
Mesmo a chamada defasagem cambial, que existe, também pode ser atribuída ao governo, pelo menos a parte da "valorização do real". Não é culpa dos chineses, nem dos americanos, aliás, que os nossos juros sejam de 12%, e que por isso dezenas de bilhões de dólares continuem a afluir ao Brasil. Se não fosse pela voracidade gastadora do governo, provavelmente os juros seriam muito inferiores ao que são...

sábado, 30 de julho de 2011

E por falar em cambio: O governo e a batalha do câmbio - Luiz Carlos Mendonça de Barros

O governo e a batalha do câmbio
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Folha de S.Paulo, 29/07/2011

No Ministério da Fazenda ninguém tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que foi aberta nesta semana

COM O real chegando a seu momento de maior força em relação ao dólar, o governo Dilma Rousseff cruzou uma nova fronteira em sua confusa e pouco eficiente estratégia de proteger a indústria brasileira.
Pela primeira vez desde que o ministro Guido Mantega cunhou a expressão "guerra cambial", o governo tomou medidas para atingir o mercado futuro de câmbio na BM&F.
Ao taxar essas operações com o IOF e estabelecer um marco legal para fixar --por medidas administrativas do CMN-- o nível de garantias exigidas, o governo --como Cesar-- cruzou o Rubicão.
Não há mais volta, pois, ao interferir em um mercado tão grande e tão interligado com o lado real da economia sem a devida reflexão sobre seus efeitos --e esse é certamente o caso--, o governo criou algo muito perto do caos.
Estou fora do país, mas os relatos que tive sobre a coletiva do ministro Mantega são suficientes para compor esse quadro de desconhecimento profundo das consequências das medidas adotadas.
Posso afirmar isso porque participei em 1986, quando era diretor do Banco Central, de algo muito semelhante. Pressionado para enfrentar a questão das expectativas de inflação embutidas nas taxas de juros dos títulos públicos, o Banco Central mudou a tributação desses papéis sem a necessária avaliação de suas consequências na economia como um todo.
Tudo virou um inferno, e uma sequência de novas medidas foi necessária para tentar enfrentar as maiores distorções que apareceram. E, a cada tentativa de correção, novos problemas se colocavam. No final, tivemos de voltar atrás...
A questão do real forte é ainda mais complexa do que a que o Banco Central enfrentou décadas atrás. E isso ocorre por várias razões.
A mais importante delas está relacionada às complexas relações entre mercados internos e externos que existem hoje na economia brasileira.
E não estou falando apenas de relações financeiras, mas sim da complexa interação entre as cadeias produtivas em setores importantes do tecido produtivo. As importações fazem parte do cotidiano das empresas brasileiras, o que as obrigam a realizar operações de proteção contra a flutuação da taxa cambial.
Também os exportadores, principalmente no setor de produtos primários, precisam de mecanismos de proteção contra as flutuações de grandes proporções que ocorrem hoje nos mercados futuros desses produtos no exterior. E essas operações de proteção trazem, juntas, as flutuações nos mercados de câmbio.
Poderia escrever muito mais sobre as relações econômicas, e, como já disse, não apenas as financeiras, que estão por trás das operações de taxas de câmbio futuro na BM&F.
Mas tenho certeza de que isso não é necessário para mostrar ao leitor da Folha a fragilidade que está por trás das decisões tomadas pelo governo Dilma nos últimos dias.
Quando escrevo esta coluna, os mercados estão paralisados à espera de esclarecimentos do governo sobre as medidas tomadas. Já tenho muito tempo de estrada para acreditar que elas virão. Volto a afirmar que ninguém no Ministério da Fazenda --inclusive o ministro Mantega-- tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que eles abriram agora.
Uma coisa é certa: ao longo dos próximos dias um mercado futuro de taxas de câmbio, tendo o real como uma das pontas das operações, vai aparecer em Chicago ou em outras praças financeiras.
As demandas por operações desse tipo fazem parte hoje do que chamo de metabolismo da economia brasileira. Por isso, elas vão reaparecer em outros lugares. Mas, como sempre ocorre nessas situações, os custos de transação vão aumentar para quem faz negócios no Brasil e com o Brasil.
Um dos pensamentos estratégicos que os chineses, em seus 5.000 anos de história, nos deixaram foi o de nunca usar um canhão para matar uma formiga.
Os efeitos colaterais que ocorrem quando isso acontece são sempre muito maiores do que os eventuais benefícios gerados.
Vamos testar no Brasil de hoje a sabedoria estratégica dos chineses.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Politica cambial: a obsessao dos equivocados...

Onze entre dez economistas autodenominados desenvolvimentistas estão preocupados com o câmbio. Alguns, como os que escreveram essa coisa aí abaixo, chegam até a mencionar uma fantasmagórica "política de apreciação cambial", como se isso existisse ou fosse uma política deliberada de governos (malucos?).
É certo que políticos demagogos gostam de câmbio alto: dá a impressão de que somos ricos e de que todo mundo pode viajar para a Disneyworld duas vezes por ano. Claro que isso acontece e eles ficam contentes, mas a intenção inicial não era essa.
Valorização cambial é sempre o efeito de certo "sucesso" econômico: exportações crescentes, atração de capital estrangeiro, facilidade no lançamento de emissões internacionais. Mas ela é sempre o resultado, não a causa dos problemas de competitividade e de desequilíbrios (futuros, quase certamente).
Vejam também a lista dos problemas brasileiros abaixo relacionados:

"1. Carga tributaria elevada.
2. Custo da infraestrutura
3. Folha salarial sobrecarregada com encargos.
4. Custo do investimento.
5. Baixo estágio tecnológico.
6. Estrutura incipiente de investimento em inovação"

Ou seja, nenhum deles, friso, NENHUM, tem a ver com o câmbio. Todos eles são produzidos internamente, são nossos próprios pecados, problemas "made in Brazil", como se diz.
Como é, então, que, partindo desses problemas, se chega à conclusão de que se tem de desvalorizar o câmbio?
Só pode ser obsessão ou burrice.
O câmbio baixo vai reduzir a carga tributária, induzir à inovação, melhorar a infraestrutura?
Não, absolutamente nada, nadicas de peteberebas.
Então porque se tem de mexer no câmbio?
Ora, esse pessoal precisa ser coerente...
Paulo Roberto de Almeida

Os novos riscos de super-real
Blog Outras Palavras, 17/05/2011

Luís Nassif alerta: como nos anos 90, governo hesita em interromper valorização da moeda. Isso comprometerá desenvolvimento – e não será compensado por gambiarras

Pode-se colocar a Petrobras como agencia de desenvolvimento, adquirindo produtos nacionais. Pode-se aumentar substancialmente o capital do BNDES. Pode-se até criar estímulos fiscais para novos investimentos. Mas enquanto não se acertar o câmbio, será apenas uma fantasia, uma gambiarra, um arremedo de política industrial.

Nenhuma economia emergente conseguirá se desenvolver adequadamente sem trabalhar o fator preço, aquele que impacta diretamente o custo final do produto.***

A competitividade é uma soma de ações em diversas áreas, mas não é uma poção mágica, que estabelecerá com os competidores a igualdade de condições da noite para o dia.

A lógica de qualquer política industrial consistente é a de criar condições iniciais favorecidas para a produção nacional, mas visas do mais à frente a sustentabilidade do setor.

Tome-se o caso dos setores que serão beneficiados pelas compras da Petrobras. Em um primeiro momento ganharão encomendas e ampliarão a estrutura. Mas sem preços competitivos se criará uma indústria de estufa, incapaz de oferecer seus produtos a terceiros.

***

Suponha um determinado produto competindo com o estrangeiro. Em relação aos países avançados, o Brasil possui as seguintes desvantagens:

1. Carga tributaria elevada.

2. Custo da infraestrutura

3. Folha salarial sobrecarregada com encargos.

4. Custo do investimento.

5. Baixo estágio tecnológico.

6. Estrutura incipiente de investimento em inovação.

Todos esses fatores encarecem o custo do produto brasileiro de forma expressiva, especialmente nos setores mais dinâmicos da economia, em que há maior valor agregado.

***

São esses setores – mais expostos à concorrência internacional – que garantem o dinamismo da economia, a qualificação do emprego, os avanços tecnológicos, os investimentos, a vitória nas disputas com produtos estrangeiros.

E a arena de batalha não é apenas o comércio internacional, mas o próprio mercado interno. A não ser que se pretenda fechar a economia brasileira, cada dia de apreciação cambial significa mais produtos brasileiros sendo substituídos por produtos importados.

***

Em todo processo de desenvolvimento – seja na Inglaterra do século 18, no Japão, Alemanha e Itália do pós-guerra, na Coréia dos anos 50, o tiro de partida para a recuperação ou para o início do crescimento foi o câmbio.

A razão é simples. Em cada linha de produto, há os de menos e os mais sofisticados. Países adiantados produzem os mais sofisticados, cobrando mais caro. Países menos adiantados apresentam a vantagem do preço.

Depois, à medida que as empresas vão crescendo, aumentam os investimentos em tecnologia e inovação e seus produtos passam a disputar segmentos mais avançados.

Não há mistério nessa fórmula, não se está contando novidade.

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Ocorre que em momentos cruciais da história – fim do século 19, no pós-guerra, nos anos 90 – prevaleceu a política de apreciação cambial. E ligada a interesses imediatos seja do grande capital (que sempre especulou associado ao capital internacional), seja do populismo cambial de sucessivos governantes, preferindo faturar politicamente com a falsa sensação de fartura trazida pela moeda apreciada.

***

Se não se resolver a questão cambial, pré-sal e companhia não passarão de embromação.