Uma das mais contundentes acusações dos petistas contra os tucanos, quando os primeiros estavam ainda na oposição -- ou seja, no Ancien Régime tucanês, antes do "nunca antes" do glorioso regime lulista -- era que os segundos praticavam, além da submissão ao FMI, "populismo cambial", ou seja, deixavam que o real se valorizasse além da conta, para agradar a classe média -- que sempre adorou ir a Paris uma vez por ano, ou passear duas vezes por ano na Disney World de Orlando -- e para dar a impressão de que os brasileiros estavam mais ricos.
Sumidades econômicas como Mercadante e Guido Mantega gritavam nos jornais contra os riscos do "populismo cambial", que segundo eles iria acabar com a nossa indústria e jogar o Brasil novamente nos braços do FMI.
Pois bem, nunca antes no Brasil houve uma valorização do real tão forte quanto no governo Lula, com as sumidades acima concordando com o novo populismo cambial.
Agora se faz a política inversa: se usa o câmbio para combater a inflação, que eles mesmos provocaram com o seu populismo do crédito e manipulação de preços e tarifas (Petrobras, sistema elétrico, etc.).
Ou seja, os companheiros não sabem o que fazer, e por isso dão uma no cravo e outra na ferradura, apenas mostrando a cavalgadura que são.
Paulo Roberto de Almeida
Âncora cambial
09 de abril de 2014
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Ontem, as cotações do dólar no câmbio oficial chegaram a recuar para abaixo de R$ 2,20. A queda acumulada no ano é de 6,4%. Apenas nos seis primeiros dias úteis de abril, alcança 2,7% (veja o gráfico).
No ano passado o governo Dilma se empenhou para produzir o efeito contrário, ou seja, puxar para cima as cotações do dólar de maneira a encarecer importações e dar mais competitividade à indústria. Agora festeja a queda das cotações. O momento é de uso do câmbio como âncora de preços. O Banco Central (BC) está deixando que o dólar fique mais barato para, com isso, reduzir a inflação. Já não se importa em reduzir a volatilidade, desta vez para baixo.
Essa baixa (valorização do real) não era esperada. Ao contrário, o governo se preparara para a tal tempestade perfeita, cujo efeito principal seria a forte desvalorização do real. Mas não veio a tempestade. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está sendo mais cuidadoso na sua política monetária, para não produzir vagalhões. Voltaram a sobrar dólares. A política de juros no Brasil favorece a entrada de moeda estrangeira por aqui porque ficou mais vantajoso tomar empréstimos lá fora a juros baixos para comprar reais, aplicá-los no mercado financeiro interno e ter bom lucro com isso.
Por aí se vê que o jogo virou e o quadro passou a ser de abundância de dólares. Sabemos que o governo e o BC passaram a tirar proveito dessa queda das cotações para combater a inflação não só porque estão comemorando, mas pelo jeito de administrar a política cambial.
Foi para responder à ameaça de tempestade perfeita que o BC adotou uma política de leilões de swap cambial e de venda de dólares, a fim de fornecer hedge (defesa) às empresas com compromissos em moeda estrangeira e impedir a disparada do câmbio. O quadro mudou, como se viu, e, no entanto, o BC continua mantendo os leilões, como se nada tivesse acontecido.
Tudo se passa como se agora o governo tivesse outro objetivo: o de impedir a cavalgada dos preços. A derrubada das cotações do câmbio barateia em reais as importações e, assim, concorre para segurar a inflação. De quebra, reduz em reais a conta da Petrobrás com importação de óleo diesel que está sendo queimado nas termoelétricas para suprir a quebra de produção de energia pelas hidrelétricas. O efeito colateral é a redução da capacidade de exportar da indústria nacional. Mas, aparentemente, o governo não está ligando para esse impacto sobre as empresas. Elegeu como prioridade segurar a inflação e deixou para depois o desempenho da indústria.
Os cálculos que correm no mercado são de que, em 12 meses, uma redução das cotações do dólar concorre para tirar 0,45 ponto porcentual da inflação. Pode ser o suficiente para evitar o estouro do teto da meta, que é de uma inflação de 6,5% em cada ano-calendário.
Sobram perguntas sem respostas: (1) até que nível o BC deve tolerar a escorregada do dólar?; (2) a âncora cambial é suficiente para evitar o estouro da meta, considerando-se o salto dos preços dos serviços acima dos 8% ao ano?; e (3) até quando perdurará a nova abundância de moeda estrangeira nos mercados?
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