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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
O efeito China sobre a industria de manufaturados do Brasil - Estudo do IEDI
Para ler por inteiro, os interessados precisam acessar este link: http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_769.html
Exportação de manufaturados: Concorrência China x BrasilIEDI, 20/01/2017
Sumário
Esta Carta IEDI atualiza nosso estudo de 2013 (Carta IEDI n. 590) sobre a concorrência entre Brasil e China na exportação de manufaturados nos três principais mercados regionais para as empresas brasileiras – Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai), Aladi (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) e Nafta (EUA, Canadá e México). Na edição anterior fizemos uma comparação entre os anos de 2008 e 2012, isto é, após o aprofundamento da crise global; agora, tratamos do quadro em 2015, ano de forte crise da indústria e da economia brasileiras, comparando-o com 2012.
O desempenho da balança comercial brasileira, desde 2003, tornou-se estreitamente vinculado ao crescimento econômico e da demanda externa da China mediante dois efeitos antagônicos. Por um lado, o “efeito complementaridade”, que beneficiou (sobretudo, antes da crise financeira global) as exportações brasileiras tanto de forma direta (impulsionando as vendas externas de commodities), como indireta (aumentando as exportações de bens manufaturados para países latino-americanos exportadores de commodities). Por outro lado, o “efeito concorrência”, associado à consolidação da China como produtora e exportadora de produtos manufaturados, afetou negativamente a indústria brasileira por dois canais: a invasão de importados no Brasil e o crescimento das exportações chinesas para mercados tradicionalmente atendidos pela indústria brasileira.
Após 2008, o “efeito concorrência” ganhou intensidade devido à estratégia da China de aumentar sua presença na periferia para compensar a perda de dinamismo das economias centrais, atingidas pela crise global. No âmbito dessa estratégia, aumentaram as exportações chinesas para as principais regiões de destino das vendas externas brasileiras de bens manufaturados – Mercosul, Aladi e Nafta – a ponto de superarem o valor registrado pelo Brasil em 2012.
Para 2015, entre outros indicadores que são analisados nesta Carta, calculamos o nível de ameaça das exportações chinesas às exportações brasileiras. Foram criadas quatro categorias: Ameaça Direta quando, para um produto, há aumento de market-share da China nas regiões selecionadas, ao mesmo tempo em que o Brasil reduz seu market-share; e Ameaça Indireta quando o aumento do market-share da China for maior do que o aumento do market-share do Brasil. Os produtos que não estão sendo ameaçados pelas exportações chinesas foram classificados como Sem Ameaça.
Ainda que nos dois períodos analisados (2008-2012 e 2012-2015) o desempenho, em valor, das exportações chinesas e brasileiras para as regiões selecionadas tenha sido bastante diferente, como mostram os itens abaixo, do ponto de vista do dinamismo e do grau de ameaça, várias tendências negativas identificadas em 2012, que eram motivo de preocupação para o Brasil, não se intensificaram ou mudaram de direção e tendências positivas se intensificaram.
• Exportações brasileiras: crescimento de +1,9% entre 2008 e 2012 e -21,8% entre 2012 e 2015
• Exportações chinesas: crescimento de +47,6% e +8,3%, respectivamente
No que se refere ao grau de ameaça das exportações chinesas, em 2015 elas representavam uma ameaça direta principalmente nos produtos em que o Brasil perdeu oportunidades de mercado, isto é, nos produtos cuja participação na pauta das regiões consideradas neste estudo cresce, mas cuja participação do Brasil cai. Porém, essa ameaça direta da China recuou de 76%, em 2012, para 68,7%, em 2015.
Outro motivo de preocupação em 2012 era a ameaça indireta das exportações da China (de 36,4%) nas exportações de produtos cuja participação na pauta das três regiões estudas crescia assim como a participação do Brasil em tais produtos. Contudo, em 2015, o grau de ameaça indireta das vendas externas chinesas nesses produtos recuou para menos de 5%.
Em termos de região de destino das exportações, no caso dos produtos exportados pelo Brasil que sofriam Ameaça Direta das exportações chinesas e tinham como destino o Nafta, a participação aumentou de 39,5% em 2012 para 45,2% em 2015. Esse resultado é desfavorável, já que no âmbito das três regiões consideradas, o Nafta foi o mercado mais dinâmico no período analisado devido ao desempenho dos Estados Unidos. Em contrapartida, a redução da participação da Aladi neste grupo sob ameaça direta (de 23,4% para 17,3%) é positiva, pois essa região é o principal destino de produtos manufaturados brasileiros.
No que se refere aos produtos que sofreram Ameaça Indireta, o Mercosul foi o principal destino em 2015 (42,2%), assim como nos dois anos anteriores (em 2012 o percentual era um pouco maior, enquanto em 2008 menor). Já as posições do Nafta e da Aladi se inverteram entre 2012 e 2015. A Aladi tornou-se a segunda principal região de destino dessa categoria de produtos em 2015 (29,8%), seguida pelo Nafta (27,9%).
Em suma, considerando os resultados em termos de dinamismo e grau de ameaça, a trajetória de aumento do “efeito-concorrência” das exportações chinesas entre 2008 e 2012 nas principais regiões de destino das exportações brasileiras de produtos manufaturados não persistiu no triênio subsequente. Esta Carta IEDI também traz informações que contribuem para a compreensão das mudanças no perfil do comércio exterior brasileiro em 2015 mencionadas acima, sobretudo o melhor desempenho das exportações da indústria de transformação.
Embora estudos adicionais sejam necessários para identificar de forma mais precisa os determinantes da interrupção da tendência de perda de dinamismo e de market-share das exportações brasileiras nas regiões selecionadas entre 2012 e 2015, é possível identificar alguns fatores externos e internos que contribuíram para este resultado.
Do lado externo, o contexto internacional foi desfavorável tanto do ponto de vista do crescimento da demanda externa como dos preços das commodities, mas a apreciação do dólar no biênio 2014-2015 favoreceu as exportações brasileiras já que significou, igualmente, apreciação da moeda chinesa (a paridade fixa com o dólar foi abandonada em 2010, mas o regime cambial vigente desde então procura manter a cotação do Renminbi relativamente estável em relação à moeda americana).
Do lado interno, dois fatores atuaram positivamente: a desaceleração da atividade econômica, que culminou na recessão em 2015; e, sobretudo, a desvalorização da moeda brasileira em termos reais. Assim, para que as exportações brasileiras de bens manufaturados não retomem aquela tendência, seria fundamental a manutenção da taxa de câmbio em patamares competitivos. A dependência do câmbio pode diminuir ao longo do tempo, desde que fatores relacionados à produtividade/custo de natureza sistêmica (infraestrutura, tributação, custo financeiro) tenham evolução e que a indústria amplie sua produtividade.
Finalmente, é importante mencionar que as exportações brasileiras de bens manufaturados para os países latino-americanos das regiões analisadas também foram negativamente afetadas pelos múltiplos acordos comerciais que têm sido assinados com países externos à região, que acabam beneficiando produtos provenientes de países com vantagens competitivas, como a China. Assim, o governo brasileiro também deve adotar uma estratégia de política que busque um modelo favorável para a penetração de nossas exportações e estimule a integração da indústria brasileira nas cadeias regionais e globais de valor mediante a diversificação da base industrial e investimentos no mercado regional.
Leia o estudo completo neste link: http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_769.html
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
A "concorrencia predatoria" dos chineses: um estimulo aos protecionistas nacionais
Apenas isto: elas fabricam mais barato, ponto.
Durma-se (ou não) com um barulho desses...
Paulo Roberto de Almeida
Sérgio Lamucci, de São Paulo
Jornal "Valor Econômico", 09/11/2011
Preço garante à China 84% da importação de alguns bens
A fatia chinesa nas importações brasileiras de manufaturados ganha terreno rapidamente, chegando em alguns produtos à casa dos 70% ou 80%. De janeiro a setembro, as compras de celulares da China responderam por 70% das importações desses produtos. Nos nove primeiros meses de 2002, o Brasil não havia comprado nenhum celular do país asiático. A China também domina com folga o mercado de importação de outros manufaturados, com 72% dos tecidos de fibras têxteis, sintéticas ou artificiais e 84% dos aparelhos eletromecânicos ou térmicos de uso doméstico (aspiradores de pó e enceradeiras). A fatia total nas compras de manufaturados é mais modesta, de 17%. Um dos motivos é que o Brasil importa muitos automóveis - bens com peso significativo na pauta - da Argentina, México e Coreia do Sul
A participação da China nas importações brasileiras de vários produtos manufaturados disparou nos últimos anos, atingindo em alguns casos proporções muito elevadas. De janeiro a setembro de 2011, as compras de celulares chineses representaram 70% do total importado pelo Brasil desses bens, uma alta forte em relação aos 55% do mesmo período de 2010. Nos nove primeiros meses de 2002 nenhum celular adquirido pelo Brasil do exterior viera da China.
O país asiático também domina com folga o mercado brasileiro de importação de outros manufaturados - a fatia é de 72% nos tecidos de fibras têxteis, sintéticas ou artificiais, de 81% nos brinquedos, de 84% nos aparelhos eletromecânicos ou térmicos de uso doméstico (aspiradores de pó e enceradeiras) e de 53% nas máquinas automáticas para processamento de dados. Já a participação da China no total das compras de manufaturados é mais modesta - ficou em 17,2% de janeiro a setembro deste ano. Os números são do Departamento de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), elaborados com informações do Ministério do Desenvolvimento.
Com o câmbio valorizado por aqui e depreciado por lá, uma mão de obra ainda barata e grandes vantagens de escala, a China consegue vender produtos como esses a preços muito atraentes. De janeiro a setembro, o preço de bombas e compressores chineses ficou 64% abaixo do valor médio de importação desses produtos de outros países. Os motores, geradores e transformadores elétricos da China ficaram quase 40% mais baratos.
O diretor de relações internacionais e comércio exterior da instituição, Roberto Giannetti da Fonseca, diz que a competição chinesa se torna muitas vezes "irresistível", devido à combinação de incentivos fiscais, tributários e financeiros promovidos pelo governo, num cenário marcado por uma moeda artificialmente desvalorizada.
O avanço rápido da fatia chinesa nas importações de alguns produtos impressiona. De janeiro a setembro de 2001, menos de 5% das compras externas de máquinas automáticas para processamento de dados (como caixas de supermercado) vinham da China. No mesmo período deste ano, o percentual chegou a 53%. No caso de tecidos de fibras têxteis, sintéticas e artificiais, o pulo foi de 4% em 2001 para 72% em 2011. Um ponto importante é que muitas empresas de outros países - como dos Estados Unidos, Europa ou Japão - usam a China como plataforma exportadora, dados os baixíssimos custos de produção do país.
O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, aponta três motivos para o aumento forte da China na pauta de importações de manufaturados. "O primeiro é sem dúvida a questão do câmbio", diz ele. "Outro ponto importante é o financiamento aos importadores de produtores chineses, o que ganha relevância quando se negociam produtos de maior valor agregado." Para completar, está em curso um processo de internacionalização das empresas chinesas. Há muitas companhias do país asiático se instalando por aqui, o que eleva a compra de componentes e produtos acabados da China, afirma Sarti.
Ele destaca ainda que, no pós-crise, os fabricantes chineses passaram a olhar o mercado brasileiro com ainda mais atenção, porque o consumo por aqui cresce a taxas bem mais expressivas do que em tradicionais clientes do país asiático, como Estados Unidos e Europa.
Para Sarti, o forte aumento das importações indica que o Brasil está perdendo a oportunidade de aproveitar o dinamismo do mercado interno para "melhorar e adensar a estrutura de suas cadeias produtivas". O mau desempenho da indústria, que pode crescer apenas 1% em 2011, espelha esse fenômeno, segundo ele.
O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, diz que o aumento avassalador da participação de produtos chineses nas importações de alguns manufaturados está longe de ser um fenômeno exclusivamente brasileiro. "Há uma tendência de a China ser o grande produtor de manufaturados no mundo", observa ele, destacando que os pesados custos que recaem sobre a indústria brasileira, como a alta carga tributária, as deficiências de infraestrutura e uma mão de obra mais cara, afetam a competitividade do país. "O câmbio é mais um detalhe."
De janeiro a setembro, a fatia chinesa no total de importações de manufaturados foi pouco superior a 17%, bem menos que os 70% a 80% de alguns produtos. Um dos motivos é que o Brasil importa muitos automóveis da Argentina, do México e da Coreia do Sul, bens com grande peso na pauta. Além disso, o país também compra grandes volumes de óleos combustíveis no exterior, produtos com características de commodities, mas classificados como manufaturados. De qualquer modo, a participação chinesa no total desses bens tem crescido com força - em 2001, era de 2,5%.
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quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Mas aqui em Brasília não têm ônibus: se jã não fossem insuficientes, várias linhas estavam de greve, hoje.
Bem, sempre se pode pensar em ter uma bicicleta.
Mas parece que o governo não ajuda.
Pois é... sempre é a tal de "concorrência desleal".
O Brasil deve er o país que mais sofre no mundo com essa concorrência "predatória".
Deve ser uma conspiração mundial contra o nosso país, coitadinho...
Paulo Roberto de Almeida
Governo aumenta imposto de importação de bicicletas e já estuda elevar IPI
Lobby foi feito pelos fabricantes que estão na Zona Franca de Manaus
São Paulo – Com todas as atenções voltadas ao aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados, uma decisão do governo passou despercebida. As bicicletas trazidas do exterior tiveram o imposto de importação elevado e já há estudos no Ministério da Fazenda para subir o IPI a exemplo do que aconteceu com os veículos.
A Câmara de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento aprovou, há duas semanas, a elevação da alíquota de 20% para 35%, que é a máxima permitida pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). A justificativa para a mudança foi que “o aumento das importações está reduzindo a competitividade da indústria nacional”.Os pneus de borracha utilizados em bicicletas também tiveram a alíquota elevada de 16% para 35%.
No próprio site do ministério há uma nota da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) comemorando a decisão. “É uma vitória de grande impacto para o Polo Industrial de Manaus.”
“As bicicletas vêm apresentando neste ano incremento acentuado na produção, mas, de igual forma, vinham sofrendo com a concorrência desleal dos similares importados. Nesse caso, tanto o bem final quanto um dos seus principais componentes – os pneumáticos para bicicletas, cuja produção em Manaus é a única do país – devem ter ganho de competitividade, fortalecendo a cadeia produtiva regional”, diz a superintendente da SUFRAMA, Flávia Grosso.
domingo, 11 de setembro de 2011
Esperteza chinesa - Suely Caldas (nao estou de acordo)
Os chineses são oportunistas comerciais, manipuladores cambiais?
Certamente.
Mas os problemas brasileiros não se devem à "concorrência predatória" dos chineses, como querem nos fazer acreditar as autoridades comerciais (e todas as outras) e daí atribuir os problemas brasileiras a essa concorrência desleal e, a partir daí, adotar medidas protecionistas, quando os INIMIGOS DOS EMPRESÁRIOS brasileiros não estão lá fora, e sim aqui dentro.
Basta ver a carga fiscal, as dificuldades burocráticas, as ineficiências logísticas, as miséria da infraestrutura, enfim tudo aquilo que já foi chamado de "custo Brasil", para constatar que os INIMIGOS ESTÃO AQUI DENTRO, E ELE SE CHAMA ESTADO BRASILEIRO.
Quando é que empresários e jornalistas vão tomar consciência disso.
Basta isso. O resto é conversa fiada.
Paulo Roberto de Almeida
A esperteza chinesa
Suely Caldas
O Estado de S.Paulo, 11 de setembro de 2011
Em discurso transmitido pela TV na véspera do Dia da Independência, a presidente Dilma Rousseff avisou em tom duro e afirmativo, de quem não quer deixar nenhuma dúvida: "Não vamos permitir ataques às nossas indústrias e aos nossos empregos e não vamos permitir jamais que artigos estrangeiros venham concorrer, de forma desleal, com nossos produtos". Empresários industriais aplaudiram. Em seguida ela prometeu: "Vamos ampliar e defender o mercado interno". Mais aplausos.
Divulgado dois dias antes, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre comprovou uma desaceleração não esperada da produção industrial no País. Em compensação, as importações de bens de consumo cresceram 30,9% até agosto e os automóveis, com expansão de 44,4%, foram o item que mais pesou. Será que o aumento do consumo das famílias, detectado na pesquisa do PIB, vem sendo alimentado pelas importações? O economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), é um dos que acreditam nisso. "O repique do segundo trimestre pode refletir um comportamento indesejado da demanda", analisou, ao observar que produtos importados estão suprindo o aumento do consumo.
O governo quer agir, impedir que se espalhe por outros setores industriais a "invasão" de importados até agora restrita. Mas sustenta que vai fazer tudo "dentro da lei", das regras permitidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), e não vai apelar para artifícios de barreiras comerciais, tributárias e outras práticas protecionistas. Se assim for, parece não haver risco de um retrocesso inimaginável de voltar a fechar a economia ao exterior num mundo tão globalizado. Foi o que garantiu o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, na última quinta-feira, ao correspondente do Estado em Genebra, Jamil Chade.
Se quer perseguir tal objetivo, a presidente precisa apontar para dois alvos: dar maior agilidade e eficiência ao funcionamento do nosso sistema de defesa comercial e, dentro dele, conceber tratamento mais duro para produtos originários da China, que aqui chegam a preços imbatíveis na concorrência com similares nacionais. O yuan desvalorizado, os baixos salários dos trabalhadores chineses e a triangulação com a Argentina para se livrar do imposto de importação são algumas das razões que tornam o produto chinês mais barato do que o nacional.
A China é, hoje, o maior parceiro comercial do Brasil. Entre janeiro e julho deste ano, nossas exportações cresceram 46% em relação ao mesmo período de 2010, somando US$ 24,436 bilhões. Embora o saldo - de US$ 6,748 bilhões - seja favorável ao Brasil, não há diversificação da pauta e 80% das nossas exportações estão concentradas em apenas três produtos: minério de ferro, petróleo e soja. São commodities que a China necessita para viver, alimentar-se, desenvolver sua indústria e gerar seus empregos. Aqui, ela não compra produtos industrializados com maior valor agregado. Mas, na direção contrária, os produtos chineses que chegam ao Brasil são manufaturas de alto padrão, como televisores, telefones e telas de LCD, de elevado valor agregado.
São anêmicos os resultados de entendimentos diplomáticos para a China passar a produzir aqui os produtos que exporta. Na visita que a presidente Dilma Rousseff fez a Pequim, em abril, ela assinou 20 acordos bilaterais e promessas de abertura de uma fábrica de soja na Bahia, outra de equipamentos de informação em Goiás e o polêmico investimento de US$ 20 bilhões da Foxconn, empresa que atua na montagem de produtos eletrônicos para as marcas Apple e Sony e que é conhecida mundialmente pelos inúmeros suicídios cometidos por seus empregados chineses. Até agora são projetos em estudo, promessas, nada de concreto.
Fragilidades. Enquanto os investimentos não chegam, as manufaturas chinesas chegam, questionadas por concorrentes nacionais que denunciam "práticas desleais" de comércio. Do total de 140 processos antidumping abertos pelo Brasil, desde 1980, 35% são contra a China. Na terça-feira passada, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) anunciou aumento, para 35%, da tarifa de importação para sete produtos, dos quais cinco originários da China, entre eles porcelanatos, pneus e bicicletas.
Apesar disso, a fragilidade do sistema de defesa comercial do Brasil impede uma reação mais eficaz contra o comércio desleal. Estudo da professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vera Thorstensen, ex-assessora da missão do Brasil na OMC, concluiu que, enquanto a Índia "não se esquiva" de se defender, o Brasil parece ter "politizado" sua defesa contra a China, temendo ferir suscetibilidades de seu maior parceiro comercial. Queixas da indústria nacional não faltam, mas os instrumentos de defesa (direitos compensatórios, antidumping, sobretaxas), além de tímidos, tornam-se ineficazes diante do yuan desvalorizado e do real apreciado, destaca a professora Vera.
Ela cita dados do Banco Mundial para comparar: de 820 investigações abertas contra a China no mundo, entre 1980 e 2010, os EUA lideram com 157; a Índia tem 133; a União Europeia, 130; e o Brasil tem apenas 47, atrás da Argentina e do México.
Diante de uma crise com expectativa de longa estagnação econômica nos países ricos e retração do comércio mundial, a presidente Dilma Rousseff quer, agora, impor maior agressividade na defesa comercial. Terá de derrotar as resistências políticas no governo e passar a tratar a China como parceiro comercial normal, e não especial. E dar musculatura ao frágil, jovem e inexperiente sistema de defesa comercial.
Enquanto em outros países esse sistema existe desde os anos 70, no Brasil sua estrutura só começou a ser montada em 1997, e até hoje é deficiente, precária, até amadora. Exemplo: o governo brasileiro levou 15 anos para descobrir uma desgastada e comum esperteza dos importadores. Enquanto a investigação de dumping rola - e demora -, eles antecipam importações do produto investigado, estocam e, assim, se livram da sobretaxa que vier a ser decidida. Só na última terça-feira a Camex decidiu cobrar retroativamente a sobretaxa.
Para fortalecer essa estrutura, o Ministério do Desenvolvimento diz que vai contratar 120 novos investigadores e tentar encurtar de 18 meses para 10 meses o prazo de conclusão de uma investigação de dumping.
JORNALISTA, É PROFESSORA DE COMUNICAÇÃO DA PUC-RIO E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Sindicalistas iludidos e os verdadeiros inimigos
cujo presidente é: RICARDO PATAH
DISCREPÂNCIA: qual a discrepância cambial entre Brasil e China? Segundo estimativas do Instituto Peterson ela é abismal, nada menos do que 40% (quarenta por cento mesmo!), o que, em termos de competitividade industrial, é um exagero. Esses 40% são compostos por 25% de desvalorização do yuan frente ao dólar e mais 15% de valorização do real frente ao mesmo dólar. Essa posição da moeda chinesa não deixa de ser um subsídio disfarçado. Há inúmeras formas de compensar essas assimetrias, mas, parece, as medidas têm sido insuficientes. Ultimamente, o governo brasileiro se mostra mais disposto a aplicar sanções e tem tomado atitudes compensatórias, como a elevação de tarifas ou a valoração aduaneira dos produtos importados (para fins tributários). Todavia, continuamos sendo inundados por bugigangas chinesas.
Respondi isto a eles:
Isto, simplesmente, não é verdade: