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domingo, 20 de setembro de 2015

A Grande Fraude dos Artigos "Cientificos" publicados por dinheiro em revistas "cientificas

Um professor de uma das três grandes universidades brasileiras me chama a atenção para a gravidade -- ou seja, o aumento da incidência -- de um problema que eu já tinha detectado tempos atrás, seja por experiência própria, seja alertado por matérias jornalísticas que ocasionalmente chegam ao meu alcance pela leitura de algum dos grande veículos da imprensa nacional. 
Transcrevo aqui a primeira mensagem enviada por esse professor: 
"Trabalho como professor há 30 anos na Uxxx. Constatei que todas as instituições de pesquisa do Brasil estão publicando em revistas de editoras pseudo-científicas do tipo pagou-publicou. Voce abordou o problema em um dos seus posts sobre a Science Publishing Group (os fraudadores científicos). O Qualis da CAPES tem centenas (talvez milhares) de revistas desse tipo. O jornalista Mauricio Tuffani, que tem um BLOG na FOLHA apontou esse problema. Ninguém tomou qualquer providência. Procure no website da Science Publishing Group e encontrará vários artigos de autoria de professores da Uxxx e Uxxx, inclusive professores \"titulares\"."
Esse problema, grave sob qualquer ponto de vista, é o da publicação, por dinheiro ou mediante complacência mútua, de artigos não revisados (ou seja, isentos do julgamento por pares, desde que isso também seja feito seriamente) em veículos existentes de suposta divulgação científica ou, no sentido amplo, acadêmica.
Não tenho tempo, no momento, de escrever a respeito, mas me permito postar aqui as "evidências dos crimes", simples matérias de imprensa sobre repetidos casos nessa área. Não tive tempo de examinar cada um dos links, mas esta postagem é apenas um repositório, ou arquivo temporário, de fontes (primárias ou não, não importa no momento) que podem servir para continuar o debate nesse tema.
Eu mesmo já experimentei o fenômeno de diversas maneiras.
Primeiro, como examinador de artigos, ao receber material sem qualquer qualificação, e que tenho de recusar (mas alguns passam pelo meu moedor de carne e são publicados, a despeito de minha opinião negativa, sinal de que existem outros complacentes, que não leram, ou que simplesmente são coniventes com alguém que eventualmente conheçam).
Em segundo lugar, e ligado a este último fenômeno, a disseminação de veículos de faculdades, sobretudo na minha área, que "precisam" publicar artigos, para obterem, cursos e professores, e o próprio veículo, as famosas pontuações das organizações de fomento, basicamente Capes e CNPq. Acredito que em outros países isso também possa existir, mas não sei com que extensão.
Em terceiro lugar, tive a confirmação, menos de três anos atrás, ao participar de um congresso de história econômica. Na mesma noite de minha apresentação, ou um dia depois, recebi um email de uma "revista científica" pedindo para que eu publicasse minha apresentação naquela revista. Minha primeira reação foi de agradável surpresa: talvez um dos professores presentes, ali estivesse e achou que meu trabalho tinha mérito e queria publicar. Depois fui verificar o tal "veículo", e se tratava de uma arapuca: ou seja, eles garantiam o exame por pares e a publicação, desde que eu "contribuísse" com o empreendimento, ou seja, pagando, eles publicariam qualquer coisa. Imediatamente recuseim obviamente, e o artigo permaneceu inédito por mais dois anos, até ser acolhido por uma outra instituição que realmente o submeteu a exame dos pares, tendo de ser ajustado em diversos pontos formais e substantivos. 
Sempre considerei que se tratasse de um problema dos meios acadêmicos da área de Humanidades, onde a ideologia e a "masturbação sociológica" (copyright Sérgio Mota) campeiam e imperam à solta, e com avassaladora extensão.
Mas parece que nos meios das hard sciences também prevalece a prática.
Recentemente li um artigo criticando a produção científica brasileira, justamente crescente, em quantidade, mas de qualidade abaixo do aceitável.
Enfim, não vou me estender agora sobre o problema, mas quero deixar registro das matérias abaixo, para informação dos incautos e eventual investigação dos jornalistas e dos colegas acadêmicos que prezam a qualidade do trabalho que fazem.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20 de setembro de 2015

 Material de referência para pesquisa e investigação:

Who's Afraid of Peer Review?

O ponto interessante é que mostra uma revista Brasileira - Genetics and Molecular Research - onde o jornalista documentou a ausência de revisão pelos pares e revelou a cobrança de $ 820 USD pagáveis numa conta pessoal dos EUA. A revista continua com a mais alta classificação no Qualis da CAPES.


* 03/04/2015 - Sobe para 235 a lista de 'predatórios' na pós-graduação brasileira

* 01/04/2015 - O Qualis e o silêncio dos pesquisadores brasileiros

* 26/03/2015 - A editora predatória e sua falácia da autoridade

* 16/03/2015 - Avaliação de revistas científicas no Brasil é 'quântica'

* 09/03/2015 - Pós-graduação brasileira aceita 201 revistas 'predatórias'

* 07/03/2015 - Na ciência, o ruim para a Malásia é bom para o Brasil

* 06/03/2015 - Falso professor edita revista selecionada pela Capes

* 03/03/2015 - REPORTAGEM Eventos científicos "caça-níqueis" preocupam cientistas brasileiros

* 06/01/2015 - Rogerio Cezar de Cerqueira Leite

* 10/12/2014 - Uma praga da ciência brasileira: os artigos de segunda

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Chantagem de academicos por editoras predatorias: atenção autores

Esta semana, logo depois de voltar de um encontro acadêmico em Baltimore (38th Annual Conference, Economic & Business Historical Society), onde apresentei um paper muito simples (“Brazilian Economic Historiography: an essay on bibliographical synthesis”), recebi uma proposta de publicação na History Research (ISSN: 2159-550X), revista que eu desconhecia. Fui verificar os termos da publicação e lá constava a seguinte cláusula:
"If the paper is accepted by our journal, the author should finance some of the publishing costs."
Curioso para saber as condições exatas de publicação -- embora eu não tivesse nenhuma intenção de fazê-lo -- indaguei sobre essa cláusula.
Recebi a seguinte resposta do suposto editor, que me parece mais um predador:
"As for the fee, because there is no sponsor for us and we have to charge some fees to run our journal. Please understand us and support us !".
Como para confirmar o caráter mercantil do negócio editorial, vinha logo em seguida o "esclarecimento":
"According to the policy of our journal, the flat price is US$ 50/page (about 500 words). When your paper is published, we will send 2 hard copies to you. If the paper is over 15 pages, we can give you a  discount."
Deixei claro que não tinha a intenção de publicar com eles, mas é o caso de permanecer vigilante.
Hoje, ao ler o Observatório da Imprensa, deparei-me com o artigo traduzido, transcrito abaixo.
Atenção autores...
Paulo Roberto de Almeida


JORNALISMO CIENTÍFICO

Editora quer processar blogueiro em US$ 1 bilhão

Observatório da Imprensa, 28/05/2013 na edição 748
Tradução de Rodrigo Neves, edição de Larriza Thurler. Informações de Jake New [“Publisher Threatens to Sue Blogger for $1-Billion”, The Chronicle, 15/5/13]         
Jeffrey Beall, bibliotecário da Universidade do Colorado e dono do blog Schorlaly Open Access, onde mantém uma lista de publicações de acesso aberto e de editoras que ele considera como questionáveis ou predatórias, está sendo ameaçado de processo judicial por uma editora indiana presente na lista.
A editora, OMICS Publishing Group, quer 1 bilhão de dólares (o equivalente a R$ 2 bilhões) em indenização, além de ameaçar Beall com uma pena de três anos de prisão, de acordo com as leis indianas. O bibliotecário recebeu uma carta da IP Markets, firma que administra direitos autorais, no dia 14 de maio. “Achei a carta má escrita e pessoalmente ameaçadora”, disse Beall. “Eu acho a carta é uma tentativa de desviar atenção das práticas editoriais da OMICS”.
O blog e a lista, conhecida por bibliotecários e professores como a “Lista Beall”, levou o bibliotecário a aparecer em veículos como New York TimesNature e The Chronicle. A lista possui mais de 250 editoras que ele considera como “potencialmente ou provavelmente predatórias”, que tiram vantagem de acadêmicos desesperados para publicar seus artigos.
As práticas do OMICS Group receberam atenção de Beall e outros jornais, que descobriram que dos 200 periódicos listados pelo grupo, somente 60 haviam publicado algo. O dono da empresa, Srinu Babu Gedela, disse que a OMCIS não é uma “editora predatória” e que está a caminho de se tornar “uma referência em acesso aberto para a ciência”. A IP Markets diz que a OMICS começou há seis anos e possui 500 funcionários.
Processo “problemático”
Em seu blog, Beall acusa a empresa de assediar acadêmicos com convites para publicação e aceitar seus artigos rapidamente, para depois cobrar US$ 3 mil por despesas de impressão. Beall também acusa a OMICS de usar nomes de professores sem suas permissões para atrair público para conferências enganosas, com títulos parecidos com encontros mais respeitados.
Em uma entrevista, Ashok Ram Kumar, advogado da IP Markets, repetidamente apontou para a criminalidade dos posts de Beall. A carta enviada ao bibliotecário faz diversas exigências, como remover suas postagens e enviar e-mails para jornais denunciando seu próprio site. No entanto, mesmo se Beall seguir as exigências, Kumar disse que seu cliente ainda tem intenção de fazer o bibliotecário enfrentar um processo penal. “O que ele escreveu é altamente inapropriado”, disse Kumar, “Ele não deveria ter feito algo assim. Ele cometeu uma ofensa criminal séria”.
Jonathan Bloom, advogado da Weil, Gotshal & Manges, em Nova York, disse que a ação se parece mais com um golpe publicitário. “Às vezes as pessoas só querem estufar seus peitos, indicar sua reputação e intimar as pessoas que as criticam”, disse.
Bloom também acha que a efetividade do processo depende se ele será encaminhado nos EUA ou na Índia, uma decisão que a OMICS ainda não tomou. Se o processo for conduzido nos EUA, Beall provavelmente ganharia. Se for encaminhado na Índia, o resultado é menos claro, mas Bloom acha improvável que Beall tenha que pagar a indenização de US$ 1 bilhão. “Mas mesmo se você saia ganhando no fim, ser forçado a enfrentar um processo é problemático”, disse Bloom. “É custoso e pode prejudicar sua reputação”.
Não é a primeira vez que Beall é ameaçado de um processo. Em fevereiro, o Canadian Center of Science and Education ameaçou processá-lo depois de incluir o instituto em seu blog. No entanto, ele não sabe se o centro seguiu com sua ameaça.