Transcrevo aqui a primeira mensagem enviada por esse professor:
"Trabalho como professor há 30 anos na Uxxx. Constatei que todas as instituições de pesquisa do Brasil estão publicando em revistas de editoras pseudo-científicas do tipo pagou-publicou. Voce abordou o problema em um dos seus posts sobre a Science Publishing Group (os fraudadores científicos). O Qualis da CAPES tem centenas (talvez milhares) de revistas desse tipo. O jornalista Mauricio Tuffani, que tem um BLOG na FOLHA apontou esse problema. Ninguém tomou qualquer providência. Procure no website da Science Publishing Group e encontrará vários artigos de autoria de professores da Uxxx e Uxxx, inclusive professores \"titulares\"."
Esse problema, grave sob qualquer ponto de vista, é o da publicação, por dinheiro ou mediante complacência mútua, de artigos não revisados (ou seja, isentos do julgamento por pares, desde que isso também seja feito seriamente) em veículos existentes de suposta divulgação científica ou, no sentido amplo, acadêmica.
Não tenho tempo, no momento, de escrever a respeito, mas me permito postar aqui as "evidências dos crimes", simples matérias de imprensa sobre repetidos casos nessa área. Não tive tempo de examinar cada um dos links, mas esta postagem é apenas um repositório, ou arquivo temporário, de fontes (primárias ou não, não importa no momento) que podem servir para continuar o debate nesse tema.
Eu mesmo já experimentei o fenômeno de diversas maneiras.
Primeiro, como examinador de artigos, ao receber material sem qualquer qualificação, e que tenho de recusar (mas alguns passam pelo meu moedor de carne e são publicados, a despeito de minha opinião negativa, sinal de que existem outros complacentes, que não leram, ou que simplesmente são coniventes com alguém que eventualmente conheçam).
Em segundo lugar, e ligado a este último fenômeno, a disseminação de veículos de faculdades, sobretudo na minha área, que "precisam" publicar artigos, para obterem, cursos e professores, e o próprio veículo, as famosas pontuações das organizações de fomento, basicamente Capes e CNPq. Acredito que em outros países isso também possa existir, mas não sei com que extensão.
Em terceiro lugar, tive a confirmação, menos de três anos atrás, ao participar de um congresso de história econômica. Na mesma noite de minha apresentação, ou um dia depois, recebi um email de uma "revista científica" pedindo para que eu publicasse minha apresentação naquela revista. Minha primeira reação foi de agradável surpresa: talvez um dos professores presentes, ali estivesse e achou que meu trabalho tinha mérito e queria publicar. Depois fui verificar o tal "veículo", e se tratava de uma arapuca: ou seja, eles garantiam o exame por pares e a publicação, desde que eu "contribuísse" com o empreendimento, ou seja, pagando, eles publicariam qualquer coisa. Imediatamente recuseim obviamente, e o artigo permaneceu inédito por mais dois anos, até ser acolhido por uma outra instituição que realmente o submeteu a exame dos pares, tendo de ser ajustado em diversos pontos formais e substantivos.
Sempre considerei que se tratasse de um problema dos meios acadêmicos da área de Humanidades, onde a ideologia e a "masturbação sociológica" (copyright Sérgio Mota) campeiam e imperam à solta, e com avassaladora extensão.
Mas parece que nos meios das hard sciences também prevalece a prática.
Recentemente li um artigo criticando a produção científica brasileira, justamente crescente, em quantidade, mas de qualidade abaixo do aceitável.
Enfim, não vou me estender agora sobre o problema, mas quero deixar registro das matérias abaixo, para informação dos incautos e eventual investigação dos jornalistas e dos colegas acadêmicos que prezam a qualidade do trabalho que fazem.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20 de setembro de 2015