Paulo Roberto de Almeida
Aproveito um texto anterior, para reafirmar algumas simples ideias sobre mim mesmo:
O que vai transcrito abaixo é uma espécie de declaração de princípios e
valores, feitos ao sabor do teclado, sem preparação e sem reflexão, apenas
juntando os elementos que acredito essenciais numa vida dedicada à leitura, à
reflexão, ao ensino, enfim, ao conhecimento e à inteligência. Ele passa por uma
mensagem unilateral e erga omnes...
Amor: a Carmen Lícia, e a toda a minha família,
que ainda vai crescer;
Atitude
geral:
ceticismo sadio;
Paixão: pelos livros, em todas as suas formas, de
quaisquer idades, tempo e lugares;
Comportamento: contrarianista tranquilo;
Educação: de preferência autodidata, nas leituras,
nas viagens, na observação do mundo, tal como ele é, nas experiências da vida,
mais do que nas instituições regulares;
Dedicação: ao ensino, à transmissão do conhecimento,
pois é uma forma de aprender;
Ideologia: a da racionalidade, que também pode ser
uma mania ilusória;
Religião: nenhuma em especial, ou nenhuma tout court, ou seja, irreligiosidade
total e absoluta, mas profundo respeito pelas religiões (não todas, como podem
ser essas “teologias da prosperidade” ou aquelas muito intolerantes), pois elas
estão e estarão conosco por toda a existência humana, quer gostemos ou não;
Vocação: não muito bem definida: entre aprender,
ensinar, propor, enfim, aquela mania que tem todo letrado pretensioso de ser
conselheiro do príncipe, sem desejar sê-lo verdadeiramente, pois sabe que
príncipes não seguem os pretensos conselheiros;
Projeto
de vida:
colaborar nesse vasto empreendimento reformista para deixar o Brasil um
pouquinho melhor, quando eu o deixar (ou quando ele me deixar), do que o país
que eu encontrei, quando tomei consciência, na minha primeira adolescência, da
porcaria que era em termos sociais, humanos, educacionais e políticos;
Aspiração: que toda criança pobre, ou da
modestíssima condição social como era a da minha família, em minha infância,
pudesse ter, atualmente, uma educação pública comparável em qualidade à de que
eu desfrutei, em décadas passadas, e que me habilitaram, justamente, com a
biblioteca infantil que frequentei desde antes de aprender a ler, a adquirir as
alavancas necessárias para ascender na escala social, apenas pela dedicação ao
estudo, pelo conhecimento acumulado, pelo saber adquirido autodidaticamente, pelo
esforço próprio, enfim;
Alergia: à burrice, não à ignorância dos que não
tiveram chance de aprender, mas à obtusidade daqueles que tendo chance de o
fazer, preferiram ficar na escuridão;
Aversão: à estupidez de certos letrados, por
fundamentalismo, ideologia, oportunismo ou qualquer outro motivo não legítimo;
Objetos
de desejo:
livros, sobretudo aqueles antigos, não mais disponíveis em livrarias, e
difíceis de encontrar em bibliotecas medíocres como são as nossas;
Mania: de ler o tempo todo, em qualquer
circunstância, em qualquer lugar (menos no banho pois já fizeram livros
digitais mas ainda não impermeáveis, a não ser os de bebês), mania que pode
irritar quem me dirige a palavra nos momentos de concentração, e quando eu
respondo “sim, sim...”;
Escola
econômica:
aquela que apresenta os melhores resultados práticos, com pouca, ou até nenhuma
teoria; já passou da hora de aderir a este ou aquele guru das “melhores
receitas econômicas”, e se contentar com a modesta racionalidade dos
procedimentos testados e aferidos como efetivos; eles geralmente passam mais
pelos mercados livres do que pela regulação estatal (mas reconheço que parece
impossível desembaraçar-se desses ogros famélicos que nos dominam;
Filosofia
política: a
da maior liberdade individual, o que não chega a ser uma filosofia política,
mas é um princípio de vida a que se chega depois de se conhecer todas as
construções humanas que pretenderam organizar a vida em sociedade;
Política
prática:
nunca fazer parte de nenhum partido, nunca adentrar na política com ares de
salvador da pátria, mas observar e estudar a todos meticulosamente, pois
dependemos todos, quer queiramos ou não, da atividade daqueles que se dirigem à
política por vocação, por interesse pessoal, por oportunismo, ou por qualquer
outro motivo não confessado;
Time
de futebol:
nenhum, absolutamente nenhum; apenas apreciando alguns jogos; tenho horror a essas torcidas de bárbaros fanatizados;
Lei: a do maior esforço, ou seja, nunca se
contentar com as explicações simplistas, mas sempre questionar o fundamento de
qualquer afirmação ou argumento que lhe apresentarem;
Responsabilidade: totalmente individual, ou seja, nunca
atribuir à sociedade, ao Estado, ou até à família, aquelas bobagens que
cometemos, que são cometidas por seres totalmente adultos e absolutamente
responsáveis pelos seus atos;
Desafio
constante:
procurar defender o que se acha certo, aquilo de que se tem certeza de ser o
melhor, mesmo em detrimento da conveniência pessoal, ou de interesses
momentâneos;
Princípio,
valor e finalidade de vida: sempre aprender, sempre procurar transmitir o que se
sabe (as vezes até o que não se sabe exatamente também, mas que se desconfia que
pode ser útil), sempre fazer o melhor dentro das possibilidade de cada um, nos
limites da capacidade individual;
Finalizando: procurar fazer tudo o que me dá prazer
intelectual...
Addendum: ficaram faltando alguns elementos
indispensáveis na vida mundana:
Dinheiro: justo o necessário para comprar livros,
viajar, frequentar restaurantes italianos de
par le monde; o resto é mesada para pequenas despesas...;
Bebida: sem maiores vícios: taças de vinho nas
refeições, cervejinha nas horas vagas;
Outros
vícios?: quase
nenhum: não jogo, não fumo, não faço apostas, não assino correntes em favor ou
contra qualquer coisa, inclusive em prol de distribuição gratuita de livros;
basta-me uma velha mania...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2016