O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 2 de junho de 2024

Uma escolha reveladora quanto aos princípios: Lula fica do lado da Rússia- Paulo Roberto de Almeida

Uma escolha reveladora quanto aos princípios

Na guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, o governo Lula preferiu ficar do lado do agressor

Paulo Roberto de Almeida 

O fato de Lula-Amorim terem praticamente alinhado o Brasil ao campo das duas grandes autocracias que pretendem construir, com o apoio já declarado de Lula, uma “nova ordem global” (mal definida, mas claramente orientada contra o Ocidente), pode não trazer retaliações diretas dos principais países ocidentais, mas já delimita uma postura diplomática, que será levada em conta em outros campos da agenda mundial. 

A brutalidade, todos os dias revelada, da agressão russa contra a Ucrânia, vai pesar na percepção interna e externa da política externa do governo Lula como sendo um elemento a mais numa posição que não é de estrita neutralidade, como alegado, mas de apoio objetivo aos interesses russos.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 2/06/2024

domingo, 24 de maio de 2020

Dez coisas que aprendi ao longo da vida (2003) - Paulo Roberto de Almeida

Dez coisas que aprendi ao longo da vida
(e que nunca é demais lembrar porque nelas não se presta atenção)

Paulo Roberto de Almeida


1. Não se deve generalizar situações, tipos e ocorrências

2. Nunca se deve absolutizar avaliações e julgamentos.

3. Não se deve fazer previsões sobre comportamentos.

4. Não se deve deixar a religião interferir com a vida civil.

5. Os resultados são sempre mais importantes do que as intenções, mas os fins não justificam os meios.

6. Interpretações e diagnósticos são sempre parciais e limitados e as ideologias derivam diretamente deles.

7. A justiça distributiva deve ser praticada sobre os fluxos, não sobre os estoques. 

8. Direitos humanos não precisam ser “contemplativos”, eles podem ser “ofensivos”; o respeito das diferenças pode preservar situações de discriminação absoluta.

9. Soberania estatal é um conceito caduco no plano das liberdades individuais.

10. A educação deve ser obrigatória, contínua e de preferência complementada por formação humanista. 

Washington, 19 maio 2003

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Valores e principios (apenas alguns) - Paulo Roberto de Almeida



Paulo Roberto de Almeida

Aproveito um texto anterior, para reafirmar algumas simples ideias sobre mim mesmo:


O que vai transcrito abaixo é uma espécie de declaração de princípios e valores, feitos ao sabor do teclado, sem preparação e sem reflexão, apenas juntando os elementos que acredito essenciais numa vida dedicada à leitura, à reflexão, ao ensino, enfim, ao conhecimento e à inteligência. Ele passa por uma mensagem unilateral e erga omnes...

Amor: a Carmen Lícia, e a toda a minha família, que ainda vai crescer;
Atitude geral: ceticismo sadio;
Paixão: pelos livros, em todas as suas formas, de quaisquer idades, tempo e lugares;
Comportamento: contrarianista tranquilo;
Educação: de preferência autodidata, nas leituras, nas viagens, na observação do mundo, tal como ele é, nas experiências da vida, mais do que nas instituições regulares;
Dedicação: ao ensino, à transmissão do conhecimento, pois é uma forma de aprender;
Ideologia: a da racionalidade, que também pode ser uma mania ilusória;
Religião: nenhuma em especial, ou nenhuma tout court, ou seja, irreligiosidade total e absoluta, mas profundo respeito pelas religiões (não todas, como podem ser essas “teologias da prosperidade” ou aquelas muito intolerantes), pois elas estão e estarão conosco por toda a existência humana, quer gostemos ou não;
Vocação: não muito bem definida: entre aprender, ensinar, propor, enfim, aquela mania que tem todo letrado pretensioso de ser conselheiro do príncipe, sem desejar sê-lo verdadeiramente, pois sabe que príncipes não seguem os pretensos conselheiros;
Projeto de vida: colaborar nesse vasto empreendimento reformista para deixar o Brasil um pouquinho melhor, quando eu o deixar (ou quando ele me deixar), do que o país que eu encontrei, quando tomei consciência, na minha primeira adolescência, da porcaria que era em termos sociais, humanos, educacionais e políticos;
Aspiração: que toda criança pobre, ou da modestíssima condição social como era a da minha família, em minha infância, pudesse ter, atualmente, uma educação pública comparável em qualidade à de que eu desfrutei, em décadas passadas, e que me habilitaram, justamente, com a biblioteca infantil que frequentei desde antes de aprender a ler, a adquirir as alavancas necessárias para ascender na escala social, apenas pela dedicação ao estudo, pelo conhecimento acumulado, pelo saber adquirido autodidaticamente, pelo esforço próprio, enfim;
Alergia: à burrice, não à ignorância dos que não tiveram chance de aprender, mas à obtusidade daqueles que tendo chance de o fazer, preferiram ficar na escuridão;
Aversão: à estupidez de certos letrados, por fundamentalismo, ideologia, oportunismo ou qualquer outro motivo não legítimo;
Objetos de desejo: livros, sobretudo aqueles antigos, não mais disponíveis em livrarias, e difíceis de encontrar em bibliotecas medíocres como são as nossas;
Mania: de ler o tempo todo, em qualquer circunstância, em qualquer lugar (menos no banho pois já fizeram livros digitais mas ainda não impermeáveis, a não ser os de bebês), mania que pode irritar quem me dirige a palavra nos momentos de concentração, e quando eu respondo “sim, sim...”;
Escola econômica: aquela que apresenta os melhores resultados práticos, com pouca, ou até nenhuma teoria; já passou da hora de aderir a este ou aquele guru das “melhores receitas econômicas”, e se contentar com a modesta racionalidade dos procedimentos testados e aferidos como efetivos; eles geralmente passam mais pelos mercados livres do que pela regulação estatal (mas reconheço que parece impossível desembaraçar-se desses ogros famélicos que nos dominam;
Filosofia política: a da maior liberdade individual, o que não chega a ser uma filosofia política, mas é um princípio de vida a que se chega depois de se conhecer todas as construções humanas que pretenderam organizar a vida em sociedade;
Política prática: nunca fazer parte de nenhum partido, nunca adentrar na política com ares de salvador da pátria, mas observar e estudar a todos meticulosamente, pois dependemos todos, quer queiramos ou não, da atividade daqueles que se dirigem à política por vocação, por interesse pessoal, por oportunismo, ou por qualquer outro motivo não confessado;
Time de futebol: nenhum, absolutamente nenhum; apenas apreciando alguns jogos; tenho horror a essas torcidas de bárbaros fanatizados;
Lei: a do maior esforço, ou seja, nunca se contentar com as explicações simplistas, mas sempre questionar o fundamento de qualquer afirmação ou argumento que lhe apresentarem;
Responsabilidade: totalmente individual, ou seja, nunca atribuir à sociedade, ao Estado, ou até à família, aquelas bobagens que cometemos, que são cometidas por seres totalmente adultos e absolutamente responsáveis pelos seus atos;
Desafio constante: procurar defender o que se acha certo, aquilo de que se tem certeza de ser o melhor, mesmo em detrimento da conveniência pessoal, ou de interesses momentâneos;
Princípio, valor e finalidade de vida: sempre aprender, sempre procurar transmitir o que se sabe (as vezes até o que não se sabe exatamente também, mas que se desconfia que pode ser útil), sempre fazer o melhor dentro das possibilidade de cada um, nos limites da capacidade individual;
Finalizando: procurar fazer tudo o que me dá prazer intelectual...

Addendum: ficaram faltando alguns elementos indispensáveis na vida mundana:
Dinheiro: justo o necessário para comprar livros, viajar, frequentar restaurantes italianos de par le monde; o resto é mesada para pequenas despesas...;
Bebida: sem maiores vícios: taças de vinho nas refeições, cervejinha nas horas vagas;
Outros vícios?: quase nenhum: não jogo, não fumo, não faço apostas, não assino correntes em favor ou contra qualquer coisa, inclusive em prol de distribuição gratuita de livros; basta-me uma velha mania...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2016

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Indonesia e seus principios de poder: soberania, independencia economica, carater cultural distinto - comentários

O novo governo da Indonésia proclamou, em declaração formal, seus novos princípios de atuação.
Eles são três, e eu indico abaixo com simples comentários a respeito:

1) Soberania política: creio ser absolutamente dispensável tal tipo de declaração, tal manifestação principista, sequer a invocação da questão. Tem-se como dado inerente a qualquer Estado, mesmo o mais humilde, o mais pobre, o mais periférico, o exercício da soberania, que se exerce na prática, naturalmente, e dispensa qualquer declaração ou repetição. Reiterações dessa "coisa" pode ser um desconforto psicológico ou uma dúvida quanto a seus atributos próprios.

2) Independência econômica: Algo inatingível, irracional, e até prejudicial, a qualquer país, em qualquer época, e qualquer circunstância. A melhor situação, de maior bem-estar, é sempre a interdependência econômica, segundo velhos princípios ricardianos, de acordo com a total liberdade dos agentes diretos da prosperidade nacional. Qualquer obrigação estatal de "independência" é ilusória e constrangedora das liberdades econômicas, ou seja, torna o Estado e os cidadãos mais pobres, e menos inseridos na riqueza e na diversidade da economia global. Por definição primária, a soma de realizações, inovações e acumulação de riqueza no plano mundial é, e sempre será, bem maior e mais diversificada do que qualquer desempenho nacional, certo? Então, esqueça isso.

3) Caráter cultural distinto: Todo país é resultado de uma história complexa e contraditória, com aportes de seu próprio povo -- o que sempre será distinto de qualquer outra identidade cultural -- e de outros povos, via importações, imigrantes, turismo, internet, etc. Afirmações culturais são próprias do povo, da comunidade, não atributos do Estado. Ele não precisa se meter com cultura, pois não é o seu terreno próprio. Dispensável a afirmação, portanto...

Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Aviso aos navegantes (deste blog) - Paulo Roberto de Almeida

Apenas um comentário circunstancial, mas essencial e revelador do espírito deste blog, e o de seu modesto animador.

Este é um espaço livre, de liberdade total, no qual vigora a autoridade do argumento, não o argumento da autoridade. Não existe censura ou ameaça que o faça desviar de sua missão: informar, esclarecer, defender a honestidade intelectual e a racionalidade econômica, contribuir para uma solução factível e eficiente dos graves problemas com que se defronta a nação brasileira, atualmente.

Simpatizantes e adversários deste blog, amigos e inimigos deste animador, aliados ou adversários de seus valores, princípios e causas, sempre encontrarão aqui materiais diversos, por vezes inteligentes, algumas vezes até estúpidos, totalmente contrários aos valores que defende seu animador.
Mas todos eles são importantes para um debate livre, se possível inteligente, em torno dos problemas do Brasil, enquanto Nação, não enquanto Estado.
O ponto de vista aqui defendido será sempre o do indivíduo, em total liberdade, jamais o do Estado, de partidos, de movimentos, grupos religiosos, ou quaisquer associações de interesses. Jamais.
Vale a liberdade de expressão e a de consciência, não a subordinação a manifestos ou programas partidários.
O Brasil enfrenta atualmente ameaças graves à continuidade de sua evolução social e societal a patamares mais elevados de institucionalidade e de respeito às liberdades democráticas, derivadas de instintos e vontades totalitárias que se coalizam para tentar implantar esse fascismo corporativo já bem visível em diversas agências públicas e grupos partidários.
As mesmas ameaças, estatizantes, dirigistas, cerceadoras da liberdade de indivíduos e de empresas, também se manifestam, manietando e distorcendo o crescimento econômico e o progresso social do país, no fundo prejudicando a prosperidade individual e as liberdades coletivas dos brasileiros.
No que depender deste blog e do seu animador, essas ameaças sempre serão denunciadas e combatidas.
Este é, se quiserem, um manifesto de princípios e uma declaração de intenções.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 19 de junho de 2013