O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador religião. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador religião. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Mistura de religião com política, fazendo do Estado laico um Estado religioso: O Itamaraty degrada o sentido do Estado (Revista Forum)

 Em conferência religiosa, Ernesto Araújo diz que “politicamente correto” é tão grave “quanto a violência física”


Sem citar dados, ministro das Relações Exteriores falou em "cristofobia", acusou Maduro de perseguir cristãos e afirmou que o materialismo "não é compatível com sociedades livres"
Marcelo Hailer 
Revista Fórum, 19 nov 2020 - 10:30

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, participou esta semana do encontro da International Religious Freedom of Belief Alliance (em português, Aliança para a Liberdade de Religião ou Crença) e, sem apresentar dados e fontes, afirmou que “oito cristãos são mortos por dia no mundo” e que são a parcela religiosa mais perseguida.

Araújo falou a respeito de perseguição contra as minorias religiosas e que estas são “oprimidas em todo o mundo”, mas, em momento algum falou sobre os ataques contra as religiões de matriz afro dentro do Brasil. “Nenhuma fé está a salvo da intolerância e da perseguição e os cristão estão entre suas principais vítimas”, declarou Araújo.

Ao misturar a concepção de Estado e democracia com fé, o ministro afirmou que “a liberdade religiosa não é algo que a sociedade democrática deveria apenas tolerar, como se a religião fosse apenas um corpo estranho. Religião, fé e vida espiritual devem ser consideradas fundamentais para a democracia”.

Também fez ataque a outras concepções de mundo, como a materialista, ao dizer que esta é incompatível com a liberdade. “As pessoas só podem ser livres na medida em que preservam a dimensão espiritual interior. O materialismo não é compatível com sociedades livres. A concepção materialista do mundo e da vida encerra o ser humano em uma prisão de impulso e satisfação sem nenhuma aspiração mais elevada, tornando-o presa fácil dos ditames políticos do momento”, criticou o ministro.

Para Araújo, apenas a comunicação com Deus pode livrar as pessoas da opressão. “Somente se puder se comunicar com o que está acima e além, o ser humano poderá escapar do ciclo de controle e opressão”, disse.

Na sua fala, Araújo afirma que o presidente Bolsonaro defende “ativamente a liberdade religiosa no Brasil e no exterior”. Destacou, como uma das ações de Bolsonaro, em defesa da liberdade religiosa, de que os cultos religiosos não fossem interrompidos durante o lockdown, método realizado no mundo para evitar a propagação do coronavírus.

Ao dizer que o governo brasileiro defende a liberdade das religiões, o ministro disse que “ao mesmo tempo, também reconhecemos nossa fé religiosa predominante, o cristianismo como fundamento e pilar de nossa identidade nacional”. Além disso, Araújo resgatou a fala de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, de que é preciso uma aliança internacional para “combater a cristofobia”.

Novamente, sem citar fontes, o ministro volta a dizer que os cristãos são perseguidos e que enfrentam “dificuldades e desafio para expressar sua fé e viver e e praticar suas religiões no mundo de hoje”. E, como é de praxe do ministro, voltou a atacar “a cultura dominante” e o “politicamente correto”.

“A cultura dominante, formada em torno do politicamente correto, não reconhece o devido lugar da religião e da dimensão espiritual na vida humana. Ela trata a fé com desprezo e hostilidade. Isso talvez não seja menos sério do que a violência física e a perseguição. É mais sutil e pernicioso do que a violência porque deslegitima a fé nas mentes das pessoas”, analisou.

O ministro também aproveitou a sua fala para atacar o governo de Nicolás Maduro. “Na Venezuela, os crimes de Maduro contra a humanidade não poupam os fiéis. Cardeais denunciaram seu uso de leis anti-ódio para processar católicos que se manifestaram contra ele”, criticou.

Ao término de seu discurso, o ministro Ernesto Araújo anuncia que o Brasil vai sediar, em 2021, A Reunião Ministerial para a Promoção da Liberdade de Religião ou Crença e o Fórum de Ministros da Aliança Internacional para a Liberdade de Religião ou Crença.

Abaixo, confira a fala do ministro na íntegra (vídeos)

https://revistaforum.com.br/noticias/em-conferencia-religiosa-ernesto-araujo-diz-que-politicamente-correto-e-tao-grave-quanto-a-violencia-fisica/

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Brasil leva religião à ONU e mina projetos que citam educação sexual - Jamil Chade (UOL)

Brasil leva religião à ONU e mina projetos que citam educação sexual

Jamil Chade
UOL Noticias, 15/07/2020
CAROLINA ANTUNES/PR
Imagem: CAROLINA ANTUNES/PR 
Nesta semana, duas resoluções sob consideração na ONU (Organização das Nações Unidas) mostram a influência dos grupos evangélicos na formulação da política externa brasileira. O posicionamento do governo brasileiro, calcado em noções ultraconservadoras e religiosas, gerou a incompreensão de diplomatas estrangeiros e foi recebido com choque pelas demais delegações.
O posicionamento do Brasil vai na direção de se colocar internacionalmente como nação contra o aborto, e para isso há um esforço na diplomacia nacional de abafar quaisquer menções a educação sexual e saúde reprodutiva, assim como evitar essas discussões até mesmo quando o assunto é a proteção a vítimas de mutilação genital na África, por exemplo.

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas irá avaliar entre quinta e sexta-feira um projeto para combater a discriminação contra as mulheres e outro para lutar contra a mutilação genital feminina. Em ambos os textos, durante as reuniões de negociação, o delegado do Itamaraty na sala leu instruções de Brasília que pediam mudanças profundas nos textos. Todas elas interpretadas pelas demais delegações como tendo o objetivo de limitar — e não expandir — direitos.
No projeto contra discriminação na ONU, por exemplo, o Brasil se aliou à Arábia Saudita para vetar a inclusão do termo "educação sexual".
Já no texto proposto por países africanos para banir a mutilação genital feminina, o Itamaraty se opõe a citar "saúde sexual e reprodutiva".
Ainda que o governo brasileiro defenda lutar contra esse flagelo que atinge cerca de 3 milhões de meninas por ano, o temor da nova ultraconservadora representação do Brasil é que, no futuro, a expressão seja usada para justificar práticas de aborto.
Os autores dos textos negam qualquer relação com a interrupção da gravidez e apontam que, no caso da mutilação, o acesso a informações e direitos pode significar a diferença entre a vida e a morte dessas mulheres.
Na ONU, a posição do Brasil nas resoluções propostas não ganhará adeptos suficientes fora do mundo islâmico e os autores dos textos que serão considerados já indicaram que não irão acatar os pedidos do Itamaraty. Um dos cenários deve ser o da adoção do texto por consenso, e eventualmente um pedido de esclarecimento do governo brasileiro sobre sua posição.
Internamente, o Itamaraty se defenderá dizendo que tentou fazer a mudança solicitada e que marcou sua posição. Mas que não foi aceita.

Guinada conservadora isola Brasil entre latino-americanos

Em Brasília, na sede do Itamaraty, as orientações dadas pela cúpula do ministério também causaram indignação dos próprios funcionários na capital federal. A conduta também vem isolando o Brasil na América Latina, o único a adotar essa posição em toda a região.
O episódio está longe de ser inédito. A posição do Brasil vem sendo aplicada em diversas reuniões e propostas sob debate nas Nações Unidas. O Itamaraty passou a traduzir em sua política externa uma visão em que só existe o sexo biológico e que não existiria consenso sobre o acesso à saúde sexual e reprodutiva.
No entanto, o que surpreendeu os demais países é que, nesse caso, todos os estudos apontam para a importância do tema da saúde sexual e reprodutiva justamente no combate à mutilação genital, que é o corte ou a remoção deliberada de parte da genitália feminina externa.
Há um consenso mundial de que tal prática é uma violação de direitos humanos. A OMS (Organização Mundial da Saúde), por exemplo, explica que a mutilação "visa a assegurar a virgindade pré-matrimonial e a fidelidade conjugal", e que "em muitas comunidades acredita-se que a mutilação reduz a libido de uma mulher e, portanto, ajuda a resistir a atos sexuais extraconjugais". Para a agência e para especialistas, o acesso de mulheres à saúde sexual e reprodutiva, a que o Brasil se opõe, é um importante instrumento para garantir o direito dessas meninas.

Religião como formuladora de políticas

Uma das explicações dadas pelo Itamaraty por sua postura ao vetar tais termos é a de que ela seria um reflexo da vontade popular, expressa nas urnas em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro com presidente.
Por anos, com as mesmas leis no Brasil, o Itamaraty não via problemas em aceitar o projeto na ONU como estava.
Outro esforço da diplomacia brasileira é o de tentar garantir que, nos textos oficiais, seja reconhecido o papel de entidades religiosas na formulação de políticas públicas para a defesa das mulheres e da igualdade de gênero. O temor das ONGs e de ativistas, porém, é de que tais inclusões poderiam significar a chancela às práticas de grupos religiosos que tentam limitar os direitos de mulheres, e não expandi-los.

Ministério de Direitos Humanos participa de formulações do Itamaraty

Com pastores evangélicos como chefes dos ministérios de Direitos Humanos, Justiça e Educação, o posicionamento do Brasil sobre os textos oficiais da ONU passou a ser visto como um esforço de uma ala do governo em buscar reconhecimento internacional.
Hoje, o processo de formulação da política externa passa, nesses casos, por consultas com o Ministério dos Direitos Humanos, liderado por Damares Alves, também pregadora. A pasta, porém, contou com outros nomes de vertente evangélica. Um deles era o pastor Sérgio Queiroz, que tem feito viagens para reuniões da ONU. Ele atuou como secretário nacional de Proteção Global e, em 2020, foi nomeado secretário especial do Desenvolvimento Social, cargo que faz parte do Ministério da Cidadania.
A presença da religião na política externa brasileira ficou evidenciada já no ano passado quando o governo enviou delegações para participar de eventos promovidos por Viktor Orban, o líder ultraconservador húngaro. Num dos encontros, Damares Alves debateu o fortalecimento da família. Em outro, foi o Itamaraty que participou para a defesa do cristianismo.
A pasta liderada por Damares ainda conta com secretária nacional da Família, Angela Vidal Gandra, considerada dentro do Itamaraty como a principal formuladora das posições do governo nesses assuntos.
Em um recente artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, ela deixou clara sua visão sobre debates que ocorrem nas Nações Unidas. Segundo ela, iniciativas da ONU que se apresentam em termos de "ajudas humanitárias" incluem "paradoxalmente, o 'serviço essencial' de aborto seguro durante a pandemia, enquanto todo foco deveria estar centrado em salvar os mais vulneráveis e em preservar vidas".

"Ideia fixa" de saúde sexual reprodutiva

A secretária Angela ainda escreveu que "os que têm a oportunidade de transitar na instituição conhecem suas agendas paralelas forçadas, incluindo a ideia fixa na saúde sexual reprodutiva —em detrimento de tantos direitos humanos constantes da Declaração Universal que deixam de ser viabilizados com a velocidade desejada devido ao monotema—, contrariando a vontade da ampla maioria das famílias e destacando sua autoridade acima dos próprios Estados", escreveu.
Ela também tece duras críticas contra a OMS. "Uma proposta nesse campo, que pode ser denominada de anti-humana, é a veiculação do programa da OMS para crianças menores de quatro anos de idade contendo homossexualidade, pornografia e masturbação, que oferece diretrizes em substituição àquelas preconizadas pelas suas famílias para que possam "gozar do prazer" desde a infância, como "parte normal da vida de cada um", incluindo as relações com colegas do mesmo sexo", escreveu.
O escritório da OMS na Europa de fato trabalhou em um documento com um instituto alemão, com o objetivo de ajudar os pais na educação sexual de crianças. Não há, porém, a promoção da pornografia.
Mas o documento que serve de referência internacional sobre educação sexual foi publicado em 2018 pela Unesco e é chancelado pela OMS. Ele de fato tece um plano para que escolas e educadores possam lidar com a questão da sexualidade entre as crianças. Mas o guia começa a partir dos cincos anos, com conceitos como amor, respeito e o reconhecimento de gênero. Além disso, o guia admite que, entre cinco e oito anos, "é natural ter curiosidade a seu respeito, inclusive os órgãos sexuais e reprodutivos". Cabe aos educadores ajudarem as crianças a ter conhecimento sobre as partes genitais e "descrever sua função básica".
Na ONU, a campanha vai no mesmo sentido de garantir a educação sexual como uma forma de evitar a gravidez precoce, de combater a violência, lutar contra doenças e defender os direitos das mulheres.

Alinhamento com os Estados Unidos

Angela Gandra tem ampla circulação nos meios americanos mais conservadores. No ano passado, ela participou de uma reunião em Washington (EUA) que está gerando polêmica entre ativistas de direitos humanos: a Comissão dos Direitos Inalienáveis, uma iniciativa do Departamento de Estado norte-americano para rever o conceito de direitos humanos. O projeto é do Secretário de Estado, Mike Pompeo, um cristão evangélico.
Ao explicar seu objetivo, ele deixou claro que quer um enfoque num escopo específico de direitos. "Sei de onde vieram esses direitos. Eles vieram de nosso Senhor", disse Pompeo.
Para os críticos e especialistas, o esforço de focar os trabalhos em "direitos inalienáveis" é, na realidade, uma tentativa de restringir os direitos que o governo tem a obrigação de proteger. Tal iniciativa poderia afetar direitos sexuais e a proteção de minorias, entre elas a comunidade LGBTQ e imigrantes.

ONG conservadora internacional tem canal aberto com governo Bolsonaro

Parte do governo ainda mantém boas relações com a entidade americana, a ADF International. Representantes da organização têm feito parte de reuniões entre a pasta de Direitos Humanos e o Itamaraty.
No último dia 22 de maio, por exemplo, um encontro ocorreu envolvendo deputados brasileiros, representantes do Itamaraty, do Ministério de Direitos Humanos e Tomás Henriquez, da ADF Chile. A pauta: a frente parlamentar latino-americana.
No site da entidade, Henríquez é descrito como a pessoa que lidera os trabalhos de lobby em instituições internacionais e "auxilia aliados regionais" em temas como a "santidade da vida, casamento, família, direitos parentais e liberdade religiosa".
Na ONU, em 2019, o Brasil ainda participou de um seminário organizado pela ADF.
Em 2017, a organização submeteu à ONU um documento em que alertava que a luta contra o zika vírus fosse transformado em um caminho para legalizar o aborto no Brasil.

"Escritório evangélico" na Suíça

A postura dos grupos evangélicos promete ganhar força. Nas últimas semanas, em Genebra (Suíça), ONGs internacionais relatam que têm sido procuradas por uma entidade evangélica brasileira que busca estabelecer um escritório nas proximidades da ONU para servir de base de uma campanha de lobby por temas caros ao governo brasileiro.
Na ONU, em Nova York, a comissão que avalia a candidatura de ONGs para que recebam o status oficial e possam estar nas reuniões diplomáticas também indica que vem recebendo consultas e solicitações por parte de grupos evangélicos nacionais.
Uma vez dentro da ONU, essas entidades poderão organizar debates, submeter textos com seus pontos de vista e fazer campanhas com governos.
Mas a postura brasileira em temas de direitos humanos começa a gerar questionamentos internos. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, terá de prestar esclarecimentos formais sobre sua postura na ONU. Num requerimento enviado ao Itamaraty, a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados cobra do chanceler informações sobre como tais posturas são tomadas.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Política externa bolsonarista: impregnada de religião

Governo deixa religião guiar política externa sob argumento de que Brasil é 'país cristão'

Diplomatas e lideranças evangélicas falam em corrigir 'erro histórico'. Especialista critica viés religioso na presidência de Jair Bolsonaro

O Globo, 16/02/2020

BRASÍLIA - O discurso em nome da fé cristã se tornou um dos nortes da política externa brasileira no governo do presidente Jair Bolsonaro. Para aqueles que argumentam que, pela Constituição, o Estado é laico, os diplomatas mais próximos ao Palácio do Planalto têm uma resposta pronta: todos os credos e religiões devem ter o mesmo tratamento, mas a realidade é que o Brasil é um país cristão.
Essa nova vertente da diplomacia brasileira se consolidou há cerca de dez dias, em Washington, quando BrasilEstados UnidosHungria e Polônia lançaram oficialmente a Aliança pela Liberdade Religiosa. O objetivo central desse “chamamento global” é combater a perseguição de cristãos no mundo.

Mas há outros movimentos na política externa. Brasil e Hungria discutem a criação de um fundo para financiar comunidades cristãs que vivem no Oriente Médio. Outro passo foi dado em março de 2019, quando o Brasil e mais sete países conseguiram aprovar uma resolução, na ONU, declarando 22 de agosto como o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência baseados em Religião ou Crença.

Embaixada em Israel

No horizonte, existe a promessa de Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. A medida, que segundo o presidente será tomada até 2021, tem a questão religiosa como pano de fundo — denominações evangélicas apoiam Israel no desejo de transformar Jerusalém em sua única capital.
O setor oriental de Jerusalém é considerado território ocupado pela ONU e reivindicado pelos palestinos como capital de seu futuro Estado. Se a transferência se concretizar, as relações do Brasil com os países islâmicos podem ser prejudicadas.
A guinada na política externa se repetiu em relação aos direitos humanos. O caso mais simbólico e polêmico nesse sentido ocorreu em março passado. A delegação brasileira nas Nações Unidas se recusou a assinar um documento sobre saúde reprodutiva da mulher, alegando que, por trás desse debate, estava embutido o direito ao aborto.
Uma fonte do governo Bolsonaro afirmou que, hoje, corrige-se um “erro histórico”: o Itamaraty defenderia os direitos humanos em todos os organismos multilaterais que participava, menos quando os direitos violados eram de cristãos. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, costuma dizer que a política externa, hoje, “tem alma”.
Em uma deferência à bancada evangélica no Congresso, Bolsonaro e Ernesto Araújo costumam levar esses parlamentares em viagens internacionais. No início de janeiro, acompanharam Araújo para um périplo por países africanos os deputados Helio Lopes (PSL-RJ), Marco Feliciano (Podemos-SP) e Márcio Marinho (PRB-BA) — os dois últimos bispos da Universal. Todos são da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.

Feliciano ressalta que a “a igreja evangélica é missionária” e que “o internacionalismo está em seu DNA”. Ele diz, porém, que não há ingerência na política interna de outros países. Na África e na América Latina, há forte presença de igrejas brasileiras.
— Como parlamentares, juramos defender a Constituição, a qual salienta o direito à autodeterminação dos povos — afirma.
Para Nelson Franco Jobim, professor de pós-graduação em Relações Internacionais das Faculdades Hélio Alonso, se o Estado é laico, a política externa não deve ter viés religioso. Para ele, a contaminação da política pela religião traz o risco do fundamentalismo.
— Vamos discriminar países muçulmanos? A religião é dogmática, não pode fazer concessões em diversas áreas. É uma boa desculpa para adotar políticas radicais em nome de Deus — afirma.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Rulers, Religion, and Riches: Why the West Got Rich and the Middle East Did Not - Book review

Seria a religião islâmica um fracasso completo, em termos de progressos sociais, prosperidade material, liberdade intelectual, avanços científicos, prosperidade material?
Assim é, se nos parece, atualmente. E, no entanto, sociedades islâmicas, num tempo em que a Europa ainda se debatia com as invasões de bárbaros, e vivia reduzida a uma medíocre economia camponesa, com gente morrendo de fome um pouco em todos os lugares, eram as mais avançadas do planeta, junto com a civilização chinesa, com a preservação, a manutenção e a ampliação das culturas clássicas da antiguidade e novos progressos conseguidos isoladamente ou no contato com outras culturas (como a hindu, por exemplo, forte em matemática).
Atualmente o julgamento parece ser globalmente negativo, como acredita o autor deste livro bastante crítico.
O autor da resenha, Joel Mokyr, é um dos mais distinguidos historiadores da ciência da atualidade. Não se pode acusá-lo de viés pró-ocidental, pois ele já reconheceu os avanços dos chineses e dos muçulmanos em outros trabalhos seus.
Paulo Roberto de Almeida

Published by EH.Net (April 2017)
Jared Rubin:
Rulers, Religion, and Riches: Why the West Got Rich and the Middle East Did Not. 
New York: Cambridge University Press, 2017. xxi + 273 pp. $30 (paperback), ISBN: 978-1-108-40005-3.

Reviewed for EH.Net by Joel Mokyr, Departments of Economics and History, Northwestern University.

The Middle East, it has been said, is not just a collection of failed states. It is a failed region. It generates a disproportional number of the world’s orphans and refugees, its GDP per capita is intolerably low despite oil riches, and there are few signs that there is light at the end of tunnel. Democracy seems to have been put on the back burner indefinitely, and human rights are a lost cause in most countries and in retreat elsewhere. Intellectually, too, things look rather dismal: In 2005 Harvard University alone produced more scientific papers than 17 Arabic-speaking countries combined. Muslim countries contribute just 2.5 percent of more than 11.5 million papers published worldwide each year (Muslims constituted 23 percent of the world’s population in 2010). A 1997 Scientometrics paper estimated that 46 Muslim countries (which of course contain much more than the Middle East) contributed 1.17 percent to world science literature as opposed to Spain (1.48 percent).
Is the Islamic religion to blame? Jared Rubin, in this stimulating and highly original study, would deny that emphatically. Although this is a book about religion and its implication for institutional and economic change, Rubin is little interested in the actual doctrinal content of religion. He points out, as many others have, that the essence of Islam could not possibly be as rigid and opposed to commerce and economic change as it may seem, because for the first centuries of its existence, the nations that adopted Islam flourished not just commercially but also in terms of technology, architecture, poetry, agriculture, medicine, and engineering, while western Europe was an ignorant, violent and poverty-stricken backwater. What we have witnessed since 1200 is more than a “divergence”: it is a Great Reversal, of momentous importance till the present day.
Rubin’s book presents us with an explanation for this great reversal, which will have to be taken into account from now on in all future discussions on the economic history of the Islamic world. He does not oversell his argument as the reason for the great reversal, he makes a plausible argument for it as a complementary argument to the ones other serious scholars have made. The book is divided into a few chapters that outline the theory and logic of the argument and then applies these insights to a number of historical case studies. It is a tale that combines economic history, political economy, and religion in a unique and novel way.
Here is the basic argument: any kind of ruler has power because his or her subjects accept their rule and their main concern is what Rubin calls “propagating their rule.”  How do you get people to accept you as their ruler and let you keep your job? Political power is supported by a combination of coercion (that is, violence) and legitimacy (people willingly accept a ruler because they believe that this person has the right to rule them). Through most of history, rulers depended on a combination of the two, though the weights of each differed greatly depending on their costs and benefits. Rubin is exclusively interested in the legitimacy part. Legitimacy is provided by what he calls “legitimizing agents” — groups or entities that have enough influence to make the subjects of the ruler follow instructions and pay taxes. An obvious legitimizing agent is the religious establishment — for example, European rulers once ruled ex dei gratia and called themselves the most Catholic King. Some modern royalty still include the line in their title, although in most places such relics are empty.
Rubin observes that in the early medieval period, both Christian and Muslim rulers used religious authorities as legitimizing agents, but that at some point in the later Middle Ages, Muslim and western European society diverged. Whereas in the Ottoman Empire the sultans continued to rely on religious authorities for their legitimacy, in many western societies the Church’s political leverage was diminished irreversibly. From the beginning, Rubin points out, Christian doctrine envisaged separate spheres for secular and religious power. The schisms and exiles to which the late medieval papacy was subject weakened it greatly in the face of ambitious rulers, and the reformation administered to religious legitimization the coup de grace. Apart from a few corners of Europe such as Spain, religion lost the power it had exercised since even before the prophet Samuel anointed Kings Saul and David.
Why and how did this matter to economic history? Rubin argues that religious authorities were in general conservative, and that the institutions they established are less aligned with commerce and finance than when an economically important elite such as rich urban merchants and artisans are more powerful. As a result of their political influence, religious authorities in the Middle East were successful in blocking critical breakthroughs, most notably the printing press and more sophisticated financial institutions. The printing press facilitated the success of the Reformation, and the Reformation had further favorable economic effects, as has recently been shown by a pair of important papers (Cantoni, Dittmar and Yuchtman, 2016; Dittmar and Meisenzahl, 2016). One might add that even in France, in which the reformation was suppressed, the power of religious authorities to legitimize the king disappeared. Napoleon famously took the crown out of the hands of Pope Pius VII during his 1804 coronation and crowned himself, symbolizing that his legitimization came from military power, not God.
In summary, Rubin argues that the leaders of organized religion tended to be conservative across the board. Their influence, he thinks, depended on their monopoly of eternal truths, and updating those truths threatened to erode their credibility.  The Islamic world was unable to curtail the influence of Islamic scholars until the Islamic world had fallen hopelessly behind Europe. Even within Christian Europe, the power of religious authorities, he feels, helped determine the difference between successful regions such as the Netherlands and Britain and economic laggards such as Spain. When discussing the past three centuries, the influence of religious authorities is somewhat diminished, but what counts in Rubin’s view is that in all poor and backward states, the institutional structure and the capability of key players to “sit at the bargaining table” as he calls it was little affected by the urban-commercial classes whose demands for free and open markets, constraints on the executive, and a rule of law led to rapid economic progress in the north-west corners of Europe.
By combining an institutional argument with religion through the effect that religion had on institutions and politics (rather than on cultural beliefs), Rubin’s argument is reminiscent of an important recent book by Karel Davids, which has not thus far received sufficient attention (Davids, 2013). Both books, in a different way, stress how religious institutions mattered regardless of the precise content of religion. Davids, however, emphasizes another aspect, namely the role of religion in the generation and dissemination of technology. Rubin is primarily interested in institutions that support markets. Yet an explanation of modern economic growth cannot possibly avoid the primum movens of economic growth, which was the rapid expansion and dissemination of useful knowledge. In early medieval Islam, engineers, doctors, and chemists were at the forefront of pushing the envelope. By 1600 the Islamic world had become a follower, by 1800 they were a laggard. A natural extension of Rubin’s idea is that a government dominated by religious authorities will also be less than accommodating to out-of-the-box ideas from natural philosophers, astronomers, mathematicians, and medical doctors. The tradeoff between religiosity and scientific and technological progress has become a serious topic of investigation in recent years (Benabou, Ticchi, and Vindigni, 2014; Squicciarini, 2016). Their findings support the notion that devoutness affects innovativeness negatively and that political institutions could be used by powerful religious leaders to suppress what they considered heretical views.
Rubin is correct in pointing out that in the most progressive countries in western Europe the ability of religious leaders to halt progress was limited.  A striking example of this phenomenon is provided by Amir Alexander (2014), who documents the fierce resistance to infinitesimal mathematics by the Jesuits in the seventeenth century, which seriously slowed down the development of mathematics in Italy. The reason the reactionary powers such as the Jesuits were not able to slow down the development of radical new ideas in Europe materially is primarily the high level of political fragmentation in Europe. If a particular ruler tried to crack down on his most creative subjects because they wrote things he felt to be subversive or heretical, they could always move across the border. Such outside options may have been much more limited in the Ottoman Empire and in China. Interstate competition is another factor that rulers worried about, beside Rubin’s legitimization story. After all, every ruler faced both internal and external threats. Without interstate competition, or “emulation” as eighteenth-century writers called it, Europe might never have had the Enlightenment, which opened the doors to so many of the institutional and technological changes that have helped create economic modernity.
Here and there one could nitpick some of Rubin’s historical interpretations. His account of Spain’s political economy would have greatly benefitted from a closer attention to Regina Grafe’s path-breaking work (Grafe, 2012). Rubin’s agnosticism as to the actual content of religion may be somewhat misplaced: the Sunni revival of the eleventh century did in time move the ruling orthodoxy into a more conservative direction, as Eric Chaney (2015) has shown. More generally, an argument that focuses on “the ruler” and the significance of the propagation of political power may exaggerate the ability of the state to control what the citizens did in pre-twentieth-century societies.
All the same, Rubin has written an important and timely book. His methodology is very much that of the historically informed economist: certain choices are made at some point because they make sense, that is, the benefits to those that make the decision exceed the costs. But once made, these initial conditions can have cascading unintended and unanticipated consequences, and those historically contingent causal chains may well be what drove much of the great and little divergences that our profession is so interested in. Equally important, this well-argued and sensible book about Islam provides a much-needed antidote to the toxic rubbish masquerading as scholarship produced by some of the Islamophobes in the current American administration (e.g., Gorka, 2016). The Middle East’s problem is not Islam; it is History.
References:
Alexander, Amir. 2014. Infinitesimal: How a Dangerous Mathematical Theory Shaped the Modern World. New York: Farrar, Straus and Giroux.
Benabou, Roland, Davide Ticchi, and Andrea Vindigni. 2014. “Forbidden Fruits: The Political Economy of Science, Religion and Growth.” Unpublished working paper, Princeton University.
Cantoni, Davide, Jeremiah Dittmar and Noam Yuchtman. 2016.  “Reformation and Reallocation: Religious and Secular Economic Activity in Early Modern Germany.” Unpublished.
Chaney, Eric. 2015. “Religion and the Rise and Fall of Islamic Science.” Unpublished working paper, Harvard University.
Davids, Karel. 2013. Religion, Technology and the Great and Little Divergences. Leiden: Brill.
Dittmar, Jeremiah E. and Ralf Meisenzahl. 2016. “Origins of Growth: Health Shocks, Institutions, and Human Capital in the Protestant Reformation.” Unpublished.
Gorka, Sebastian. 2016. Defeating Jihad: The Winnable War. Washington, DC: Regnery Publishing.
Grafe, Regina. 2012. Distant Tyranny: Markets, Power, and Backwardness in Spain, 1650–1800. Princeton, NJ: Princeton University Press.
Squicciarini, Mara. 2017. “Devotion and Development: Religiosity, Education, and Economic Progress in 19th-century France.” Unpublished working paper, Northwestern University.
Joel Mokyr is the author of Culture of Growth: The Origins of the Modern Economy (Princeton University Press, 2016).
Copyright (c) 2017 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (April 2017). All EH.Net reviews are archived at http://eh.net/book-reviews/

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A frase da semana: ciencia e religiao - Frederick Sanger, duas vezes Premio Nobel

Caso raro na tribo dos nobelizados, ele foi um dos únicos três a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes.
É dele esta frase, que seleciono como sendo da semana, mas poderia ser do mês, do ano, de sempre, sorbe as relações entre ciência e religião:

“In science, you have to be so careful about truth,” he said. “You are studying truth and have to prove everything. I found that it was difficult to believe all the things associated with religion.”

All said...
Paulo Roberto de Almeida
The New York Times, November 20, 2013

Frederick Sanger, 95, Twice a Nobel Laureate and a Genetics Pioneer, Dies


Frederick Sanger, a British biochemist whose discoveries about the chemistry of life led to the decoding of the human genome and to the development of new drugs like human growth hormone, earning him two Nobel Prizes, a distinction held by only three other scientists, died on Tuesday in Cambridge, England. He was 95.
His death was confirmed by Adrian Penrose, communications manager at the Medical Research Council in Cambridge. Dr. Sanger lived in a nearby village called Swaffham Bulbeck.
Dr. Sanger won his first Nobel Prize, in chemistry, in 1958 for showing how amino acids link together to form insulin. The discovery gave scientists the tools to analyze any protein in the body.
In 1980 he received his second Nobel, also in chemistry, for inventing a method of “reading” the molecular letters that make up the genetic code. This discovery was crucial to the development of biotechnology drugs and provided the basic tool kit for decoding the entire human genome two decades later.
Unusual for someone of his stature, Dr. Sanger spent his entire career in a laboratory. Long after receiving his first Nobel, he continued to perform many experiments himself instead of assigning them to junior researchers as is typical in modern science labs. Dr. Sanger said he was not particularly adept at coming up with experiments for others to do and had little aptitude for administration or teaching.
“I was in a position to do more or less what I liked, and that was doing research,” he said.
Frederick Sanger was born on Aug. 13, 1918, in Rendcomb, England, where his father was a physician. He expected to follow his father into medicine, but after studying biochemistry at Cambridge University, he decided to become a scientist. His father, he said in a 1988 interview, “led a scrappy sort of life” in which he was “always going from one patient to another.”
“I felt I would be much more interested in and much better at something where I could really work on a problem,” he said.
He received his bachelor’s degree in 1939. Raised as a Quaker, he was a conscientious objector on religious grounds during World War II and remained at Cambridge in those years to work on his doctorate, which he received in 1943.
Later in life, however, he became an agnostic, saying he lacked hard evidence to support his religious beliefs.
“In science, you have to be so careful about truth,” he said. “You are studying truth and have to prove everything. I found that it was difficult to believe all the things associated with religion.”
Dr. Sanger stayed on at Cambridge and became immersed in the study of proteins. When he started his work, scientists knew that proteins were chains of amino acids, fitted together like a child’s colorful snap-bead toy. But there are 22 different amino acids, and scientists had no way of determining the sequence of these amino acid “beads” along the chains.
Dr. Sanger decided to study insulin, a protein that was readily available in a purified form for the treatment of diabetes. His choice of insulin turned out to be a lucky one: with 51 amino acid beads, insulin has a relatively simple structure. Still, it took him 10 years to unlock its chemical sequence.
His approach, which he called the “jigsaw puzzle method,” involved breaking insulin into manageable chunks for analysis and then using his knowledge of chemical bonds to fit the pieces back together. Using this technique, scientists went on to determine the sequences of other proteins. Dr. Sanger received the Nobel just four years after he published his results in 1954.
In 1962, Dr. Sanger moved to the British Medical Research Council Laboratory of Molecular Biology, where he was surrounded by scientists studying deoxyribonucleic acid, or DNA, the master chemical of heredity.
Scientists knew that DNA, like proteins, had a chainlike structure. The challenge was to determine the order of adenine, thymine, guanine and cytosine — the chemical bases from which DNA is made. These bases, which are represented by the letters A, T, G and C, spell out the genetic code for all living things.
Dr. Sanger quickly discovered that his jigsaw method was too cumbersome for large pieces of DNA, which contain many thousands of letters. “For a while I didn’t see any hope of doing it, though I knew it was an important problem,” he said.
But he persisted, developing a more efficient approach that allowed stretches of 500 to 800 letters to be read at a time. His technique, known as the Sanger method, increased by a thousand times the rate at which scientists could sequence DNA.
In 1977, Dr. Sanger decoded the complete genome of a virus that had more than 5,000 letters. It was the first time the DNA of an entire organism had been sequenced. He went on to decode the 16,000 letters of mitochondria, the energy factories in cells.
Because the Sanger method lends itself to computer automation, it has allowed scientists to unravel ever more complicated genomes — including, in 2003, the three billion letters of the human genetic code, giving scientists greater ability to distinguish between normal and abnormal genes.
Dr. Sanger shared the 1980 chemistry Nobel with two other scientists: Paul Berg, who determined how to transfer genetic material from one organism to another, and Walter Gilbert, who, independently of Dr. Sanger, also developed a technique to sequence DNA. Because of its relative simplicity, the Sanger method became the dominant approach.
Other scientists who have received two Nobels are John Bardeen for physics (1956 and 1972), Marie Curie for physics (1903) and chemistry (1911), and Linus Pauling for chemistry (1954) and peace (1962).
Dr. Sanger received the Albert Lasker Basic Medical Research Award, often a forerunner to the Nobel, in 1979 for his work on DNA. He retired from the British Medical Research Council in 1983.
Survivors include two sons, Robin and Peter, and a daughter, Sally.
In a 2001 interview, Dr. Sanger spoke about the challenge of winning two Nobel Prizes.
“It’s much more difficult to get the first prize than to get the second one,” he said, “because if you’ve already got a prize, then you can get facilities for work, and you can get collaborators, and everything is much easier.”
Daniel E. Slotnik contributed reporting.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A humanidade permanece terrivelmente atrasada

Sorry, humanidade, ainda que você não me leia, eu vou confirmar o que já disse acima, com perdão dos meus leitores, a quem não incluo no conjunto: você é terrivelmente atrasada, mentalmente quero dizer, e infelizmente vai continuar assim por não sei quanto tempo mais, e isso graças ao fanatismo religioso, aos intolerantes e, também, claro, aos idiotas, pois sempre os há.

Eu tinha prometido não usar mais a expressão "idiota" para falar de alguém, mas neste caso retomo meu vício habitual: sim, o pastor da Flórida que ameaçou queimar um ou mais exemplares do Alcorão -- ou Corão, como quiserem, sem a partícula --, o livro sagrado dos muçulmanos, é um completo idiota, talvez ao quadrado. Pronto, ele já teve seus momentos de glória e até obrigou o presidente dos EUA a se pronunciar sobre o assunto.
Vamos adiante.

O que me surpreende tanto não é que a imprensa faça disso um momento de exploração da atenção popular. Sobretudo nos EUA, ela vive disso: qualquer idiota que comete um gesto insano -- e naquele país com livre disposição de armas isso é muito fácil -- recebe atenção praticamente universal, imediata, on live, com todos os clarins aplicados ao caso.

Não, o que me surpreende é que multidões fanáticas, certamente incitadas por líderes religiosos ou políticos irresponsáveis, venham imediatamente à tona do noticiário para prometer sabe-se lá que tipo de retaliação contra essa queima anunciada de um livro de papel.

Eu compreendo o papel difícil do presidente americano: ele quer preservar vidas americanas, pois sabe muito bem que, imediatamente após o gesto do pastor idiota, outras multidões idiotas e alguns militantes fanatizados, vão sair por aí queimando bandeiras, prédios e sobretudo matando americanos, quaisquer que sejam ele, onde quer que estejam. Infelizmente é isso que ocorre nesses casos.
O pastor idiota seria responsável pela morte inútil e estúpida de americanos inocentes e por perdas materiais enormes, além de todo o besteirol que isso cria em torno do caso. Mesmo que ele não venha a cometer seu gesto idiota, o mal já está feito, pois ele acaba de estimular fanáticos do outro lado a continuar atacando os americanos e a religião cristã de forma geral.

Por outro lado, eu gostaria que o mundo fosse mais avançado do que ele é: ou seja, que um idiota que quisesse ser iconoclasta, desrespeitador de religiões, ateu militante ou apóstata verbal -- isto é, sem cometer nenhum gesto violento contra pessoas ou propriedades -- pudesse sê-lo sem constrangimentos, em total liberdade, como aliás ocorre em grande medida nos Estados Unidos, certamente o país mais livre do mundo.
Infelizmente, o mundo não é tão avançado quanto eu e muitos gostaríamos: existem muitas pessoas, milhões, talvez bilhões, que tomam suas religiões por verdades absolutas, e que fazem disso uma profissão de fé tão ativa que revelam a intolerância com outras crenças e religiões.

Todo fanatismo, toda intolerância, todo exclusivismo são, no limite, irracionais, em geral idiotas, podendo até ser perigosos e fontes de conflito.

Infelizmente, isso vai demorar para terminar...

============

Addendum em 11.09.2010:
Não sou o único a chamar esse pastor maluco da Florida de idiota:

Pastor idiota desiste de show idiota
Michael C. Moynihan
Ordem Livre - 10 de Setembro de 2010

Michael C. Moynihan é formado em história pela University of Massachusetts e trabalha como editor da Reason Magazine.