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domingo, 22 de novembro de 2020

O papel do euro no sistema monetário internacional (1999) - Paulo Roberto de Almeida

Um desses casos incríveis de um texto que foi, aparentemente, escrito DEPOIS (1999) que foi publicado (1998). A razão é conhecida por vários editores de periódicos: atraso na publicação dos periódicos, e busca de material para preencher as lacunas. O texto repete várias passagens que eu já havia exposta neste artigo: 606. “O futuro euro e o Brasil: efeitos esperados”, Brasília, 5 março 1998, já divulgado neste espaço: Diplomatizzando (22/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/o-futuro-euro-e-o-brasil-efeitos.html).


 O papel do euro no sistema monetário internacional

 

Paulo Roberto de Almeida 

Conselheiro. Chefe da Divisão de Política Financeira do

Ministério das Relações Exteriores. Doutor em Ciências Sociais.

Brasília, 22 janeiro 1999, 5 p.

Publicado em Carta Internacional

(São Paulo: NUPRI-USP, ano VI, nº 69, novembro 1998, p. 4-5). 

Relação de Publicados nº 231.

 

 

A inauguração do euro, em janeiro de 1999, como moeda oficial — embora ainda escritural — de onze dos quinze países-membros da União Europeia e sua introdução efetiva, a partir de 2002, como meio circulante único dos integrantes da “Euroland” representarão, para a Europa e para o mundo, o início de uma fase de grandes transformações no atual sistema monetário internacional, até agora marcado pela presença quase dominante do dólar enquanto instrumento de intercâmbio, reserva de valor e mesmo unidade de referência para dezenas de países integrando o sistema financeiro mundial. 

Caberia, contudo, advertir, antes de mais nada, que a criação do euro, em si, tem pouco a ver com seu papel futuro de desafio à hegemonia internacional do dólar, derivando essencialmente, não de um suposto projeto de “poder monetário”, mas, de um longo processo que pode ser remontado à visão integracionista de Jean Monnet e à concepção política que presidiu até agora à integração europeia. Não obstante tal fato, e a despeito da (até agora) oposição de princípio do Reino Unido e da Dinamarca, a opção dos Estados-membros pela renúncia à soberania monetária e em favor da administração coletiva da coordenação macroeconômica carrega também forte conteúdo emblemático sobre a Europa unida do século XXI e seu papel internacional. O elemento fundamental desse avanço na “união cada vez mais estreita dos povos europeus” no plano monetário é de natureza interna e tem a ver, em termos kantianos, com o compromisso irrevocável dos países membros com uma ordem comunitária como garantia de “paz perpétua” no continente. Adicionalmente, as funções que o euro possa assumir futuramente enquanto “moeda mundial” representarão a consequência eventual da afirmação ulterior do poder econômico da União Europeia no plano internacional.

O euro representa, portanto (e em primeiro lugar), a conformação definitiva do mercado unificado prometido pelo Ato Único de 1986 (conformado em 1993) e do projeto de união monetária estabelecido pelo Tratado de Maastricht de 1992 (em vigor desde novembro de 1993). Numa visão mais sequencial, o euro pode ser visto como o resultado dos primeiros esforços de coordenação de políticas e de unificação monetária, tal como estabelecidos nos planos Barre (1967-69) e Werner de união monetária (aprovado em 1970 e prevendo sua realização num espaço de dez anos), ambos tornados inexequíveis pelo desmantelamento do sistema de Bretton Woods em 1971-73. No regime de flutuação de moedas que se seguiu, a então Comunidade Europeia avançou nos esforços de coordenação, estabelecendo primeiro a “serpente dentro do túnel”, depois o Sistema Monetário Europeu (1979), funcionando segundo um mecanismo de banda cambial ajustável entre as moedas participantes (tendo o deutsche mark como âncora), mas com paridades estreitamente correlacionadas entre si.

O euro confirma, em segundo lugar, uma das tendências mais evidentes do processo de globalização, em curso acelerado desde a derrocada final do socialismo no começo dos anos 90, movimento tendente a unificar mercados, concentrar força e poder nas mãos de alguns global players e vincular estreitamente circuitos produtivos e financeiros. Ele também reforça as tendências à estabilidade do processo de integração europeia no que se refere aos mecanismos de coordenação intergovernamental de políticas macroeconômicas – o que parece ser válido para experiências similares de integração, como seria supostamente o caso do Mercosul ‑, ainda que a adesão permanente das autoridades financeiras nacionais, em relação a eventuais “desvios” orçamentários, por exemplo, tenha tido de ser reforçada por um “Pacto de Estabilidade e Crescimento”, concluído em meados de 1997. Esse acordo representou, como se sabe, um difícil compromisso entre aqueles que defendem, antes de mais nada, a manutenção do poder de compra da nova moeda – como é o caso do Bundesbank e outros aderentes da ortodoxia monetária – e os que privilegiam seu papel “social” e que gostariam de ver o Banco Central Europeu promover políticas de estímulo à criação de empregos. Cabe recordar a esse propósito que, de acordo com disposições do próprio Tratado de Maastricht, as autoridades monetárias nacionais são proibidas de financiar déficits orçamentários, prevendo ainda o Pacto penalidades pecuniárias para aqueles Estados que incorrerem em desvios significativos em relação aos critérios de Maastricht nesse particular (máximo de 3% do PIB de déficit orçamentário e compromisso político de manutenção do equilíbrio fiscal).

Do ponto de vista da atual “geopolítica” do sistema financeiro internacional, o euro será, inevitavelmente, um formidável concorrente em face do dólar, este até agora marginalmente complementado pelo deutsche mark e pelo iene japonês enquanto moedas de intercâmbio e expressão de ativos econômicos. A nova moeda terá efeitos diversos, de grande amplitude, nas áreas do comércio de bens e serviços, de fluxos de investimentos (de risco e de portfólio), dos mercados financeiros (isto é, empréstimos e créditos), das reservas em divisas dos países extra-europeus e, também, no âmbito do sistema monetário internacional, o que está evidentemente vinculado ao poder econômico da União Europeia.

A importância da União Europeia na economia mundial pode ser comparada à dos Estados Unidos: com uma população de 300 milhões de pessoas, o PIB de 8 trilhões de dólares — similar ao do gigante norte-americano — cai ligeiramente quando computado apenas o peso da “Euroland”, mas deve aumentar para volumes equivalentes quando os países hoje ausentes da união monetária (Reino Unido, Suécia e Dinamarca, que optaram por ficar fora por enquanto, e a Grécia, que não se qualificou segundo os critérios de Maastricht) a ela aderirem numa fase seguinte. A Europa mobiliza parte significativa do comércio mundial, assim como ela constitui, igualmente, fonte importante de capitais internacionais de empréstimo e de investimento direto nos mercados emergentes. É previsível, por exemplo, que com base na política conservadora que deverá ser praticada pelo Banco Central Europeu, o euro constitua fonte de estabilização nos mercados financeiros globais, ao lado do comportamento algo mais errático do dólar e da importância ainda reduzida do iene nas transações comerciais e financeiras internacionais.

Do ponto de vista do intercâmbio comercial, o euro vai significar uma redução substancial dos custos em transações correntes realizadas no continente europeu, uma vez que a unificação efetiva do mercado representará maior fluidez das correntes existentes e potenciais de comércio, facilitando o rápido transbordo de mercadorias em todos os países aderentes ao euro e nos que o utilizarem como moeda de referência (toda a mittelEuropa, as zonas bálticas e mediterrâneas e mesmo escandinavas e britânicas). O comércio será apenas e simplesmente comércio, e não mais custosas operações de câmbio e perdas significativas em comissões para exchange-dealers.

No que se refere aos fluxos de investimento direto, os efeitos serão ainda mais impressionantes, pois que não apenas as empresas e os bancos europeus se fortalecerão nos mercados globais, como disporão de maior volume de recursos — considere-se, por exemplo, a aritmética da soma das poupanças nacionais e das pequenas sobras marginais, antes atomizadas em mercados segmentados — para aplicações de risco nas economias da própria região e nas extra-europeias. A Europa liberará enormes somas de dinheiro, numa única denominação, retomando a posição privilegiada que ela tinha no século XIX como principal exportador líquido de capitais para os países emergentes. 

Do ponto de vista dos mercados financeiros, os mesmos efeitos acima descritos potencializarão o papel histórico que ela tinha no século XIX como world’s banker, pois que uma fonte uniforme de créditos produzirá muito maior volume de recursos do que a soma dos mercados financeiros nacionais. Os custos de captação serão sensivelmente reduzidos, bem como, no caso dos empréstimos syndicated, os encargos adicionais derivados da mobilização de diferentes denominações, que simplesmente desaparecerão. Para os tomadores, será como se abastecer num grande shopping center, em lugar de percorrer sucessivas quitandas ou empórios “financeiros” nacionais. A concorrência da oferta atuará também para reduzir taxas de juros e eventualmente até os prêmios de risco. 

Os países de fora da zona também encontrarão algumas vantagens financeiras ou de simples contabilidade em converter, desde o início, uma parte de suas reservas em euro, uma moeda mais estável que o dólar e supostamente menos suscetível de sofrer ataques especulativos, pois que sustentada por um banco central autônomo, comprometido unicamente com sua estabilidade e seu poder de compra, independente das autoridades monetárias nacionais, mais sensíveis às questões sociais ou dotadas de maior permissividade orçamentária. Essa estabilidade — interna e externa — do poder de compra do euro será presumivelmente preservada, mesmo ao custo da manutenção de uma maior taxa de desemprego na Europa, cujos índices já são, aliás, anormalmente altos em relação ao padrão observado durante o regime de paridades fixas de Bretton Woods, mas isso tem mais a ver com a rigidez dos mercados laborais e com a relativa imobilidade de fatores do que com a orientação da política monetária em si.

A substituição de parte das reservas nacionais de países extra-europeus em euro não será exatamente representativa, no começo, do volume de intercâmbio realizado com a Europa — no caso do Brasil algo como 30% do total —, uma vez que a maior parte das commodities e as próprias empresas exportadoras continuarão a ter suas operações faturadas em dólar (hoje dominando 50% do comércio internacional). O peso do euro nas reservas nacionais também deverá levar em conta, pelo menos no início, sua menor liquidez internacional, comparativamente ao dólar, este mais bem aceito em mercados afastados como os da Ásia e da América Latina. Mas, essa fração tenderá a crescer progressivamente, em função do peso da Europa e do próprio euro nos diferentes tipos de transações econômicas internacionais.

Do ponto de vista dos mercados financeiros, por outro lado, deve-se reconhecer que os portfólios dos investidores privados e oficiais, mesmo na Europa, são altamente dolarizados, tendência que será revertida apenas gradualmente, em função, entre outros fatores, da rentabilidade relativa das moedas, de seu grau de estabilidade e de sua liquidez (elementos geralmente contraditórios entre si, como ensinam os manuais de economia). Não há, por exemplo, nenhum acordo entre as autoridades monetárias dos Estados Unidos, da “Euroland” e do Japão para a manutenção de paridades correlacionadas entre suas respectivas moedas, o que indica obviamente que o sistema monetário e financeiro internacional continuará a ser tão turbulento e instável como ele tem sido desde a derrocada do padrão-ouro ao final da belle époque.

O fato inédito é que assistimos ao começo do final — um cenário ainda longínquo, reconheça-se — da hegemonia absoluta do dólar no sistema financeiro conhecido no último meio século. Esse declínio da predominância do dólar será tanto mais lento quanto forem incertos os elementos propriamente econômicos e tecnológicos que poderão sustentar uma ascensão da Europa a sua antiga posição de world’s banker. Em favor do dólar deve-se lembrar que os padrões dominantes tendem a ganhar por inércia, fenômeno já conhecido nos mercados de software e de videocassetes, por exemplo. Em favor do euro pode-se adiantar sua menor volatilidade intrínseca e seu papel político positivo em outras experiências de integração regional, a começar pelo Mercosul. De fato, um mercado comum pleno requer, quase que naturalmente, uma moeda comum e o fato da existência do euro deverá atuar como catalisador político e econômico no processo de ampliação ulterior da União Europeia.

Finalmente, persistem ainda dúvidas sobre a importância financeira do euro nas operações das instituições monetárias internacionais e regionais, o que tem a ver, também, com a redefinição política do poder intrínseco associado aos Estados Unidos e aos países da “Euroland” no diretório das mais importantes dentre elas, a começar pelas “sisters in the woods”, em especial no FMI. A assunção, pelo Banco Central Europeu, de um mandato amplo de representação europeia nessas instituições pode suscitar um movimento de reforma do sistema financeiro internacional — que se requer desde o desmantelamento dos esquemas de Bretton Woods em 1971-73 —, o que não deixa de ser positivo para países como o Brasil, cujo poder econômico intrínseco vem crescendo na economia internacional. O euro dá início, com toda certeza, a um admirável mundo novo no sistema financeiro e monetário internacional.

Que ensinamentos ou que consequências poderiam ser extraídos a partir da experiência europeia para um esquema de integração conduzindo tendencialmente a um mercado comum como o Mercosul? Se é verdade que este não pretende permanecer indefinidamente como uma simples zona de livre comércio ou uma união aduaneira imperfeita, como hoje, a questão da moeda única deve ser desde já colocada como objetivo final, ainda que longínquo, do processo de integração. Um mercado comum pleno, repita-se, pede naturalmente uma moeda única. Atualmente, contudo, parece evidente que o problema não se coloca ainda em termos de moeda, mas simplesmente como uma obrigação de coordenação de políticas econômicas. Este é um requisito essencial para que choques assimétricos (sempre à espreita) não introduzam dificuldades adicionais e uma séria distorção nos efeitos potencialmente benéficos do processo integrativo. As autoridades financeiras dos países-membros devem reconhecer, antes de mais nada, que as políticas cambiais são uma matéria de interesse comum e que a interação constante entre formuladores de políticas e o permanente intercâmbio de informações entre seus operadores constituem passos indispensáveis para a coordenação de políticas nas áreas monetária e cambial. Essa coordenação deve ser institucionalizada progressivamente, até atingir-se o “ponto de não-retorno”, quando a própria renúncia de soberania monetária passa a ser considerada como uma garantia adicional de boa gestão macroeconômica e um passaporte para a estabilidade.

 

 [Brasília, 655: 27.01.99] 


sábado, 19 de janeiro de 2019

O sistema monetario internacional no século XX: book review

Ao colocar uma resenha de livro abaixo, permito-me remeter, novamente a meu artigo sobre o euro, elaborado no momento em que a moeda comum da Euroland era lançada fiduciariamente, 20 anos atrás.

O euro aos 20 anos; ensaio PRA quando de sua criação (2000)

Paulo Roberto de Almeida

Behind the Scenes at the Central Banks that Created our Modern Monetary System

[From the Summer 2018 Quarterly Journal of Austrian Economics. A review of How Global Currencies Work: Past, Present, and Future by Barry Eichengreen, Arnaud Mehl, and Livia Chitu, Princeton, N.J.: Princeton University Press, 2018, 250 pp.]
The present volume is an engaging and intriguing account of how global currencies, such as British sterling and the U.S. dollar, have risen to global dominance in the international monetary arena, and how currencies such as the Chinese renminbi, for example, could follow in their footsteps. Divided into twelve chapters, the work focuses primarily on the international monetary history of the 20th century, complemented by a comparatively brief account of the 19th and 21st centuries. The narrower focus of the discussion in these chapters—and most of the data supplied in each chapter’s appendices—concerns the composition of foreign reserves, i.e. the balance between holdings of pounds and dollars, and later of yen, euro, and renminbi.
From this, the authors propose to tease out a few new factual discoveries and some implications for the future of the international monetary system. More precisely, they disavow the traditional theoretical view which argues that international currency status resembles a natural monopoly that arises organically from the benefits of using the currency of the most economically (commercially and financially) powerful country in international economic transactions, i.e. a monopoly due to network returns (p. 4), and winner-takes-all and lock-in effects.
Because, argue the authors, this ‘old’ model is not supported by much of the data from the 20th century, they propose a ‘new’ view arguing that multiple currencies can be used concomitantly on an international scale, such as the pound sterling and the dollar during the 1920s. These currencies played “consequential international roles” (p. 11) demonstrating that inertia and persistence due to network effects in international transactions are not as strong as previously thought. Their updated theoretical framework is borrowed from the process of technological development, where new technologies are adopted gradually by users and grow exponentially, thus using an analogy between the workings of international currencies and those of computer operating systems.
Eichengreen, Mehl and Chitu’s discussion also seems to revolve around the interplay between the political sphere and national monetary policies on an international scale, but this insight remains latent throughout their analysis. The authors focus rather on the technical aspects of international currency status and deliberately treat political and monetary matters as separate—in parts dismissing political matters completely.
Chapters 2, 3, and 4 contain a factually rich historical narrative of the origin and development of the holding of foreign reserves, particularly before and after the First World War. Scattered throughout are little gems useful to any scholar of monetary theory, like the fact that “foreign exchange reserves had accounted for less than 10 percent of total reserves in 1880, [but] accounted for nearly 15 percent in 1913” (p. 17).
In Chapter 4 the authors provide evidence of the currency composition of foreign exchange reserves in the 1920s and 1930s that best underpin their ‘new’ view: they find that the dollar overtook sterling as the international reserve currency in the mid-1920s, and not in the 1930s to 1940s as previously thought by monetary scholars. This proves that the sterling and the dollar shared, at the same time, the status of international currency. Contrary to the traditional view, then, international currency status is not subject to a natural monopoly.
To further explain how this came about, the authors show in subsequent chapters the great intervention efforts of the U.S. Federal Reserve to ‘support the market between 1917 and 1937’ (p. 69). The Fed’s heavy-handed approach to trade credit (chapter 5) and international bond markets (chapter 6) propelled the dollar to international currency status over a short period before its collapse during the Great Depression. However—and again disproving the theoretical model—the dollar recovered its status around the time of the Second World War and completely surpassed the British sterling, showing that the status of international currency is, once lost, not lost forever. Rather, it can be regained through the coordinated efforts of a powerful central bank, which can heavily benefit from engineering this rise to global currency status. Moreover, the authors argue, other countries benefit as well from not relying on one global lender of last resort, but rather on a network of lenders. Chapters 9, 10, and 11 discuss along the very same lines the rise and fall of the yen and the euro (with the euro crisis), and the future prospects of the Chinese renminbi, respectively.
Despite the great amount of historical information contained in this book, and the ample new data available to the authors, the volume falls short of the promise in its title. The narrative does not actually show how global currencies work in a comprehensive manner, but only how the global ascension of a currency can be traced back to the behind-the-scenes machinations of a central bank. As such, the subject could have been—and was—satisfactorily treated in a half dozen journal articles published by the authors between 2009 and 2016 (p. xv).
Nevertheless, it is still interesting to note that the geopolitical history of the world can be read through the history of monetary policy, or perhaps, that the history of monetary policy is mirrored in the history of geopolitics. As the authors themselves explain, the dominance of one country’s currency in international exchanges can indicate the “singular leverage” (p. 3) of that country’s central bank over international financial relations and international politics. More importantly, the reverse is also true: the dominance of one country in international politics is a good indicator of the international status of its currency throughout history.
However, because the authors choose to separate the political causes and implications of monetary policies from their economic aspects, the book ultimately provides a rather hesitant and unassuming analysis that makes it feel lackluster. Two questions arise that remain unanswered: Why do central banks benefit from their currency becoming global, if not by preventing domestic inflation from reflecting in their exchange rate and foreign reserves? And why do other countries benefit from having multiple lenders of last resort (multiple reserve currencies), if not by accomplishing the same disguise? Without an answer to these questions, or even an acknowledgment of their existence, the book appears to be a collection of great insights whose potential remains unrealized.
Let me briefly illustrate this by contrasting Eichengreen, Mehl, and Chitu’s analysis of the momentous change in international monetary relations at the Genoa Conference in 1922 with the one put forward by Mises and Rothbard.
The authors discuss in chapter 3 (From Jekyll Island to Genoa) the leading countries’ efforts to restore the gold standard in the 1920s whilst avoiding the deflationary repercussions following the period of great inflation during the First World War. According to the report of the financial commission,
the Genoa resolutions called for negotiating a convention based on the gold-exchange standard with a view to “preventing undue fluctuations in the purchasing power of gold”… The idea was to create an environment in which ‘credit will be regulated… with a view to maintaining the currencies at par with one another (pp. 38–39).
Eichengreen, Mehl and Chitu view this solely as an open effort of Great Britain to recover the lost dominance of the pound sterling, and the otherwise innocent desire to renounce the golden fetters of the pre-WWI gold standard. While discussing monetary competition between London and New York, they fail to pinpoint the nature of this competition, and avoid answering the question whether the new reserve system was “badly designed or badly managed” (p. 41).
In the system’s design lurked a fateful goal: the continued inflation of money supplies. Coordination efforts among central monetary authorities in reaching this goal was a first step toward abandoning the commodity money system. While the authors only seem to skirt around the issue, Rothbard (2010, pp. 94–95) explicitly argued that Great Britain wanted to establish
a new international monetary order which would induce or coerce other governments into inflating or into going back to gold at overvalued pars for their own currencies, thus crippling their own exports and subsidizing imports from Britain. This is precisely what Britain did, as it led the way, at the Genoa Conference of 1922, in creating a new international monetary order, the gold-exchange standard.
Mises had explained this need for policy coordination in a similar way:
Various governments went off the gold standard because they were eager to make domestic prices and wages rise above the world market level, and because they wanted to stimulate exports and to hinder imports. Stability of foreign exchange rates was in their eyes a mischief, not a blessing (2010a, p. 252).
If the various governments and central banks do not all act in the same way, if some banks or governments go a little farther than the others… those who expand [the money supply] more are forced to return to the market rate of interest in order to preserve their solvency through liquidity; they want to prevent funds from being withdrawn from their country; they do not want to see their reserves in… foreign money dwindling (Mises, 2010b, p. 77).
The crucial issue here, therefore, is not the prominence of one currency or another, but that this prominence was engineered to speed up the renunciation of the gold standard, and greatly enlarge the freedom of all central banks to inflate money supplies. The Genoa Conference had thus paved the way for the next steps: the Bretton-Woods conference of 1944 and the “closing of the gold window” in 1971. This process did not unfold without problems, but it created the auspicious environment for inter-governmental monetary agreements, and allowed the U.S. and other powerful nations to employ a “policy of benign neglect toward the international monetary consequences of [their] actions” (Rothbard, 2010, p. 101). This further removed many obstacles to creating “the ideal condition for unlimited inflation” (Rothbard, 2009, p. 1018)—a system mimicking a global fiat currency as closely as possible.
In this light, the desire to engineer global currency status for one nation’s currency is open to another, more somber interpretation, which highlights the pressing dangers of international fiat money. According to Mises (2010b, p. 254):
Under a system of world inflation or world credit expansion every nation will be eager to belong to the class of gainers and not to that of the losers. It will ask for as much as possible of the additional quantity of paper money or credit for its own country.
It is not usual in a book review to criticize the authors for failing to achieve something they did not explicitly set out to accomplish. And yet, How Global Currencies Work: Past, Present, and Future is wanting in both its depth and breadth of analysis. Nonetheless, the abundance of data on the composition of foreign exchange reserves the authors make available is impressive, and their accomplishment in this regard must be commended. The book is easy to read, even though largely technical in nature and much too narrow in its focus.
I remain hopeful that this project will be followed by another, more extensive investigation into the workings of global currencies. An alternative analysis of this data, focused on the differences in kind between commodity and paper money, would provide a much deeper and richer illustration of how global fiat currencies are made to work to serve the political purposes of one powerful nation or another. This would indeed illuminate much of the dark history of monetary policy over the last three centuries.
Dr. Carmen Elena Dorobăț is a Fellow of the Mises Institute and assistant professor of business and economics at Leeds Trinity University in the United Kingdom. She has a PhD in economics from the University of Angers, and is the recipient of the 2015 O.P. Alford III Prize in Political Economy and the 2017 Gary G. Schlarbaum Prize for Excellence in Research and Teaching. Her research interests include international trade, monetary theory and policy, and the history of economic thought.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A morte do dinheiro? Ja vai tarde... Mas vamos pagar a conta! Esta bem assim?

Como sempre faço quando vou numa livraria, pego os últimos lançamentos da minha área para ver se vale a pena comprar, mas não imediatamente, pois eles costumam custar entre 25 e 35 dólares. Não que eu não possa pagar, mas eu teria de comprar também novas estantes, pois os livros vão se acumulando no chão, lidos pela metade, enquanto outros se acumulam em cima. Geralmente compro os que me interessam entre 3 e 6 meses, quando já estão na Abebooks, praticamente novos a um preço entre 3 e 5 dólares (e com frete grátis...).
Assim fiz com o livro famoso de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, de levíssima inspiração marxiana, mas de pouca consistência metodológica. A Economist acaba de refazer novas críticas aos seus dados, mas não contesta a validade geral de suas teses (o que eu contesto, não por ter feito exercícios econométricos, mas apenas por instinto contrarianista; acha que ele se engana no essencial, mas não tenho como provar, pois não consigo quantificar a evolução relativa de todas as formas de capital ao longo do tempo).
Em todo caso, desconfio que não são as mesmas pessoas que detêm essas várias formas de capital ao longo de duas ou três gerações e daí resulta que NÃO SE PODE falar em concentração, a não ser que se use esse fantasmagórico 1 por cento dos mais ricos. E daí? Os de hoje são os mesmos de um século atrás? Duvido.
Bem, hoje andei lendo este livro:
The Death of Money: The Coming Collapse of the International Monetary System
James Rickards

Embora ache que ele tenha razão no geral, acho que as intenções catastrofistas são um pouco exageradas. Aliás, o sistema monetário internacional, se existiu durante brevíssimo tempo (apenas no início dos anos 1960, e olhe lá), já não existe mais há muito tempo...
Vejamos:

The next financial collapse will resemble nothing in history...
Uau!

Estamos nada menos do que a um passo de um novo colapso geral da economia e do dólar, que vai ser pior do que em 1914, em 1939, em 1979, e sabe-se lá quando mais.
Tudo começou em 1971, claro, com aquele conservador do Nixon chutando o pau da barraca do sistema monetário internacional. O dólar caiu, o ouro se valorizou, a tendência se inverteu com a política de Paul Volcker de aumentar os juros para 19%, mas depois o declínio continuo, até chegar novamente na derrocada em 2008.
Alguns remendos foram feitos -- o tal de tsunami financeiro -- que só aumentaram a chance da derrocada próxima e segura.
Vamos ter: guerras financeiras, inflação, deflação, o colapso dos mercados, um dilúvio de perigos e talvez a volta da polio e do escorbuto.
Enfim, tem desgraça para todo e, como estamos no Brasil, elas virão em dobro, pois aqui os políticos ajudam a piorar bastante as coisas, assessorados por keynesianos de botequim.

Acho que o autor vai ganhar dinheiro com esse livro, tanto quanto ganhou com o seu anterior, Currency Wars, mas o mundo não vai acabar, e o dólar vai continuar sendo a base desse não-sistema monetário internacional, inclusive porque não tem nenhum outro instrumento disponível, e ninguém parece disposto a, ou ser capaz de, voltar ao padrão ouro.
Tudo é uma questão de confiança, sempre, e não é que as pessoas confiem no dólar. Não, elas não confiam, mas o problema é que elas confiam menos ainda nas demais moedas.
E o ouro, dirão alguns?
Essa relíquia bárbara, no dizer de Keynes?
Não acho que seja o substituto ideal.
A não ser o Tio Patinhas, ninguém fica nadando em moedas ou lingotes de ouro.
Coisa de especuladores, nada mais do que isso.
Melhor especular sobre o preço da soja, que pelo menos dá para comer (ugh!).
Paulo Roberto de Almeida