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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Raizes do colapso brasileiro, um texto de 2006 - Paulo Roberto de Almeida

Um texto de 2006, que na verdade atendia a um pedido de jornalista para comentar o livro de Jared Diamond, sobre o colapso de civilizações, para oferecer comentários à obra e aplicá-la ao caso brasileiro. A despeito dos dez anos decorridos, creio que o diagnóstico e as prescrições se mantêm quase integralmente.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11/01/2016


Raízes do Colapso

Paulo Roberto de Almeida
Doutor em Ciências Sociais. Diplomata.
Respostas a perguntas colocadas por jornalista
do jornal do agronegócio Raízes (São Paulo, SP).


Perguntas e respostas, tendo como referência o livro:
Jared Diamond
Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso
2ª edição; Rio de Janeiro: Record, 2005.

1) Gostaria de contextualizar o livro de Jared Diamond, para o empresário do agronegócio entender porque este livro é nossa referência aqui e por que o senhor foi chamado a analisá-lo. Em sua opinião, o que esta obra trouxe de novo e por que se tornou tão comentada? Por que ela chamou a sua atenção especificamente?

PRA: Eu já conheço a obra desse autor americano, um cientista-pesquisador da área da biologia evolutiva, desde muitos anos, como editor da revista de divulgação científica Discover, da qual eu tinha assinatura nos anos 1980. Mais recentemente li o seu primeiro best-seller Armas, Germes e Aço (ainda na primeira versão americana), que aprecio particularmente, ainda que eu possa criticar a ênfase talvez excessiva nos fatores ambientais, e menos naqueles sócio-culturais ou econômicos, que explicam como as sociedades humanas evoluíram de maneira diferenciada ao longo dos últimos dez mil anos. Trata-se, em todo caso, de uma pesquisa original, de amplo escopo explicativo, trazendo uma macro-história ecológica global da humanidade, nesse percurso muitas vezes milenar que conduziu algumas sociedades à abundância e à liderança tecnológica e outras ao atraso relativo ou mesmo à miséria temporária. Um livro brilhante, sem dúvida, mesmo descontando a já referida ênfase no meio ambiente, em detrimento dos fatores moldados pelo próprio homem.
Era natural, assim, que eu me interesse por este novo livro, sobretudo contendo um título tão accrocheur, como diriam os franceses, ou appealing, no dizer dos americanos. Sempre somos fascinados pelos desastres, pelos fracassos, tanto quanto pelo sucesso e pela prosperidade. Este livro trata do “lado errado” das sociedades, que deveria ser estudado tanto quanto os motivos de sucesso, pois aprendemos mais pelos erros do que pelos acertos. Como se diz, a vitória tem muitos pais, o fracasso tem uma só mãe, quando não é órfã, ou solitária. Casos de insucesso nos negócios, de fracasso completo nos empreendimentos deveriam ser estudados nos cursos de administração, de forma tão detalhada, ou talvez até mais, do que os casos de executivos brilhantes ou de grandes realizações no mundo dos negócios, pois é pelos fracassos que podemos medir nossas chances de sucesso futuro, ou evitar os erros mais comuns.
Como eu acho que o Brasil configura, nos últimos anos, um notório caso de “fracasso” econômico, com um baixo crescimento cumulativo há praticamente duas décadas, fui buscar no livro alguns motivos de reflexão que poderiam me dar algumas luzes sobre as razões do nosso insucesso no crescimento econômico e na inclusão social.

2) O que o senhor destacaria como principais pontos do livro?

PRA: No plano metodológico, a visão macro-histórica já destacada, pois ela permite ver o mundo evoluindo no longo prazo, a trajetória das civilizações, que reproduzem certo ciclo de vida. Ainda no plano metodológico, a perspectiva comparada, que permite ver como algumas sociedades enfrentam problemas de modo criativo, enquanto outras não conseguem superar problemas prosaicos, como pode ser o do simples equilíbrio ecológico, ou da subsistência em meios materiais, que deveria ser objeto de simples planejamento elementar.
No plano substantivo, o livro fornece um amplo painel sobre diferentes caminhos de sociedades do passado e algumas do presente, mostrando, finalmente, que nada é muito novo na trajetória do homem e que os mesmos problemas sempre se colocam de forma recorrente, ainda que os meios técnicos e as paisagens se tenham alterado por vezes de maneira fundamental ou radical, desde a antiguidade, ou na era dos descobrimentos, e em nossa própria época.

3) Que paralelos podemos estabelecer entre a realidade brasileira e os exemplos bem-sucedidos e catastróficos descritos por Diamond?

PRA: O Brasil, como economia ou sociedade, não está exatamente apontando para algum colapso iminente, ainda que “pequenos colapsos” possam ocorrer, talvez nas contas públicas, como resultado dos crescentes déficits previdenciários, ou no terreno dos investimentos em infra-estrutura, onde obras importantes deixaram de ser feitas nos últimos anos por insuficiência orçamentária ou, mais exatamente, por incapacidade administrativa. Mas, o Brasil não está na iminência de uma grande catástrofe como as descritas no livro de Diamond, problemas de tal monta que acabam desestruturando toda a sociedade de forma irremediável. Nossos problemas são de natureza cumulativa, basicamente de organização, mais do que falta de meios ou de inteligência.
O que chama a atenção na experiência brasileira dos últimos vinte anos ou, praticamente, no último quarto de século, é a incapacidade do país de crescer de modo sustentável, primeiro pela aceleração inflacionária e pelo descontrole econômico ocorrido nos anos 1980 e na primeira metade dos 90, depois pela ausência de poupança e de investimentos produtivos, justamente. O que mais chama a atenção, de fato, é a nossa própria cegueira, mais exatamente da classe política, em continuar aprovando aumento de gastos públicos, não para fins produtivos, mas para alimentação dos “meios” tão simplesmente, em total descompasso com o crescimento da economia ou com a disponibilidade de recursos. A classe política tem demonstrado uma brutal insensibilidade para os efeitos cumulativos do baixo crescimento, do acúmulo de despesas obrigatórias sob responsabilidade do próprio Estado, do tributarismo e do regulacionismo excessivos, que na verdade “empurram” milhares de pessoas e de pequenas e médias empresas para o lado informal da economia, não porque elas ali queiram estar, mas porque não podem fazer de outro modo, em vista dos constrangimentos que teriam nos planos fiscal, tributário, regulatório. se desejassem, por acaso, ascender ao plano da formalidade e da plena legalidade.
Nossas pequenas “grandes” catástrofes estão nessa miríade de regulamentos burocráticos, de obrigações legais e, sobretudo, de regimes tributários que tornam a vida do empreendedor um inferno digno de Dante.

4) O Brasil está destinado ao fracasso ou há caminhos que indicam uma luz no fim do túnel? Ou ainda: que saídas temos para reverter nosso "colapso"?

PRA: O Brasil, certamente, não está, a priori, condenado ao colapso. Emprego este conceito num sentido bem mais metafórico do que real. Mas, o Brasil está, sim, condenado ao baixo crescimento, a uma quase estagnação do crescimento per capita, a uma deterioração sensível e contínua das instituições públicas, a uma erosão continuada da qualidade de sua educação, tudo isso ao mesmo tempo e cumulativamente, a persistirem os mesmos sintomas que indicam baixo crescimento da produtividade, desrespeito à lei, carga fiscal muito elevada, pesadas barreiras à entrada para novos negócios, corrupção generalizada no setor público, caixa 2 no setor privado – geralmente mantido mais em função do excesso de tributos de origem estatal do que por “necessidades” da própria empresa – e uma pesada herança do burocratismo de outras eras que ainda não foi extirpado de nossa cultura. Todos esses fatores podem não levar, exatamente, ao fracasso do Brasil, enquanto sociedade ou economia, mas indicam, sim, uma incapacidade desta nação de se adaptar ao mundo dinâmico da globalização contemporânea e podem, ao contrário, levar uma indefinição persistente quanto às reformas necessárias para superar esse tipo de impasse.
No campo das reformas, eu indicaria um conjunto de tarefas que nos permitiriam superar os problemas apontados, mas confesso desde já que sou totalmente pessimista quanto à capacidade dos governos – quaisquer que sejam eles – e da própria sociedade de aprová-las e implementá-las. Essas reformas, sinteticamente expostas, seriam as seguintes:
1. Reforma política, a começar pela Constituição: seria útil uma “limpeza” nas excrescências indevidas da CF, deixando-a apenas com os princípios gerais, remetendo todo o resto para legislação complementar e regulatória. Em vista dos seus custos para o País e os cidadãos (que pouco sabem do nível real de despesas), seria conveniente operar uma diminuição drástica dos corpos legislativos em seus vários níveis (federal, estadual e municipal). No campo da reforma eleitoral, introduzir a proporcionalidade mista, com voto distrital em nível local e alguma representação por listas no plano nacional, preservando o caráter nacional dos partidos.

2. Reforma administrativa com diminuição do número de ministérios, e atribuições de funções a diversas agências reguladoras. Retomada da privatização das empresas estatais que ainda existem e que são fontes de ineficiências e corrupção. Fim geral da estabilidade no serviço público, salvo para algumas carreiras de Estado (estritamente definidas).

3. Reforma econômica ampla, com diminuição da carga tributária e redução das despesas do Estado; severo aperto fiscal nos criadores de despesas “inimputáveis”, que são os legislativos e o judiciário. Reformas microeconômicas de molde a criar um ambiente favorável ao investimento produtivo e ao lucro e para diminuir a sonegação e a evasão fiscal.

4. Reforma trabalhista radical, no sentido da flexibilização da legislação laboral, dando maior espaço às negociações diretas entre as partes. Extinção da Justiça do Trabalho, ela mesma uma das fontes de criação e sustentação de conflitos. Eliminação do imposto sindical, que alimenta organizações de papel, de comportamento rentista.

5. Reforma educacional completa, com retirada do terceiro ciclo da responsabilidade do Estado e concessão de completa autonomia às universidades públicas (mantendo-se a transferência de recursos para fins de pesquisa e projetos específicos). Concentração dos recursos públicos nos dois primeiros níveis e no ensino técnico-profissional, cuja valorização passa pelo treinamento e qualificação adequados dos professores e a introdução de sistemas de remuneração por mérito e rendimento (diretamente aferidos pelos resultados dos alunos).

6. Prosseguimento da abertura econômica e da liberalização comercial; acolhimento do investimento estrangeiro e adesão a regimes proprietários mais avançados.

5) Se é possível escolher entre o fracasso ou sucesso, como observa Diamond, temos exemplos acertados do Brasil em direção ao sucesso?

PRA: Certamente. O Brasil é uma sociedade extremamente maleável, receptiva a quaisquer inovações que possam ocorrer no resto do mundo, capaz de adaptar e incrementar bens, serviços, modas ou quaisquer outras coisas que surgem nos mais diferentes quadrantes do globo, geralmente melhorando o próprio original. Começamos que somos uma verdadeira sociedade multirracial, o que é uma qualidade e um atributo extremamente positivos no plano interno, ainda que isso possa não ser ainda devidamente valorizado em outros países. Nossa proverbial tolerância e acolhimento da chamada “alteridade” também é um valor que devemos preservar e ampliar.
No quadro dos países em desenvolvimento, fomos uma das sociedades mais bem sucedidas na construção de um sistema produtivo industrial e agrícola de excelente qualidade geral. Nosso establishment científico também rivaliza, em qualidade intrínseca, com os melhores do mundo, faltando apenas maiores investimentos na pesquisa para levá-la a patamares ainda superiores de descoberta e inventividade. Temos sérios problemas quanto à transposição do conhecimento científico para o plano de suas aplicações tecnológicas, mas poderemos melhorar esse aspecto também, uma vez que as condições técnicas parecem já estar dadas para tanto.
Destruímos muito nossa natureza no passado e, de certa forma, continuamos ainda a dilapidar nossos recursos naturais, mas a sociedade já se conscientizou dos problemas e parece pronta para inverter o ritmo e a direção da “insustentabilidade” que estava sendo criada. Mais um pouco e teremos estabelecido um padrão de convivência com os recursos da biodiversidade que nos colocará no caminho do desenvolvimento dito “sustentável” (com toda a carga de “politicamente correto” que esse conceito possa ter).
De certa forma, a maior parte do establishment científico, dos técnicos de alta formação, dos formadores de opinião, dos pesquisadores sociais em políticas públicas e, certamente, muitos quadros governamentais, todos esses personagens da nossa vida social e governamental têm perfeita consciência dos problemas brasileiros, da origem de nossos problemas macroeconômicos, setoriais, das deficiências educacionais, enfim, dos “males de origem”, e já traçaram diagnósticos corretos e até “manuais de correção” dos problemas detectados. Os obstáculos parecem situar-se muito mais no plano político-institucional, do que no âmbito da própria sociedade civil, que poderia estar disposta a enfrentar um programa de reformas, desde que bem explicadas e justificadas como necessárias, para retomar antigos patamares de crescimento e de desenvolvimento econômico e social.

6) Quais as principais lições a serem tiradas desta obra, tendo em vista a situação do país?

PRA: A principal lição é a de que a persistência no erro é o caminho mais rápido para a decadência, a estagnação e, possivelmente, o colapso. Antes do Brasil, outras sociedades declinaram durante décadas, senão séculos: nos três séculos que se seguem ao Iluminismo europeu e à emergência de sociedades avançadas e conquistadoras na Europa, a China constituiu um desses exemplos de notável declínio, mais até do que econômico ou tecnológico, propriamente civilizacional. No século XX, tanto a Grã-Bretanha “imperial” e a Argentina “periférica” passaram por décadas de lento mas constante declínio econômico, industrial e, para esta última, até político, processo que neste caso não está totalmente revertido. Em todos esses casos de retrocesso ou de estagnação, o que primeiro experimenta disfuncionalidades são as próprias instituições públicas, que deixam de operar em condições de racionalidade aceitável, passando a acumular problemas operacionais e algumas vezes até conceituais que impedem essas sociedades de conduzir as reformas necessárias para reverter o declínio (que é sempre relativo, no começo, antes de converter-se em absoluto).
Deve-se dizer que a maior parte dos exemplos citados por Jared Diamond se refere a desequilíbrios das sociedades estudadas com o seu próprio meio ambiente natural ou social e geográfico, o que não é absolutamente o nosso caso. O Brasil tem, mais precisamente, disfuncionalidades institucionais, de natureza essencialmente política, que inviabilizam atualmente a continuidade de um processo de reformas que de certa forma foi conduzido com sucesso no decorrer dos anos 1990 – estabilização macroeconômica, por exemplo, ou privatizações e criação de agências regulatórias – mas que encontra muitas resistências para ser levado adiante naquilo que se refere ao espectro de contratos sociais – reforma trabalhista, por exemplo – ou naquilo que se refere ao controle dos gastos públicos – aqui envolvendo toda a classe política, nos três níveis da federação –, além de diversas outras reformas que tocam nos famosos “direitos adquiridos” (como a questão previdenciária).
Se não estamos (ainda?) em desequilíbrio com o nosso meio ambiente, estamos há muito em desequilíbrio com as contas públicas e com a qualidade (deplorável) da educação pública. Esses problemas graves precisam ser revertidos urgentemente.

7) - Esteja à vontade para acrescentar outras informações e comentários.

PRA: Tenho absoluta consciência de que existe uma enorme distância entre a amplitude dos problemas brasileiros, tal como detectados de modo breve nos parágrafos acima, e as modestas possibilidades de seu encaminhamento satisfatório por meio de um processo de reformas racionais e totalmente voltadas para os fins desejados: a retomada do crescimento em bases sustentáveis, socialmente inclusivo, com transformação produtiva e inserção na economia internacional.
Ao não acreditar que isso seja possível no futuro previsível, só posso antecipar que o Brasil continuará a “patinar” no baixo crescimento e na deterioração ainda maior de suas instituições públicas – entre elas os diversos legislativos, o próprio Judiciário, as polícias, as universidades e as escolas, de modo geral –, com o irremediável comprometimento da qualidade de vida de nossos filhos e netos, que certamente terão de enfrentar um problema fiscal ainda maior do que o que temos hoje. Em vista dos bloqueios persistentes existentes na sociedade brasileira – que não devem ser confundidos com alguns exemplos de “inconsciência societal”, tal como detectados no livro de Jared Diamond – minhas previsões são moderadamente pessimistas, para não dizer virtualmente “declinistas”. Meu maior desejo, sinceramente, é o de ser desmentido pelos fatos e pelos processos futuros.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de agosto de 2006

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Colapso, editorial da FSP

Raras vezes eu concordo com um editorial desse jornaleco metido a besta, e que se equilibra entre o razoável e o francamente ruim, com seus jornalistas alienados.
Mas, devo dizer que concordo com todas as linhas deste editorial, que até acho moderado, pois esquece de mencionar, que além da incompetência, tivemos de aguentar o maior esquema de corrupção, roubalheira, falcatruas e mentiras de toda a história do Brasil durante os últimos treze (ou mais) anos.
Em lugar de colapso, que ainda não chegou realmente, trata-se de uma situação que eu chamo de A Grande Destruicao lulopetista.
Paulo Roberto de Almeida

Colapso
Editorial/FSP, 3/12/2015

Poucas vezes se viu, na história brasileira, um encolhimento tão expressivo de nossa economia. De abril de 2014 a setembro deste ano, o PIB ficou 5,8% menor, e inexistem sinais de que a redução será interrompida no curto prazo. Não se vê nada parecido desde o início dos anos 1980; antes disso, é preciso voltar à década de 1930.

Com os resultados do terceiro trimestre –queda de 1,7% em relação aos três meses anteriores–, o PIB deve fechar 2015 com contração próxima a 4%. Esvaem-se, com isso, as esperanças de que 2016 possa trazer algum alento. O ano que vem será de nova retração. Com sorte, o crescimento voltará, tímido, apenas em 2017.

O colapso da demanda interna afeta quase todos os setores, algo também raro. A combinação de crise em segmentos de grande peso para o investimento e o emprego –como a construção civil, toda a cadeia de óleo e gás e a indústria– torna mais difícil antever o possível caminho da recuperação.

A extensão da degradação social ainda está por ser plenamente estabelecida. Já se nota, porém, a reversão de tendências positivas da última década. Aumentam a informalidade da mão de obra e a desocupação entre os jovens, por exemplo. A se confirmarem prognósticos que não soam pessimistas, até o ano que vem o país terá perdido 4,5 milhões de postos de trabalho.

Por essas razões, a recessão atual se anuncia muito mais prolongada do que as contrações de 2003 e 2009. Nos dois casos, nossa economia voltou a se expandir menos de um ano depois e não tardou a superar o tamanho que tinha antes da crise. Desta vez, é quase certo que o país chegará a 2018 com patamar de produção inferior ao de 2014.

Evidencia-se, pois, a precariedade do modelo petista, que se baseou unicamente em aproveitar os bons ventos internacionais para distribuir dinheiro e obter, de políticos e empresários, apoio mercenário a um projeto econômico primitivo.

Não foi por falta de aviso que falhou a via do intervencionismo tosco e da escolha arbitrária de setores a serem agraciados com benesses oficiais. Não surpreende que nesse ambiente opaco tenham vicejado a corrupção e as piores práticas de administração pública.

Mudar esse quadro sombrio demandará a implementação de um regime oposto ao que se construiu nas gestões petistas. Trata-se, para começar, de basear o sistema em produtividade, abertura e transparência e de reforçar o que há de republicano nas instituições políticas e econômicas.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A morte do dinheiro? Ja vai tarde... Mas vamos pagar a conta! Esta bem assim?

Como sempre faço quando vou numa livraria, pego os últimos lançamentos da minha área para ver se vale a pena comprar, mas não imediatamente, pois eles costumam custar entre 25 e 35 dólares. Não que eu não possa pagar, mas eu teria de comprar também novas estantes, pois os livros vão se acumulando no chão, lidos pela metade, enquanto outros se acumulam em cima. Geralmente compro os que me interessam entre 3 e 6 meses, quando já estão na Abebooks, praticamente novos a um preço entre 3 e 5 dólares (e com frete grátis...).
Assim fiz com o livro famoso de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, de levíssima inspiração marxiana, mas de pouca consistência metodológica. A Economist acaba de refazer novas críticas aos seus dados, mas não contesta a validade geral de suas teses (o que eu contesto, não por ter feito exercícios econométricos, mas apenas por instinto contrarianista; acha que ele se engana no essencial, mas não tenho como provar, pois não consigo quantificar a evolução relativa de todas as formas de capital ao longo do tempo).
Em todo caso, desconfio que não são as mesmas pessoas que detêm essas várias formas de capital ao longo de duas ou três gerações e daí resulta que NÃO SE PODE falar em concentração, a não ser que se use esse fantasmagórico 1 por cento dos mais ricos. E daí? Os de hoje são os mesmos de um século atrás? Duvido.
Bem, hoje andei lendo este livro:
The Death of Money: The Coming Collapse of the International Monetary System
James Rickards

Embora ache que ele tenha razão no geral, acho que as intenções catastrofistas são um pouco exageradas. Aliás, o sistema monetário internacional, se existiu durante brevíssimo tempo (apenas no início dos anos 1960, e olhe lá), já não existe mais há muito tempo...
Vejamos:

The next financial collapse will resemble nothing in history...
Uau!

Estamos nada menos do que a um passo de um novo colapso geral da economia e do dólar, que vai ser pior do que em 1914, em 1939, em 1979, e sabe-se lá quando mais.
Tudo começou em 1971, claro, com aquele conservador do Nixon chutando o pau da barraca do sistema monetário internacional. O dólar caiu, o ouro se valorizou, a tendência se inverteu com a política de Paul Volcker de aumentar os juros para 19%, mas depois o declínio continuo, até chegar novamente na derrocada em 2008.
Alguns remendos foram feitos -- o tal de tsunami financeiro -- que só aumentaram a chance da derrocada próxima e segura.
Vamos ter: guerras financeiras, inflação, deflação, o colapso dos mercados, um dilúvio de perigos e talvez a volta da polio e do escorbuto.
Enfim, tem desgraça para todo e, como estamos no Brasil, elas virão em dobro, pois aqui os políticos ajudam a piorar bastante as coisas, assessorados por keynesianos de botequim.

Acho que o autor vai ganhar dinheiro com esse livro, tanto quanto ganhou com o seu anterior, Currency Wars, mas o mundo não vai acabar, e o dólar vai continuar sendo a base desse não-sistema monetário internacional, inclusive porque não tem nenhum outro instrumento disponível, e ninguém parece disposto a, ou ser capaz de, voltar ao padrão ouro.
Tudo é uma questão de confiança, sempre, e não é que as pessoas confiem no dólar. Não, elas não confiam, mas o problema é que elas confiam menos ainda nas demais moedas.
E o ouro, dirão alguns?
Essa relíquia bárbara, no dizer de Keynes?
Não acho que seja o substituto ideal.
A não ser o Tio Patinhas, ninguém fica nadando em moedas ou lingotes de ouro.
Coisa de especuladores, nada mais do que isso.
Melhor especular sobre o preço da soja, que pelo menos dá para comer (ugh!).
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Venezuela: colapso total; teoria da conspiracao em acao (EUA, CIA, Casa Branca, direita, burguesia, etc.)

Bem, não faltam conspiradores e inimigos da economia venezuelana. Todos, absolutamente todos, menos (claro) os governantes, estão atuando de forma coordenada, conspiratória, para fazer a Venezuela entrar em colapso total.
Vejam quantos são os inimigos da revolução bolivariana:

Nicolás Maduro asegura que tales ataques han sido denominados "Colapso total" cuyo momento crítico estallará el próximo mes de octubre. "Tengo los datos, las fechas de esas reuniones en la Casa Blanca, los nombres de quienes asistieron, de los planes que se hicieron. Ellos piensan que en Octubre colapsará Venezuela, así lo han planificado, iban a sabotear la comida de la gente, la electricidad, el combustible, las refinerías". Aseguró tener en sus manos documentos e informes en los que se señala, con nombres y apellidos, los asistentes a dichas reuniones, en las que se pretendían sabotear a Venezuela desde sectores vulnerables como la alimentación.

Vai ser duro resistir, e alguma falta de produtos pode ocorrer, mas não na proporção que esperam os inimigos da revolução bolivariana. Estamos com o povo venezuelano, sempre.
A luta continua, companheiros, para a frente é que se anda. Ops, de vez em quanto a coisa tropeça...
Paulo Roberto de Almeida

SABOTAJE

"Colapso total"

En lo que va de año se ha decretado "emergencia" económica y alimentaria, en el sistema eléctrico, la vialidad e infraestructura, con la militarización de las respectivas áreas. Por Francisco Olivares

El Universal, CARACAS, domingo 22 de septiembre, 2013
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El des abastecimiento se duplicó en 2013 al llegar a 20% convirtiéndose en uno de los problemas más sentidos por el consumidor. VENANCIO ALCÁZARES
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EL UNIVERSAL
domingo 22 de septiembre de 2013  12:00 AM
Emergencia eléctrica, alimentaria, en infraestructura, sanitaria, guerra a la inflación, son algunos de los términos que anuncian grandes campañas y medidas extremas que el Gobierno habría de tomar a fin de contener las diversas crisis que se registran en las áreas claves de la producción y la economía que el Gobierno atribuye a un "sabotaje" provocado por el imperio, la derecha y el fascismo.

Nicolás Maduro asegura que tales ataques han sido denominados "Colapso total" cuyo momento crítico estallará el próximo mes de octubre. "Tengo los datos, las fechas de esas reuniones en la Casa Blanca, los nombres de quienes asistieron, de los planes que se hicieron. Ellos piensan que en Octubre colapsará Venezuela, así lo han planificado, iban a sabotear la comida de la gente, la electricidad, el combustible, las refinerías". Aseguró tener en sus manos documentos e informes en los que se señala, con nombres y apellidos, los asistentes a dichas reuniones, en las que se pretendían sabotear a Venezuela desde sectores vulnerables como la alimentación.

La idea del "sabotaje y las conspiraciones" a los que se suman unos 60 intentos de magnicidio, han acompañando diversos momentos críticos del país. A ellos Maduro ha llamado a enfrentarlos militarizando empresas del Estado, creando llamativos organismos como "Órgano Superior de Defensa Popular de la Economía" o hasta una línea para las denuncias llamada 0800-sabotaje. Pero a pesar del despliegue de fuerzas y el control ejercido en todas las instituciones, las refinerías siguen explotando, los apagones se extienden, los hospitales colapsan y la inflación sigue indetenible. 

Que una bomba económica habría de estallar fue alertado hace 5 meses por un equipo económico asesor de Maduro durante la corta campaña presidencial del 14 de abril. Ese equipo advertía de los peligros que habría de afrontar Maduro dada la crisis que para la fecha ya se registraba en todas las áreas económicas del país.

El documento denominado "Qué hacer" fue difundido en aquella oportunidad por diario ABC de España. Pero a diferencia de lo que acostumbraba Hugo Chávez y ahora Nicolás Maduro, de acusar a los empresarios y al imperio de todos los males que afronta el país, este documento planteaba: "alertamos sobre un bomba atómica económica que ya prácticamente ha estallado debido a las políticas económicas inadecuadas de nuestro equipo económico. Se necesita una reformulación de las mismas para un urgente control de daños, por un lado, y un relanzamiento de la economía por el otro".

Luego de realizar un diagnóstico con 17 puntos críticos de la economía, con indicadores que desnudaban el descalabro y en la que se destacaba el fracaso de las empresas estatizadas, advierten la inminencia de un estallido social: "hasta ahora las clases bajas que apoyan el proceso revolucionario han sido pacientes (... ) Pero se huele en el ambiente al posibilidad de un estallido social como efecto posterior de reverberación de las ondas de choque de la bomba económica que ya explotó". 

En esta entrega de EXPEDIENTE presentamos las cifras y los aspectos más relevantes de los que el Gobierno ha llamado "Colapso total".

La inflación 

"Vamos a torcerle el brazo a la inflación y a mantener el nivel de consumo de la población" ofreció Nicolás Maduro los primeros días de su gestión. Para entonces se reunía con los empresarios, les ofrecía garantías e invitaba a trabajar junto al Gobierno. Los llamó a una "revolución económica productiva en el país, al tiempo que anunciaba planes anti-inflacionarios.

Unos meses después los indicadores muestran a Venezuela como uno de los países con mayor inflación en el mundo junto a un país en guerra como lo es Siria. Venezuela registra una tasa interanual de inflación de 45%, la más alta del continente. La inflación acumulada en agosto es de 32,9% tres veces más alta que el mismo período del año anterior. De ellos la de alimentos alcanza 65,2% siendo los sectores pobres los que más sufren el aumento de precios. Los expertos del Gobierno habían estimado una inflación máxima de 16%. Las regulaciones, los controles de precio y el control de cambio han resultado inútiles frente a la realidad económica. Si bien el Gobierno atribuye esta realidad a la llamada "guerra económica" los expertos señalan la incorrecta política cambiaria, las devaluaciones y los controles de precios que lo que hacen es represar la inflación, incorrectas políticas fiscales, leyes laborales, exceso de controles, con efecto en la baja productividad del país.

Escasez

La escasez figura como uno de los problemas más sentidos por la población. De 10% registrado en agosto de 2012 pasó a 19,2% para agosto de 2013. Las cifras oficiales indican que al menos 16 productos tienen problemas de abastecimientos. Mientras el Gobierno insiste en la "guerra económica" como detonante de la escasez, los empresarios del alimento y productores agrícolas señalan que dependen de que Cadivi apruebe las divisas que les permitan importar la materia prima necesaria para producir y los desembolsos no se hacen a tiempo. No hay repuesto para las maquinarias agrícolas, no hay fertilizantes ni productos químicos necesarios. Otra alcabala para la producción son los certificados de No producción que es una antesala para acudir a Cadivi. Todo ello se agregó al proceso de estatización de 3 millones de hectáreas de tierras que estaban en plena producción y numerosas industrias de alimentos cuyos números hoy están en rojo.

Esta misma situación se presenta en la producción automotriz que gran parte depende de la importación de materia prima. Otro elemento son los controles de precio de los alimentos y las regulaciones laborales. La escasez de productos se observa con mayor profundidad en el interior del país hasta el punto que muchas personan se trasladan a la capital, mejor surtida, en busca de los productos desaparecidos.

Sobre esta materia tampoco varió el lenguaje presidencial. Acostumbrado a singulares expresiones y a las creaciones de emergencia, pidió el cese de la "psicosis comercial" y anunció que sostendría una reunión con su "Estado Mayor Económico". Pero de antemano señaló que se trata de la "guerra económica que mantienen algunos sectores" (... ) los que están desabasteciendo algunos productos ¡después no se quejen! amenazó Maduro. "Ponen cara de tontos creyendo que están tratando con tontos".

El documento de sus asesores sin embargo al alertar en abril de que nos encontrábamos a las puertas de una hiperinflación, escasez de productos básicos y contracción económica, cuestionaba la política cambiaria y la escasez de divisas que afectan igualmente a las "empresas socialistas". 

Las cifras de crecimiento del primer semestre aunque muestra un crecimiento en el primer semestre de 1,6 % muestran un retroceso frente al 5,6% registrado en el primer semestre de 2012. 

Crisis eléctrica 

En la década de los sesenta Venezuela se convirtió en una potencia eléctrica a partir de la construcción de la represa del Guri. Al llegar Chávez al poder anuncia grandes inversiones que no se realizan. En 2003 se produce la primera crisis severa. En 2008 se producen 4 apagones que incluyen a Caracas. En 2009 se repiten los apagones y en 2010 la crisis afecta a Guri y se temió por el colapso de la presa, de allí que se decreta la "emergencia eléctrica". Entre 2006 y 2012, el sector recibió 21,8 millardos de dólares, a través del Fonden, Pdvsa y el Fondo Chino, para llevar adelante los grandes proyectos. Algunos expertos estiman que a lo largo de todo el Gobierno de Chávez el sector percibió fondos sobre los 60 millardos de dólares. La crisis eléctrica que ha continuado en 2013 ha sido atribuida igualmente al sabotaje internacional por Nicolás Maduro quien al mismo tiempo volvió a decretar la emergencia eléctrrica y lanzó la Gran Misión Electricidad. Sin embargo El director de Corpoelec, Jesse Chacón, explicó la necesidad de hacer grandes inversiones en el sector para modernizar el sistema y cumplir con la demanda. Paralelamente se han denunciado sobreprecios, estafa y malas decisiones en las contrataciones a dedo que se hicieron en los últimos años en el sistema.

Salud

Con gran optimismo Nicolás Maduro publicó en su twitter: "Hay que seguir haciendo un sistema de salud que busque la máxima calidad humana y técnica de atención a tod@s". Pero en este tema es la Federación Médica de Venezuela, que agrupa a 80 mil médicos, que exige se decrete la emergencia en salud alegando el cierre técnico de la mayoría de los hospitales del país. Las cifras del sector indican un déficit de médicos de 50%. Tal déficit difícilmente se pueda compensar con la graduación de los llamados "médicos integrales comunitarios" quienes no tienen el nivel necesario para atender situaciones más allá de la atención primaria. De los 300 hospitales que hay en el país con 44 mil camas presupuestadas solo hay 35% operativas. 

A las voces de los gremios se unen empleados y pacientes quienes constantemente se lanzan a las calles a exigir insumos, reactivos, equipos para las terapias, cuidados intensivos etc. Estos reclamos se han hecho extensivos a los ambulatorios y los centros de atención primaria. 

Infraestructura

Nicolás Maduro, decretó el estado de emergencia vial por 90 días para la ejecución de obras de construcción, rehabilitación y mantenimiento en autopistas, vías, carretera y troncales en todo el territorio nacional. Se trata del decreto 238 publicado en la Gaceta Oficial número 40.218 del pasado 31 de julio. 

El presidente del Colegio de Ingenieros de Venezuela, Enzo Betancourt afirmó que los puentes y viaductos afectados representan entre 80% a 90%, mientras que en el caso de la vialidad se mantiene entre un 60% y 70%, todo esto ocasionado por la falta de mantenimiento y previsión de parte de los organismos competentes,

Hace 30 años la infraestructura de país era un modelo para el resto de la región, pero en los últimos 20 años no se ha construido más de 1% de la red vial. Desde que fueron removidos los peajes a comienzos de los años 2000, no se realiza una medición de la frecuencia y composición del tránsito en la red vial.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

The End is Near: o fim do Euro? - Der Spiegel

Não se trata do fim do euro, como o conhecemos.
C'est la fin, tout court!
Paulo Roberto de Almeida 

Currency's Days Seen NumberedInvestors Prepare for Euro Collapse

Photo Gallery: Investors' Faith in Euro Crumbling
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AP
Banks, companies and investors are preparing themselves for a collapse of the euro. Cross-border bank lending is falling, asset managers are shunning Europe and money is flowing into German real estate and bonds. The euro remains stable against the dollar because America has debt problems too. But unlike the euro, the dollar's structure isn't in doubt.
Info
Otmar Issing is looks a bit tired. The former chief economist at the European Central Bank (ECB) is sitting on a barstool in a room adjoining the Frankfurt Stock Exchange. He resembles a father whose troubled teenager has fallen in with the wrong crowd. Issing is just about to explain again all the things that have gone wrong with the euro, and why the current, as yet unsuccessful efforts to save the European common currency are cause for grave concern.

He begins with an anecdote. "Dear Otmar, congratulations on an impossible job." That's what the late Nobel Prize-winning American economist Milton Friedman wrote to him when Issing became a member of the ECB Executive Board. Right from the start, Friedman didn't believe that the new currency would survive. Issing at the time saw the euro as an "experiment" that was nevertheless worth fighting for.
Fourteen years later, Issing is still fighting long after he's gone into retirement. But just next door on the stock exchange floor, and in other financial centers around the world, apparently a great many people believe that Friedman's prophecy will soon be fulfilled.
Banks, investors and companies are bracing themselves for the possibility that the euro will break up -- and are thus increasing the likelihood that precisely this will happen.
There is increasing anxiety, particularly because politicians have not managed to solve the problems. Despite all their efforts, the situation in Greece appears hopeless. Spain is in trouble and, to make matters worse, Germany's Constitutional Court will decide in September whether the European Stability Mechanism (ESM) is even compatible with the German constitution.
There's a growing sense of resentment in both lending and borrowing countries -- and in the nations that could soon join their ranks. German politicians such as Bavarian Finance Minister Markus Söder of the conservative Christian Social Union (CSU) are openly calling for Greece to be thrown out of the euro zone. Meanwhile the the leader of Germany's opposition center-left Social Democrats (SPD), Sigmar Gabriel, is urging the euro countries to share liability for the debts.
On the financial markets, the political wrangling over the right way to resolve the crisis has accomplished primarily one thing: it has fueled fears of a collapse of the euro.
Cross-Border Bank Lending Down
Banks are particularly worried. "Banks and companies are starting to finance their operations locally," says Thomas Mayer who until recently was the chief economist at Deutsche Bank, which, along with other financial institutions, has been reducing its risks in crisis-ridden countries for months now. The flow of money across borders has dried up because the banks are afraid of suffering losses.
According to the ECB, cross-border lending among euro-zone banks is steadily declining, especially since the summer of 2011. In June, these interbank transactions reached their lowest level since the outbreak of the financial crisis in 2007.
In addition to scaling back their loans to companies and financial institutions in other European countries, banks are even severing connections to their own subsidiaries abroad. Germany's Commerzbank and Deutsche Bank apparently prefer to see their branches in Spain and Italy tap into ECB funds, rather than finance them themselves. At the same time, these banks are parking excess capital reserves at the central bank. They are preparing themselves for the eventuality that southern European countries will reintroduce their national currencies and drastically devalue them.
"Even the watchdogs don't like to see banks take cross-border risks, although in an absurd way this runs contrary to the concept of the monetary union," says Mayer.
Since the height of the financial crisis in 2008, the EU Commission has been pressuring European banks to reduce their business, primarily abroad, in a bid to strengthen their capital base. Furthermore, the watchdogs have introduced strict limitations on the flow of money within financial institutions. Regulators require that banks in each country independently finance themselves. For instance, Germany's Federal Financial Supervisory Authority (BaFin) insists that HypoVereinsbank keeps its money in Germany. When the parent bank, Unicredit in Milan, asks for an excessive amount of money to be transferred from the German subsidiary to Italy, BaFin intervenes.
Breaking Points
Unicredit is an ideal example of how banks are turning back the clocks in Europe: The bank, which always prided itself as a truly pan-European institution, now grants many liberties to its regional subsidiaries, while benefiting less from the actual advantages of a European bank. High-ranking bank managers admit that, if push came to shove, this would make it possible to quickly sell off individual parts of the financial group.
In effect, the bankers are sketching predetermined breaking points on the European map. "Since private capital is no longer flowing, the central bankers are stepping into the breach," explains Mayer. The economist goes on to explain that the risk of a breakup has been transferred to taxpayers. "Over the long term, the monetary union can't be maintained without private investors," he argues, "because it would only be artificially kept alive."
The fear of a collapse is not limited to banks. Early last week, Shell startled the markets. "There's been a shift in our willingness to take credit risk in Europe," said CFO Simon Henry.
He said that the oil giant, which has cash reserves of over $17 billion (€13.8 billion), would rather invest this money in US government bonds or deposit it on US bank accounts than risk it in Europe. "Many companies are now taking the route that US money market funds already took a year ago: They are no longer so willing to park their reserves in European banks," says Uwe Burkert, head of credit analysis at the Landesbank Baden-Württemberg, a publicly-owned regional bank based in the southern German state of Baden-Württemberg.
And the anonymous mass of investors, ranging from German small investors to insurance companies and American hedge funds, is looking for ways to protect themselves from the collapse of the currency -- or even to benefit from it. This is reflected in the flows of capital between southern and northern Europe, rapidly rising real estate prices in Germany and zero interest rates for German sovereign bonds.
'Euro Experiment is Increasingly Viewed as a Failure'
One person who has long expected the euro to break up is Philipp Vorndran, 50, chief strategist at Flossbach von Storch, a company that deals in asset management. Vorndran's signature mustache may be somewhat out of step with the times, but his views aren't. "On the financial markets, the euro experiment is increasingly viewed as a failure," says the investment strategist, who once studied under euro architect Issing and now shares his skepticism. For the past three years, Vorndran has been preparing his clients for major changes in the composition of the monetary union.
They are now primarily investing their money in tangible assets such as real estate. The stock market rally of the past weeks can also be explained by this flight of capital into real assets. After a long decline in the number of private investors, the German Equities Institute (DAI) has registered a significant rise in the number of shareholders in Germany.
Particularly large amounts of money have recently flowed into German sovereign bonds, although with short maturity periods they now generate no interest whatsoever. "The low interest rates for German government bonds reflect the fear that the euro will break apart," says interest-rate expert Burkert. Investors are searching for a safe haven. "At the same time, they are speculating that these bonds would gain value if the euro were actually to break apart."
The most radical option to protect oneself against a collapse of the euro is to completely withdraw from the monetary zone. The current trend doesn't yet amount to a large-scale capital flight from the euro zone. In May, (the ECB does not publish more current figures) more direct investments and securities investments actually flowed into Europe than out again. Nonetheless, this fell far short of balancing out the capital outflows during the troubled winter quarters, which amounted to over €140 billion.
The exchange rate of the euro only partially reflects the concerns that investors harbor about the currency. So far, the losses have remained within limits. But the explanation for this doesn't provide much consolation: The main alternative, the US dollar, appears relatively unappealing for major investors from Asia and other regions. "Everyone is looking for the lesser of two evils," says a Frankfurt investment banker, as he laconically sums up the situation. Yet there's growing skepticism about the euro, not least because, in contrast to America and Asia, Europe is headed for a recession. Mayer, the former economist at Deutsche Bank, says that he expects the exchange rates to soon fall below 1.20 dollars.
"We notice that it's becoming increasingly difficult to sell Asians and Americans on investments in Europe," says asset manager Vorndran, although the US, Japan and the UK have massive debt problems and "are all lying in the same hospital ward," as he puts it. "But it's still better to invest in a weak currency than in one whose structure is jeopardized."
Hedge Fund Gurus Give Euro Thumbs Down
Indeed, investors are increasingly speculating directly against the euro. The amount of open financial betting against the common currency -- known as short positioning -- has rapidly risen over the past 12 months. When ECB President Mario Draghi said three weeks ago that there was no point in wagering against the euro, anti-euro warriors grew a bit more anxious.
One of these warriors is John Paulson. The hedge fund manager once made billions by betting on a collapse of the American real estate market. Not surprisingly, the financial world sat up and took notice when Paulson, who is now widely despised in America as a crisis profiteer, announced in the spring that he would bet on a collapse of the euro.

Paulson is not the only one. Investor legend George Soros, who no longer personally manages his Quantum Funds, said in an interview in April that -- if he were still active -- he would bet against the euro if Europe's politicians failed to adopt a new course. The investor war against the common currency is particularly delicate because it's additionally fueled by major investors from the euro zone. German insurers and managers of large family fortunes have reportedly invested with Paulson and other hedge funds. "They're sawing at the limb that they're sitting on," says an insider.
So far, the wager by the hedge funds has not paid off, and Paulson recently suffered major losses.
But the deciding match still has to be played.
Translated from the German by Paul Cohen

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A bomba-relogio fiscal em construcao -- Rogério Furquim Werneck

O Brasil está construindo -- talvez já tenha construído -- um sistema econômico inviável: um baseado na extração de recursos contínua de contribuintes e empresários (que também são contribuintes, claro, mas a extração também se dá, irracionalmente, não apenas nos ganhos, mas no próprio processo produtivo, o que é, propriamente, um tiro no pé).
Em algum momento essa bomba fiscal vai explodir, talvez não com o estrépito e o furor de uma grande bomba, mas silenciosamente, esgotando as possibilidades de crescimento e de prosperidade.
Creio que precisamos de um "Jared Diamond", um que escreva uma versão econômica de seu justamente reconhecido livro "Colapso", ou seja, por que e como as sociedades constroem sua própria destruição, sendo irracionais ao mais alto grau.
Acredito que os políticos brasileiros já chegaram a essa grau de irracionalidade, ou de inconsciência, vocês escolhem.
Economistas como Rogério Furquim Werneck se encarregam de nos lembrar...
Aliás, a conta que ele faz de um iPad acho que está generosa. Eu fiz a conta para o último modelo do MacAir e cheguei à conclusão que com o preço de um no Brasil daria para comprar dois nos EUA: 102% mais caro aqui do que lá.
Pode?
Paulo Roberto de Almeida

Visão de futuro
Rogério Furquim Werneck
O Globo, 21.01.2011

A preservação do atual regime fiscal, que há mais de 15 anos vem exigindo aumento sem fim da carga tributária, põe em risco a sustentação do dinamismo da economia brasileira. Se não for possível conter a expansão do gasto público dos três níveis de governo, o aprofundamento requerido da extração fiscal acabará por sufocar aos poucos o crescimento econômico do País. São conclusões que advêm da análise agregada dos dados. Mas essa perspectiva do problema pode e deve ser complementada por visões mais específicas, ao nível microeconômico, de como a sobrecarga fiscal que hoje recai sobre a economia brasileira conspira contra o futuro do País.

Estima-se que a carga tributária bruta esteja hoje em torno de 35% do PIB. Mas isso é apenas uma média. Há segmentos da economia que arcam com taxação muito mais pesada. A carga fiscal que recai, por exemplo, sobre serviços de telecomunicação e certos produtos importados é muito maior. E deixa patente a deplorável visão de futuro que permanece entranhada no sistema tributário brasileiro.

No Rio de Janeiro, o ICMS onera os serviços comunicação em quase 43% (alíquota “por fora”). Em São Paulo, em 33,3%. E ainda há que se ter em conta todos os outros tributos que incidem sobre o setor de telecomunicações e acabam repassados, em boa parte, às tarifas. Em 2005, a carga tributária do setor, estimada com base nas contas nacionais, correspondia a mais de 57% do valor dos serviços. É curioso que, nesse quadro de absurda sobrecarga fiscal, o governo ainda esteja em busca da razão primordial pela qual a disseminação do acesso à internet em banda larga avançou tão pouco até agora. É lamentável que o País esteja entrando na segunda década do século 21 com tributação tão escorchante de serviços de telecomunicação, tendo em vista sua crescente importância econômica e social.

Desde a Constituição de 1988, quando passaram a cobrar ICMS sobre tais serviços, os Estados vêm mantendo uma extração fiscal extremada no setor, tirando o melhor proveito possível das exíguas possibilidades de sonegação que lhe são inerentes. No tempo em que telefone era considerado “coisa de rico”, ainda havia quem se dispusesse a arguir que essa taxação tão pesada estaria contribuindo para tornar a carga tributária menos regressiva. Mas já não há mais qualquer espaço para esse tipo de argumento.

O quadro mudou da água para o vinho desde a segunda metade dos anos 90. Na esteira da privatização, o acesso ao telefone vem sendo universalisado. Há hoje mais de 190 milhões de aparelhos celulares no País, 82% dos quais pré-pagos. É sobre o povão, portanto, que boa parte da sobrecarga fiscal vem recaindo. Por outro lado, as comunicações passaram a abranger uma gama de serviços muito mais complexos, que vão muito além da velha telefonia. O que se vê agora é o País taxando pesadamente seu futuro.

A mesma visão de futuro equivocada e arcaica que permanece entranhada na tributação das telecomunicações fica também evidenciada na taxação de certos produtos importados. Basta ver o que vem ocorrendo com dois produtos emblemáticos das novas tendências tecnológicas na área de informática. Os chamados tablets, como o iPad, da Apple, e os leitores de livros digitais, como o Kindle, da Amazon.

Um levantamento recente constatou que, entre 20 países pesquisados, é no Brasil que o iPad é mais caro (O GLOBO, 9/1/2011). Após a incidência de seis tributos, o produto chega ao consumidor brasileiro 84% mais caro do que nos EUA. Já o Kindle, que nos EUA custa US$189, pode ser entregue no Brasil se o cliente estiver disposto a arcar com um frete de US$20,98 e encargos fiscais que a própria Amazon estima em nada menos que US$199,73. O que perfaz um total de US$409,71. São níveis de tributação completamente injustificáveis, fora de qualquer padrão de razoabilidade, advindos de um juggernaut arrecadador que avança como autômato, alheio ao processo de modernização do País.

ROGÉRIO FURQUIM WERNECK é professor da PUC-Rio.