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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Kafka no Caribe: a Superintendencia dos Precos Justos, e o lucro maximo a 30pc na Venezuela...

Que futuro pode ter um país que possui uma Superintendência dos Preços Justos?
Que futuro pode ter a economia de um país no qual os capitalistas, se forem bem sucedidos e conhecer uma demanda extraordinária pelos seus produtos, precisam absolutamente limitar o seu lucro a 30% do faturamento total?
E quem tiver taxa de lucro abaixo de 15%, como faz? Pede subsídio ao governo?
Por essas e outras, eu acredito que a economia venezuelana já deveria ter ido para o espaço, ou afundado de vez.
Ela é uma vaca que voa, e o combustível se chama petróleo.
Todo o resto é, aliás, o contrário de uma vaca: dali nada se aproveita, nem o berro, que este é do governo e só pode nos fazer rir com suas tiradas a la Dali e Kafka combinados: ou melhor, um verdadeiro quadro de Polock...
Paulo Roberto de Almeida

Nicolás Maduro fixa em 30% lucro máximo na Venezuela

Medida está entre as prometidas após aprovação da Lei Habilitante; presidente venezuelano anunciou outras mudanças contra crise econômica

16 de janeiro de 2014 | 0h 43
O Estado de S. Paulo
CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou no fim da noite de quarta-feira, 16, a Lei de Custos e Preços Justos, que limita em 30% o ganho máximo de todas as atividades econômicas no país.
Maduro anunciou mais alterações na economia venezuelana - Miguel Gutierrez/EFE
Miguel Gutierrez/EFE
Maduro anunciou mais alterações na economia venezuelana
O controle do lucro foi uma das primeiras medidas prometidas por Maduro, que estimava entre 15% e 30% o valor que deveria ser permitido pelo governo. A mudança foi prometida pouco depois de a Assembleia Nacional aprovar, em novembro, uma Lei Habilitante que aumentou os poderes do presidente para legislar sobre temas econômicos por 1 ano.
Durante a leitura do seu informe de gestão referente ao ano de 2013 no Parlamento, Maduro afirmou também que juntará dois órgãos estatais de controle de preços para criar a Superintendência de Preços Justos, encarregada desde ontem de controlar o lucro no país.
Entra as novas medidas para enfrentar a grave crise econômica que atinge o país - que fechou 2013 com a inflação anual estimada em 56% -, o presidente revelou que extinguirá a Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), que controla a entrada e saída de moeda estrangeira, mas manterá a cotação do bolívar em 6,3 por dólar durante 2014.
"O objetivo (das mudanças) é reestruturar todos os mecanismos de acesso a divisas com a aceleração de processos complexos", explicou. "Vamos manter o dólar a 6,3 durante todo este ano e por muito anos."
O líder bolivariano também fará mudanças no Ministério de Finanças. Além da fusão com o Ministério de Bancos Públicos, a pasta terá como titular Marco Torres, que comandava o ministério extinto. O atual ministro, Nelson Merentes deve voltar ao Banco Central da Venezuela, entidade que presidia antes de assumir as Finanças, em abril.
Os ajustes ministeriais anunciados ontem completam as mudanças iniciadas na semana passada, quando Maduro trocou os titulares de sete ministérios com o objetivo de "ajustar e melhorar" o ritmo de seu gabinete.
Câmbio. Outra mudança que entrará em vigor na Venezuela deve alterar a Lei de Crimes Fiscais para permitir que o setor privado possa oferecer dólares por meio do Estado. "Vou fazer uma mudança (...) para que se use os sistemas complementares de divisas como já estamos implementando no turismo", prometeu Maduro. / EFE

domingo, 10 de novembro de 2013

Surrealismo do seculo XXI: Chavez so aparece para Maduro

Talvez o povo venezuelano nao tenha ainda amadurecido o bastante, mas a situação smeaça apodrecer rapidamente.
PRA

América Latina

Maduro afirma que Chávez apareceu em túnel do metrô de Caracas

Veja.com, 31/10/2013

Presidente venezuelano também já tinha visto o falecido caudilho em forma de passarinho

Nicolás Maduro é visto em Caracas em 21 de outubro de 2013
Nicolás Maduro anda tendo visões do fantasma de Chávez (Leo Ramirez/AFP)
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não se cansa de passar vergonha com suas invencionices. Desta vez, ele revelou mais um contato mediúnico com o além e exibiu na noite de quarta-feira uma suposta imagem do rosto do falecido Hugo Chávez, que teria aparecido nas obras de um túnel do metrô de Caracas. "Olhem a figura, um rosto. Esta foto foi feita pelos trabalhadores. Quem está neste rosto? Os trabalhadores estão ali, trabalhando e lhes aparece uma imagem na parede e, assim como apareceu, desapareceu. Chávez está em todas as partes", disse Maduro, sorrindo, em um encontro com movimentos populares no Poliedro de Caracas.
Visões - Em abril, durante a campanha para a eleição presidencial convocada após a morte de Chávez, em 5 de março, Maduro afirmou ter visto o falecido comandante encarnado em um passarinho. Desde então, em vários discursos imitou o som do pássaro para fazer referência à presença de Chávez.
Maduro foi muito criticado e alvo de piadas de opositores pela referência, mas disse que não estava preocupado. Em junho, o presidente venezuelano afirmou que Chávez "aparecia" nas montanhas que dominam a paisagem de Caracas. "Cada vez que observo a montanha, vejo Chávez aparecer na montanha. Chávez nosso de todos os dias", afirmou durante um evento público em Caracas.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Surrealismo bolivariano: Kafka nos Andes (unbolivable)

O inferno em La Paz
Mônica Bergamo (monica.bergamo@grupofolha.com.br)

Eduardo Saboia, diplomata que ajudou um senador a fugir da Bolívia, diz que o país é 'a Síria brasileira', com problemas que podem 'estourar na nossa cara'
Os funcionários da embaixada brasileira em La Paz, capital da Bolívia, inventaram uma palavra que não existe no vocabulário. É "unbolivable", corruptela do inglês "unbelievable" (inacreditável). "Quando um problema atinge a escala do inimaginável, e por lá acontecia isso com frequência, a gente usava essa piada", conta Eduardo Saboia, 46, ao repórter Morris Kachani.
Ex-encarregado de negócios da embaixada, ele ficou célebre ao ajudar o senador Roger Pinto Molina, asilado na representação por 453 dias, a fugir para o Brasil no mês passado. E decreta: "A Bolívia é a nossa Síria".
"A embaixada é o saco de pancadas que Brasília nunca defendeu. Tudo que pode dar errado, dá mais errado", afirma. "É o teatro do absurdo, com uma trupe de atores, amigos até, que já atuaram juntos em peças melhores. É Esperando Godot', é O Anjo Exterminador'", diz, citando obras de Samuel Beckett e Luis Buñuel marcadas pela negação e pelo tragicômico.
Não é à toa que Saboia cita o surrealismo de "O Anjo Exterminador", em que os personagens estão presos no salão de uma mansão após um pomposo jantar: ele próprio não via a hora de trocar de posto. Havia o desgaste de empreitadas como as 18 viagens que teve de fazer a Oruro (a três horas de La Paz) como negociador na questão dos torcedores corintianos que foram presos após a morte do menino Kevin.
E outro motivo, especial. Saboia é casado com a cônsul brasileira de Santa Cruz de la Sierra. Eles têm três filhos, de 20, 17 e 15 anos. O do meio é autista. O ideal seria ir para um país referência na abordagem da síndrome.
Após dois anos na Bolívia, Saboia negociava seu retorno a Washington, nos EUA, para servir na missão brasileira junto ao FMI.
Não que a vida em La Paz fosse feita só de estorvos. "Gosto muito da Bolívia", diz ele. Nas horas vagas, fazia aulas particulares de violão clássico. Percorreu trilhas nos Andes, escalou uma montanha de 6.088 m, correu a maratona em La Paz.
A mudança acabou sendo protelada. Em 23 de agosto, quando coordenava interinamente a missão brasileira, seu destino adquiriu novos contornos: ele decidiu trazer ao Brasil o senador Roger Pinto, líder da oposição ao presidente boliviano Evo Morales e investigado por corrupção, dano ambiental e assassinato, acusações que nega. "Pinto vinha conversando com a geladeira, de tão deprimido. Vivia confinado em uma sala de 20 m², em um prédio de escritórios, sem banho de sol." As tardes de sexta eram as mais tristes porque o fim de semana se avizinhava solitário. No período final do asilo, só a filha tinha o direito de visitá-lo.
A fuga, em dois Nissan Patrol, escoltados por dois fuzileiros navais brasileiros e com dois motoristas bolivianos no volante, foi como um road movie: as passagens pelos checkpoints, o trânsito em Cochabamba ("três horas em uma névoa terrível"), a parada em Santa Cruz, perto de onde mora sua família, os 650 km finais até a fronteira, em que há só dois postos de combustível. E o epílogo, com o tanque quase vazio e a leitura de salmos evocando socorro contra os perseguidores.
Foram 22 horas em que até fralda geriátrica eles usaram. Pinto vomitou na descida de La Paz a Cochabamba, estrada cheia de curvas e sem acostamento.
A "operação", como ele define o episódio, custou a cabeça do chanceler Antonio Patriota. Saboia foi removido para Brasília e responde a sindicância do Itamaraty.
Não anda animado, mas, além de críticas, recebe aplausos. O pai, Gilberto Saboia, ex-secretário de Direitos Humanos no governo de Fernando Henrique Cardoso, já se disse aflito, mas orgulhoso do filho. Ele também é diplomata, amigo de estrelas do Itamaraty como Celso Amorim, e os filhos de ambos cresceram brincando juntos.
A mulher de Eduardo Saboia está se desligando do posto em Santa Cruz. Os dois não se veem há dois meses. Ele está na casa de familiares dela em Brasília e usa as roupas que o pai, que mora no Rio, lhe trouxe. Diz que não se arrepende. "Hannah Arendt falava na banalização do mal. No meu caso, foi a banalização do bem. Não quebrei hierarquia. Ele já tinha o asilo. E eu precisava proteger o senador da depressão."
"Eu vinha alertando o Itamaraty. Mas havia uma atitude de não se posicionar, de varrer para debaixo do tapete. Éramos orientados para não falar com a imprensa nem com parlamentares. Um sistema de incentivo para você não falar a verdade." Só demonstra arrependimento quando é lembrado que comparou a embaixada de La Paz ao DOI-Codi, enfurecendo a presidente Dilma Rousseff.
Virou amigo de Roger Pinto. Diz que Brasília e a embaixada se debruçaram sobre os 21 processos contra o senador na Bolívia. A conclusão preliminar, afirma, foi a de que "metade dos processos apareceu depois de denúncias que ele fez [contra o governo]. Há ações por desacato e corrupção. Uma por desmatamento --de duas árvores. Outra por homicídio que não diz quem ele teria matado".
Cita o caso dos corintianos para discorrer sobre "a falência, extorsão e corrupção características do Judiciário boliviano". "Ali tudo se paga, por dentro e por fora. São US$ 15 mil para uma sentença, por exemplo. Até pela cela você tem que pagar, ou por uma audiência."
Segundo ele, há mais de cem brasileiros nas prisões bolivianas. "Não que todos sejam inocentes, mas como apoiá-los oficialmente nessas circunstâncias?"
Lista outros incidentes para ilustrar "o drama que é servir na Bolívia": a nacionalização de refinarias da Petrobras, a paralisação de uma obra da OAS, as revistas em aviões da FAB. Empreendedores chegam "como num faroeste, achando que a embaixada é uma UPP".
Segue com os pequenos agricultores brasileiros na fronteira, a venda de cocaína para o Brasil, segundo maior mercado consumidor do mundo. "É a nossa relação internacional mais difícil. Existe uma proximidade e uma assimetria entre os dois países. Os nacionalistas mais fervorosos consideram-nos um covil de ladrões, porta-vozes da direita golpista."
Vê como positiva a política externa do governo Lula, também em relação à Bolívia. O país seria a "nossa Síria" porque "é onde estão os problemas que podem estourar na nossa cara". "A Bolívia não pode ser minimizada como um país periférico. Você pode não querer ir até a Bolívia. Mas a Bolívia vai até você."


  • Igo Estrela/Folhapress
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    O diplomata Eduardo Saboia diz que a Bolívia, onde trabalhava, é "a Síria brasileira", com problemas que podem "estourar na nossa cara"