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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 13 de agosto de 2022

Política externa brasileira em tempos de isolamento diplomático (OPEB-UFABC, 2022) : e-book disponível


Ana Tereza Lopes Marra de Sousa; Diego Araujo Azzi; Gilberto Marcos Antonio Rodrigues (orgs.).

Política externa brasileira em tempos de isolamento diplomático

Rio de Janeiro: Telha, 2022.

e-book: 9000Kb.

Inclui bibliografia.

ISBN 978-65-5412-040-1 (e-book)


1. Política externa. 2. Relações internacionais - Brasil. 3. Ciência política. 4. Governo Bolsonaro. I. Sousa, Ana Tereza Lopes Marra de. II. Azzi, Diego Araujo. III. Rodrigues, Gilberto Marcos Antonio. IV. Título.


Sumário

Capítulo 1 - Apresentação 7

Capítulo 2 - Inserção Econômica Internacional sem Visão Estratégica 11

Capítulo 3 - Saúde e Direitos de Propriedade Intelectual: a Política Externa Brasileira na Pandemia 29

Capítulo 4 - Negacionismo e Negócios: a Política Ambiental da Diplomacia Brasileira 47

Capítulo 5 - Política Externa de Direitos Humanos em Cenário de Isolamento Internacional do Brasil 77

Capítulo 6 - As Forças Armadas Brasileiras e os Estados Unidos da América 97

Capítulo 7 - Relações Brasil-EUA nos governos Biden e Bolsonaro (2021) 113

Capítulo 8 - Distensão, Assimetrias e Oportunidades Perdidas: Relações Brasil-China no Governo Bolsonaro 131

Capítulo 9 - Entre a Bíblia e o Agro: Impasses da Agenda Brasileira para a África 149

Capítulo 10 - Há um Novo Ciclo Progressista na América Latina? 167

Capítulo 11 - Posfácio: Uma Proposta de Política Externa Pós-Bolsonarista 185


Video de apresentação na Livraria Tapera Taperá, sábado, 13/08/2022, 16:00hs

https://youtu.be/HizwX3EZ9YY



Outros livros do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil


OPEB. 2020. As Bases da Política Externa Bolsonarista. Observatório

da Política Externa e Inserção Internacional do Brasil. Ed. UFABC, Santo André, 2020.

__________. 2021. A Política Externa de Bolsonaro na PandemiaObservatório da Política Externa e Inserção Internacional do Brasil. Fund. Friedrich Ebert, São Paulo, 2021.

__________. 2021. Sob nova direção: as relações Brasil – EUAObservatório da Política Externa e Inserção Internacional do Brasil. Por Tatiana Berringer, Gabriel Soprijo, Gabrielly Almeida, Gabriela Leite, Thiago Fernandes e Fernanda Antoniazzo. São Bernardo do Campo, 12 de março de 2021.

__________. 2021. Plano Biden e os impactos para o Brasil. Observatório da Política Externa e Inserção Internacional do Brasil. Por Bruna Belasques, Gabriel Carneiro, Giorgio Romano, Mariana Pessoa, Naomi Takada, Thais Felix e Renata Alencar. São Bernardo do Campo, 13 de julho de 2021.


A próxima imbecilidade do lulopetismo diplomático: OCDE, Mercosul, BRICS - entrevista CELSO AMORIM, comentários Paulo Roberto de Almeida

 Um anúncio precoce — o do ex-chanceler do Lula sobre o afastamento da OCDE (abaixo) — e a minha denúncia precoce sobre a próxima imbecilidade diplomática dos prováveis vencedores em outubro.

Paulo Roberto de Almeida

A provável política externa de um possível governo Lula já antecipa um atraso mais do que certeiro: a OCDE volta a ser tratada como “clube de países ricos”, o que além de ridículo é de uma estupidez atroz: alguns dos membros já eram ricos, quando criaram a OECE, em 1948, mas estavam destruídos pela guerra. Em 1960, quando virou OCDE, e agregou outros países, eles continuaram enriquecendo por causa das boas políticas e práticas econômicas da organização. A OCDE foi essencial para enriquecer os ex-socialistas da Europa central e oriental. Só um imbecil não reconhece seu papel essencial em retirar esses países do atraso e inseri-los na economia global. Até o México se beneficiou, embora seu “lado latino-americano” o tenha mantido atrasado.

A outra imbecilidade é continuar caudatário de um BRICS que hoje serve para manobras geopolíticas de duas autocracias, das quais um tirano vem praticando sistematicamente crimes de guerra, depois de violar a Carta da ONU ao invadir e praticar uma insana guerra de agressão contra a vizinha Ucrânia. 

Ou seja, a política externa lulopetista vai continuar nesse particular na mesma toada do bolsolavismo diplomático.

Já fiz a minha denúncia antecipada, agora a matéria:


Brasil deve priorizar Mercosul com UE e não OCDE, diz Amorim

Termos de acordo com "clube dos ricos" teriam de ser estudados, diz conselheiro de Lula para assuntos internacionais.

https://labnews.poder360.com.br/l/892i0TG7GpJtoi2vsAKjxB5A/qT97Fcy2P763KpMsO2wXfnRA/zxfq2fc5763VsNmc4nG8kFHw 

Dois Cônsules de Sua Majestade Imperial em Luanda (1822-1861) - livro de história diplomática (e social) de Gilberto da Silva Guizelin (Edusp)

 Recebi este livro – Dois Cônsules de Sua Majestade Imperial em Luanda (1822-1861) do autor, Gilberto da Silva Guizelin, via Editora, e foi uma grata surpresa constatar imediatamente a qualidade da pesquisa e o desenvolvimento da redação, pois esta obra de história diplomática e social se lê como um romance, ainda que trate de um aspecto muito relevante de nossa política internacional no século XIX – tráfico, escravidão, relações diplomáticas e comerciais com a África – e da diplomacia triangular envolvendo Grã-Bretanha, Portugal e o Império brasileiro. 


O autor, Gilberto da Silva Guizelin, é doutor em história pela Unesp e mestre em história social pela Universidade Estadual de Londrina. Conduziu uma vasta pesquisa em arquivos e na literatura pertinente, para contar a fascinante história de dois cônsules que, em épocas diversas, representaram o Brasil no "país" africano (foi colônia portuguesa desde o século XVI até 1974) num dos momentos de maior tensão nas relações do império, tanto no primeiro como no segundo reinado, e nas regências.

Interessante que nossa história de relações com Angola colonial começa com essa presença consular (e humana, de brasileiros em Luanda) e também começa, já no Estado independente, exatamente por um consulado, rapidamente convertido em embaixada, em meio à guerra civil pós-abandono por Portugal da sua mais rica colônia na África (e a da guerra de resistência mais dramática, pois continuou como guerra civil durante mais de uma década).

Depois dos livros de Charles Boxer e de José Honório Rodrigues, eu estava querendo ler mais um pouco sobre as relações entre o Brasil e a África, Angola especificamente, no seu período mais denso para a história dos dois povos, e das relações internacionais triangulares, envolvendo Portugal e Grã-Bretanha anti-escravista. Este é o livro para saciar minha curiosidade, junto com o de Jerry Dávila, para o período da independência e guerra civil.

Guizelin pesquisou em todos os arquivos pertinentes, leu toda a literatura a respeito dos intercâmbios entre Brasil e Angola, e destaca a qualidade e importância do trabalho consular, por vezes mais relevante até do que as relações diplomáticas, que ficam na high politics, e não adentra na vida real dos países. O subtítulo apresenta o nome dos dois "heróis" dessa história fascinante: 

Relações Brasil-Angola, de Rui Germack Possolo a Saturnino de Sousa e Oliveira.

Um livro a ser lido e resenhado. O Itamaraty deveria comprar tantos exemplares quanto forem necessários para distribuir em todas as bibliotecas de Angola e dos centros de estudos africanos das universidades brasileiras, além de autoridades naquele mais importante país de nossa interface africana.

Paulo Roberto de Almeida


Introdução a uma nova edição dos Princípios de Economia Política (1804), de José da Silva Lisboa, pela Editora LVM - Paulo Roberto de Almeida

 Recebi, há dois dias, convite, do editor da LVM – que em setembro estará publicando meu livro Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior –  para fazer a introdução da reedição digitalizada deste livro do meu primeiro personagem, José da Silva Lisboa, com esta única demanda: teria que ser rapidíssimo, pois o livro já estava ficando pronto. 

Sem esperar, recolhi todos os livros que possuo sobre o maior economista brasileiro, e mais alguns na Biblioteca do Itamaraty, e compus de imediato, este trabalho: 

4216. “O maior pensador econômico brasileiro, embora ainda controverso”, Brasília, 12 agosto 2022, 20 p. Introdução a uma nova edição dos Princípios de Economia Política (1804), de José da Silva Lisboa, pela Editora LVM. 

Permito-me transcrever alguns trechos dessa introdução e a bibliografia que utilizei para compor minha introdução. Pode ser que outros se interessem em aprofundar o conhecimento desse grande intelectual.

O maior pensador econômico brasileiro, embora ainda controverso

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

Introdução aos Princípios de Economia Política, de José da Silva Lisboa (1804), pela LVM

  

O nascimento da economia política em terras escocesas e sua recente projeção asiática

Adam Smith, o pai fundador da moderna economia política, pode não ter sido seguido nas políticas econômicas aplicadas na Grã-Bretanha a partir do século XIX, sobretudo sob a dominância do fabianismo econômico no século XX, mas ele nunca foi intelectualmente contestado por qualquer outro economista, britânico ou não, nos seus principais argumentos em torno da “ciência do estadismo”, que é como ele costumava designar a nova disciplina. Smith deixou uma única obra nesse terreno, a Riqueza das Nações (1776), bem posterior à Teoria dos Sentimentos Morais (1759), mas é por aquele livro seminal que ele é conhecido universalmente, inclusive, e surpreendentemente, pelos mandarins contemporâneos. Estes decidiram adotar, durante algum tempo, as fantasiosas recomendações econômicas de Marx, que seguiu Adam Smith numa equivocada e ingênua adesão à teoria do valor trabalho.

Os atuais administradores do Império do Meio reformado disfarçam o seu moderno sistema “smithiano” sob o disfarce enganoso de “socialismo com características chinesas”, quando o que de verdade estão construindo é um “capitalismo com características chinesas”. Cabe, com efeito, corrigir o título de um dos livros do sociólogo italiano radicado nos Estados Unidos, Giovanni Arrighi (2007), para quem Adam Smith “teria ido” a Beijing. O contrário ocorreu: os chineses é que foram, literalmente, à Escócia de Adam Smith, tomar lições sobre como se administra uma economia de mercado. Com efeito, a China começou a sua irresistível ascensão por uma espécie de “capitalismo manchesteriano”, típico dos tempos de Adam Smith e de David Ricardo. Como a Grã-Bretanha da primeira revolução industrial, ela exibe traços similares aos daquela mudança nos modos de produção: a deterioração ambiental, causada pelo mesmo combustível nos dois processos de industrialização: o carvão; um agudo aumento da desigualdade social e, não sem razão, os primeiros socialistas criaram o termo de lumpemproletariado, para designar os miseráveis urbanos; e uma democracia muito pouco aberta: a aristocracia britânica manteve durante muito tempo franquias eleitorais reduzidas, que preservaram um sistema político bastante oligárquico até praticamente o final do século XIX. A China “smithiana” ainda não se decidiu pela importação das ideias de outros iluministas britânicos, como John Locke e David Hume, ou do liberal John Stuart Mill.

Adam Smith foi o autor de uma única grande obra, que marcou época no domínio da história econômica, pois foi ela que assinalou, intelectualmente, o fim do mercantilismo e o início prático do liberalismo econômico (que não deve ser confundido com o liberalismo político, uma doutrina que só tomará forma em meados do século XIX). Seu “inquérito” sobre as origens da riqueza das nações produziu efeitos em praticamente todo o mundo, ainda que em ondas temporalmente distantes, como ocorreu com a China de Deng Xiaoping. No caso de Portugal e do Brasil, a semente smithiana foi rapidamente importada, na obra de um pensador único na historiografia econômica dos dois países: José da Silva Lisboa (Salvador, 1756; Rio de Janeiro, 1835). É pelos seus Princípios de direito mercantil e leis de marinha (1798) que começa, na metrópole e na sua principal colônia, uma mudança fundamental nas ideias econômicas. A despeito de sua importância crucial para o nascimento do pensamento econômico em Portugal e no Brasil, sobretudo pela obra que lhe faz sequência, justamente os Princípios de economia política (1804), Silva Lisboa não conheceu a fama que legitimamente sempre cercou Adam Smith, à qual, no entanto, ele teria pleno direito de desfrutar, inclusive pelo fato de ter inovado em relação ao escocês. Precisamos entender as razões desse fato.

 

Um pensador original, embora contestado pela historiografia brasileira

Embora um economista político à altura da noção de estadismo que Adam Smith atribuía à aplicação prática da ciência econômica, Silva Lisboa é pouco conhecido na história e na cultura brasileira. Os manuais escolares apenas relatam o fato de que ele influenciou o príncipe regente D. João na decretação da abertura dos portos em 1808, quando da passagem deste por Salvador, uma medida, aliás, inevitável, nas circunstâncias criadas pela fuga da Corte ao Brasil, fugindo da invasão napoleônica, em 1807. Os livros de história assinalam sua tomada de posição em favor da união de Brasil a Portugal, mesmo nos anos turbulentos de 1820 a 1822, assim como sua postura inflexivelmente pró-Coroa, seja no reinado de D. João VI, seja já na defesa do próprio Pedro I, depois dos abalos representados pela Confederação do Equador, em 1824, e pelos conflitos entre o príncipe português e seus súditos brasileiros.

(...)


Mas quem foi Silva Lisboa? Qual o seu papel na construção do Estado independente?

A insistência, nesta introdução, de referir-se ao personagem como Silva Lisboa, e não como Cairu, deve-se simplesmente ao fato de que sua grande obra intelectual foi elaborada e praticamente concluída entre o final do século XVIII – seu livro sobre o Direito Mercantil é de 1798 – e as primeiras duas décadas do século XIX, quando ele conclui o seu livro teoricamente mais ambicioso, ainda que incompleto – os Estudos do bem comum, de 1819-1820 –, passando pela obra verdadeiramente smithiana de 1804 – os Princípios de Economia Política –, antes, portanto, dele converter-se num dos mais fieis cortesãos do governo, o de D. João VI, o do príncipe regente e o do imperador D. Pedro I, e deste receber seus títulos de nobreza e sua cadeira senatorial. A partir da Revolução do Porto (1820) e do início das agitações e turbulências em diversas províncias do Reino Unido do Brasil – que as Cortes de Lisboa pretendiam reverter ao comando direto da metrópole –, Silva Lisboa atuou mais do que qualquer outro defensor dos dois soberanos e seus respectivos governos na defesa da legitimidade de um regime “meio português”, pelo menos até 1831 (e alguns historiadores datam a verdadeira independência do Brasil deste último ano). 

(...)


Os Princípios de Economia Política, uma obra verdadeiramente seminal

Sua intenção inicial, que já tinha sido declarada “no prospecto dos Princípios de Direito Mercantil, seu livro de 1798, era a de oferecer uma série de “tratados elementares” cobrindo diversos aspectos do direito mercantil; mas, a vastidão do empreendimento levou-o, como declarou no Prólogo, a trabalhar “sobre mais vasta escala”, obrigando-o a entrar “frequentemente em conflito com instituições antigas, erros populares, discórdia de sábios e polícia [política] de Estados cultos”, assim expressando os objetivos do seu novo e mais denso trabalho: 

Mas, para não desgostar logo aos leitores com discussões prolixas, em matérias que parecem áridas e pouco atrativas, enquanto se não está convencido da sua importância e influência na felicidade geral, nem familiarizado com a respectiva linguagem técnica, resolvi-me a preludiar com a presente Introdução, em que indico as primeiras ideias de Economia, e exponho os motivos por que recomendo a lição da imortal obra da A Riqueza das Nações do celebrado Adam Smith, e o sigo nas teses cardeais de seu sistema; persuadido de ter sido ele o primeiro que dissipou as escuridades da Economia Política, levantando a facha [tocha] de luz para esclarecer às nações e governos sobre os seus genuínos interesses, que são inseparáveis dos da Humanidade. (Lisboa,1804, p. iv)

 

Nessa sua obra seminal, em uma carreira verdadeiramente prolífica – cerca de 94 escritos, listados por Montenegro (2000, p. 317-325), entre livros, jornais e panfletos e discursos –, além de uma exposição e defesa das ideias de Adam Smith, há uma ruptura radical com respeito ao pensamento econômico francês – a fisiocracia, até então dominante em certos círculos –, assim como uma demanda por maior liberalização das atividades econômicas na colônia brasileira (onde Silva Lisboa já estava firmemente instalado), o que é confirmado por um Apêndice inédito (encontrado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, constante da edição do Banco de Portugal), publicado dois anos depois, “contendo discussões interessantes contra a crítica de um apologista da filosofia rural” (Almodovar, 1993-I, nota 12, p. xvi; Apêndice em cinco partes, p. 123-183). 

(...)


Quão Smithiano era Silva Lisboa? Como isso se refletiu nos Princípios de 1804?

Os Princípios de Economia Política constituíram a primeira incursão explícita no terreno relativamente novo da Economia Política na língua portuguesa, representando, assim, a primeira etapa para o seu reconhecimento institucional (Almodovar, 1993-I, p. xix). Para Silva Lisboa era fundamental colocar a nova ciência sobre bases sólidas, mas bem distantes das tradicionais fontes francesas nas quais os homens de Estado portugueses iam buscar inspiração. A distinção a ser feita, naquele momento, estava na ênfase a ser dada à perspectiva britânica, reformista e progressista, contra os pontos de vista revolucionários e perigosos vindos da França. Muitos dos seus argumentos eram retirados não apenas da grande obra The Wealth of Nations, mas também da Theory of Moral Sentiments, citada extensivamente no Apêndice posterior a essa obra de Silva Lisboa, como enfatizado por Almodovar (1993-I, p. xxi, note 22).

(...)

 

Silva Lisboa foi honrado mais adiante, durante o primeiro Reinado, com os títulos de barão e visconde de Cairu, e tornou-se, já no século XX, o patrão dos economistas brasileiros, ainda que poucos economistas, nos dias atuais, leiam as obras do seu “protetor” e suposto inspirador nos programas e disciplinas das faculdades de Economia da imensa maioria dos cursos universitários. Até meados do século XX, Silva Lisboa era apenas uma referência vaga até para os especialistas em história econômica ou pensamento econômico. Suas obras permaneceram sem novas edições durante um século e meio. Para ser mais exato, em 1940, uma Comissão brasileira para os Centenários portugueses – fundação do Condado Portucalense, por Afonso Henriques, durante a Idade Média, no século XIII, e os três séculos do final da União Ibérica, em 1640 –, buscando alguma coisa para comemorar, decidiu reimprimir uma edição fac-similar de uma de suas obras, e um texto menos importante foi escolhido: a Memória dos Benefícios de El-Rei D. João VI (1818; 1940), não exatamente um livro de economia política, mas puramente encomiástico ao rei recentemente coroado. Foi apenas em 1956, que uma nova edição, anotada, dos Princípios de Economia Política (1804) foi publicada, por ocasião do 200o. aniversário do nascimento de Silva Lisboa (1756). Duas décadas mais tarde, em 1975, os Estudos do Bem Comum e Economia Política foram publicados pelo Ipea, com uma excelente e extensa introdução por José Almeida, cuja fidelidade ao original (pontuação, maiúsculas, expressões) foi aqui seguida, ao lado das edições portuguesas, pelo Banco de Portugal, de suas principais obras econômicas. Finalmente, em 1999, preparando as comemorações do 500º aniversário do Descobrimento do Brasil, em 2000, o Senado Federal inseriu em sua Biblioteca Básica Brasileira uma nova edição das Observações sobre a franqueza da indústria, e estabelecimento de fábricas no Brasil (1810), com uma erudita introdução por Fernando Antônio Novais e José Jobson de Andrade Arruda, também utilizada nesta introdução.

 

 

Referências bibliográficas: 

(Observação: algumas entradas estão como Cairu, outras como Lisboa, segundo as fichas catalográficas das respectivas edições de suas obras)

 

Almeida, Paulo Roberto (2018). A Brazilian Adam Smith: Cairu as the Founding Father of Political Economy in Brazil at the beginning of the 19th century”, Mises: Interdisciplinary Journal of Philosophy, Law and Economics, vol. 6, n. 1, jan.-abr. 2018, p. 117-129; disponível: https://doi.org/10.30800/mises.2018.v6.64 (acesso: 11 ago. 2022)

_______ (2002). “O nascimento do pensamento econômico brasileiro” in: Hipólito José da Costa, Correio Braziliense, ou, Armazém Literário. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Brasília, DF: Correio Braziliense, 2002; reedição fac-similar, vol. XXX, p. 323-369.

Almodovar, António (1993). Introdução a: Lisboa, José da Silva. Escritos Económicos Escolhidos, 1804-1820. Lisboa: Banco de Portugal, Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português, 2 vols.; t. I, p. ix-xxxii (disponível: https://www.bportugal.pt/sites/default/files/ocpep-5_t1.pdf; acesso: 16 ago. 2021).

Arrighi, Giovanni (2007). Adam Smith in Beijing: Lineages of the Twenty-First CenturyLondres: Verso Books.

Cairu, José da Silva Lisboa, Visconde de (1999). Observações sobre o Comércio Franco do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial; edição original: Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1808 (disponível na Biblioteca Digital do Senado: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/1032/217333.pdf e https://www.bportugal.pt/sites/default/files/ocpep-5_t1.pdf ; acesso: 15 ago. 2021).

_______ (1999). Observações sobre a franqueza da indústria, e estabelecimento de fábricas no Brasil (1810). Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, Coleção Biblioteca Básica Brasileira; edição original: Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1810 (disponível na Editora do Senado: https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1032 e https://www.bportugal.pt/sites/default/files/ocpep-5_t1.pdf; acesso: 15 ago. 2021).

_______ (1975). Estudos do bem-comum e economia política, ou ciência das leis naturais e civis de animar a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do Estado (1819). Rio de Janeiro: IPEA/INPES; introdução de José Almeida.

Cardoso, José Luís (2006)Portugal como Problema, a Economia como Solução. Lisboa: Público-Fundação Luso-Americana, 2 vols.

Fenelon, Dea Ribeiro (1973). Cairu e Hamilton: um estudo comparativo. Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Furtado, Celso Brasil (1959). Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura; 5ª ed.: 1963.

Kirschner, Tereza Cristina (2009). José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-brasileiro.São Paulo: Alameda; Belo Horizonte: PUC-Minas.

Landes, David (1995). The Wealth and Poverty of Nations. Nova York: W. W. Norton. 

Lima, Heitor Ferreira (1976). História do Pensamento Econômico no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

Lisboa, José da Silva (1993). Escritos Económicos Escolhidos (1804-1820). Lisboa: Banco de Portugal, Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português, 2 vols.; introdução e direção António Almodovar.

_______ (1993). Estudos do bem-comum e economia política, ou ciência das leis naturais e civis de animar a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do Estado (1819). Rio de Janeiro: Impressão Régia; in: Escritos Económicos Escolhidos (1804-1820), tomo II.

_______ (1940). Memória dos Benefícios Políticos do governo de El-Rey Nosso Senhor D. João VI. 2ª ed.; Rio de Janeiro: Arquivo Nacional; edição fac-similar da Comissão Brasileira dos Centenários de Portugal. 

Manoilescu, Mihail (1929). Théorie de l’Échange Inégal et du Protectionisme. Paris: Giard. 

Montenegro, João Alfredo de Sousa (2000). O discurso autoritário de Cairu. Brasília: Senado Federal (Coleção Brasil 500 anos).

Novais, Fernando Antonio; Arruda, José Jobson de Andrade (1999), Prometeus e Atlantes na forja da nação, Introdução a Lisboa, José da Silva (1810), Observações sobre a Franqueza da Indústria, e Estabelecimento de Fábricas no Brasil. Brasília: Senado Federal, p. 9-29; coleção Biblioteca Básica Brasileira (disponível:https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1032; acesso: 15 ago. 2021).

Paim, Antonio (1968). Cairu e o liberalismo econômico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

San Tiago Dantas, Francisco Clementino (1962). Cairu: protagonista de sua época, in: San Tiago Dantas, F. C. Figuras do Direito. Rio de Janeiro: J. Olympio Editora, p. 3-20 (disponível: https://www.santiagodantas.com.br/wp-content/uploads/Cairu-Protagonista-de-sua-%C3%89poca.pdf; acesso: 9 ago. 2021).

Rocha, Antonio Penalves, organização e introdução (2001). José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu. São Paulo: Editora 34. 

Rodrigues, José Honório (1988). História da História do Brasil; vol. II, tomo I: A Historiografia Conservadora. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

Smith, Adam (1791). An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. 6th ed.; Londres: A. Strahan and T. Cadell, 3 vols.

 

 

Paulo Roberto de Almeida, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas e mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia, é autor de diversos livros sobre a política externa e a história diplomática brasileira, entre eles Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império(3ª edição: Brasília, Funag, 2017), Apogeu e Demolição da Política Externa: itinerários da diplomacia brasileira (Curitiba: Appris, 2021) e A Grande Ilusão do BRICS e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, Kindle, 2022). 

 

[Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4216: 12 agosto 2022, 20 p.]

 

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

O desafio democrático - Sergio Fausto (revista Piauí)

Para salvar o Brasil, não bastará derrotar Bolsonaro nas urnas

Sergio Fausto 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

À espera de Lula - Marcos Magalhães (Metrópoles Online)

 À espera de Lula

Marcos Magalhães

Metrópoles Online
09 de agosto de 2022

Gustavo Petro torce pela vitória do petista contra Bolsonaro

Era um domingo de festa em Bogotá. Depois de duas tentativas frustradas, o economista Gustavo Petro, de 62 anos, tomava posse como o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia. Ao grupo de jornalistas brasileiros que lhe perguntaram quais eram suas expectativas sobre o vizinho ao sul, ele foi sucinto: "Pois, que ganhe Lula!".

Oitenta e três dias separam a simbólica cerimônia de posse de Petro - e de sua vice-presidente negra Francia Márquez - do segundo turno das eleições brasileiras. E dois meses inteiros ainda se passarão antes que chegue ao Palácio do Planalto o vencedor nas urnas eletrônicas.Já é possível observar, porém, que a grande mudança na Colômbia pode ser considerada o mais recente capítulo de um importante ciclo de transformações políticas que tem lugar nos últimos anos na América do Sul. Um ciclo cujo momento mais importante ocorrerá neste ano, no Brasil.Alguns dos protagonistas desse ciclo estiveram presente no domingo à posse do novo presidente colombiano. Viajaram a Bogotá para prestigiar a cerimônia, por exemplo, os novos presidentes da Bolívia, Luis Arce, e do Chile, Gabriel Boric - ambos de uma nova geração de líderes de esquerda no subcontinente.

Jair Bolsonaro preferiu enviar seu ministro das Relações ExterioresCarlos França, que logo tratou de classificar as declarações pró-Lula do novo presidente colombiano como frutos tardios da retórica eleitoral. Mas em Brasília se detecta com clareza a onda de mudanças que se espalha nas demais capitais sul-americanas.Caso Bolsonaro venha a obter um novo mandato, estará praticamente cercado de governos um pouco mais ou um pouco menos à esquerda, com as exceções do Paraguai e do Uruguai, os dois sócios menores do Brasil no Mercosul.Se Luís Inácio Lula da Silva voltar a ser o presidente, por outro lado, as mudanças que começaram a oeste e agora se espalham ao norte do subcontinente chegarão ao coração da América do Sul. E poderão exercer influência sobre os resultados das eleições previstas para o ano que vem na Argentina, principal sócia brasileira na integração regional.

Mas que tipo de esquerda será essa? Aparentemente uma esquerda menos barulhenta que a do início do século, quando os vastos recursos provenientes da exportação de commodities agrícolas e minerais irrigavam promessas de bem-estar nem sempre realizadas.A nova safra de governos de esquerda não contará com os benefícios de uma economia mundial em expansão. Muito pelo contrário, existem indicadores de permanência de altas taxas de inflação e de baixos índices de crescimento - quando não de recessão.A primeira consequência imediata é a ascensão do pragmatismo como qualidade política. Os novos líderes sabem que precisarão equilibrar promessas de crescimento e de distribuição de renda com medidas de austeridade, o que pode tornar mais curta a lua de mel com os eleitores.Mas há também uma oportunidade ainda pouco explorada no novo cenário global, mas que pode ser bastante útil para governos sul-americanos dispostos a abraçar um novo modelo econômico: o estímulo global à construção de uma economia de baixo carbono.

Isso vale até mesmo para países de intensa exploração de hidrocarbonetos como a Bolívia, que obtém boa parte de suas reservas internacionais com a exportação de gás natural. O país já tenta se posicionar - assim como o Chile - como grande produtor de lítio, mineral essencial para a produção de carros elétricos.Os horizontes ainda apenas entrevistos da transição ecológica abrem também grandes possibilidades para a Colômbia de Petro. Assim como para o Brasil. Os dois países contam com largas porções de seus territórios cobertos pela floresta amazônica, que pode vir a ser exemplo mundial na construção de uma nova e inclusiva bioeconomia.

O Brasil detém mais de 60% da floresta, enquanto a Colômbia responde por aproximadamente 6% do total. Mas a floresta representa nada menos do que 40% do território colombiano. Ou seja, boa parte do futuro do país depende do futuro da Amazônia.Atualmente a região de fronteira entre os dois países é mais conhecida pelos riscos ligados ao narcotráfico e à destruição da floresta. O novo presidente colombiano disse que a guerra contra as drogas foi perdida, e ele ainda precisará demonstrar como pretende lidar com o tema.Em seu discurso de posse, porém, Petro já demonstrou que pretende adotar políticas favoráveis à transição ambiental e valorizar a Amazônia, que classificou como "um dos pilares do equilíbrio climático e da vida no planeta".Em sua opinião, é possível transformar a população que hoje habita a região em cuidadora da floresta, mas para isso são necessários recursos internacionais. Ele propôs converter a dívida externa em investimentos para recuperar as florestas. Anunciou também que pretende se empenhar na defesa ambiental."Não vamos permitir que a avareza de uns poucos ponha em risco a nossa biodiversidade", disse Petro em seu discurso, onde defendeu a transição para uma economia sem carbono e sem petróleo. "A Colômbia será uma potência mundial da vida. O planeta Terra é a 'casa comum' dos seres humanos, e a Colômbia vai liderar essa luta pela vida planetária".Gustavo Petro terá quatro anos de mandato para dar início à guinada que pretende promover em seu país, em busca de paz, proteção ambiental, distribuição de renda e crescimento econômico. Não será trivial.Se a tendência de mudança na América do Sul contagiar o Brasil em outubro, ele poderá ter o novo ocupante do Palácio do Planalto como parceiro nessa difícil tarefa. Petro já está à espera de Lula. 

Marcos Magalhães

Governo 'esconde' raio-x sobre direitos humanos entregue para a ONU - Jamil Chade (UOL)

 Esconder as vergonhas e os desatinos é típico e próprio deste desgoverno.

Governo 'esconde' raio-x sobre direitos humanos entregue para a ONU

Jamil Chade
Colunista do UOL
11/08/2022 04h00

O governo de Jair Bolsonaro não distribui para a sociedade civil o informe final que o Executivo foi obrigado a preparar sobre a situação de direitos humanos no país e que foi entregue para a ONU, nesta semana.

No final de novembro, o Brasil passa por uma sabatina de suas políticas de direitos humanos e, na ocasião, governos e ativistas de todo o mundo poderão questionar e criticar as atitudes das autoridades brasileiras.

Mas, para tal exercício, o governo é obrigado a apresentar sua versão do que foi feito em termos de direitos humanos no país. Durante o governo de Michel Temer, o mesmo informe foi entregue à sociedade civil no mesmo dia em que as autoridades apresentaram os dados para a ONU.

Questionado, o Itamaraty afirmou que "governo brasileiro entregou o relatório ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra dentro do prazo estipulado, que deverá ser tornado público pelo referido Escritório nas próximas semanas, conforme calendário e procedimento estipulado pela organização".

A versão dada para a sociedade civil foi de que o governo esperaria algumas semanas antes de divulgar o informe, para aguardar eventuais comentários que a ONU possa ter.

Já o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos, órgão legalmente responsável pela elaboração do relatório, disse apenas que repassou o documento ao Itamaraty.

Na ONU, a informação oficial é de que o informe será traduzido nas línguas oficiais e formatado para entrar no modelo padrão. A expectativa é de que o informe seja colocado nas páginas oficiais das Nações Unidas um mês antes da sabatina.

Mas nada impede que o governo, por decisão própria, circule o informe entre os atores da sociedade civil e da imprensa, inclusive por uma questão de transparência.

Informe preliminar do governo ignorou crise social e criticou ONU 
Em maio, o governo chegou a circular uma versão preliminar do informe para consulta pública. Mas ativistas de direitos humanos apontam que, sem ver a versão final por parte do governo, não há como saber se aquele documento inicial foi mantido ou modificado.

Sem citar crise social e nem números de famintos que explodiu, governo insistiu na versão preliminar do informe em destacar o papel do Auxílio Emergencial.

"As políticas de direitos humanos empreendidas pelo Estado brasileiro foram orientadas para garantia de direitos essenciais das populações mais vulneráveis. Assim, destacam-se como públicos atendidos mulheres, crianças e adolescentes, idosos, povos e comunidades tradicionais e pessoas com deficiência, principalmente", afirmou.

"No contexto da pandemia da COVID-19, que assolou o mundo nos últimos 2 anos e meio, tais públicos estão entre os cerca de 68 milhões de brasileiros diretamente e prioritariamente contemplados pelo Auxílio Emergencial que buscou mitigar os efeitos financeiros causados nas famílias, pois mães chefes de família receberam o auxílio financeiro em dobro, respeitando sua condição de maior vulnerabilidade", disse.

O governo também omitiu a demora na compra de vacinas e o fato de que Bolsonaro chegou a criticar o imunizante. No informe, o Executivo apenas afirma que, "em fevereiro de 2022, 85% da população já estão plenamente imunizadas".

"A esse respeito, cabe esclarecer que foram distribuídas mais de 380 milhões de doses de vacina em nosso país, com priorização de grupos mais vulneráveis, inclusive dos povos indígenas, estes já completamente imunizados em sua grande maioria", disse.

O que ainda surpreendeu as entidades da sociedade civil foi a decisão do governo brasileiro de destinar um importante trecho do documento a críticas contra a ONU.

"Apesar do comprometimento do Poder Executivo Federal ao longo do 3º ciclo, temos visto o desenvolvimento de diversas iniciativas relacionadas à RPU sendo apoiadas pela ONU no Brasil sem o envolvimento do governo federal, seja na formulação dessas iniciativas, seja nas etapas subsequentes", afirmou o governo.

O documento ainda se queixou do fato de que, ainda que a competência foi realizar o informe seja do Executivo, a ONU não entrou em contato "para ações de construção de capacidade, apoio ou assistência técnica, ao passo que outros poderes e outros atores foram fortalecidos e priorizados no processo, sem a participação do Governo Federal".

"O que observamos ao longo do 3º ciclo foi uma escolha da ONU em priorizar outros atores institucionais em detrimento do Governo Federal, quando muitas vezes os demais poderes sequer se posicionam como Estado e, nessa divisão confusa de papeis, acabam

"cobrando" do Executivo como se apenas este fosse responsável por dar cumprimento às recomendações endereçadas ao Brasil", criticou o governo.

"Registramos, para o 4º ciclo, a expectativa de que a ONU reposicione sua atuação no país no que diz respeito à maior coordenação com o Poder Executivo nas ações de construção de capacidade, assistência técnica e apoio, sem abandonar os avanços já obtidos com os demais poderes (Legislativo e Judiciário)", completou.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/08/11/governo-esconde-raio-x-sobre-direitos-humanos-entregue-para-a-onu.htm